Hiran Rodrigues Lima e seu irmão morreram em um intervalo de menos de 30 horas no início de julho
Irmãos, piauienses, funcionários públicos, Hiran e Ivaldo Rodrigues Lima perderam a batalha para a Covid-19. Os dois morreram em um intervalo de menos de 30 horas no início de julho. Técnico de enfermagem do pronto-socorro no hospital de referência para o novo coronavírus em Brasília, Hiran, de 47 anos, deixou duas filhas, Ana Júlia, de 4 anos, e Angela, de 13 anos, além da esposa, Rosecleia, de 28 anos.Ela relembra a última conversa, por telefone, quando o marido ligou avisando que seria entubado. A esposa fez uma chamada de vídeo para as filhas verem o pai. Em mensagem, o marido se despediu: "Amor, o (exame de) raio-x não está bem, me perdoe pela minha falta de paciência, por não ter sido um bom marido, minha preocupação era apenas no sustento da casa, posso não mais seguir com vocês. Amo todas vocês".
Hiran, segundo ela, era um homem tranquilo, o que até provocava piadas sobre a lentidão ao dirigir o carro ou a calma com que encarava situações difíceis."Era um profissional atencioso com os pacientes, um pai e marido amoroso", conta ela.
Quando recebeu uma ligação sobre a morte do cunhado, Rosecleia não acreditou. "Eu falei: 'vocês estão enganados porque os dois são parecidos, foi meu marido que morreu'". Para acabar com as dúvidas, Rosecleia foi ao hospital de campanha onde Ivaldo, também com o novo coronavírus, estava internado, perto de sua casa.
— Me vi preenchendo outra certidão de óbito, um dia depois de enterrar o meu marido. Até agora estou sem acreditar no que aconteceu —, diz ela.
Rosecleia se lembra com carinho da alegria do cunhado, que não apresentava nenhuma comorbidade:
— Ele tinha uma gargalhada alta. A gente já sabia de longe que ele estava no ambiente. Era muito sonhador, solidário, ajudava as pessoas.
Pouco antes de sentir os sintomas da Covid-19, Hiran passou uns dias com o irmão, quando ele pode ter se infectado, explica Rosecleia. Ela disse que conversava muito com o marido sobre os riscos, porque ele estava na linha de frente do atendimento aos pacientes, e que Hiran tentou ser removido para outra área do hospital, por ser diabético, mas não conseguiu.
O Globo