A peça
publicitária produzida pelo “342” é uma piada grotesca e mentirosa já a
partir da primeira intervenção. Quem dá a largada a é PhD em segurança
pública e política Sônia Braga. Consta ser ela a “tigresa de unhas negas
e íris cor de mel” da música de Caetano. Uma pena a musa ter se
transformado numa bruxa para os pobres, esmagadoramente favoráveis à
intervenção. Diz ela: “O próprio Temer afirma que essa intervenção é uma
jogada de mestre”. É mesmo? Onde está tal afirmação? Quem a ouviu? Quem
a registrou? Isso fica bem como fofoca do bar do “Seu Nacib”, pobre
Gabriela despetalada da minha adolescência, dos meus cabelos brancos e
dos meus olhos cansados, ainda que continue, à moda do poeta, nutrindo
“grande esperanças”.
O último a
falar, claro!, é Caetano, feito a matrona romana. E manda ver:
“Segurança é coisa séria. Mexe com a vida das pessoas. Não pode ser uma
jogada”. Pois é. Por isso mesmo, não pode se prestar à mais vil
exploração política, que é precisamente o que ele e sua turma fazem. Onde
estavam todos esses amigos do povo ao tempo das UPPs de Sérgio Cabral?
Que material crítico produziram? Eu digo: estavam todos a aplaudir o
equívoco, ainda que por meio de seu silêncio cúmplice. Ao contrário:
quando “ozartistas” falavam, atacavam a política de segurança de São
Paulo, onde os homicídios por 100 mil habitantes caíram mais de 70% em
12 anos. A taxa de homicídios no Rio, no auge do falso sucesso das UPPs,
nunca foi inferior a duas vezes e meia à do Estado vizinho. Hoje, é
superior a três! Ah, mas se louvava, então, o fato de que as UPPs
chegavam às favelas, que, em linguagem politicamente correta, devem ser
chamadas de “comunidades”, sem que se disparasse um tiro. Figurinhas
descoladas da Zona Sul gostavam de ser fotografadas e filmadas em bailes
funk e biroscas nos morros “libertados”.
Reinaldo
Azevedo, coitadinho!, escrevia em seu blog: “mistificação”, “mentira”,
“farsa”. E lá vinha a matéria de domingo no “Fantástico” com uma criança
— necessariamente negra para que a coisa parecesse bem “típica” —
soltando uma pipa sob o céu de São Sebastião do Rio de Janeiro, de um
azul que, como diria certo compositor baiano, parecia ser “pura memória
de algum lugar”. Sim, antes de a Globo transformar Cabral em Belzebu,
ele foi canonizado. A crise que se vive agora estava, então, a ser
urdida. Não por força de uma tramoia, mas, como diria Marx (esses
esquerdistas de meia-tigela nem sabem do que falo), porque caída da
árvore dos acontecimentos. Afinal, se o bandido fica solto e só muda de
domicílio, deixando em seu lugar um preposto, ele vai fazer… bandidagem.
“Comunidade”
O vídeo traz críticas a intervenção feitas por moradores de favelas, selecionados, obviamente, a dedo, já que, segundo pesquisas, entre os pobres, a aprovação à ação do governo federal se aproxima de 90%.
O vídeo traz críticas a intervenção feitas por moradores de favelas, selecionados, obviamente, a dedo, já que, segundo pesquisas, entre os pobres, a aprovação à ação do governo federal se aproxima de 90%.
Uma tal
Mayara Donaria, identificada como “comunicadora” — resta saber de quê e
de quem — e moradora da Maré afirma que a atuação do Exército “só tem como consequência corpos nas calçadas e tias (???) limpando o sangue nas ruas”. A
imagem e de roteiro de filme B. Alguém precisa lembrar àquela mocinha
que, em 2016, houve 5.300 homicídios no Rio. A Polícia respondeu por uma
parte ínfima dessas ocorrências, ainda que mate mais do que o
desejável [apesar de menos que o necessário.] . Quantas foram as vítimas das Forças Armadas? Não se devem
contar em uma das mãos. A esmagadora maioria das 5.300 ocorrências é de
pobres matando pobres de tão pretos e de pretos matando pretos de tão
pobres.
Depois
fala outra “comunicadora” — parece ser uma nova profissão no Rio —,
desta feita, trata-se de Daiene Mendes, do Complexo da Maré. Diz ela:
“Queremos, sim, uma
intervenção do governo federal na nossa realidade, mas não uma
intervenção com mais violência, mais polícia, mais armas e mais mortes”.
É mesmo,
“comunicadora”? Se não houver mais armas da Polícia, haverá menos armas
dos bandidos? Faço de novo a pergunta: entre os 5.300 mortos de 2016,
dona Daiene, quantos foram vítimas de ações policiais? Será que os
trabalhadores do Santa Marta, que “comunicadores” não são, concordam com
a voz dessa candidata a líder?
Duvivier e “alguma coisa”
E, claro, não poderia faltar o garoto-propaganda da maconha, a nossa “pin up” dos tempos modernos. Diz Gregório Duvivier:
“Sei que parece que pior do que tá não pode ficar. Alguma coisa, de fato, precisa acontecer”.
A fala é
incompreensível porque nem mesmo atende ao rigor mínimo da lógica. O
primeiro período sugere, creio, que o humorista acha que a coisa, seja
lá o que for, pode piorar, certo? É típico de certos hábitos a pessoa
tragar partes do raciocínio na suposição de que o outro entendeu. Aí
emenda que “alguma coisa, de fato, precisa acontecer”. Parece que o
piadista está com sede de ação. O que seria “alguma coisa de fato”?
Resistência armada à intervenção? Desobediência civil? Tirar as calças e
sapatear em cima? Quem se dispõe a liderar a luta? Um piadista que se
leva a sério demais para se imaginar dono de um pensamento? E os
liderados? Os pobres certamente não comparecerão para a revolução
gregoriana porque apoiam a intervenção.
O que
nenhum deles tem coragem de dizer no vídeo é que a intervenção causa,
sim, muitos dissabores: para os traficantes de drogas, que encontram
mais dificuldade para vender suas mercadorias, e para os consumidores,
aquela minoria extrema da população que financia o crime organizado e,
com o seu dinheiro repassado aos bandidos, alimenta também o tráfico de
armas. Deve haver um aumento no preço da maconha, da cocaína e outras
porcarias homicidas. Sabem como é… Lei da oferta e da demanda…
Por que eu
tenho sempre a impressão de que Duvivier é o tipo de linguarudo que, se
a chapa esquentar de verdade, começa a chorar e faz xixi na calça?
Fica a cobrança: o que é “alguma coisa”?
Blog do Reinaldo Azevedo