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terça-feira, 26 de maio de 2015

Nos Estados Unidos da América não existem cotas raciais que estimulam o racismo - lá, vale a COMPETÊNCIA

Fechamento de vagas no governo americano afeta principalmente os negros

Número oficial mostra que 500 mil postos foram suprimidos. Especialistas dizem que total chega a 1,8 milhão

Para o clã Ingram, trabalhar para o sistema de trânsito do condado de Miami-Dade garantiu contracheques regulares, um avanço constante na ascensão econômica e até mesmo um romance. Dirigindo ônibus pelas vizinhanças ensolaradas de Miami, Richard Ingram e sua mulher, Susie, conseguiram entrar na classe média negra americana, mudando-se com seus quatro filhos de uma casa alugada para uma própria. Dois filhos do casal seguiram o mesmo caminho e foram trabalhar no serviço de ônibus da cidade. O mais velho, que também se chama Richard, conheceu sua futura mulher quando ela começou a trabalhar na mesma rota que seu pai. Vou te dizer, meu trabalho é um presente de Deus — afirma Richard Ingram Jr.
  Agora, seu filho mais velho, DQuan, de 21 anos, está fazendo testes para também trabalhar no sistema de trânsito do condado e, assim, ser a terceira geração de motoristas. Mas, ao contrário de quando foi contratado, Ingram diz que a competição hoje é mais ferrenha e há menos oferta de emprego. Para os Ingrams e milhões de outras famílias negras nos EUA, trabalhar para o governo há muito é um caminho rumo à classe média e uma garantia de segurança difícil de encontrar no setor privado, especialmente para os que não têm um diploma universitário.

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Um em cada cinco negros americanos adultos trabalha para o governo como professor, carteiro, bombeiro, motorista ou no sistema judicial. Eles são 30% mais propensos a conseguir uma vaga no setor público do que os brancos e duas vezes mais do que os hispânicos. — Em comparação com o setor privado, o setor público tem oferecido aos trabalhadores negros e às mulheres melhores salários, estabilidade no emprego e mais oportunidades profissionais e gerenciais — diz Jennifer Laird, socióloga da Universidade de Washington e especialista nesse assunto.
  Durante a Grande Recessão, no entanto, com a queda das receitas, os governos federal, estaduais e locais começaram a enxugar as vagas. Mesmo agora, com a economia ganhando força, o emprego no setor público ainda não voltou ao que era. Uma recuperação incompleta é parte do motivo, mas uma combinação de um forte sentimento antigoverno e anti-impostos em alguns locais manteve a folha de pagamentos dos governos reduzida. 

O Departamento de Trabalho estima que haja 500 mil vagas a menos no setor público do que antes da recessão, em 2007. Esse número, no entanto, mostra apenas em quanto a força de trabalho foi reduzida, diz Elise Gould, economista do Economic Policy Institute, um centro de pesquisas de Washington. Isso porque o número oficial não leva em conta o crescimento da população ativa do país. Levando isso em consideração, há 1,8 milhão de vagas a menos no setor público, diz ela.

Esse declínio muda um padrão histórico, dizem especialistas, que é o de os funcionários públicos manterem seus empregos apesar de um revés econômico. E como os negros respondem por uma grande parcela desses empregos, são eles os que mais sentem esses cortes.

Mas os trabalhadores negros em geral e as mulheres em particular também perderam mais seus empregos do que os brancos, afirma Jennifer. Houve uma “desvantagem dupla para os trabalhadores negros do setor público”, segundo a pesquisadora. — Eles estão concentrados em um setor da economia que encolhe e eles estão substancialmente mais propensos a ficar sem trabalho do que outros trabalhadores do setor público — acrescenta Jennifer.

Nas escolas públicas de Miami, os cortes nos últimos anos afetaram as secretárias, os inspetores e os profissionais com necessidades especiais, diz Fedrick Ingram, presidente da United Teachers of Dade e um dos irmãos do motorista Ingram. Sua unidade perdeu mais de 6 mil postos de trabalho desde 2009 e, ao mesmo tempo, o número de estudantes cresceu.
— Durante a recessão, enfrentamos um momento realmente difícil no sistema escolar — diz Ingram, de 41 anos, que era professor de música. — Eles ainda estão contratando mais em meio período assim não precisam pagar benefícios.


Fonte: New York Times