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domingo, 21 de maio de 2017

‘Ideais altamente lucrativos’ e outras notas de Carlos Brickmann

Com a sucessão de erros, o país mergulhou numa crise em que não se vê saída

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

Primeiro, Michel Temer errou ao dar conversa demais a um cavalheiro que sempre usou a política para abrir portas. Segundo, erramos nós, jornalistas, que demos crédito a uma transcrição de gravação que não era fiel à gravação, mas lhe atribuía um viés (inexistente) anti-Temer. Com a sucessão de erros, o país mergulhou numa crise em que não se vê saída.

E, já que falamos de quem errou, falemos também de quem acertou e lucrou com a crise. A gravação da conversa de Joesley Batista com Temer foi feita uma semana depois que a Operação Carne Fraca revelou que o império JBS era investigado. O império contra-atacou, armando a delação premiada. Ainda aproveitou para lucrar com isso: vendeu pouco mais de R$ 300 milhões em ações, sabendo que o preço desabaria com a confissão de irregularidades – na quinta-feira, 18, a queda foi de 9,68%. E comprou grande quantidade de dólares (algo como US$ 1 bilhão, segundo o jornal Valor Econômico). Com o presidente da República em xeque, o dólar subiria. Subiu 17% — ampliando o lucro da delação em US$ 170 milhões.

Como ensinou um intelectual de gênio, Millôr Fernandes, “desconfie de todo idealista que lucre com seu ideal”. Mas o lucro não parou por aí: com a delação premiada, Joesley Batista ganhou o direito de morar nos Estados Unidos, num excelente apartamento, sem tornozeleiras, sem nada. Multa? Foram R$ 250 milhões, menos que o lucro com a compra dos dólares. E só. [a esperança das PESSOAS DE BEM é que as investigações comprovem a falsidade da delação, o delator perde todos os benefícios, é indiciado em vários crimes e extraditado para cumprir sentença no Brasil. É possível? Sim. Só uma punição exemplar a um delator  e duplo traidor (incrível, mas o cara pode ser DELATOR e DUPLO TRAIDOR) manterá a credibilidade da Lava Jato.]

Mal comparando
Nas operações conduzidas por Curitiba, quem confessou seus crimes em delação premiada foi menos beneficiado. Marcelo Odebrecht, que acusou tanta gente, pegou dois anos e meio de prisão em regime fechado (que terminam no fim deste ano), e cumprirá o restante dos dez anos da pena em regime semiaberto e aberto. Joesley e seus principais executivos, morando nos EUA, simplesmente transferem o comando do grupo para lá.

Fernando Albrecht, ótimo colunista gaúcho, lembra que o primeiro delator premiado da História do Brasil foi Joaquim Silvério dos Reis, que entregou Tiradentes e demais companheiros de Inconfidência Mineira, recebeu em troca o perdão das dívidas com a Coroa. E ficou 11 anos e meio em regime fechado, na Ilha das Cobras, Rio.

Sobra para todos
O primeiro a ser atingido pela delação premiada da JBS foi Temer (que, entretanto, tem margem para se defender, já que na gravação não há nada explícito recomendando atos fora da lei); o mesmo tiro acertou Aécio Neves, que logo renunciou à presidência nacional do PSDB, e sua irmã Andréia Neves, que foi presa. Fala-se que é a maior das delações, superando a da Odebrecht, e atinge gente importante da maioria dos partidos. Pois é: citando de novo o ótimo Millôr Fernandes, “os corruptos são encontrados em várias partes do mundo, quase todas no Brasil”.

Onde está a saída? Ficar
Agora, que é que pode acontecer? Com o Governo, duas possibilidades: sai ou fica. Fica em uma de duas situações: ou convence boa parte do eleitorado de que as frases de Temer não tiveram o significado que lhes foi atribuído inicialmente e consegue arrostar a fúria da oposição, até hoje sedenta de vingança pela expulsão de Dilma, ou não é convincente, mas se mantém na base do “falta pouco tempo”, ou “neste Congresso em que há tantos suspeitos, quem elegerá o novo presidente”, tudo acompanhado de generosa oferta de cargos e privilégios. Nesse caso, será o que nos EUA chamam de “lame duck”, um pato manco, que preside mas não governa.

Onde está a saída? Cair
Temer pode se sentir fragilizado, ou ser abandonado por seus colegas de Governo, e renunciar. Mas há um problema: perde o foro privilegiado e exposto ao juiz Sérgio Moro. Ou o TSE pode cassar o registro da chapa Dilma-Temer, por abuso de poder econômico e político. Nos dois casos, como não há vice, o Congresso tem 30 dias para eleger indiretamente o substituto. Nesse prazo, assumiria o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; ou, em sua ausência, o presidente do Senado, Eunício Oliveira. Ambos, porém, têm problemas no Supremo, e podem ser impedidos de assumir. Assumiria então a presidente do Supremo, Carmen Lúcia. Temer também pode sair por impeachment, mas isso levaria praticamente um ano: o eleito governaria por seis meses, ou pouco mais. A ideia da eleição direta é inviável: aprovar uma emenda à Constituição, realizar a campanha e finalmente colher os votos é muita coisa para o prazo disponível.

Todo lado!
Lembra do procurador da República Ângelo Goulart Vilela, que falou na Câmara sobre as virtudes das Dez Medidas Contra a Corrupção, propostas pelo Ministério Público Federal? Foi preso no dia 18, por suspeita de passar a Joesley Batista, do JBS, informações a respeito da investigação sobre ele.

 

domingo, 12 de junho de 2016

“Bom, barato, belo. E inútil” e outras sete notas de Carlos Brickmann

As obras públicas mostram que trabalhar direito por aqui sempre foi difícil. O problema? Acertar o troco, sem pixulecos, sem ladroeira


O estádio mais caro da Copa, o Mané Garrincha, de Brasília, foi declarado pela Justiça incapaz de receber jogos de futebol. [estádio para a Copa 2014, a Copa da Vergonha, a Copa dos Alemanha  7 x Brasil,  1, construido na gestão do governador petista Agnelo Queiroz.] Corinthians e Palmeiras jogam lá, agora, por falta de tempo de remarcar a partida. A lindíssima ciclovia à beira-mar, no Rio, seria perfeita se pudesse ficar à beira-mar. O aquário do Pantanal, iniciado em 2011, deveria ser inaugurado em 2013. Não foi: até agora só serviu para matar peixes. Na bela reforma do porto do Rio, para as Olimpíadas que começam daqui a dois meses, sumiram seis vigas de aço de 20 toneladas cada uma. Como? De que jeito?

Mas o melhor exemplo de desperdício do dinheiro público é o novo bonde fluminense. Ficou pronto tarde demais, entra em serviço sem testes. Testes de tecnologia do bonde? Sim: o bonde se chama “veículo leve sobre trilhos”, VLT, e portanto não é um bonde, embora seja um bonde, inspiradíssimo nos bondes que, do início do século 20 até mais ou menos 1970, prestaram excelentes serviços de transporte por bonde.

É difícil. Mas trabalhar direito por aqui sempre foi difícil: Luiz Gonzaga e Miguel Lima brincaram num divertido forró com nossa dificuldade em fazer contas: “Sou diplomata, frequentei academia, conheço geografia, sei até multiplicar (…)” Qual o problema? Acertar o troco, sem pixulecos, sem ladroeira. Como hoje. Divirta-se com Luiz Gonzaga.

Lucros e perdas
O governo federal calculou o custo dos Jogos Olímpicos em R$ 28 bilhões (só dinheiro público, sem contar iniciativa privada, se houver). Os gastos públicos já alcançaram R$ 39,2 bilhões. Na Copa, gastou-se menos: R$ 27,1 bilhões. Mas ainda sairá mais dinheiro: a estrutura da cobertura, 225 toneladas espalhadas por 1.809 m², ainda não chegou da Espanha. E vai custar caro transportá-la até Campo Grande e remontá-la todinha.

Briga da boa
Quando Marcelo Odebrecht nasceu, Delfim Netto já tinha sido secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, comandante com plenos poderes da economia nacional, ministro do Planejamento, Agricultura e Fazenda, embaixador na França. Sabe mais sobre política e política econômica do que qualquer outra pessoa. Sabe muito sobre política nuclear brasileira. E sabe muito sobre muitos políticos, de todos os partidos. Ao intimá-lo para depor em Curitiba, a delegada da PF Renata da Silva Rodrigues pode estar abrindo novas e pesadas frentes de trabalho. Quer investigar R$ 240 mil recebidos por ele da Odebrecht? Então, tá.

A energia de Delfim
Curitiba? Para quem respondeu a comissões militares de inquérito e enfrentou o Relatório Saraiva, documento hostil em que um coronel da ativa o acusava de ter recebido US$ 6 milhões de propina de financiadores de usinas hidrelétricas, Curitiba não deve causar muitas preocupação.

Pequena, mas espaçosa
Diálogo do governador mineiro Fernando Pimentel, PT, pressionado por investigações, com sua filha:Ela disse: ‘Pai, você foi militante político desde a juventude. Foi pro mundo político. Depois se engajou na militância partidária. Foi prefeito, ministro, agora é governador. Tantas coisas agora neste momento, maldades, acusações. Será que vale a pena?’ Me lembrei daquele verso de Fernando Pessoa: ‘tudo vale a pena quando a alma não é pequena’ ”. Pois é. Mas nunca é pequena a energia para buscar recursos que, naturalmente, serão destinados com generosidade, alegria e boa-vontade a quem deles estiver mais necessitado.

Como diz o provérbio
Esposas de Eduardo Cunha e de João Santana, ambas enfrentando processos, têm características em comum: gastos pessoais altos, cartões de crédito bem fornecidos, facilidade de estabelecer novos contatos, disposição para enfrentar problemas delicados, até mesmo os que lhes são impostos pelo Judiciário e parecem intransponíveis. São mulheres especiais, que atraem políticos poderosos. A razão é simples, considerando-se as pessoas citadas: como diz o provérbio, duas cabeças pensam melhor do que uma.

Voa, Dilma!
Dilma está sem jatinho? Não faz mal: alguém lhe alugou um para que fosse conversar com aliados, em Campinas. E por que não viajou em avião comercial? Porque não pode, uai. Jatinho é o único veículo (fora aquele outro que todos os piadistas vão citar) que lhe permite voar sem ser vaiada.

Dia de folga
São João cai numa sexta, 24 de junho. Boa parte dos tribunais comemora o dia do santo com um descanso extra:  em Alagoas e Piauí, fecham por uma semana, de 24 em diante. Na Bahia e Paraíba, fecham no dia 23 e só reabrem em 4 de julho. A menos que alguém queira festejar também o Independence Day.

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

 

segunda-feira, 7 de março de 2016

“Aperte o cinto, o governo sumiu”



Lula depõe sob vara, as empresas de seus filhos, as casas de seus amigos, o Instituto Lula, sofrem busca e apreensão. Gente sua, como Paulo Okamoto, José de Filippi e Clara Ant, é chamada a depor. Qual a reação do governo? Nenhuma ─ claro que não. Como haveria reação do governo se não há governo? Em 11 de setembro de 2001, atentados simultâneos atingiram, nos Estados Unidos, o Pentágono e as Torres Gêmeas. 

Um avião que seguia na direção da Casa Branca foi derrubado pela reação dos passageiros. O presidente George W. Bush fechou o espaço aéreo americano, iniciou imediatamente as investigações sobre os autores dos atentados, enviou ao Congresso uma resolução sobre o uso da força militar contra terroristas e países que os apoiassem. Em três dias, a resolução estava aprovada. Correto ou não, o governo apontou o caminho a seguir.

E o nosso governo, no momento em que o seu ex-líder no Senado, em delação premiada, joga a crise no colo da presidente e do criador de postes, o ex-presidente? Simples: a presidente descarregou farto estoque de palavrões e só não disse que o delator era idiota porque a lembraram de que, no caso, estaria admitindo ter escolhido um idiota para líder no Senado. Dois de seus ministros falaram sem combinar com ninguém.  

O porta-voz … mas quem é seu porta-voz? E a reação foi criticar “o golpe” ─ um golpe, claro, combinado entre imprensa, juízes, promotores, ministros do STJ e ministros do Supremo escolhidos pelo PT.

Faltou pensar antes de agir. Mas tudo bem: o governo nem pensou nem agiu.
Só na vontade

Quando as tropas nazistas chegaram a Moscou, o líder soviético Stalin tomou duas decisões: primeiro, não deixaria a cidade; segundo, seu melhor general, Rokossovsky, polonês, preso por sua ordem, foi libertado para assumir o supremo comando da defesa da capital. Ganhou.

Tanta gente neste nosso governo admira o marechal Stalin! Mas é amor apenas platônico. Correr riscos e decidir, isso não. É o motivo de tanta trapalhada no enfrentamento da Lava Jato. Ninguém sabe o que fazer. Mas não é de admirar: um governo que põe no ar um programa errado de imposto de renda, cujo E-Simples levou meses para funcionar, que não tem a menor ideia nem de como combater mosquitos, está também indefeso diante de procuradores e magistrados.

E insiste no erro: o ministro da Educação que não conseguiu realizar nenhum Enem sem problemas virou prefeito de São Paulo, onde até agora não conseguiu entregar uniformes e kits escolares ─ e, convenhamos, a data do início do ano escolar não pode surpreender ninguém. É mais fácil insultar o juiz Sérgio Moro pelas redes sociais. Só que não funciona.

Pensar no futuro
É normal que boa parte da população, que não acreditava que Lula fosse atingido pelas investigações, esteja comemorando. Mas festejar nessa hora não é bom para ninguém. Quem quer que esteja no governo terá, de agora em diante, de buscar um caminho que funcione. “Não podemos incendiar o Brasil”, diz Marco Aurélio, um dos poucos ministros do STF que não devem a nomeação ao PT. “Vamos esperar que as instituições funcionem”. E, esquecendo a questão prática, de que é preciso cuidar do futuro, há também a questão humana: não é de bom-tom festejar a desgraça dos outros.

Que a lei seja cumprida, doa a quem doer, mas tenhamos sobriedade. É ótimo, como exercício de comedimento; e útil, pois o adversário vencido, mas não humilhado, pode transformar-se em aliado.

Adeus, Delcídio
Delcídio, o líder do governo no Senado, ganhou com sua explosiva delação premiada o direito de viver fora da cadeia. Mas ganhou também o ódio de boa parte dos senadores, antes seus amigos: vários terão problemas por causa do que ele contou. O Planalto continua a apreciá-lo, mas bem pururuca e com batatinhas. Deve perder o mandato. Assim perde o foro privilegiado e cai na vara de Sérgio Moro. Espera, porém, que o acordo seja respeitado.
É provável que ele possa voltar a dar suas festas magníficas, embora sem convidados tão ilustres.

Adeus, Cunha
A denúncia contra Eduardo Cunha foi aceita no Supremo por unanimidade. Ainda não foi julgado, presume-se sua inocência, mas a unanimidade deve dizer-lhe alguma coisa. Cunha é competente e combativo, mas não deve durar muito.

O caminho do país
Se Dilma for impedida, o vice Michel Temer assume. Se a chapa Dilma-Temer for cassada pelo TSE, por abuso de poder econômico (a delação de Delcídio passa por aí), o substituto tem 60 dias para convocar eleições. Os dois primeiros substitutos legais, Cunha e Renan, têm problemas com a lei. Nada estranho: dos 594 parlamentares, 160 estão pendurados no Supremo. Desses, há uns 40 na lista da Lava Jato.
Não se escandalize, caro leitor: o Brasil é assim mesmo.

Bico grande
O Brasil é assim mesmo, seja ou não PT. Em São Paulo, governado pelos tucanos desde 1995, o Ministério Público apresentou a oitava denúncia contra as multinacionais Alstom e CAF, acusadas de fraudes a licitações do Metrô no valor de R$ 1,8 bilhão. Oito denúncias. Nenhuma delas foi ainda julgada.

Fonte: Coluna de Carlos Brickmann 

domingo, 20 de setembro de 2015

“The Walking Dead” e outras seis notas de Carlos Brickmann

A tropa de funcionários sem concurso continua lá, como se tudo estivesse normal. Aloizio Mercadante faz cara de bravo e ocupa o espaço ao lado do rosto e acima do ombro de Dilma, como se as fotos ainda valessem a pena. Sibá Machado e José Guimarães aquele cujo assessor andava com dólares na cueca ─ ainda discursam, como se alguma vez tivessem sido importantes. E todos correram para buscar socorro com o Pai de Todos, o Número 1, o Boa Ideia, O Cara, como se Lula ainda pudesse salvar seus empregos e mordomias. No momento em que pediram socorro ao Pai dos Postes, anunciaram que o governo acabou.

Se a Benemerenta que distribui nomeações e benesses e manda no Diário Oficial não consegue sustentar-se no poder, nem distribuindo dezenas de Ministérios, não tem como ostentar o majestoso título de Denta. Denta virou cargo honorífico. Como diria um filho cujo pai o chamou de Ronaldinho dos Negócios, game over. Como nos desenhos animados em que o personagem anda na prancha e só despenca no abismo ao perceber que a prancha acabou, falta apenas cair.

E táticas que já deram certo dificilmente funcionarão agora. Lula, estrela máxima do petismo, já se queixou de que não pode sequer ir a um restaurante. Não pode tomar um voo comercial nem, por outro motivo, os bons jatos dos empresários. Sujeita-se a um jatinho pequeno, apertado. Aliados o abandonam; amigos antigos, como José Dirceu, ele os abandonou. E, se nem aos tradicionais restaurantes do tempo de metalúrgico pode ir, que prestígio lhe resta para dar a Dilma?

O jatinho pequetitinho
Como Lula viaja, hoje? Já se sabe: num jatinho Cessna 525, prefixo PR-BIR, de uma empresa do ex-ministro Walfrido Mares Guia. O dono do jato que serve a Lula é filiado ao PTB e foi vice do governador tucano Eduardo Azeredo, em Minas. O PT o acusou de articular o Mensalão Mineiro, esquema de corrupção eleitoral que seria seguido pelo Mensalão propriamente dito, e de ser protegido pela Justiça pela ligação com tucanos.


Com a eleição de Lula, Mares Guia foi seu ministro do Turismo e das Relações Institucionais. Saiu em 2007, acossado pela Justiça (as acusações prescreveram só em 2014). Mas, pelo jeito, continuou amigo de Lula, daqueles de guardar debaixo de sete chaves (e um brevê de piloto).

Julgando a chapa
Os locutores de futebol diriam: que fase! Bem no meio da crise, a ministra Luciana Lóssio, do Tribunal Superior Eleitoral, liberou para julgamento um dos processos em que o PSDB pede a cassação do registro da chapa Dilma-Temer. A questão entra em pauta nesta terça, 22. Até agora, votaram pela aceitação do processo (atenção: não é julgamento. É apenas o ato de recebê-lo para que seja julgado em outra ocasião) quatro ministros: João Otávio Noronha, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Henrique Neves. Votou contra a ministra Maria Thereza de Assis Moura. Faltam os votos de Luciana Lóssio e de Dias Toffoli, presidente do Tribunal. 

Mas, apesar da maioria, a questão não está decidida: enquanto a votação não se completar, cada ministro tem a prerrogativa de alterar seu voto.

Sacudindo o governo
O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais anunciou greve geral para quarta-feira, como protesto contra o adiamento de janeiro para agosto do reajuste do funcionalismo. Decretar greve é uma coisa, realizá-la é outra: se der certo, será a primeira a ocorrer no país. No mesmo dia, deve haver manifestações do MST e MTST, grupos que sempre estiveram ao lado do PT.

A coisa é confusa, a favor de Dilma, contra Levy, mas enfraquece o governo. 

A conta do pacote
Por que a revolta do funcionalismo? Porque, no corte de despesas previsto no plano do governo, 40% se dirige ao bolso dos funcionários públicos. 

E não é só o governo
Um assíduo leitor desta coluna recebeu carta de seu seguro-saúde, ligado a um dos maiores grupos empresariais do país. Informa a carta que o plano, conforme autorizou a ANS, Agência Nacional de Saúde, está subindo 13,31% mais que o dobro da taxa de inflação no período, medida pelo Índice Geral de Preços.


O leitor pegou então sua apólice de 1988 e atualizou o preço para o valor de hoje da moeda. O pagamento, corrigido pela inflação, seria de R$ 943,72. Mas o custo mensal do plano é agora de R$ 2.406,00, pouco menos que o triplo da tabela original, corrigida pela inflação oficial.

Em resumo, o governo é o leão que se alimenta de nosso dinheiro; e que libera as hienas para que comam o resto.

Excelentíssimas excelências
A República já tem mais de um século, mas velhos hábitos se mantêm. A mania de se diferenciar da rude plebe, por exemplo: até reitores, que deveriam perceber o ridículo, fazem-se chamar de “Vossa Magnificência”. Parlamentares, por menos excelentes que sejam, exigem o tratamento de “Vossa Excelência”. Juiz, por ser juiz, passa a se distinguir pelo mérito e vira “meritíssimo”. Agora, delegados da Polícia Federal querem ser chamados de Vossa Excelência, e alguns, quando o tratamento não é usado, movem processos disciplinares contra os subordinados.


Os agentes da PF entraram na Justiça para contestar a determinação.

Fonte: Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN