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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O balcão de negócios da reforma

É o que temos, pois o debate e o voto por principios estão em falta

Às vezes dá a impressão de que muitos deputados e senadores pensaram assim: "se os políticos já estão desmoralizados na opinião pública, se o povo já está irritado, se a Lava Jato está na marcação,  então a gente nem precisa mais fingir; agora é pagou-levou".
Só isso explica a sinceridade com que muitos deles contam que podem votar a favor da reforma da previdência em troca de cargos no governo federal ou verbas distribuídas pelo presidente Temer. Reparem: não se trata de votar um projeto de lei que cria, digamos,  o dia nacional da honestidade; trata-se da reforma mais importante para a solvência das contas públicas nas próximas décadas. 
 
Pois se barganha se vale duas diretorias, uma superintendência de ministério ou uma presidência de estatal. Ou verba pública para comprar furgões com gabinete de dentista. Aliás, o presidente Temer deveria usar preferencialmente esse tipo de moeda. O deputado chega lá pedindo uma diretoria da Eletronorte. O presidente barganha e oferece a liberação de verba para a compra de caminhões de água para as regiões da seca; ou para aquisição de laboratórios para escolas da área eleitoral do político; e por aí vai. Tem muita coisa a oferecer, já que são tantas carências.
 
É claro que isso não é novo na política. Os riscos também são os mesmos: gabinetes dentários sem dentistas; ambulâncias sem médicos e sem hospital onde entregar os pacientes; caminhão de água sem gasolina e também por aí vai. É, pensando bem, talvez uma diretoria de estatal saia mais barato, ainda mais agora que a Lava Jato está em cima do pessoal. É o que temos, pois o debate e o voto por princípios, por uma determinada visão da sociedade, estão em falta. Considerem o PSDB. O partido, com méritos, na época de FHC, colocou na pauta o tema da reforma da previdência, parte de uma proposta mais geral de organização do Estado e das finanças públicas. Economistas ligados ao partido desenvolveram as mais importantes ideias nesse campo.
 
Pois então, o PSDB tem 46 deputados federais, que ainda estão discutindo como votarão nessa questão. O novo presidente da legenda, o governador paulista Geraldo Alckmin, conseguiu que o diretório nacional fechasse questão a favor da reforma. Mas não fixou penalidades para o parlamentar que desobedecer a instrução partidária. Resultado: pessoal do partido está achando que Alckmin terá feito muito e demonstrado máxima força se conseguir pelo menos 30 votos a favor da reforma. E os outros? Dizem que não querem votar a reforma porque isso fortaleceria Temer para as eleições de 2018 e, pois, enfraqueceria as pretensões presidenciais do PSDB. Mas o candidato tucano é o próprio Alckmin, que está pedindo votos para a reforma.
 
Aliás, esse movimento do governador paulista é interpretado como um gesto corajoso, de boa vontade e de visão mais larga. Até pode ser, dadas as circunstâncias, mas, caramba! pessoal, a reforma é tema do PSDB. Que o apoio ostensivo de Alckmin seja interpretado como ato ousado - eis um sinal dos tempos. Mau sinal. Há outros. Como os parlamentares que dizem compreender a necessidade da reforma, mas que não podem votar porque eleitores estão contra. Também é de reparar: a reforma é necessária para o equilíbrio das contas públicas, o que vai liberar recursos para que o governo preste os serviços de saúde, educação, segurança etc. Ou seja, a reforma terá efeitos positivos para o povo. Se o parlamentar pensa assim, então deveria tentar convencer seus eleitores em vez de simplesmente jogar a bola para a frente.
 
Na verdade, não há convicção nenhuma. Apenas cálculos para salvar o mandato. Outros sinais aparecem nas negociações em torno das candidaturas presidenciais. O PSB, por exemplo, namora o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Faz sentido. O PSB é socialista, o ministro do mensalão tem ideias mais à esquerda. Mas isso não quer dizer muita coisa, pois outra ala do PSB quer fazer aliança com Alckmin. Pois, o PSB é contra as reformas, contra as privatizações, mas há socialistas (?) pensando em aliança com Alckmin, que apoia reformas e privatizações. E que faz privatizações em São Paulo tendo como vice um membro do PSB.
 
O pessoal do PMDB considera perfeitamente natural ser o partido do presidente das reformas e, nos Estados,  fazer alianças com Lula, que também acha muito normal atacar o governo golpista e se aliar com os aliados dele. 
Isso tudo para uma eleição que deveria ser tão importante.

Por:
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A fervura de Henrique Meirelles

O ministro da Fazenda está sendo fervido por Temer, pelo Congresso e, sobretudo, pela própria parolagem

Não se diga que estão fritando Henrique Meirelles. Ele é um queridinho do mercado, entende-se bem com Michel Temer e vocaliza as ortodoxias de gênios que sabem como consertar o Brasil, mas não conseguem conviver bem com seu povo. Meirelles está sendo fervido. A fervura de um ministro difere da fritura porque enquanto a frigideira é desconfortável desde o primeiro momento, inicialmente o panelão oferece um calorzinho agradável. Depois é que são elas. 

Desde o amanhecer do governo, Michel Temer flertava com a abertura de um balcão no Planalto. O ministro da Fazenda conseguiu contê-lo, até que surgiu o grampo de Joesley Batista. Para salvar seu mandato, o presidente abriu os cofres para os piores interesses predatórios instalados no Congresso. Não se deve esquecer que Meirelles foi levado para a Fazenda numa equipe em que estavam o senador Romero Jucá e o deputado Geddel Vieira Lima.

Temer deu a Meirelles quase toda a autonomia que ele pediu, mas o ministro não entregou os empregos e a perspectiva de crescimento que prometeu. Entrou no governo oferecendo um aumento de 1,6% para este ano e elevou o balão para 2%. Tudo fantasia, hoje o FMI espera 0,3%.

Na segunda-feira, ao ser indagado sobre a possibilidade de um novo aumento de impostos, ele informou: “Tudo é possível, se necessário”. Frase típica das serpentes encantadas pelos refletores. Não quer dizer absolutamente nada. Enuncia um dilema que exige a definição de “possível” e de “necessário”. Atravessar uma rua com o sinal fechado, por exemplo, pode parecer necessário, mas deixa de ser possível se o cidadão é atropelado. O Visconde de Barbacena achava que a derrama era necessária. Descobriu que não era possível.

Todos os ministros da Fazenda desempenham o papel da animadores do auditório. Alguns fazem isso com elegância, como Pedro Malan, outros, de forma patética, como Guido Mantega. Meirelles distanciou-se de Malan e caminha para o modelo de Mantega, num governo onde estão Michel Temer e seu mundo de bichos fantásticos. Em fevereiro, Meirelles anunciou pela primeira vez: “A mensagem importante é que essa recessão já terminou”. Atrás dele veio uma charanga comemorativa. No mundo real, seu teto de gastos estourou, a reforma da Previdência será diluída e benza-se aos céus se o piso dos 65 anos for preservado. No caso da reforma trabalhista fingiu-se que acabou o imposto sindical, ao mesmo tempo em que o governo negocia uma nova tunga. Antes, os trabalhadores formais pagavam um dia de trabalho a uma máquina infiltrada pela pelegagem e trabalhadores e patrões. Pelo que se negocia, algumas categorias serão mordidas em mais que um dia.

O remédio de Meirelles foi aumentar um imposto. Faça-se justiça ao doutor registrando que ele nunca se comprometeu a não aumentá-los. O seu problema é outro. Ele lida com essas taxações como se fossem uma arma para punir uma sociedade que é obrigada a pagar porque ele e seu presidente não fazem o serviço que prometem. 

Um dia Meirelles deve dar uma olhada na galeria de doutores que o antecederam. Nos últimos 20 anos, foram 14. Pelo menos sete foram fritos. Antonio Palocci está na cadeia, uns três deveriam ter ido para o hospício. Inteiros, saíram só dois, Malan e Fernando Henrique Cardoso, mas todos foram homenageados pela mesma orquestra que hoje ensaboa Meirelles.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista