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quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os donos da urna - Guilherme Fiuza

Gazeta do Povo 

 TSE

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Ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Mauro Campbell, do TSE -  Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE

Seguem as dez instruções básicas para a autoridade eleitoral garantir uma eleição segura este ano:

1) Criar uma Comissão de Transparência e colocar em sigilo todos os dados dessa comissão. Como todos sabem, a alma da transparência é o sigilo.

2) Se instituições integrantes dessa comissão apresentarem questionamentos relativos à segurança do processo, o comportamento recomendado à autoridade eleitoral é fingir que não ouviu. Se a sociedade estranhar esse procedimento e a coisa começar a pegar mal, a autoridade eleitoral deve redigir uma resposta de má vontade à instituição questionadora, naturalmente sem entrar em detalhes sobre as razões de ter sentado em cima da requisição.

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3) Nessa resposta à instituição integrante da Comissão de Transparência, a autoridade eleitoral deve dizer, basicamente, que o sistema de escrutínio é ótimo e não precisa do palpite de ninguém. Nesse mesmo tópico, o tribunal encarregado da eleição deve assinalar que quem manda é ele, e o restante obedece sem dar alteração.

4) Caso o referido integrante da Comissão de Transparência insista na abertura dos documentos para o público, pedindo portanto a suspensão do sigilo imposto sobre eles, a autoridade eleitoral pode aceitar o pedido se o requerente estiver enchendo muito o saco e se já estiverem aparecendo hashtags nas redes sociais pedindo a divulgação dos dados. Afinal de contas, nenhuma questão apresentada sobre as vulnerabilidades do sistema foi respondida mesmo, então não tem problema nenhum mostrar para todo mundo.

5) As regras de criação dessa Comissão de Transparência devem prever que os integrantes dela têm como função contribuir para o aprimoramento do sistema de votação e atuar na fiscalização do processo. Mas quando algum integrante da comissão encaminhar proposições relativas ao aumento da segurança do sistema, o tribunal deve responder que todas as normas do processo já estão definidas, não serão modificadas e o proponente deve deixar de ser besta e se recolher à sua insignificância.

6) Se o integrante da Comissão de Transparência insistir que está prevista na medida que a criou a função de subsidiar a autoridade eleitoral para o aprimoramento do processo de votação, o tribunal deve responder que ele deixe de ser trouxa e pare de acreditar em tudo que lê por aí.

7) É importante que o tribunal eleitoral realize cerimônias de condecoração e bajulação de subcelebridades simpatizantes de um dos candidatos, para mostrar a sua isenção no processo (doa a quem doer).

8) A escolha das personalidades a serem homenageadas pela autoridade eleitoral deve ser feita exclusivamente entre as que apoiam um candidato que já tenha sido preso e condenado por corrupção.

9) Se tiver ocorrido violação do sistema eleitoral em eleição pregressa, o tribunal deve mandar apagar e sumir com todos os arquivos que contenham os dados dessa eleição. Investigar delitos passados é puro revanchismo e incitação ao ódio.

Casamento de Lula e Janja é tratado com o devido respeito, quando não com devoção. Agora imagina se fosse Bolsonaro se casando…

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 10) Com todas essas medidas exemplares de transparência, que colocam o Brasil no topo do ranking da segurança eleitoral ao lado do Butão, quem levantar dúvidas sobre as urnas nacionais será processado por fake news e condenado a ouvir (na íntegra) uma palestra de Luís Roberto Barroso sobre o Iluminismo na obra de Rosa Weber.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES