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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Cordão sanitário - Folha de S. Paulo

Forças acertam em distinguir entre seu papel institucional e o governo Bolsonaro

O que se convencionou chamar de ala militar da administração Jair Bolsonaro compreende perspectivas e interesses heterogêneos. Entre fardados do serviço ativo, em particular, transparece o incômodo com a visão de que governo e caserna formam um corpo único. A responsabilidade, obviamente, é daqueles oficiais-generais que emprestaram credibilidade a um capitão reformado conhecido por sua indisciplina. Não foi, convém destacar, um apoio unânime — a adesão ao projeto bolsonarista teve sua maior intensidade no Exército e menor na Aeronáutica. [por óbvio: o efetivo do Exército é bem superior ao da Marinha e Aeronáutica, tendo também o fato da força de origem do presidente Bolsonaro ser o Exército - em que pese ser o presidente da República o comandante supremo das 3 Forças.]

Mas a bênção dada ao candidato pelo Alto-Comando do Exército em 2018 e a consequente ocupação de postos-chave do governo por militares cimentou a união. O presidente usou a carta fardada por diversas vezes, chegando ao paroxismo das insinuações golpistas do primeiro semestre deste ano, ora moduladas pela composição com o centrão enquanto a Justiça cercava a família de Bolsonaro. Os militares foram recompensados. Gastos em seus programas foram preservados, e uma reforma previdenciária e de carreira sob medida foi entregue a eles.[os militares não faziam parte da previdência reformada, sendo natural não serem alcançados pela previdência pós reforma.] Além de 9 de 23 ministros, 2.900 membros da ativa estão no governo, e o número mais que dobra se forem contados os da reserva.

Mas o mal-estar com o presidente se acentuou após atritos com setores ideológicos do gabinete e, mais recentemente, com a declaração destrambelhada sobre a necessidade de “ter pólvora” diante do risco de sanções ao Brasil após a vitória de Joe Biden nos EUA. Foi com grande atraso que o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, explicitou na semana passada o óbvio —que lugar de fardado não é na política, e ela não deve adentrar nos quartéis, como pontificou em debate público.

Mensagem do mesmo teor foi assinada no sábado (14) pelo ministro Fernando Azevedo, da Defesa, e pelos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. “O único representante político das Forças Armadas, como integrante do governo, é o ministro da Defesa”, afirma-se no documento conjunto.  É bem-vindo esse cordão sanitário, a despeito de militares da ativa — como o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello — permanecerem em cargos importante da administração federal. Quanto mais clara a distinção entre a missão institucional das Forças e a agenda do ocupante do Palácio do Planalto, melhor para o país.

Opinião - Folha de S. Paulo 

 

sábado, 18 de abril de 2015

Vaccari, o homem dos presidentes

A prisão do tesoureiro do PT mostra que o partido atuava no governo como uma organização criminosa e envolve a campanha da presidente Dilma Rousseff no escândalo da Petrobras

No começo deste mês, a presidente Dilma Rousseff fez uma pausa em sua agenda de trabalho para discutir o rumo das investigações do petrolão, o maior esquema de corrupção da história do país. Numa conversa reservada, ela se mostrou impressionada com os depoimentos prestados por Pedro Barusco, o ex-gerente da Petrobras que acusou o PT de embolsar até 200 milhões de dólares em propinas arrecadadas de fornecedores da companhia. Sobre a forma, a presidente disse que Barusco era detalhista e organizado. 

Sobre o conteúdo, foi taxativa: "Ele entregou o Vaccari", declarou, referindo-se ao tesoureiro petista, João Vaccari Neto. Para a surpresa do interlocutor, a presidente não demonstrou apreensão. Depois de afirmar que o tesoureiro não tinha relações políticas com ela, Dilma insinuou que, se alguém deveria estar preocupado, esse alguém era o ex-presidente Lula. Naquela mesma semana, em um encontro em São Paulo, o antecessor também se fez de desentendido. A um petista graduado, Lula, mais uma vez, representou seu papel predileto, o do Capitão Renault, que no clássico Casablanca embolsa um envelope com seus ganhos na noite, enquanto finge surpresa com a descoberta do cassino em funcionamento no Ricks Cafe. Disse Lula Renault: "Eu quero saber se tem rolo nessas transações".

Desde 2003, quando o PT assumiu o poder, Lula nunca mais soube de nada. No caso do petrolão, não é diferente. Desde a eleição passada, quando se trata do esquema de corrupção, Dilma lava as mãos e posa como saneadora da Petrobras. Os dois querem se afastar de Vaccari, mas as informações colhidas pelas autoridades mostram que o "mochila" - ou Moch, como o tesoureiro era chamado - é um operador a serviço dos dois presidentes. Um operador que agora está preso e, na condição de investigado e encarcerado, tende a aumentar o desgaste da imagem do governo, do PT e de seus dois principais líderes. No fim do ano passado, o detalhista Barusco declarou às autoridades que agiu em parceria com Vaccari e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, a fim de levantar dinheiro sujo para os cofres petistas. Vaccari nunca explicou por que se reunia tanto com Barusco e Duque, e sempre insistiu na tese de que as empreiteiras fizeram doações ao partido dentro da lei. Se no mensalão tudo não passara de "caixa dois", como alegara Delúbio Soares, o primeiro tesoureiro do PT preso, no petrolão tudo agora seria "caixa um", ou financiamento legal, na novilíngua de Vaccari, o segundo tesoureiro do PT preso num prazo de um ano e meio.

Essa versão já havia sido desmentida por empresários. Eles confirmaram que pagaram propina e que o tesoureiro usou a Justiça Eleitoral para esconder o crime. A novidade é que Vaccari, segundo as autoridades, também praticou o bom e velho "caixa dois", que teria custeado uma despesa da primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff. Ao determinar a prisão dele, o juiz Sérgio Moro relatou informações prestadas por Augusto Mendonça, executivo da Setal. Um dos delatores do petrolão, Mendonça disse que, em 2010, Vaccari determinou a ele que repassasse 2,5 milhões de reais à Editora Atitude, controlada por sindicatos ligados à CUT e ao PT. O dinheiro, de acordo com o delator, foi descontado da propina que a empreiteira devia ao partido como contrapartida por contratos na Petrobras. Os pagamentos começaram a ser realizados em junho daquele ano. Três meses depois de a Setal começar a desembolsar a propina, na véspera da eleição, a gráfica imprimiu 360 000 exemplares da Revista do Brasil, edição que trazia na capa a pré-candidata Dilma Rousseff e o título "A vez de Dilma".

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) puniu a gráfica por propaganda eleitoral irregular a favor da petista. Depois de eleita, Dilma nomeou o ex-vice presidente da CUT José Lopez Feijó, um dos comandantes da Editora Atitude, para um cargo de destaque na Secretaria-Geral da Presidência, onde ele despacha até hoje. Disse o juiz Moro: "Observo que, para esses pagamentos à Editora Atitude, não há como se cogitar, em princípio, de falta de dolo dos envolvidos, pois não se trata de doações eleitorais registradas, mas de pagamentos efetuados, com simulação, total ou parcial, de serviços prestados por terceiros, a pedido de João Vaccari". Como estratégia de defesa, Dilma tenta erguer uma espécie de cordão sanitário entra ela e o tesoureiro do PT. A suspeita de caixa dois põe em xeque a solidez dessa barreira, que também está ameaçada por outros dados de conhecimento das autoridades. Após a descoberta do mensalão, o PT adotou um novo modelo de arrecadação e instituiu dois tesoureiros - um para o partido, outro para o candidato a presidente. Dilma alega que Vaccari atuava apenas para o partido. Não é bem assim.

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