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sexta-feira, 12 de julho de 2019

Filho de Bolsonaro em embaixada é um erro triplo.



Eis a penúltima de Jair Bolsonaro: o presidente informou que pretende nomear o deputado federal Eduardo Bolsonaro para o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Em entrevista, expôs as credenciais do filho Zero Três: "Ele é amigo dos filhos do Donald Trump, fala inglês e espanhol, tem uma vivência muito grande do mundo. Poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente." Se confirmada, a indicação será imprópria, insultuosa e desrespeitosa.

Será imprópria porque a acomodação de um filho em posto público de tal relevância é coisa de autocrata nepotista. Será insultuosa porque o Bolsonaro preterirá inúmeros embaixadores à disposição nos quadros do Itamaraty. Será desrespeitosa porque Eduardo jogará no lixo os votos de 1,8 milhão de eleitores paulistas, renunciando ao mandato. O nepotismo está tipificado na súmula 13 do Supremo Tribunal Federal. Anota que "a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento,  ppara o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta, em qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição". Ou seja: haverá questionamento jurídico. É certo como o nascer do Sol a cada manhã. [Desrespeitosa será, afinal 1.800.000 de eleitores que votaram em Eduardo Bolsonaro não o escolheram para embaixador. Mas, o desrespeitado, o eleitor, decidirá, soberanamente  se e quando Eduardo for candidato a cargo eletivo votará nele ou não; 
A renúncia por ser ato unilateral não é passível de questionamento e quem a recebe tem uma única opção: encaminhar para o devido processamento - não cabe análise.
Aliás, foi devido a uma interpretação errada - considerou que a sua carta de renúncia seria analisada, negociada, etc -  que  Jânio perdeu o cargo de presidente da República. 

Insultuosa não é, tendo em conta que o direito do presidente escolher  pessoa de sua confiança é inalienável;
Imprópria também não,  visto que além de decisões de ministros do STF entendendo que a nomeação  de parente para cargo político não configura nepotismo, inclusive não viola a Súmula 13, já que  a suposta troca ocorre em nomeações para dois países, e a nomeação do filho de Trump não depende de Bolsonaro nem a do filho deste depende do presidente americano.

As qualificações são examinadas inicialmente por quem indica; após o Senado terá oportunidade de examinar, sabatinar e votar.]

Ser "amigo dos filhos de Trump" e falar um par de idiomas não são credenciais suficientes para comandar a embaixada em Washington, posto mais relevante mantido pelo Brasil no exterior. Está vago desde abril, quando Bolsonaro ejetou da poltrona, sem motivo aparente, o experiente embaixador Sergio Amaral. O substituto precisa ter qualificação diplomática, econômica e administrativa. Isso exige anos de formação. Há no Itamaraty opções de mostruário. É só escolher. Não há precedente de indicação de forasteiros para esse posto. Muito menos de filho. A renúncia ao mandato de deputado é ato unilateral. Mas mexe com o desejo de todos os eleitores que enxergaram no Zero Três credenciais para representá-los na Câmara até o ano da graça de 2022. A interrupção voluntária desse, digamos, contrato político tem nome: estelionato eleitoral. O primeiro da fila para ocupar a vaga é o suplente Sattin Rodrigues (PSL). Obteve exíguos 25,9 mil votosum asterisco, perto da legião que votou em Eduardo Bolsonaro. [a legislação permite que alguém se torne senador da República com apenas um voto - basta ser indicado suplente e pronto.] 

Convém lembrar que as indicações de embaixadores precisam passar pelo Senado. O escolhido passa por sabatina na Comissão de Relações Exteriores. Se for aprovado ali, o nome vai ao plenário. Por uma trapaça da sorte, a votação é secreta. Os senadores costumam ser condescendentes. Mas Bolsonaro, movido por uma ideia fixa de criar polêmicas, decidiu cutucar os senadores para ver se eles mordem. Esse pode ser o seu quarto erro neste caso.

Publicado no UOL - Blog do Josias de Souza