Lula depõe sob vara, as
empresas de seus filhos, as casas de seus amigos, o Instituto Lula, sofrem
busca e apreensão.
Gente sua, como Paulo Okamoto, José de Filippi e
Clara Ant, é chamada a depor. Qual a reação do governo? Nenhuma ─ claro que não. Como
haveria reação do governo se não há governo? Em 11 de setembro de 2001, atentados
simultâneos atingiram, nos Estados Unidos, o Pentágono e as Torres Gêmeas.
Um avião que seguia na direção da
Casa Branca foi derrubado pela reação dos passageiros. O presidente George W. Bush
fechou o espaço aéreo americano, iniciou imediatamente as investigações sobre
os autores dos atentados, enviou ao Congresso uma resolução sobre o uso da
força militar contra terroristas e países que os apoiassem. Em três dias, a resolução estava aprovada.
Correto ou não, o governo apontou o caminho a seguir.
E o nosso governo, no momento em
que o seu ex-líder no Senado, em delação premiada, joga
a crise no colo da presidente e do criador de postes, o ex-presidente? Simples: a presidente descarregou farto
estoque de palavrões e só não disse que o delator era idiota porque a
lembraram de que, no caso, estaria admitindo ter escolhido um idiota para líder
no Senado. Dois de seus ministros
falaram sem combinar com ninguém.
O porta-voz … mas quem é seu porta-voz? E
a reação foi criticar “o golpe” ─ um
golpe, claro, combinado entre imprensa, juízes,
promotores, ministros do STJ e ministros do Supremo escolhidos pelo PT.
Faltou pensar antes de agir. Mas
tudo bem: o governo nem pensou nem agiu.
Só
na vontade
Quando as tropas nazistas chegaram a Moscou, o
líder soviético Stalin tomou duas decisões: primeiro, não deixaria a cidade; segundo, seu melhor general,
Rokossovsky, polonês, preso por sua ordem, foi libertado para assumir o supremo
comando da defesa da capital. Ganhou.
Tanta gente neste nosso governo
admira o marechal Stalin! Mas é amor apenas platônico. Correr
riscos e decidir, isso não. É o motivo de tanta trapalhada no enfrentamento
da Lava Jato. Ninguém sabe o que fazer.
Mas não é de admirar: um governo que põe no ar um
programa errado de imposto de renda, cujo E-Simples levou meses para funcionar, que
não tem a menor ideia nem de como combater mosquitos, está também
indefeso diante de procuradores e magistrados.
E insiste no erro: o ministro da Educação que não
conseguiu realizar nenhum Enem sem problemas virou prefeito de São Paulo, onde
até agora não conseguiu entregar uniformes e kits escolares ─ e, convenhamos, a
data do início do ano escolar não pode surpreender ninguém. É mais fácil insultar o juiz Sérgio Moro pelas redes sociais.
Só que não funciona.
Pensar no
futuro
É
normal que boa parte da população, que não acreditava que Lula fosse atingido
pelas investigações, esteja comemorando. Mas festejar nessa hora não é bom para ninguém.
Quem quer que esteja no governo terá, de agora em diante, de buscar um caminho
que funcione. “Não podemos incendiar o
Brasil”, diz Marco Aurélio, um dos
poucos ministros do STF que não devem a nomeação ao PT. “Vamos esperar que as instituições
funcionem”. E, esquecendo a questão prática, de que é preciso cuidar do
futuro, há também a questão humana: não é de bom-tom festejar a desgraça dos
outros.
Que
a lei seja cumprida, doa a quem doer, mas tenhamos sobriedade. É ótimo, como exercício de
comedimento; e útil, pois o adversário vencido, mas não humilhado, pode
transformar-se em aliado.
Adeus,
Delcídio
Delcídio,
o líder do governo no Senado, ganhou com
sua explosiva delação premiada o direito de viver fora da cadeia. Mas
ganhou também o ódio de boa parte dos senadores, antes seus amigos: vários terão problemas por causa do que ele contou. O
Planalto continua a apreciá-lo, mas bem pururuca e com batatinhas. Deve perder o mandato. Assim perde o foro
privilegiado e cai na vara de Sérgio Moro. Espera, porém, que o acordo seja
respeitado.
É
provável que ele possa voltar a dar suas festas magníficas, embora sem
convidados tão ilustres.
Adeus,
Cunha
A denúncia contra Eduardo Cunha foi aceita no
Supremo por unanimidade. Ainda não foi julgado, presume-se sua inocência, mas a unanimidade deve
dizer-lhe alguma coisa. Cunha é
competente e combativo, mas não deve durar muito.
O
caminho do país
Se Dilma for impedida, o vice Michel Temer assume. Se a chapa Dilma-Temer for
cassada pelo TSE, por abuso de poder econômico
(a delação de Delcídio passa por aí), o
substituto tem 60 dias para convocar eleições. Os dois primeiros
substitutos legais, Cunha e Renan, têm problemas com a lei. Nada estranho: dos
594 parlamentares, 160 estão pendurados no Supremo. Desses, há uns 40 na
lista da Lava Jato.
Não se
escandalize, caro leitor: o Brasil é assim mesmo.
Bico
grande
O Brasil
é assim mesmo, seja ou não PT. Em São Paulo, governado pelos tucanos desde
1995, o Ministério Público apresentou a oitava denúncia contra as
multinacionais Alstom e CAF, acusadas de fraudes a licitações do Metrô no valor
de R$ 1,8 bilhão. Oito denúncias.
Nenhuma delas foi ainda julgada.
Fonte: Coluna de Carlos Brickmann