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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

PRUDÊNCIA COM A CHINA! - Percival Puggina

Em 2006, um amigo  me trouxe de seu país recentíssima edição do livro “Chi há paura della China?”, que em português significa “Quem tem medo da China?”. A leitura do livro descortina uma verdadeira mina de oportunidades e um paraíso comercial. O autor, Francesco Sisci, é jornalista, mora até hoje em Pequim, escreve para o Asia Times e para jornais italianos. Considero, porém, extremamente perigoso confiar, sem prudência, no Partido Comunista Chinês (PCCh), o espectro onipresente nos negócios daquele país.

Passados 15 anos, muitos olham para a China com sentimentos quase eróticos. A Meca do Oriente não apenas tem dinheiro, muito dinheiro, como corre o mundo comprando e vendendo com persistência de mercadores calejados. Iniciaram vendendo quinquilharias que enchiam as prateleiras das lojinhas de R$ 1,99 e hoje vendem tecnologia sofisticada.

Que bom ter um cliente rico, pagador pontual e meios disponíveis para fazer negócios mundo afora! Todavia, cuidado. As relações comerciais chinesas não se equiparam aos negócios habitualmente feitos com empresas privadas de atuação no mercado internacional. Estas têm a transparência como parte importante de seus negócios e, embora nem sempre convenientemente acionados, princípios éticos e accoutability norteiam suas condutas no mercado. No caso da China, a atividade comercial e financeira é parte de uma estratégia geopolítica cujo peso o mundo recém começa a perceber.

O capitalismo chinês é, em essência, mesmo quando permissivo ao setor privado, um capitalismo de estado. Capitalismo de um estado totalitário, onde o poder político mergulha nas trevas de estratégias que ultrapassam em muito os interesses comerciais.

É sabido não ser a China um país transparente, que forneça dados confiáveis, que respeite as liberdades individuais e revele qualquer inclinação para valores essenciais do liberalismo. [oportuno lembrar que no Brasil as liberdades individuais começam a ser desrespeitadas por autoridades que se consideram incontestáveis e usam como argumento para desrespeitar direitos constitucionais o argumento da 'necessidade' de preservar a Constituição, a Democracia = suprimir liberdades individuais em nome da necessidade de preservá-las.
Tais autoridades formam um grupo que age como um partido único e até o presente momento não encontraram quem ouse contrariá-las.]   Por isso, quando vejo políticos e governantes brasileiros empolgados com as possibilidades que veem no Oriente, preocupa-me a entrega de posições estratégicas a quem associa tal perfil a poder bélico, riqueza imensa e projetos geopolíticos orientados por um Partido único cujo passado não tem um perfil muito humanitário, digamos assim...

Percival Puggina - Fique Sabendo


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A cor da vacina - William Waack

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro ignora que o eleitor é mais pragmático do que ele pensa

Por ter muita raiva da China ou de João Doria, o rompante de Jair Bolsonaro prometendo que não vai comprar a vacina chinesa – desautorizando o general da Saúde – ajuda a entender a razão de capitães comandarem uma companhia, enquanto generais comandam divisões, exércitos, grupos de exércitos. É a falta de visão de conjunto.

Bolsonaro submeteu tudo ao projeto de reeleição, confundindo seu destino político com o do País. É postura comum a políticos de várias colorações, mas, no caso de Bolsonaro, a obsessão com o ganho eleitoral de curtíssimo prazo paradoxalmente ameaça seu próprio projeto de reeleição. A popularidade desse presidente, como a de outros, está diretamente ligada ao desempenho da economia, e esse desempenho (até o fim de 2022, digamos) é função de uma série de decisões políticas difíceis que ele está protelando – em nome do conforto da popularidade no curto prazo. [sempre deve ser lembrado que as pessoas sensatas, que se preocupam com o Brasil e não com interesses outros - entre elas os apoiadores do presidente Bolsonaro - não esquecem que deve ser feito o possível para se levar o Brasil adiante, mas que eventual lentidão na recuperação econômica, tem como causa principal a pandemia -que costumam ocorrer a intervalos superiores a dois, três séculos (a de agora iniciou 102 anos após a do século passado.

O longo intervalo entre pandemias - que rogamos a DEUS deixe ser ser de séculos e passe a milênios - tornam suas consequências de dificil e lenta administração/resolução.

Um detalhe que quase sempre não é citado ou quando citado não recebe destaque que o Brasil precisa da China que caminhando para DOIS BILHÕES de bocas a alimentar, precisa do Brasil e muito.] 

Da mesma maneira, mais atrapalha do que ajuda a economia brasileira, que depende em grande parte do agronegócio, que depende em grande parte da China, alinhar-se à agenda pessoal do atual presidente americano, Donald Trump. Nem é o caso de se perguntar se esse personagem estará ainda na Casa Branca daqui a menos de duas semanas. Mesmo que Trump produza um excepcional milagre eleitoral e se reeleja, ao abraçá-lo da forma subserviente e bajuladora, Bolsonaro comete um erro básico de política externa: ignorar o fato de que países não têm amigos, só têm interesses.

Ao que tudo indica, está perdida a aposta bastante simplória de que o “laço pessoal” com o homem mais poderoso do mundo presidindo o país mais rico do mundo traria ao Brasil imediatas vantagens em acesso a tecnologia, mercados, instituições multilaterais e projeção no cenário internacional. No caso específico da China (que hoje é quem tem o homem mais poderoso do mundo e a maior economia),[sic] a pressão de Trump sobre o Brasil evidentemente leva em conta apenas os interesses dos Estados Unidos, enquanto Bolsonaro sacrifica um vantajoso ponto de partida, que é a possibilidade de jogar entre os dois no grande confronto do século. [será que o presidente está sacrificando este ponto de partida? muitos apostavam que o capitão não conseguiria administrar sua relação com o Legislativo!!! ]

Aqui entra também a questão da “diplomacia da vacina”, na qual os chineses já demonstram notável vantagem sobre os americanos. Ao contrário dos Estados Unidos, a China está anunciando “acesso preferencial” à vacina produzida pela Sinovac a países em desenvolvimento. Washington tem à disposição produtos semelhantes desenvolvidos por empresas privadas de sólida reputação mundial, mas demonstrou pouco interesse em distribuir vacinas fora dos EUA. [É pacífico que os EUA nunca sacrificaram, nem sacrificarão, os seus interesses em prol de outros países - o nosso presidente sabe, e sempre soube, de tal regra inegociável.

O grande complicador é que apesar do bolsodoria buscar vantagens políticas com a vacina chinesa AINDA NÃO EXISTE nenhuma vacina = seja chinesa, russa, americana, brasileira, etc.

Ainda que as quatro mais 'promissoras'  saiam este ano e o Brasil compre o máximo que possam, e se disponham a, vender, dificilmente chega aos 150.000.000 de doses.]

O Brasil é parte dessa abrangente ofensiva chinesa, com a qual Xi Jinping pretende ampliar ainda mais peso e influência do país, mas o que parece motivar Bolsonaro a falar mal da vacina comandada pelo governo comunista chinês não é o espectro (sim, esse absurdo transita em franjas do bolsonarismo) de uma “inoculação” de ideias esquerdistas via vacina. Ele teme uma candidatura para competir com ele “pela direita” e, seja qual for a razão, enxerga em Doria esse personagem.

Essa visão de túnel considerando apenas a reeleição é o que faz Bolsonaro ignorar um provérbio... chinês. Usado, aliás, de maneira célebre por um importante dirigente comunista, Deng Xiaoping, iniciador das reformas que fizeram da China o que ela é hoje, e que virou lição de pragmatismo. “Não me importa a cor do gato, contanto que pegue o rato”, respondeu, quando indagado sobre o melhor sistema econômico. Para uma parcela importante do eleitorado também no Brasil, assustada com pandemia, pouco importa a origem da vacina, contanto que ajude a resolver uma questão literalmente de vida ou morte. Bolsonaro parece ignorar que o eleitor é mais pragmático do que ele pensa.

William Waack,  jornalista - O Estado de S. Paulo 


*Jornalista e apresentador do jornal da CNN

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido, pelos que assim desejarem.

O espectro do Mein Kampf 

Setenta anos após a sua morte, o fantasma de Adolf Hitler volta à baila.  

Seu livro “Minha Luta” (Mein Kampf) caiu em domínio público e é estopim de debates acalorados em vários países. Por aqui, foi pego na rede da censura judicial, no Estado do Rio.

A polêmica acontece quando se questiona se é correto, ou não, publicar o manifesto nazista; se isto não disseminaria as ideias de ódio, racismo, de uma “ideologia universal” (Weltanschauung) e do “espaço vital” (Lebensraum), que pretenderam ser embasamentos teóricos para justificar o extermínio de milhões e milhões de judeus, homossexuais, ciganos, pessoas com deficiência, eslavos e outros povos tidos como inferiores pela concepção totalitária do nazismo.

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O caminho da proibição, da censura, é absurdo. Nunca deu certo em época alguma, em lugar algum do mundo. Quem a ele se contrapõe argumenta, com razão, que a melhor maneira de combater as ideias pregadas por Hitler é debatê-las. Assim pensa a ministra da Educação da Alemanha, Johanna Wanka, que recomendou os estudos do “Mein Kampf” nas escolas.

Queiramos ou não, Hitler é história, seu manifesto também. As ideias contidas em seu panfleto estão descritas em várias obras e o “Minha Luta” está disponível na internet, podendo ser acessado por qualquer um.   Ora, se somos contra a censura e se já há esse acesso na web, como enfrentar as ideias malignas do nazismo sem se estabelecer o confronto pela via do debate? 

O mais saudável é a publicação do livro de Hitler, preferencialmente acompanhado por esclarecimentos sobre a barbárie em que resultou o ideário nazista. Importa trazer o “Minha Luta” à luz do dia, como pretende fazer a editora Geração com uma edição que irá trazer o texto original do manifesto hitlerista acompanhado de mais de 300 comentários.  Isto não nada tem a ver com incitação ao ódio, como, infelizmente, entendeu um juiz do Rio de Janeiro ao proibir a publicação do livro.

O debate sobre publicar ou não a obra de Hitler também remete a outra discussão, tão ou mais importante, pertinentemente abordada pelo professor da Unicamp Leandro Karnal: “O problema é decidir, algo que era discutido por Benjamin Franklin no século XVIII, quem seria a pessoa capaz de selecionar o que o mundo deve ler. Quem seria o ser acima dos dramas humanos e mesquinharias da nossa espécie?”

Por aí se retrocede aos tempos do censor, “o legislador de preconceitos, defensor da baixeza e da mediocridade, ou melhor, da vulgaridade”, para citar a brilhante descrição de Orson Welles, em um artigo de 1952.  A humanidade já enfrentou esse dilema em muitos momentos de sua história. Na Idade Média o saber, o monopólio da leitura, estava nos mosteiros, como descreveu Umberto Eco em “O Nome da Rosa”.

Nos Estados Unidos deste século XXI, pasme-se, um grupo de estudantes universitários reivindica que determinados livros da literatura, clássicos que constam dos programas curriculares, tenham uma advertência na capa, por representar “perigo” para o “bem estar moral”. Um desses livros perigosos, “Metamorfoses”, do poeta Ovídio, foi publicado em latim no ano 8 D.C.. Ovídio era contemporâneo de Horácio, Virgílio e do imperador Augusto.

Os tutores do que deve ou não ser lido estão em toda parte. Aqui no Brasil, recentemente, Monteiro Lobato quase foi esvurmado do currículo escolar porque alguns “educadores” esquerdopatas entendiam que sua obra estimulava o racismo.  Quanto ao espectro de Hitler, ainda que seja pouquíssimo provável que nos dias de hoje seu ideário totalitário empolgue a maioria de um povo, o melhor é conhecê-lo e não escondê-lo.

Mas o que está mesmo em jogo é um valor do qual não se pode abrir mão: o livre circular das ideias. Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido.

Fonte:  Hubert Alquéres