Em 2006, um
amigo me trouxe de seu país recentíssima edição do livro “Chi
há paura della China?”, que em português significa “Quem tem medo da
China?”. A leitura do livro descortina uma verdadeira mina de
oportunidades e um paraíso comercial. O autor, Francesco Sisci, é
jornalista, mora até hoje em Pequim, escreve para o Asia Times e para
jornais italianos. Considero, porém, extremamente perigoso confiar, sem
prudência, no Partido Comunista Chinês (PCCh), o espectro onipresente
nos negócios daquele país.
Passados 15
anos, muitos olham para a China com sentimentos quase eróticos. A Meca
do Oriente não apenas tem dinheiro, muito dinheiro, como corre o mundo
comprando e vendendo com persistência de mercadores calejados. Iniciaram
vendendo quinquilharias que enchiam as prateleiras das lojinhas de R$
1,99 e hoje vendem tecnologia sofisticada.
Que bom ter
um cliente rico, pagador pontual e meios disponíveis para fazer
negócios mundo afora! Todavia, cuidado. As relações comerciais chinesas
não se equiparam aos negócios habitualmente feitos com empresas privadas
de atuação no mercado internacional. Estas têm a
transparência como parte importante de seus negócios e, embora nem
sempre convenientemente acionados, princípios éticos e accoutability
norteiam suas condutas no mercado. No caso da China, a atividade
comercial e financeira é parte de uma estratégia geopolítica cujo peso o
mundo recém começa a perceber.
O
capitalismo chinês é, em essência, mesmo quando permissivo ao setor
privado, um capitalismo de estado. Capitalismo de um estado totalitário,
onde o poder político mergulha nas trevas de estratégias que
ultrapassam em muito os interesses comerciais.
É sabido
não ser a China um país transparente, que forneça dados confiáveis, que
respeite as liberdades individuais e revele qualquer inclinação para
valores essenciais do liberalismo. [oportuno lembrar que no Brasil as liberdades individuais começam a ser desrespeitadas por autoridades que se consideram incontestáveis e usam como argumento para desrespeitar direitos constitucionais o argumento da 'necessidade' de preservar a Constituição, a Democracia = suprimir liberdades individuais em nome da necessidade de preservá-las.
Tais autoridades formam um grupo que age como um partido único e até o presente momento não encontraram quem ouse contrariá-las.] Por isso, quando vejo políticos e
governantes brasileiros empolgados com as possibilidades que veem no
Oriente, preocupa-me a entrega de posições estratégicas a quem associa
tal perfil a poder bélico, riqueza imensa e projetos geopolíticos
orientados por um Partido único cujo passado não tem um perfil muito
humanitário, digamos assim...
Percival Puggina - Fique Sabendo