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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Crise no Brasil é um dos maiores riscos internacionais em 2016



De acordo com a consultoria, a presidente Dilma Rousseff está lutando por sua sobrevivência política e a crise política e econômica deve piorar neste ano
A crise política e econômica no Brasil está entre os dez maiores riscos para o cenário internacional em 2016. O alerta é da consultoria Eurasia Group que, nesta segunda-feira, publica seu ranking dos elementos de maior risco para o mundo no ano. O Brasil está na oitava posição. "A presidente Dilma Rousseff está lutando por sua sobrevivência política e a crise política e econômica deve piorar em 2016", alertou a entidade. Para a consultoria, as apostas de que haja uma solução não devem ser vistas com otimismo. "A batalha sobre o impeachment de Rousseff não deve colocar fim ao impasse político atual", apontou o grupo, um dos maiores do mundo em termos de análise de risco político.

"Se ela sobreviver, seu governo não ganhará a força política necessária para fazer avançar as reformas econômicas que o país precisa para lidar com seu déficit fiscal cada vez maior", indicou. "Se Rousseff cair, o governo liderado pelo vice-presidente Michel Temer não fará muito melhor".

A consultoria também aponta para o impacto da Operação Lava Jato. "A presidente vai continuar vulnerável ao caso de corrupção Lava Jato", disse. "Isso deve revelar novas evidências de irregularidades dentro de seu partido, o PT, que podem também levar a novos pedidos por seu impeachment".

Para a Eurasia, o destino de Dilma pode ser definido ainda mais rápido se "seu mentor e ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva sentir a pressão das investigações e se virar contra a agenda de reforma de Rousseff". Na avaliação do grupo, se Dilma continuar no poder, ela será "uma presidente cada vez mais cativa de elementos radicais de seu partido", em conflito com o Congresso e que podem levar a uma "paralisia política".

Piora - A Eurasia estima que "a forma mais limpa de sair dessa crise política" está nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral, que avalia suspeitas de "fraude nas eleições presidenciais de 2014". "Se a corte encontrar evidências de financiamento ilegal de campanha, ela pode convocar eleições em 90 dias. Ainda que improvável,  tal resultado teria o benefício de colocar um novo presidente eleito com nova legitimidade política".
Mas a própria consultoria não aposta neste cenário. "2016 será caracterizado por um aprofundamento da crise no Brasil", alertou.

A lista dos maiores riscos para este ano é liderada pela fragilidade da aliança entre EUA e União Europeia, o que promete ter um "impacto global sobre o risco político". Segundo a Eurasia, o informe "Top Risks" do ano tenta "identificar as tendências políticas e geopolíticas mais desafiadoras e pontos de estresse para investidores globais e participantes do mercado em 2016".

Em segundo lugar no ranking está o risco de que a Europa feche suas fronteiras diante do fluxo de refugiados e a ameaça terrorista. O impacto da desaceleração na China vem na terceira posição, seguido pela ameaça terrorista do Estado Islâmico. A quinta posição no ranking é da Arábia Saudita, diante de sinais de desestabilização interna. No sexto lugar, a consultoria aponta para o surgimento de magnatas do setor da tecnologia como atores políticos, capazes de influenciar decisões internacionais. A sétima posição entre os maiores riscos de 2016 é a do fortalecimento de "líderes imprevisíveis", como o russo Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.

Se o Brasil aparece na oitava posição, a nona é também relacionada com os países emergentes: a "falta de eleições livres" em muitos deles. O ranking é completado com a situação política na Turquia e o destino de Erdogan.

 Estadão Conteúdo

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Lula: o nome da crise

A crise tem nome: Lula


Seu protagonismo impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência política 

[A propósito: ele continua sendo chamado de corrupto, ladrão, chefe de gang  e ainda não processou ninguém.]


Lula voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasilsempre de jatinho particular, pago não se sabe por quem e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador. Colocou no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto lulista essencialmente antirrepublicano com o Congresso e o grande capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua família e amigos.

Como de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um cidadão sempre acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.

O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como “incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente.” [Lula é tão sem noção que ameaça processar quem o chamar de corrupto, de ladrão, de chefe do MENSALÃO-PT e do PETROLÃO-PT.
Finge não ter percebido - ou é estúpido o bastante para não perceber - que em 2005, no alvorecer do MENSALÃO-PT, a imprensa falava no poderoso chefão, sem dar o nome.
Agora todos falam que  Lula é o corrupto, Lula é o chefe da roubalheira, que os filhos dele, especialmente o Lulinha, que processava até quem pensava em dizer que ele era lobista, e o apedeuta apenas gane ameaçando processar.
Certamente, seus advogados já o alertaram que o processado pode se defender e na defesa fundamentas as acusações.
Lula, breve você estará preso, dividindo celas com criminosos comuns, iguais a você - sinceramente, desejamos que piores, assim 'cuidarão' de você.] 

Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.

Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.

O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrotae aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.

Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.

As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.

As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.

Por: Marco Antonio Villa é historiador - O Globo