Análise Política
A semana registrou solavancos naturais para o momento no cronograma
eleitoral, com partidos e candidatos buscando caminhos para a
sobrevivência. O período é particularmente delicado para os nomes com
desempenho insuficiente nas pesquisas, pois enfrentam em seus partidos a
intranquilidade, sobretudo dos postulantes ao parlamento que não veem
motivo para desperdiçar o fundo partidário com candidaturas majoritárias
de chances remotas.
As duas dúvidas do momento são João Doria e Sergio Moro, sendo que o
governador de São Paulo enfrenta uma circunstância adicional: o temor na
seção paulista do partido diante da possibilidade de perder um poder
que vem de 1994/95. Ou, num olhar mais flexível, desde 1982/83, quando
Franco Montoro (PMDB) arrebatou o Bandeirantes na primeira eleição
direta de governadores desde meados dos anos 1960.
Como relatado na análise da semana passada, está em curso um movimento
para que a frente de partidos terceiristas suplante as instâncias de
cada legenda e convirja num único nome. Capaz de reunir desde a largada a
simpatia da fatia eleitoral que não deseja nem Luiz Inácio Lula da
Silva nem Jair Bolsonaro. Até agora, o feedback popular não tem sido
animador, porém é natural agremiações um dia hegemônicas lutarem para
reconquistar o brilho perdido.
O nome do momento é Eduardo Leite (PSDB), mas o otimismo agitado em
torno dele deve ser confrontado com a experiência recente. Quantos
candidatos a candidato da terceira via já estiveram no proscênio e
deixaram de estar? As manchetes favoráveis são como o pico da montanha:
mais difícil que chegar lá é continuar ali, resistindo às baixas
temperaturas, às tempestades e ao vento inclemente. Eis outra semelhança
entre a política e o alpinismo.
Enquanto isso, os dois ponteiros vão consolidando as alianças nos
estados. Bolsonaro parece até o momento ter conseguido montar um
palanque sólido em São Paulo, algo que Lula já tinha. E na migração
permitida pela janela de trocas partidárias as legendas governistas,
como esperado, engordaram seus quadros num grau mais expressivo que a
oposição. Contribui também o presidente ter chegado a este ponto com
percepção de competitividade.
A abundância de legendas disponíveis transforma a política brasileira nesta equação de múltiplas variáveis, cujo resultado recorrente é a indeterminação. E a balbúrdia se projeta mais ainda nos estados. Mas a situação nacional está razoavelmente organizada. Com uma curiosidade. Bolsonaro está atrás de Lula, mas parece ter mais base local. O que vai prevalecer ao final, a força do líder ou a da estrutura?[a pergunda mais adequada é: caso a candidatura do descondenado, não inocentado, luladrão venha a se concretizar, qual será a reação dos que dizem votar nele, quando forem lembrados que estarão votando em um LADRÃO? Na mesma ocasião pesquisas mais abrangentes, mais confiáveis, mostrarão que luladrão não está entre os primeiros.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político