“Depois de um ano à frente das finanças do governo paulista, Meirelles saiu do silêncio obsequioso em que estava em relação ao ministro Paulo Guedes”
Em conversa com a jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, o
secretário de Fazenda do governo de São Paulo, Henrique Meirelles,
resolveu fazer um contraponto com o ministro da Economia, Paulo Guedes,
comparando o desempenho da economia paulista com a do Brasil em 2019,
primeiro ano dos governos Jair Bolsonaro e João Doria. São Paulo cresceu
2,6%, com uma projeção de 3% e 3,5% em 2020. A comparação foi puro
veneno: “Imagina 2019 se o Brasil tivesse crescido à taxa de São Paulo.
Agora, tire São Paulo da taxa nacional e o país teria crescido só 0,3%,
por aí”.
[a competência de Meirelles é reconhecida - é ruim de voto, mas, isto é outra história;
mas, comparar São Paulo, um estado da Federação, com o Brasil é comparar bana com feijão, as diferenças muitas, para ficar só em uma:
São Paulo não foi vítima de um roubo sistemático promovido por 13 anos pela quadrilha petista e o Brasil foi.]
A maldade não parou: “Nos serviços, em 12 meses até novembro, o
país teve 0,9%, e São Paulo teve 3,2%. A indústria caiu 1,1% no país,
enquanto em São Paulo cresceu 0,3%”. Segundo Meirelles, o estado gerou
40% dos empregos formais do ano passado. Presidente do Banco Central nos
governos Lula e Dilma e ministro da Fazenda do presidente Michel Temer,
Meirelles continua com seu prestígio inabalado no mercado financeiro,
pois tem a seu favor o fato de ter administrado a crise de 2008 do ponto
de vista cambial e ter tirado o país da recessão, após o impeachment de
Dilma Rousseff.
Ou seja, depois de um ano à frente das finanças do governo
paulista, Meirelles saiu da espécie de silêncio obsequioso em que estava
em relação à gestão do ministro Paulo Guedes. Elogiou o Banco Central,
em cujos os modelos macroeconômicos disse confiar, e revelou sua
intenção de debater a reforma tributária. Segundo ele, o projeto dos
estados foi apresentado como substitutivo à emenda 45, em tramitação na
Câmara, e à emenda 110, que está no Senado. A proposta é uma alíquota
única para todos os produtos em cada estado, com uma margem para subir
ou descer, de acordo como a avaliação de comitê gestor formado por
União, estados e municípios, para acabar com a guerra fiscal.
Desempenho fiscal
O xis da questão tributária: o governo federal não sabe o que fazer
desde a queda do secretário de Receita, Marcos Cintra, que apostava na
recriação da CPMF. Agora, a equipe econômica estuda novamente a
possibilidade de adoção do imposto sobre operações financeiras, que
dificilmente será aprovado pelo Congresso. O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), é contra o novo imposto. O ambiente também não
será dos mais favoráveis à mudança, em razão das eleições municipais. Os
comentários de Meirelles sinalizam nova postura do ex-ministro, no
sentido de ter um protagonismo aberto em relação à agenda econômica do
governo, hoje monopolizada pelo ministro Paulo Guedes. Veremos os
próximos lances quando o Congresso começar a discutir as reformas para
valer.
O mercado está na expectativa da divulgação do resultado fiscal do
governo, que somente ocorrerá no fim do mês. O resultado fiscal do
governo, da ordem de R$ 70 bilhões, resultou do aumento de arrecadação
proporcionado pelos leilões do pré-sal, uma receita excepcional, e de
manobras na execução financeira: a Fazenda só liberou os contingenciados
quando teve a certeza de que os ministérios não teriam tempo hábil para
gastar o dinheiro. Não é uma “pedalada” fiscal clássica, mas seu efeito
é muito parecido. O problema é que isso não muda em nada a realidade da
economia.
O resultado do conjunto da obra foi deixar o mercado financeiro
borocoxô. Depois da inflação acima da meta, uma possível maquiagem no
resultado das contas públicas desanima os investidores, o que se
refletiu na Bovespa nesta semana. A meta do deficit primário do governo
para este ano é de R$ 124 bilhões, será cumprida com toda certeza, seja
porque foi estabelecida com uma margem de segurança para evitar a falta
de responsabilidade fiscal — que é motivo de impeachment —, seja porque o
governo soube gerenciar seu fluxo de caixa de maneira a não impactar a
narrativa oficial. Como sabe das coisas, porque conhece as entranhas das
contas públicas, Meirelles está todo assanhado e pretende voltar à
ribalta, com esse discurso de que São Paulo voltou a ser a locomotiva do
Brasil.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense