Os
golpistas do WhatsApp agem há muitos anos com total liberdade, a ponto
de a plataforma se transformar no novo espaço de nossas cautelas e
receios.
Roubos de contas e de identidade, achaques a amigos de grupos,
“narrativas” de sequestros de parentes, o diabo. Não sei se qualquer
desses casos saiu do balcão da delegacia para a mesa de um promotor e
foi desembocar no gabinete de um juiz. Mas sei que se por lá chegou,
“não deu nada”.
Esses patifes só incomodam a sociedade – quem por ela
nessas horas? – e estão sob salvaguarda de uma legislação penal que se
tem por virtuosa e moralmente superior à sociedade. Nesta, com seus
anseios por encarceramentos e segurança, vivem as repreensíveis vítimas
da bandidagem.
Agora, os
“golpistas do WhatsApp” são respeitados homens de empresa, cuja
periculosidade, a olhos policiais, senatoriais e judiciais, se agrava
com a potencialidade de seus recursos financeiros.
Aprendeu essa, leitor
amigo? Marx já advertia sobre os "perigos" do capitalismo. O marxismo,
claro, levou miséria e morte a centenas de milhões de lares e coube ao
capitalismo resolver a encrenca, mas isso não é coisa que se diga contra
acusações tão severas.
Severíssimas.
Eu li toda a decisão. Foi como viajar com Aladdin no seu tapete
mágico observando o movimento de fantasmas nas esquinas digitais.
Foram
15 minutos que valeram mais 15 de insônia porque entre hipóteses,
possibilidades e probabilidades, ilações, insinuações, presunções,
indícios e mal fixados pontos de vista, nada vi que não se dissolvesse
no ar. Sólido, mesmo, é o perigo que o ministro percebe em cada
conservador e apoiador do atual governo.
Somos
tratados como não pessoas de uma não sociedade. Ela não é percebida
pelos que dizem defender a democracia e o estado de direito. Pois
sirvam-me isso e liberdade que estarei bem servido!
Mas não me venham
quebrando inocentes ovos de primeira para fazer omelete de terceira,
porque o que está posto à mesa não guarda mais qualquer semelhança com o
que diz o cardápio constitucional.
Abro jornal e levo um golpe por dia.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.