“Então, aqui, hoje, eu tô saudando… eu tô sandando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil”.
O vídeo de 48 segundos sopra que, pelo que disse antes e depois de anunciar que a mandioca ─ como a Copa de 1958, a Independência, o milésimo gol de Pelé, o desfile inaugural na Sapucaí ou a primeira visita do Papa ─ figura entre as mais extraordinárias façanhas nacionais, Dilma deve permanecer no Sanatório mais alguns meses. Ou anos. Ou para sempre, sugere a contemplação do torturado e torturante funcionamento do maquinismo mental resumido num neurônio só. Tente acompanhar o palavrório sem pé nem cabeça: “Nós tamo comungando a mandioca com o milho, e certamente nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento da civilização humana ao longo dos séculos“, começa o trecho do que foi, na imagem de Nelson Rodrigues, uma patuscada inverossímil da cabeça aos sapatos. Na continuação, entra a celebração da mandioca. A plateia endossa a maluquice com risos e aplausos. Segue o baile.
Com um estranho objeto na mão esquerda, a presidente explica o que é aquilo. “Pra mim essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em homo sapiens”. Faz uma pausa ligeiríssima, capricha no sorriso superior e corrige: “Ou mulheres sapiens“. Termina o vídeo.
Mas o enigma continua: o que houve com a Doutora em Nada que vai tornando muito pior o que aparentemente alcançara os limites do péssimo? O falatório na abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas confirma que, depois de confessar que poucas coisas na vida são mais aprazíveis que caipirinha com tequila, Dilma deu de enveredar pelo traiçoeiro terreno da ambiguidade, apimentando o idioleto que inventou com expressões que, em português, podem significar isto, aquilo ou outra coisa muito diferente. Há uma semana foi o rego. Agora é a mandioca.
Reynaldo Rocha: Lula está querendo ver a sucessora
nas ruas ou na rua?
Luiz Ignácio falou! Uma repetição
enfadonha sobre a mídia que ele quer ver controlada e duas novidades. Uma delas: quer que Dilma saía às ruas. O que a
afilhada deve dizer? Segundo o padrinho, é
hora do beijo e do olho no olho. Esta é a receita. Seria cômico ver Dilma
nas ruas olhando fixamente os olhos de quem reclamasse do estelionato
eleitoral. Pior:
dando um beijo no cidadão indignado.
Quer dizer então que o PT está só interessado em cargos e empregos? Foram os milicianos que hoje defendem suas sinecuras que inventaram este aparelhamento cruel, que colocou a meritocracia abaixo da contribuição partidária? Ou o lulopetismo criou esse monstro que hoje Luiz Ignácio diz que precisa ser combatido?
Alguém enxerga um traço tênue de sinceridade nisto? Está claro que Lula bate na cria (ou poste) e agora tenta dissociar-se do próprio PT. Deixando cargas pelo caminho e tentando o impossível: isentar-se da responsabilidade. Quer Dilma nas ruas para ser humilhada. Não diz o que Dilma deveria dizer. Nem o que fazer, exceto distribuir olhares intensos (olhos nos olhos) e beijos. Nenhuma palavra sobre um caminho, o reconhecimento de erros, as correções necessárias, o bolivarianismo e outras barbaridades. Que Dilma escute panelaços.
E agora, o lobista-mor (acima de “consultores de tráfico de influência e corrupção”, nova modalidade criada pelo PT ainda não tributável nos ISS da vida) diz que a companheirada que está pendurada nas tetas de qualquer cargo público, quer somente saber do emprego e do cargo. É o caso típico do assaltante de bancos recriminando o trombadinha. Nessa pantomima sem nexo ou lógica, resta claro uma motivação: medo da cadeia! O líder máximo do PT abandonou a afilhada, o partido e quer que esqueçamos o passado. Dele.
Fonte: Augusto Nunes