Luciana Lóssio, a ministra que reteve o
processo contra Dilma no TSE, é questionada por não se declarar impedida em casos envolvendo ex-clientes, como a própria presidente
Aos 41
anos, a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luciana Lóssio está longe de ser uma unanimidade entre seus pares. Desde que assumiu o
cargo em 2011, sob as bênçãos do então
presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, ela criou em torno de si uma teia
de relações que demonstram sua dificuldade para separar a atuação como advogada
de políticos, exercida antes de ascender ao posto, da função atual de
magistrada.
Há
três semanas, ela pediu vista da Ação de
Investigação de Mandato Eletivo que apura se a campanha da presidente Dilma Rousseff à
reeleição recebeu dinheiro do esquema de propinas nos contratos da
Petrobras. O processo pode resultar na condenação da chapa petista por abuso de
poder político e econômico. O pedido de vista, liberado na quinta-feira 17, suspendeu
o julgamento e foi apresentado justamente quando o placar exibia quarto votos a
um a favor da investigação contra a presidente. Depois da sessão, durante o
tradicional lanche entre os ministros, ela foi questionada sobre o prazo que
levaria para analisar o processo. Segundo um ministro ouvido por ISTOÉ, a resposta veio eivada de ironia: “Não estou com a menor pressa”, teria
dito.
LIGAÇÃO
ANTIGA
A ministra do TSE atuou como advogada na campanha de Dilma em 2010 e, logo em seguida, foi indicada pela presidente para o cargo que ocupa atualmente
A ministra do TSE atuou como advogada na campanha de Dilma em 2010 e, logo em seguida, foi indicada pela presidente para o cargo que ocupa atualmente
Esta
postura da ministra por si só já seria motivo de polêmica, diante da gravidade
das revelações da Operação Lava Jato. Mas seu comportamento passou a ser alvo
de severos questionamentos por uma razão que não deve ser desconsiderada: ela
atuou como advogada na campanha presidencial de Dilma em 2010 e, logo em
seguida, recebeu da presidente a indicação para o cargo que ocupa atualmente.
Na avaliação de integrantes do meio jurídico, uma ministra de uma corte
superior não poderia participar de um julgamento envolvendo uma chapa que pagou
por seus serviços quatro anos antes. O que os ministros se perguntam é: por que
Luciana não se declarou impedida desde o inicio do caso, como era de se esperar
de qualquer juiz que preze pela credibilidade dos tribunais que compõem?
A resposta pode estar no histórico da conduta da ministra. Como resumiu um dos
ministros ouvidos por ISTOÉ, “Luciana sofre de uma dificuldade evidente para declarar-se
suspeita em um processo”.
Foi assim
no episódio do pedido de cassação da então governadora do Maranhão, Roseana
Sarney (PMDB). A ministra havia sido advogada de Roseana no processo que
resultou na cassação de Jackson Lago, em 2009. Em março de 2013, ela tornou-se
relatora de uma ação contra a antiga cliente. Esperava-se que a ministra
repassasse imediatamente a função de relatora para outro colega. Mas não foi o
que ela fez. Embora pelo menos dois ministros afirmem que chegaram a
questioná-la sobre sua incompatibilidade para analisar o processo, Luciana
ficou quase seis meses com a ação sob seu poder.
Somente em agosto, depois de
uma audiência com representantes da então governadora, a ministra se declarou
impedida de julgar o caso. Como faltavam apenas dois meses para a nova eleição
ao governo, Roseana Sarney terminou seu mandato sem enfrentar o julgamento da
ação pelo TSE.
Em 2013, Luciana já havia adotado a estratégia de
segurar
o processo para beneficiar a cliente Roseana Sarney
o processo para beneficiar a cliente Roseana Sarney
No ano
passado, outra atitude da ministra
provocou reações no tribunal. A pedido do PT, ela apressou a votação do processo
de expulsão do então deputado André Vargas (PR). Ele havia sido o primeiro a
ser citado nas investigações da Lava Jato e, naquele momento, a cúpula petista
acreditava que expulsá-lo rapidamente poderia estancar a crise que se
aproximava da legenda. Luciana era a relatora do caso e concluiu o voto em
menos de um mês. “Uma eficiência poucas
vezes vista na Corte abarrotada de processos”, comenta um dos ministros.
A ministra tem encarado as
críticas sobre a própria conduta com naturalidade. Não responde a provocações e
segue alegando agir de acordo com a própria consciência. Embora seja discreta e seus
colegas aleguem que sua bagagem jurídica é inferior à demanda do cargo de
ministra do TSE, Luciana Lóssio tem conseguido tornar-se protagonista de
alguns dos mais importantes processos que tramitam na Corte. No caso específico
da ação que pretende investigar se a campanha de Dilma foi abastecida por
recursos de propina, a ministra prestou
um grande serviço ao governo.
Foto: Sérgio Lima/Folhapress