Policiais civis param por 48h; PMs ameaçam com Operação Tartaruga
Agentes e delegados decidiram parar a partir das 8h de hoje, dia da primeira partida da Seleção Brasileira em Brasília, a fim de pressionar o governo por 37% de aumento salarial.
Pressão diante do Palácio do Buriti: assembleia de policiais civis realizada ontem definiu que a paralisação será de 48 horas
Os
policiais civis decidiram cruzar os braços na data em que começam as
Olimpíadas na capital federal. A categoria aprovou paralisação de 48
horas para pressionar o governo a conceder reajuste salarial de até
37%, o mesmo garantido à Polícia Federal. A greve começa a partir das
8h. Em nota divulgada ontem, a Casa Civil, que vinha comandado as
negociações, retirou a proposta apresentada na manhã de terça-feira —
de 7%, a partir de outubro de 2017, 10%, em outubro de 2018, e 10%, em
outubro de 2019 — diante da postura dos policiais. “A radicalização do
movimento é precipitada, uma vez que o reajuste da PF ainda precisa ser
aprovado pelo Congresso e, nesse caso, só vigoraria a partir de
janeiro do ano que vem”, diz a nota do GDF. Em outra, na noite de
ontem, a direção-geral da Polícia Civil disse que “respeita a
deliberação e adotará as providências para garantir o funcionamento dos
serviços essenciais”.
Na assembleia realizada ontem à
tarde, o clima entre os agentes civis era de guerra contra o governo.
Eles prometem pressionar duramente o Palácio do Buriti e, hoje à tarde,
farão uma manifestação no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha,
durante a partida Brasil x África do Sul. [esta manifestação tem que ser proibida; se realizada será a desmoralização de todo o esquema de segurança das Olimpíadas.]
Além
disso, a situação da segurança pública de Brasília pode piorar:
policiais militares se reunirão com representantes do GDF na próxima
segunda-feira, e setores da corporação defendem a volta da Operação
Tartaruga como forma de pressão pelo reajuste reivindicado.
As
negociações entre GDF e policiais civis se arrastam há algumas
semanas, mas o nervosismo atingiu o ápice ontem. O governador Rodrigo
Rollemberg chegou a se reunir com representantes da corporação e
divulgou carta em que expôs as dificuldades financeiras do Executivo. A
Polícia Civil do DF tem isonomia salarial histórica com a Polícia
Federal. Depois de extensa negociação, a PF conseguiu aumento de 37%, e
os agentes brasilienses brigam por equiparação.
A
paralisação anunciada pela Polícia Civil do DF deverá ter consequências
nos eventos olímpicos marcados para a capital federal. Há, por
exemplo, uma delegacia provisória montada dentro do Estádio Mané
Garrincha e, com a greve, não há previsão de atendimento no local,
mesmo nos dias de jogos. Pela decisão tomada durante a assembleia, a
categoria só atenderá flagrantes e serviços essenciais durante a
paralisação.
O presidente do Sindicato dos Policiais
Civis do DF, Rodrigo Franco, lamenta que o Executivo local não tenha
levado uma nova proposta à categoria. “Havia uma expectativa de que o
GDF apresentaria algo antes do início da assembleia, mas não recebemos
nada, o que pareceu uma provocação do governo. A categoria está muito
indignada e disposta a enfrentar tudo pela isonomia com a PF”, comenta o
presidente da entidade. “Os policiais aceitam trabalhar sem estrutura,
com armas defeituosas e com coletes vencidos, mas ninguém aceita
trabalhar sem o reajuste igual ao da Polícia Federal”, acrescenta.
Os
delegados da Polícia Civil também realizaram assembleia ontem, e o
posicionamento foi por greve de 48 horas. “O governo apresentou uma
proposta verbalmente, que nem chegou a ser formalizada. Sempre dissemos
que não aceitamos quebrar a paridade com a PF”, alega o vice-presidente
do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do DF, Rafael Sampaio.
A
categoria alega que, na gestão do ex-governador Agnelo Queiroz, não
houve reajustes com a argumentação de que era preciso esperar o aumento
da PF. “Seria injusto agora romper esse vínculo institucional, que é
histórico. Dessa forma, fica inviável manter diálogo com o governo. Não é
nosso objetivo causar prejuízos à sociedade, mas, infelizmente, os
índices de criminalidade tendem a subir nesse período”, conclui Rafael.
Economia
O
chefe da Casa Civil do GDF, Sérgio Sampaio, assumiu o papel de
negociador do governo nas conversas com a Polícia Civil. Ele afirma que o
Executivo local reconhece a legitimidade das reivindicações da
categoria, mas, neste momento, não tem condições de fornecer o aumento
pleiteado. “Sem levar em conta qualquer reajuste para a segurança
pública ou os aumentos que devem ser pagos a partir de outubro a 32
categorias, ainda faltam mais de R$ 1 bilhão para o governo conseguir
fechar as contas”, afirma Sampaio.
Diante disso, a
equipe econômica vetou qualquer proposta acima da ofertada esta semana
aos policiais. “Fizemos um esforço enorme para fechar essa proposta e
está difícil avançar. A equipe econômica mostrou que seria complicado”,
disse o chefe da Casa Civil. Além do reajuste isonômico com a PF, os
agentes cobram investimentos na corporação e contratação dos
concursados. Em junho, o governador Rollemberg anunciou a admissão de
155 servidores, entre agentes e escrivães.
Militares
A
PM e os bombeiros também reivindicam o mesmo reajuste concedido à PF,
pois esse foi o percentual assegurado às Forças Armadas. O
vice-presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares
(Aspra), Manoel Sansão, adianta que a corporação “vai negociar
democraticamente com o governo”. “Se o GDF não apresentar propostas,
tudo pode acontecer”, alertou. Os PMs não podem fazer greve, mas, nos
bastidores, existe articulação para a realização da Operação Tartaruga.
“Na próxima segunda, teremos reunião com pessoas do governo. A PM quer
aumento de 37%, como ocorreu com as Forças Armadas”, reivindica.
Em nota, o GDF reiterou “ser inaceitável que qualquer movimento sindical interrompa serviços essenciais à população”.
Fonte: Correio Braziliense