Forças acertam em distinguir entre seu papel institucional e o governo Bolsonaro
O
que se convencionou chamar de ala militar da administração Jair Bolsonaro
compreende perspectivas e interesses heterogêneos. Entre fardados do serviço
ativo, em particular, transparece o incômodo com a visão de que governo e
caserna formam um corpo único. A
responsabilidade, obviamente, é daqueles oficiais-generais que emprestaram
credibilidade a um capitão reformado conhecido por sua indisciplina. Não foi,
convém destacar, um apoio unânime — a adesão ao projeto bolsonarista teve sua
maior intensidade no Exército e menor na Aeronáutica. [por óbvio: o efetivo do Exército é bem superior ao da Marinha e Aeronáutica, tendo também o fato da força de origem do presidente Bolsonaro ser o Exército - em que pese ser o presidente da República o comandante supremo das 3 Forças.]
Mas a bênção dada ao candidato pelo Alto-Comando do Exército em 2018 e a consequente ocupação de postos-chave do governo por militares cimentou a união. O presidente usou a carta fardada por diversas vezes, chegando ao paroxismo das insinuações golpistas do primeiro semestre deste ano, ora moduladas pela composição com o centrão enquanto a Justiça cercava a família de Bolsonaro. Os militares foram recompensados. Gastos em seus programas foram preservados, e uma reforma previdenciária e de carreira sob medida foi entregue a eles.[os militares não faziam parte da previdência reformada, sendo natural não serem alcançados pela previdência pós reforma.] Além de 9 de 23 ministros, 2.900 membros da ativa estão no governo, e o número mais que dobra se forem contados os da reserva.
Mas o mal-estar com o presidente se acentuou após atritos com setores ideológicos do gabinete e, mais recentemente, com a declaração destrambelhada sobre a necessidade de “ter pólvora” diante do risco de sanções ao Brasil após a vitória de Joe Biden nos EUA. Foi com grande atraso que o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, explicitou na semana passada o óbvio —que lugar de fardado não é na política, e ela não deve adentrar nos quartéis, como pontificou em debate público.
Mensagem do mesmo teor foi assinada no sábado (14) pelo ministro Fernando Azevedo, da Defesa, e pelos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. “O único representante político das Forças Armadas, como integrante do governo, é o ministro da Defesa”, afirma-se no documento conjunto. É bem-vindo esse cordão sanitário, a despeito de militares da ativa — como o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello — permanecerem em cargos importante da administração federal. Quanto mais clara a distinção entre a missão institucional das Forças e a agenda do ocupante do Palácio do Planalto, melhor para o país.
Opinião - Folha de S. Paulo