Como se nota, o que se pretende é impedir o presidente de respirar; desde acompanho política, nunca nada nem parecido
É preciso que uma coisa seja dita com todas as letras; é preciso que se chegue ao “É da Coisa”.
A prisão de Geddel Vieira Lima, nas
condições em que foi executada e com aqueles argumentos, é mais do que
uma prisão: trata-se de uma ameaça. A quem exatamente? Dados os motivos
lá elencados, a qualquer político, com ou sem foro especial. É preciso ler o despacho para saber. O
juiz Vallisney de Souza afirma que o ex-ministro ameaça a ordem pública
HOJE em razão de um ato de 2015, que lhe é atribuído. Seria ainda um
risco à ordem econômica porque poderia movimentar ativos originários da
corrupção. Bem, e por que, então, a esta altura, a coisa já não teria
sido feita? Mais: acusa o ex-deputado de pôr em risco a instrução
criminal porque teria telefonado para a mulher de Lúcio Funaro. Não se
conhece o conteúdo das ligações. Segundo a decisão do juiz, o simples
telefonema já é causa de prisão preventiva.
Notem: o único fio aí que poderia
justificar a medida são os supostos telefonemas, desde, é claro, que
exista algum risco à tal instrução criminal; desde que o conteúdo das
conversas represente uma agressão às provas ou ameaça ou assédio a
testemunhas. Mas isso não está na decisão de Vallisney. O curioso é que algumas vozes vindas dos
porões do Ministério Público Federal logo se encarregaram de deixar
claro: prender Geddel seria uma forma de ameaçar dois ministros do
governo: Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral
da Presidência). Nesses dois casos, o pedido teria de ser feito pelo
próprio Janot e encaminhado ao ministro Edson Fachin, do Supremo. Será
que, com o bambu que lhe resta, o procurador-geral poderia lançar uma
flecha desse tamanho, com essa gravidade?
Convenham: eles acham que podem tudo,
não é? Janot procurou engolir o Poder Judiciário. E tem, com efeito, uma
parte considerável já guardada no papo. Há indícios, aqui e ali, de que
há magistrados que não são mais donos de sua toga, mas reféns de
pré-delações ditas explosivas. Vale dizer: ou faz as vontades do MPF ou
vai para o cadafalso.
Reitere-se: não é a gravidade do crime
que determina a prisão preventiva. Na verdade, essa decisão está mais
relacionada ao criminoso do que ao crime que conduziu o indivíduo aos
tribunais. Explico: não é a fealdade do ato cometido que leva alguém à
cadeia antes da condenação — às vezes, sem que a pessoa seja nem mesmo
ré. O que conta são as evidências de que o investigado está a cometer —
ou na iminência de — novas transgressões. A de Geddel, se aconteceu, já é
velha e é fator que deve agrava a sua pena.
Dados os critérios que Vallisney usou em
seu despacho para prender Geddel, qualquer investigado pode ir para a
cadeia — daí que vozes do próprio MPF citassem anteontem os dois
ministros de Temer. O nome disso é terrorismo. No dia seguinte, um
pedido da PF para incluir os dois, mais o presidente, num inquérito que
investiga desvios na Petrobras.
Vamos ver qual vai ser o ato exótico
desta quarta. Para ficar no clima destes tempos, PF e MPF poderiam
batizar a tentativa de derrubar Temer de “Operação Asfixia Global”. O
que lhes parece? Afinal, como quer Dallagnol, o mundo
hoje se divide entre corruptos (com seus defensores) e os puros: o
próprio procurador e a miríade de patriotas que quer depor o presidente
Temer.
Veja também: Pito em Dallagnol
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo