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sábado, 9 de setembro de 2023

Eu já tinha visto isso. - Percival Puggina

         “Hoje é dia de concentração na praça", disse-me a senhora. "Começa às 17 horas, mas os policiais do presidente chegam antes e usam essa sacada para observação de segurança. Talvez o senhor se sinta melhor se retornar depois do fim do evento”. 
Prontamente respondi que sim. Preferi chegar depois, porque, no mínimo, teria que me identificar para poder permanecer e, se ficasse, certamente não poderia usar a sacada.  
 
Eu estava em Havana e tinha, nessa vez, alugado uma parte do apartamento de uma professora (quarto, banheiro e sala, enquanto ela usava a cozinha e uma outra dependência com acesso particular). O prédio estava muito bem localizado, junto à Praça da Tribuna Anti-imperialista, e o apartamento tinha a tal sacada a que se referia minha hospedeira. 
Professora de História, era pessoa de confiança do regime e, graças a isso tinha “permiso” para alugar o imóvel a turistas. 
Com a sala, deu-me acesso à sua biblioteca (pouco mais de um metro de livros em espanhol e em russo). Explica-se o conteúdo em russo pelo fato de se haver graduado em Moscou, na Universidade da Amizade dos Povos, conhecida como Patrice Lumumba.
 
Então, por volta das 16 horas, desci para a praça e assisti aos atos que se seguiram
Eles consistiram numa sequência de discursos voltados ao enaltecimento do Comandante Fidel, da Revolução e dos admiráveis êxitos do regime tanto na Economia quanto na Educação e na dignidade do povo cubano. Tudo, claro, embrulhado, por todos os oradores, no invólucro comum: o dever patriótico de espinafrar o imperialismo e os “guzanos” (vermes), cubanos que se atiravam ao mar e iam para Miami, num fluxo contínuo, desde 1960.

Como eu descera cedo, pude apreciar a chegada do distinto público. Eram trazidos em ônibus, em grupos cuja afinidade se podia perceber tão logo desciam pois tagarelavam entre si. Alguém, mais tarde, me explicaria que provinham dos locais de trabalho e eram acompanhados por um “compañero” que representava os olhos e os ouvidos do Estado.

Nesse dia, Fidel não apareceu, o que deve ter representado um alívio para aquela pequena multidão, pois quando o tirano comparecia, falava, e quando falava proferia aqueles discursos que ficaram famosos, não pelo conteúdo, mas pelo muito que lhe custava colocar um ponto final nas arengas que duravam horas.

Por que este relato? Porque o público, raro e ralo, presente à solenidade deste dia 7 de setembro em Brasília, por quanto a TV mostrou, era muito semelhante ao daquela tarde/noite na Tribuna Anti-imperialista. Funcionários públicos, sindicalistas e companheiros de partido, convocados pelo governo, cumprindo ordens e portando bandeirinhas numa estranha mistureba do verde e amarelo com convenientes detalhes vermelhos no vestuário. 
 A Pátria passava muito bem sem essa.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


segunda-feira, 31 de julho de 2023

Lula e seus amiguinhos - Percival Puggina

         Há alguns anos, num debate sobre o regime cubano, meu interlocutor saiu-se com esta:  
“O Puggina gostava, mesmo, era da ditadura de Batista”. 
Ele se referia a Fulgêncio Batista, ditador cubano durante sete anos, derrubado pela revolução de Fidel Castro. Como na ocasião do debate o totalitarismo comunista já se impunha havia 53 anos, eu respondi que comparando uma ditadura de 7 anos com uma de 53 ainda mais perversa, Batista poderia ser conhecido como “Batista, o breve”, ou como “Batista, o compassivo”.       

Lule gosta de posar nos círculos internacionais como “un homme du monde”, frequentador do circuito Roma-Paris-Londres, mas é junto à escumalha do Foro de São Paulo que ele se sente em casa. Especialmente com Daniel Ortega, Nicolás Maduro e Díaz-Canel, atual CEO de Castro & Castro Cia. Ltda.       

A velha imprensa raramente fala sobre estas coisas.  
Que o comunismo, regime pelo qual Lula manifestou sua orgulhosa admiração, promete o paraíso e entrega o inferno de camburão todo mundo reconhece. 
Quem conhece a Alemanha e o povo alemão sabe que deixar a Alemanha Oriental na miséria durante 44 anos em tempo de paz não é tarefa para qualquer regime. 
Por isto, a cortina de ferro e o muro de Berlim: para que o povo não fuja do regime, como ocorre hoje nos países tomados pelos amiguinhos de Lula.
 
Em Cuba, após o êxodo nos primeiros dois anos da Revolução, durante os quais cerca de 2 milhões de cubanos mudaram-se para a Flórida e fizeram Miami, a população cubana gradualmente estagnou e estacionou, desde 1997, em 11 milhões de habitantes. Desesperança e êxodo.  
No ano passado 270 mil cubanos deixaram a ilha. 
Acumulam-se aguardando deferimento cerca de 400 mil pedidos de visto.

Seis milhões de venezuelanos deixaram sua pátria imigrando para Colômbia e outros vizinhos, entre os quais o Brasil. Esse número equivale a toda população de Santa Catarina ou de Goiás, por exemplo...

Os números do êxodo da Nicarágua são menores
Estima-se que 600 mil nicaraguenses tenham deixado o país desde 2018. A pequena Nicarágua tem apenas 6,8 milhões de habitantes. 
Um em cada 10 nicaraguenses foi embora.

Nos três países, um ritual bem conhecido, que sofreria restrições se mencionado na campanha eleitoral de 2022: crescentes restrições às liberdades individuais e políticas, manipulações, narrativas, cerceamento da oposição, prisão de oposicionistas e agigantamento do Estado sobre e contra a sociedade. Sempre em nome dos mais nobres ideais humanistas.

Somos uma grande e numerosa nação cuja saída de uma situação ameaçadora é para o interior da realidade brasileira. 
Ela tem que ser traçada pelos próprios cidadãos, com a consciência de que – ouvidos os discursos, interpretados os sinais e mantido o rumo atual do país – o ponto de chegada é conhecido. 
Os amiguinhos de Lula já nos mostraram.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

A lição de Tocqueville

Por que esperar que o Estado resolva todos os nossos problemas?

“Super-ricos pedem para pagar mais imposto”, li em uma matéria. Achei que era brincadeira, mas não. Era uma carta assinada por mais de 200 endinheirados, que causou frisson nos dias festivos de Davos, na Suíça. “Vocês, nossos representantes, tributem a nós, os ricos, e agora!”, diziam nossos “milionários patriotas”, como o grupo se autodenominou, em meio àquele enorme congestionamento de jatinhos, limusines e pregações contra a desigualdade e o aquecimento global. O mais interessante foram as premissas sustentando a ideia. A primeira foi exposta por Owen Jones, um jornalista pop inglês, dizendo que, “em vez de filantropia, os ricos deveriam dar seu dinheiro ao governo, que sabe melhor o que fazer com ele”. Outra era a crença de que dar mais dinheiro ao Estado seria a melhor maneira de “diminuir a desigualdade”, como constava na carta dos bilionários.

Quando lia essas coisas, pensei no Brasil. Fiquei imaginando se vinte bilionários brasileiros (temos 56, na lista da Forbes) tivessem decidido doar 1 bi, cada um, para o governo. O pessoal lá em Miami, meio entediado, entre uma Pol Roger e outra, lendo o artigo de seus colegas globais, e, num lance de entusiasmo, manda recolher um DARF extra de 1 bi, cada um, para o Tesouro Nacional. 
Nosso sábio governo agora tem 20 bilhões a mais para reduzir a desigualdade. 
É basicamente o valor previsto para as emendas de relator, declaradas inconstitucionais pelo STF.  
Quando isso aconteceu, achei que o Congresso e o novo governo iriam abater o valor das emendas do rombo fiscal aprovado na PEC da Transição. Ledo engano. O dinheiro continuou lá, indo para a conta do déficit público. 
 
 Como resultado, cada deputado terá 32 milhões em emendas individuais para distribuir. Nossos gabinetes parlamentares funcionarão como pequenos ministérios, direcionando uma montanha de recursos públicos para os municípios de suas bases eleitorais. 
Podem ser kits de robótica, unidades de saúde, estradas asfaltadas pela metade, um ginásio de grandes proporções para uma cidade de pequeno porte, ou um show sertanejo na festa da cidade.  
Os exemplos não são inventados. Talvez eles atendam às esperanças de Owen Jones e nossos felizes bilionários de que o governo “sabe o que está fazendo”, mas desconfio que seja apenas uma ilusão.

“Por que esperar que o Estado resolva todos os nossos problemas?”

Outro ponto que me chamou a atenção na carta dos milionários foi a ideia de que, além de reduzir as desigualdades, com mais dinheiro para os governos, seria possível melhorar a “qualidade da democracia”. Novamente me lembrei do Brasil. No finalzinho do ano, nossos parlamentares decidiram não apenas se autoconceder um generoso aumento, como aumentar também o vencimento dos ministros do STF, que serve como teto salarial do funcionalismo. O valor vai a mais de 46 000 reais. A votação foi “simbólica”, isto é, sem que ninguém saiba quem votou contra ou a favor. Quanto custará? Há quem fale em 2,5 bilhões de reais. Há quem diga que tocar nesses assuntos é mesquinharia. “Tem de pagar bem mesmo”, me diz um colega. Não discordo. Só tem um detalhe: temos o Parlamento proporcionalmente mais caro do planeta, cada parlamentar custando 528 vezes a renda média do trabalhador brasileiro, como mostrou a pesquisa feita por Luciano de Castro, do IMPA, e outros pesquisadores. E somos também o país que mais põe dinheiro em partidos e campanhas eleitorais. 

Nas últimas eleições, torramos 5 bilhões de reais no fundão eleitoral. Candidatos à reeleição, em regra caciques partidários, com ampla estrutura de campanha, receberam, em média, 1,7 milhão de reais; os novatos, pouco mais de 200 000 reais, e a grande maioria, muito menos. Tudo para gerar maior “equidade” na disputa eleitoral, como por vezes escuto. Os dados são reveladores. Andamos a 1% do PIB acima da média latino-americana em desonerações fiscais. 
Coisas que vão da Zona Franca de Manaus ao subsídio à compra de caminhões, com todas as consequências sabidas, da tabela do frete à ainda recente “bolsa caminhoneiro”, a um custo de 5 bilhões de reais. Cada cifra dessas nos conta a história do “país da meia-en­trada”, na expressão de Marcos Lisboa. Tenho dúvidas sobre se nossos milionários patriotas, lendo essas coisas, perderiam seu ânimo em pedir mais impostos, ao menos no Brasil. Talvez apostassem no autoengano.
Antes de falar em dar mais dinheiro aos governos, o melhor é perguntar como os governos estão gastando o dinheiro de que dispõem. 
 
Nosso maior orçamento setorial é o da saúde, mas se você tiver um problema complicado no joelho vai levar em média quatro anos para uma avaliação cirúrgica pelo SUS. 
O segundo é o da educação, e nossos alunos da escola pública ocupam as últimas posições no PISA, a cada três anos. Então é preciso cuidado. Antes de fazer graça em Davos, seria interessante saber se a ação do governo, fora do mundo retórico, está mesmo reduzindo a desigualdade.
 
Outra questão: por que esperar que o Estado resolva todos os nossos problemas, em vez da tomada de iniciativa pelos cidadãos? 
Eduardo Lyra criou o Gerando Falcões desde o zero, e hoje tem uma capacidade ímpar de transformar comunidades pobres. 
Ele poderia ter ido reclamar do governo. Talvez tivesse virado um político. A questão vale especialmente para nossos bem-intencionados milionários. Em vez de correr atrás do governo, por que não fazer como Andrew Carnegie, no século XIX: usar o dinheiro e a inteligência para produzir mudanças. 
É o que nos diz uma das lições de Alexis Tocqueville, em sua famosa viagem à América. Ele se surpreendeu com o que chamou de “autogoverno em pequena escala”. A incrível capacidade que as pessoas tinham em se associar. “Os americanos”, ele diz, associam-se para “fundar escolas, igrejas, difundir livros, construir prisões e hospitais”.
Assistiu a milhares de americanos, preocupados com o alcoolismo, conectando-se para promover a abstinência às bebidas. 
E provocou: “Na França, eles teriam ido exigir que o governo vigiasse as tabernas”. Lá se vão 200 anos, e parecemos não ter aprendido a lição.
 
No Brasil, porém, há sinais positivos. Tempos atrás conheci o Inteli, uma faculdade de alta tecnologia, em São Paulo, sem fins lucrativos, criada pela iniciativa de dois líderes empresariais, com a maior parte de alunos bolsistas. Eles teriam feito melhor indo ao governo exigir mais impostos? Não creio. Os exemplos estão aí.  
O Museu do Ipiranga foi recuperado com mais de 180 milhões de reais oriundos do setor privado, o mesmo acontecendo com a nova fábrica de vacinas do Butantan
O valor somado das doações é menor do que o subsídio dado pelo governo estadual para sustentar pedágios no ano passado. Doações, de um lado; “racionalidade política”, de outro. Deveríamos aprender. Evitar o autoengano do Estado e as ilusões da política. 
E de quebra dar escala às iniciativas da sociedade civil. De forma que também possamos ser uma terra de doadores, na qual a “arte da associação”, como sugeria Tocqueville, em sua viagem, seja vista como uma virtude, e cultivada desde a formação que todos recebemos.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA,  edição nº 2826, de 1º de fevereiro de 2023


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

‘Tamo junto’: STF emite agradecimento a Flávio Dino

Texto é assinado pela ministra Rosa Weber

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, emitiu um agradecimento ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em virtude da promessa do socialista de investigar “ataques contra juízes do STF”.

Na terça-feira 3, Dino pôs a Polícia Federal à disposição para investigar supostas ameaças e agressões aos magistrados. A medida foi anunciada depois de o ministro Luís Roberto Barroso ser confrontado por passageiros brasileiros, durante o embarque de um voo no aeroporto de Miami, no início desta semana.

“Manifesto, em nome do STF e do Poder Judiciário, o meu agradecimento pela preocupação institucional e noticio a transmissão do seu conteúdo aos demais juízes desta Casa”, publicou Rosa, que participou da posse de Dino no cargo. [perguntas de um ignorante jurídico:
- o suposto confronto do ministro com cidadãos brasileiros ocorreu em Miami - ao que nos consta situada em território norte-americano; é sabido que o ministro em um dos seus arroubos declarou que se forças policiais brasileiras se negassem a cumprir ordens de autoridades brasileiras, ele solicitaria auxílio de policiais de outros países que atuariam em solo brasileiro - o que em nossa opinião nos parece uma violação a soberania nacional
Perguntamos: 
a) será que as autoridades americanas vão concordar que policiais brasileiros atuem em solo americano para prender cidadãos acusados  de confrontar autoridades brasileiras em território americano? lembrete: por prática de atos que na legislação americana não é crime. 
b) não sendo crime nos EUA o ato supostamente praticado pelos brasileiros, em solo americano, será usado para sustentar eventual ação penal o Código Penal Brasileiro ou o inquérito das fakenews?]

Flávio Dino, um comunista no Ministério da Justiça

Reportagem publicada pelo jornalista Silvio Navarro, na Edição 145 da Revista Oeste, descreve o perfil de Flávio Dino. Leia alguns trechos.

“Nas fileiras da esquerda, Dino não é considerado um petista raiz, egresso do sindicalismo, das pastorais da Igreja ou do chão de fábrica do ABC paulista. Ele até foi filiado ao PT, em 1987, mas militou 15 anos no Partido Comunista do Brasil. É da chamada “ala ideológica” e já se deixou fotografar vestido de guerrilheiro, com direito a foice e martelo à mão. Por conveniência e sobrevivência política, já que a sigla comunista perdeu relevância com o tempo, filiou-se ao PSB — o mesmo que abriu as portas para o ex-tucano Geraldo Alckmin, porque, para o comando do partido, socialismo significa ser governo.

Dino foi coordenador do Diretório Central dos Estudantes quando cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão e liderou grupos de jovens de esquerda. Foi juiz federal por alguns anos, mas optou pela carreira de político profissional. Elegeu-se deputado e governou o Maranhão duas vezes, sem nunca ter conseguido tirar as cidades do Estado do topo do ranking da pobreza. Também participou do governo Dilma Rousseff, como presidente da Embratur.

Neste ano, o comunista foi eleito para o Senado, mas a cadeira de ministro da Justiça já lhe estava prometida havia muito tempo caso Lula vencesse. Foi um processo que começou depois da prisão do petista, em 2018. Dino tornou-se uma espécie de conselheiro de um grupo de advogados “progressistas” que militava pela soltura do então ex-presidente, por meio de ações e pressão no Supremo Tribunal Federal (STF). A banca se autonomeou “Prerrogativas” e existe até hoje.

Na época, formou-se uma frente no meio jurídico contra as sentenças do ex-juiz Sergio Moro na Lava Jato. O próprio Dino chegou a ser citado em delações de ex-funcionários da Odebrecht durante a operação. Segundo um executivo, ele teria pedido dinheiro para campanha e para defender projetos de interesse da empresa. O futuro ministro negou as acusações. Não houve nenhuma condenação contra ele.”

Leia também: “Um comunista do Ministério da Justiça”, reportagem de Silvio Navarro publicada na Edição 145 da Revista Oeste

 Redação - Revista Oeste

 

sábado, 3 de setembro de 2022

Alexandria, 2026 - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Numa operação comandada pelo Xerife Xerxes Xande, a antiga Polícia Federal fechou o cerco a empresários golpistas que foram vistos num vestiário da academia falando mal do governo

Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

O imperador Saltitante acordou de mau humor, e, com sua voz fina e metálica, berrou: “Gleice, venha já aqui!”. Sua secretária saiu correndo do aposento ao lado e perguntou o que seu mestre desejava. “Traga-me já um copo de água com açúcar, mulher imprestável! Preciso me acalmar após ler essa notícia absurda!” Saltitante se referia a uma manchete da Revista Leste, a única sobrevivente no país após a revolução democrática de 2022. Ela dizia: “Último foco da militância fascista consegue escapar da polícia”.

Numa operação comandada pelo Xerife Xerxes Xande, também conhecido como XXX, a antiga Polícia Federal fechou o cerco a empresários golpistas que foram vistos num vestiário da academia falando mal do governo. Pela nova Lei de Liberdade de Expressão, criada por decreto pela Junta Democrática do Foro de SP, estava terminantemente proibido criticar o governo, em especial o Imperador Saltitante e o Xerife Xerxes.

A mudança que permitiu isso veio por emenda constitucional e havia retirado uma única letra no texto de 1988: Todo o poder emana do Ovo, e não mais do Povo
Ovo era o apelido carinhoso de Xerxes, devido à sua cabeça careca e reluzente. 
Era ele quem dava as ordens na prática, enquanto o Imperador Saltitante se portava como uma espécie de Rainha da Inglaterra — e ele adorava a parte das vestimentas inspiradas em Elizabeth.
 
Desde quando aquele fascista cujo nome não mais pode ser mencionado venceu as eleições em 2022, apesar de todo o esforço democrático da oposição, houve uma união apoiada pelo Exército Chinês para restabelecer a democracia no país. 
Xerxes demitiu os demais dez ministros e passou a representar, sozinho, a Corte Constitucional. 
O então senador Saltitante foi proclamado imperador do Brazinil, e todos os apoiadores do fascista eleito foram perseguidos, muitos deles presos ou expulsos do país.
 
O respeitado jurista Miguel Retalho Junior, após a prisão de seu colega Ives Grande Martinho, foi às emissoras de televisão atestar a legalidade do ato, já que para derrotar a ameaça fascista tudo era aceitável e desejável. 
Brazinil mudou até de nome e passou a se chamar Alexandria, em homenagem ao Xerife que tanto fez para impedir o golpe. Agora havia pouquíssimos focos de resistência, já que a Polícia Unificada de Todos os Amigos (PUTA) tinha lançado uma implacável busca pelos golpistas, com auxílio de soldados democratas enviados por Cuba e Venezuela.

Naquela manhã quente de janeiro de 2026, Saltitante se deparou com a notícia da Revista Leste sobre a fuga dos empresários fascistas. Isso despertou sua revolta: “Duvido que algo assim acontecesse na democrática Coreia do Norte, ou com nossos companheiros da Nicarágua! Lá todos os fascistas cristãos foram devidamente presos!”, esbravejava.

Tensa com a situação, e com medo das broncas, Gleice decidiu ligar para o verdadeiro chefe da coisa toda: “Luísque, acho melhor você abandonar Atibaia rapidinho só para vir aqui colocar um pouco de ordem na bagunça”. Já bêbado após a quinta taça de Petrus, Luísque rebateu: “Não enche o saco, Gleice. Eu fiz meu papel em 2022 e desde então quero só aproveitar minha vida de longe, com meus milhões e minha mulher, Granja. Vocês que são democratas que se entendam!”.

Esse que vos escreve só teve condições de relatar essa história toda pois morava fora de Brazinil na época da revolução democrática

Claramente decepcionada, Gleice convocou então Miguel Tremer, o único capaz de acalmar Xerxes, o que por sua vez acalmava Saltitante, que no fundo estava apavorado com o provável esporro do chefe. 
Tremer ligou para Xerxes, falou amenidades antes, lembrou quem o indicou ao Supremo, e com jeitinho deu o recado: “Meu ilustre Ovo, vossa excelência não acha que já fizemos o suficiente para impedir golpes fascistas? Talvez possamos deixar passar um ou outro empresário conspirador, pois são inofensivos hoje…”.

Xerxes ficou vermelho de raiva, e, com o olhar vidrado, rebateu: “Cala a boca, seu Mordomo inútil! Alexandria não terá um só crítico do governo, e não vou descansar até punir pessoalmente um a um desses miseráveis! Você nunca teve a garra de um Luísque, por isso conspirou contra ele! Não podemos permitir um só fio desencapado, pois de 1 centímetro pode surgir um curto-circuito e produzir um grande incêndio. Para ser uma democracia de verdade, como nossos companheiros conseguiram fazer na Venezuela e na Nicarágua, é fundamental ser intransigente com qualquer deslize ou malfeito. Não me liga mais, seu pusilânime de uma figa!”.

Tremer, com o perdão do trocadilho, passou a tremer de medo, e se lembrou de velhas máximas: quem planta vento colhe tempestade; quem alimenta corvos tem seus olhos arrancados; quem dá comida para o Gizmo depois da meia-noite precisa enfrentar os Gremlins — ok, isso não é bem uma máxima, mas uma lição com base num filme que entrega a idade do autor.

E assim a vida seguiu em Alexandria. Esse que vos escreve só teve condições de relatar essa história toda pois morava fora de Brazinil na época da revolução democrática. 
Havia inclusive um prêmio por minha cabeça, mas fui prudente e nem arrisquei uma visita sequer. 
Criado em ambiente fascista, e vivendo em local ainda mais fascista como Miami, confesso com toda a humildade do mundo que nunca fui talhado para viver em uma democracia tão alexandrina assim!

Leia também “Não existe Estado de Direito no Brasil”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Debate na Band: Bolso ganhou, Lula perdeu e mídia apelou - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo - VOZES

Aconteceu o tão esperado debate na Band entre os candidatos para a Presidência da República.  
Silvio Navarro perguntou: Bonner não participa do debate hoje na Band, né? E pelo que constou o PT decidiu mandar Lula mesmo. Big mistake!

Para encerrar o debate, bastava uma só pergunta, como apontou José Medeiros: se o ministro Fachin anular o processo do médico que estuprava gestante durante o parto por ter sido processado no foro errado, você levaria sua esposa para fazer parto com ele? [Por óbvio, a resposta dos que votam no Lua é: LEVARIA.]

Não foi esse o tom do debate, mas foi quaseBolsonaro teve a oportunidade de lembrar dos escândalos de corrupção do lulismo, e sem a ajuda dos apresentadores do JN, Lula não conseguiu se esquivar bem dos golpes.  
Quando Bolsonaro chamou Lula de ex-presidiário, quase desliguei a TV e fui dormir, satisfeito. Foi para isso que paguei meu ingresso!

A imprensa adorou Simone Tebet. Quem? Simone Tebet começou colocando a culpa da tensão entre os poderes no Bolsonaro. “Terceira via" sim, amiguinho. Ficamos na dúvida se no próximo debate ela já vai com o broche do PT ou ainda é cedo para isso. Mas seu papel foi só atacar o presidente, e não seduziu ninguém fora da bolha midiática.

Bolsonaro foi bem na primeira resposta ao deixar claro que não há harmonia entre os poderes pois alguns não toleram o fato de que seu governo é técnico.  
O tempo todo o presidente reforçou essa imagem de que ele é o único diferente ali, em meio a várias marionetes do sistema podre. 
Aliás, quem foi o único que não abriu sendo vaselina e politicamente correto com falsos agradecimentos?

Misoginia é o novo “genocídio”: hipocrisia e vitimismo na campanha eleitoral

Entenda as ilegalidades praticadas contra empresários apoiadores do Presidente
O resumo da narrativa lulista foi bem feito por Flávia Ferronato: "Lula combateu tanto a corrupção que até ele foi preso". É uma piada pronta! Após tantas mentiras deslavadas, estou seguro de que Lula tem mesmo um pé na psicopatia. E isso ficou evidente para a imensa maioria. “Fui absolvido em todos os processos”, disse Lula, espalhando Fake News na cara dura, sem qualquer reação do TSE. Em seguida, ele acrescentou: “Fui absolvido pela ONU”, outra mentira, e esquecendo quem cuida da Justiça no... Brasil. Lula jamais foi inocentado, eis o fato!

Já Ciro tentou bancar o "paz e amor", mas não convence. Aquele que xingava todo mundo tentou posar de conciliador, e tentou jogar cascas de banana para o presidente. Bolsonaro não caiu na armadilha, mostrou o que seu governo fez pelos pobres, lembrou que o PT votou contra tais medidas e trouxe à memória o “fique em casa” e a realidade dos países vizinhos. Golaço.

Ciro é um demagogo da pior espécie,
que finge que o Ceará é uma espécie de Miami. Engana cada vez menos gente com seu discurso desenvolvimentista. Mas ao menos teve dois bons momentos. “Lula é um encantador de serpentes”, disse Ciro, acertando finalmente! E quando Lula reclamou da "fuga" do pedetista para Paris, afirmando que ele ficou ao lado de Haddad, Ciro rebateu: "Você estava preso!"

Ciro perdeu a linha quando tentou lacrar para cima do presidente e Bolsonaro esfregou em sua cara de pau a hipocrisia do machista que disse que a função de sua mulher era dormir com ele na campanha. Ciro teve quase de pedir desculpas por ser homem criado em ambiente machista, tamanho o seu esforço de se mostrar um feminista. Ciro "pacifista" também atacou as armas. Então o “vou receber Moro à bala” era referência às famosas balas Juquinha?!

Sobre os demais candidatos nem vale a pena perder tempo. Eram figurantes. 
Ver um embate entre as duas senadoras era como ver um jogo de times de terceira divisão abrindo um campeonato importante. Foi uma disputa para ver quem lacrava mais, de forma um tanto patética. "Precisamos de uma mulher para arrumar a casa", disse a feminista Tebet, sem se dar conta da piada pronta.

Análise sobre as novas ordens inconstitucionais do ministro Alexandre de Moraes, que configuraram perseguição clara a empresários apoiadores do governo e ataques reais à democracia.

O grande irmão deixou de ser ficção

"Tem mulher que vira onça e eu sou uma delas", disse a tal da Soraya, que pediu reforço em sua segurança como se fosse ela quem tivesse levado a facada do simpatizante do PSOL. Ela estava achando que era teste para a novela Pantanal?! Vale lembrar como a "onça" foi eleita: colando sua imagem em Bolsonaro!

Mas o prêmio de postura mais ridícula ficou mesmo para a nossa imprensa. Nosso jornalismo “profissional”, melhorando muito, fica apenas medíocre. Alguns "jornalistas" foram com tanta sede ao pote para lacrar e detonar o presidente que suas perguntas já traziam premissas absurdas e ataques escancarados.

Uma militante disfarçada de jornalista quis defender cotas para mulher na política. Minha cara, a escolha deve ser por mérito, não cromossomos! Até Lula teve mais bom senso que a militante. 
Outra deu uma de Ciro e lançou números bizarros: um feminicídio a cada 7 minutos! Isso dá uns 75 mil por ano! Mas morrem algo como 45 mil pessoas por ano, a maioria homem jovem. Nenhuma agência de checagem se manifestou?


Lula foi massacrado, Bolsonaro se saiu bem. “O debate na Band parece um filme de bang bang em que vários bandidos querem eliminar o mocinho que está defendendo a população da cidade”, resumiu um leitor. Ao ver o que se passava, cantei a pedra: a militância midiática já prepara a cortina de fumaça para amanhã: só vão falar do “ataque” de Bolsonaro à militante esquerdista.

Como são previsíveis! O consórcio da imprensa destacou em suas manchetes nesta segunda: "Bolsonaro insulta mulher em debate" (Folha); "Bolsonaro vira alvo por ataques a mulheres" (Estadão); "Bolsonaro ataca mulheres" (Globo). 
Isso tudo só porque Bolsonaro afirmou, com toda razão do mundo, que Vera Magalhães é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.

Não entendo as feministas. Vivem demandando igualdade de gênero, aí quando partem para o ataque verbal e um homem rebate com firmeza, puxam a cartada do gênero e bancam a vítima com o mimimi.

Claudia Wild resumiu bem o debate: "Lula desanimado por causa da ressaca; Ciro Gomes com a medicação em dia; 2 senadoras disputando o troféu Lacração 2022; o cara do novo fazendo propaganda de leite de soja desnatado e Bolsonaro jogando fatos, números e a realidade na cara de todos eles".

Nem a militância conseguiu esconder a frustração com a participação de Lula. Tentaram colocar Tebet como a vencedora, perguntando a umas 60 pessoas indecisas. Mas a pesquisa no quintal da própria esquerda não mente: quem se saiu melhor no debate?, quis saber o petista Ricardo Noblat. Com mais de 120 mil votos, deu quase 70% para Bolsonaro, e só 10% para Lula. Aceitem que dói menos...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 30 de maio de 2022

O ex-futuro candidato - VOZES

Guilherme Fiuza

O pré-candidato do PSDB João Doria

O pré-candidato do PSDB João Doria - Foto: Pablo Jacob/Governo de SP

Tomei uma decisão e não tem volta.

– Que decisão? Pensa bem. Decisão sem volta não tem volta.

– Já pensei. E ninguém vai me fazer mudar de ideia.

– Fala logo.

– Não sou mais candidato à presidência.

– O que?

– Isso mesmo que você ouviu. Não adianta insistir.

– Estou confuso.

– Imagino. Vou surpreender a todos.

– Não. Estou confuso porque achei que você já tivesse desistido antes.

– Como assim?! Tá louco? Até um minuto atrás eu era candidato a presidente.

– Então devo ter me enganado. Achei que algum tempo atrás tivesse ouvido você dizer que não disputaria.

– E você acreditou?

Claro.

– Esse foi o seu erro.

– Acreditar em você?

Não. Ignorar os movimentos da política.

– Que movimentos?

– Política é como a maré: vai e volta.

Entendi. Você foi e voltou.

– Não. O que vai e volta é a política. Eu sempre estive no mesmo lugar.

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– E esse lugar era o de candidato a presidente.

– Exato. Mesmo quando parecia não ser.

– Agora ficou claro. Então você sempre foi candidato a presidente mesmo quando parecia não ser e agora decidiu desistir da desistência de desistir.

– É por aí.

– E por que você não quer mais ser presidente da República?

– Não é que eu não queira.

– Ih... Então o que é?

– A República é que não me merece.

– A República?

– É. O país. A sociedade. O povo.

– Entendi. Como você chegou a essa conclusão?

– Comecei a perceber isso no dia em que estava andando num shopping vazio.

– O que aconteceu?

– Acenei para ninguém e ninguém respondeu.

– O que há de errado nisso?

– Tudo. Num país educado, nenhum aceno fica sem resposta.

Você não acha que se em vez de acenar para ninguém, tivesse acenado para alguém, alguém teria correspondido?

– Isso não é problema meu. Fiz a minha parte, que era acenar. E não gostei da falta de resposta. Povo malcriado.

– Povo? Você disse que não tinha ninguém no seu caminho...

– Justamente. Se fosse um povo educado estaria no meu caminho para acenar para mim, me aplaudir e gritar meu nome.

– É, realmente é falta de educação deixar uma pessoa que quer ser presidente do país andando sozinha por aí.

– Completa falta de educação. E olha que eu dei todas as pistas para eles perceberem a minha importância.

– Trancou tudo, né?

– Exato. Tranquei todo mundo alegando emergência sanitária e fui passear em Miami, onde não tinha nada trancado. Eles não entenderam meu gesto.


– Não mesmo.

– Gente burrinha. Incapaz de distinguir um líder corajoso.

– Corajoso?

– Claro. Tranquei milhões de pessoas e fui curtir as praias da Flórida. Sou ou não sou corajoso?

– Sem dúvida.

– Danem-se todos. Cansei. Vou retomar meus negócios da China. Saio da vida pública e volto para a privada.

– Você merece.

– Eu sei.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 28 de março de 2022

Nulidade doriana - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Em recente pesquisa, o governador de São Paulo João Doria conseguiu uma façanha: cair dos seus míseros 2% para apenas 1% nas intenções de voto. Acelerou! 
Em que pese a desconfiança geral com tais pesquisas, que sustentam um favoritismo suspeito do ladrão Lula, está claro que Doria realmente derreteu e não tem a menor chance de vitória. Para alguém tão ambicioso e obcecado com a Presidência, isso deve ser duro de aceitar. Mas é a verdade, e justamente por conta dessa demasiada ambição.

Entender a queda política de Doria é compreender uma lição importante: o excesso de oportunismo cobra seu preço eventualmente. Doria, não custa lembrar, surfou na onda bolsonarista para ser eleito. Sua breve carreira política foi marcada por traições a antigos aliados, o caso mais claro sendo o de Geraldo Alckmin, que agora, sem espaço no PSDB, debandou para o lado criminoso de Lula. Aliás, isso só mostra que tucanos e petistas sempre foram mais próximos do que simulavam ao público, na manjada estratégia das tesouras.

Doria também traiu Bolsonaro, e ainda teria trabalhado para sabotar seu governo. O ministro Paulo Guedes revelou que o governador o telefonou quando Sergio Moro saiu do ministério, pressionando para que o ministro da Economia fizesse o mesmo. 
Doria queria ver Bolsonaro se dando mal, mesmo que isso significasse o Brasil indo junto para o buraco. 
Essa, aliás, é a mentalidade de quase todos esses oportunistas: quanto pior, melhor. Por isso passaram a torcer – e agir – contra o país. Apenas para desgastar Bolsonaro.

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Na pandemia, essa postura ficou mais evidente. Doria assumiu o protagonismo entre os governadores da linha autoritária que decretava lockdowns radicais sem qualquer respaldo científico. Não obstante, Doria passou a falar como se fosse a própria voz da ciência, com extrema arrogância. Quem discordasse de seus meios extremistas era um “negacionista” ou um “terraplanista” – sei bem disso, pois o governador usou tais rótulos quando pediu minha demissão ao vivo numa rádio.

Na questão das vacinas foi semelhante: Doria agiu como ninguém para calar qualquer dúvida pertinente, mais parecendo um lobista do laboratório chinês do que um governador. [nos causa surpresa que até o momento não tenha sido questionado, investigado, o comportamento do 'joãozinho', - vulgo calcinha apertada,  segundo o capitão - em agir como verdadeiro caixeiro viajante dos chineses na publicidade da coronaVac.]  Tentou assumir o papel de “pai das vacinas”, mas só cativou mesmo os militantes tucanos disfarçados de jornalistas na velha imprensa – boa parte dela com gordas verbas publicitárias do próprio governo de SP. O povo viu outra coisa: a hipocrisia de quem só aparecida com máscara diante das câmeras, mas circulava em Miami ou em hotel carioca mais à vontade.

Após um jogo sujo de bastidores, Doria conseguiu ser o candidato tucano para presidente, apesar de lideranças do partido ainda tentarem reverter o quadro - o que Doria tem chamado de "golpe". Mas faltou só combinar com os russos. Ou melhor, com o povo brasileiro mesmo, que quer distância dele.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 19 de março de 2022

Putin acuado na Rússia? - Carlos Alberto Sardenberg

Fala de Putin sugere problemas com aliados do seu governo

As mais recentes declarações de Putin sugerem que ele enfrenta problemas internos com seus aliados no governo e na economia. O ditador russo ameaçou a “quinta coluna” – expressão antiga que designa a ação política de grupos locais em favor de outros países. No caso, russos que estariam passando o que ele, Putin, chamou de falsas informações sobre perdas de seu exército na Ucrânia.

Putin e sua 'cara de preocupado' com as interpretações que a mídia militante, pró Biden e trupe,  apresenta sobre o que ele pensa

A população russa só recebe informações da imprensa estatal. Jornalistas estrangeiros foram expulsos. Logo, apenas pessoas privilegiadas e com boa posição dentro do sistema de governo podem ter acesso a outras informações – essas produzidas [criadas]  pela imprensa ocidental mostrando os fracassos das tropas terrestres russas e a forte resistência dos ucranianos. É claro que os comandantes russos e o próprio Putin têm essas informações – outro sinal de que há vazamentos internos. [o mais triste é que enquanto a mídia pró esquerdismo progressista narra que Putin perde a guerra, centenas de ucranianos morrem em uma luta,  que não possuem nenhuma condição de vencer e da qual só resta a opção pragmática, inclusive já aventada por Israel.]

A conclusão não é difícil: ao atacar a quinta coluna, os traidores locais, Putin está nos indicando que membros de seu governo sabem e comentam sobre a real situação da guerra. Estariam presos? Mortos?

Claro, não se sabe, mas pela reação do ditador, surgiu alguma oposição ou resistência a seu comando. Além disso, Putin fez um ataque direto aos oligarcas, aqueles, afirmou, que não podem viver sem suas casas em Miami ou Biarritz, sem ostras, sem foie gras — e por aí foi. Ora, todos os oligarcas russos alcançaram esse gosto pela vida de ostentação graças à amizade e aos favores de Putin. Se o ditador os ataca tão diretamente, eis aí outro sinal: há oligarcas, os primeiros atingidos pelas sanções econômicas do Ocidente, que estão pedindo o fim da invasão.

Detalhe: entre os que têm casa em Biarritz está uma das filhas de Putin, Katerina Tikhonova, que a herdou de seu ex-marido, Kyrill Shamalov, filho de um banqueiro. A casa foi adquirida de Gennady Timchenko, oligarca do setor de petróleo, um dos mais próximos de Putin. A mansão, aliás, foi invadida por um ativista francês, que pretende utilizá-la como refúgio para exilados ucranianos.[convenhamos que residir, 'se refugiar' em Biarritz,não combina com a condição de exilado.]

A população russa não sabe disso. E Putin não está preocupado com essas mentiras. Mas parece, sim, preocupado com rachaduras no seu sistema ditatorial. No Ocidente, essa situação causa, ao mesmo tempo, alento e preocupação. Alento, porque sugere que Putin pode ser derrubado pela sua própria turma, o que já aconteceu com outras ditaduras.  E preocupação porque um líder totalitário acuado pode desencadear mais violência – tanto interna, quanto externa. Ele tem armas químicas e nucleares.

Como o Ocidente pode reagir? Entregar a Ucrânia de mão beijada, por medo do que Putin possa fazer, seria simplesmente consagrar a ditadura. [será que o destaque  "consagrar a ditadura' embute alguma pretensão de desencadear um apocalipse mundial = acabar com o planeta para demonstrar repúdio a uma ditadura? demonstração que só será vista pela tripulação  da estação espacial internacional na ocasião da hecatombe nuclear.]  A OTAN entrar na guerra diretamente, com aviões, por exemplo, pode ser o pretexto que Putin espera para fazer alguma loucura mais raivosa.

Resta o que se está fazendo: armar as forças do presidente Zelensky, fornecer mantimentos e recursos financeiros. [o inconveniente do que dizem está fazendo, é que tem um único resultado concreto: aumenta a mortandade dos ucranianos = mais civis inocentes mortos em uma guerra já perdida.]Neste último aspecto, é notável a ação de algumas empresas, como a do sistema Airbnb. Pessoas de países ocidentais entram no site e alugam casas de ucranianos, enviando  o pagamento imediatamente. Dinheiro na mão de famílias cujas residências estão sendo atacadas.

Estamos vendo exemplos práticos de algo que se discute há muito tempo por aqui: a responsabilidade moral das empresas. Perdem dinheiro para defender os valores da democracia, das liberdades individuais, do respeito à lei internacional. Pode parecer romântico, mas é disso que se trata: Zelensky torna-se um  herói mundial, aplaudido em parlamentos de diversos países, pelo seu patriotismo e pela defesa de valores.

Foi o grande erro de Putin. Acreditar no que ele mesmo dizia quando ainda podia participar de reuniões Internacionais, como as do G20: que a democracia ocidental estava morta, que o “progressismo” era uma bobagem e que a União Europeia era um saco de gatos.

Agora, estão todas as democracias unidas contra a ditadura. Resta uma dor imensa: é o povo da Ucrânia que está carregando o fardo mais pesado. [vale a pena para o povo da Ucrânia? morrer para defender posições que só interessam aos aliados de palanque?]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

 Coluna publicada em O Globo - Economia 19 de março de 2022

 

quinta-feira, 17 de março de 2022

Putin diz que Rússia ‘cuspirá traidores como moscas’ e sinaliza aumento da repressão interna - O Globo

Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é vermelho.

Fala, que fez menção a uma 'quinta coluna', ocorre em meio a prisões de pessoas que criticam a guerra e isolamento político, econômico e diplomático do país

Com a guerra na Ucrânia entrando na sua quarta semana, o presidente russo Vladimir Putin elevou drasticamente o tom de seu discurso, e além de direcionar seus ataques às lideranças de Kiev, também atacou setores da população russa que chamou de "falsos patriotas" e "escória". A fala ocorre em meio ao aumento da repressão interna àqueles que discordam da guerra iniciada no final de fevereiro contra a Ucrânia — segundo lei aprovada na semana passada, quem mencionar a palavra "guerra", ao invés de "operação militar especial", nome oficial da ofensiva, está sujeito a multa e prisão. — Qualquer povo, e ainda mais o povo russo, sempre será capaz de distinguir verdadeiros patriotas da escória e dos traidores, e simplesmente cuspi-los como uma mosca que acidentalmente entrou em suas bocas — disse Putin, durante uma reunião, na noite de quarta-feira, para discutir medidas de apoio econômico às regiões. —  Estou convencido de que uma autopurificação tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá nosso país, nossa solidariedade, coesão e prontidão para responder aos desafios.

Ofensiva: Zelensky pede à Alemanha que derrube o novo 'muro' que a Rússia levanta na Europa

Desde o início da guerra, cerca de 15 mil pessoas foram presas em protestos contra o governo, e um número ainda desconhecido de russos deixou o país rumo à Europa, EUA e outras nações da ex-URSS, como o Quirguistão e o Cazaquistão. Além do medo da repressão, muitos tentam escapar dos impactos das sanções impostas pelo Ocidente, que já começam a ter efeitos sensíveis na economia russa, em especial na inflação.

No discurso, Putin voltou a atacar os países do Ocidente, como havia feito em outro discurso a seus ministros mais cedo na  quarta, dizendo que eles "simplesmente não precisam de uma Rússia forte e soberana" e que não perdoarão o país por "defender seus interesses nacionais". Lembramos como eles apoiaram o separatismo, o terrorismo, encorajando terroristas e bandidos no norte do Cáucaso. Como nos anos 1990, início dos anos 2000, eles agora novamente, mais uma vez, querem repetir sua tentativa de nos pressionar, nos transformar em algo fraco, dependente, violar a nossa integridade territorial, desmembrar a Rússia da melhor maneira possível para eles. Não deu certo naquela época, e não vai dar certo agora — disse Putin.

Discurso oficial:Pesquisa revela o impacto da imprensa pró-Kremlin no apoio dos russos à guerra na Ucrânia

O presidente destinou ataques aos milionários russos que, hoje, vivem no exterior — alguns deles vêm se afastando do Kremlin e até criticando a forma como Putin vem conduzindo a invasão da Ucrânia. Para ele, eles são uma espécie de "quinta coluna", ou "traidores nacionais", que ganham dinheiro na Rússia e hoje gastam suas fortunas em outros países.— Não estou julgando de forma alguma aqueles que têm uma casa em Miami ou na Riviera Francesa, que não podem deixar de comer foie gras, ostras ou usufruir das chamadas liberdades de gênero. O problema não está nisso, mas  no fato de que muitas dessas pessoas estão mentalmente localizadas no exterior, e não aqui, não com nosso povo, não com a Rússia — afirmou o presidente. — Isto é o que eles pensam, que pertencem a uma casta superior, a uma raça superior.

‘Sou uma patriota’:  Mulher que invadiu telejornal em protesto contra a guerra na Ucrânia recusa oferta de asilo da França

Nesta quinta-feira, ao ser questionado sobre as declarações do presidente, o secretário de Imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que essa é mesmo a linha atual do governo russo.— Em momentos difíceis, muitas pessoas mostram suas verdadeiras cores. Muitas pessoas estão se revelando, como dizemos em russo, traidores — disse Peskov, em entrevista coletiva.

quarta-feira, 16 de março de 2022

A loucura californiana - Revista Oeste

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock
Estamos no meio de uma guerra com desfecho imprevisível, talvez fruto da loucura de Putin, um megalomaníaco que pretende restaurar a “grandeza do império soviético”, custe o que custar. Mas peço vênia aos leitores para desviar o foco nesta coluna. 
Quero falar sobre a loucura californiana, e não quero dizer, com isso, as políticas energéticas malucas que têm custado tão caro ao Estado. 
Falo da loucura mesmo, da relação da Califórnia com os doentes mentais. É um assunto que me interessa bastante, por motivos pessoais.

Tomo como base aqui o livro San Francisco: Why Progressives Ruin Cities, de Michael Shellenberger, ele mesmo um progressista desiludido. Ele escreveu o livro pois tinha muitas perguntas sem respostas, e, ao fazer suas pesquisas, descobriu que seus pares progressistas estavam equivocados em basicamente tudo sobre cidades, crimes e moradores de rua. Era preciso fazer um alerta, na esperança de mudar o rumo das coisas. Na toada atual, as principais cidades californianas ficarão inabitáveis em algumas décadas.

A maioria no poder em algumas cidades dos Estados Unidos parece acreditar que o único problema real de política pública é como pagar para deixar as pessoas fazerem o que quiserem, desde transformar parques públicos em acampamentos de drogas a céu aberto até usar calçadas como banheiros. Entre 2010 e 2020, o número de ligações feitas em São Francisco reclamando de agulhas hipodérmicas usadas em calçadas, parques e outros lugares subiu de 224 para 6.275. De 2005 a 2020, São Francisco experimentou um aumento surpreendente de 95% nos sem-teto desabrigados, enquanto o número de unidades habitacionais permanentes de apoio oferecidas pela cidade aumentou de 6.487 para 10.051.

Quando os fundos locais, estaduais e federais são contabilizados, São Francisco gasta US$ 31.985 por sem-teto apenas em moradia, sem incluir Assistência Geral, outros programas de bem-estar em dinheiro, como Assistência Temporária para Famílias Necessitadas e outros serviços. Por outro lado, a cidade de Nova Iorque gasta US$ 11.662 e Los Angeles gasta US$ 5.001. A maior razão pela qual muitas pessoas escolhem São Francisco, segundo o autor, são as drogas baratas e abundantes e a lentidão da aplicação da lei.

São Francisco tem a quarta maior taxa de mortalidade por overdose de drogas de qualquer grande cidade dos EUA

As pessoas não estão morrendo de overdose de drogas em São Francisco porque estão sendo presas, como alegam aqueles que pregam uma política carcerária ainda mais frouxa. Eles estão morrendo porque não estão sendo presos. De 2008 a 2020, as mortes por overdose de metanfetamina aumentaram 500% em São Francisco, e metade das visitas psiquiátricas ao Hospital Geral de São Francisco está relacionada à metanfetamina. Em 2019, a metanfetamina foi a droga mais comum nas mortes por overdose na Califórnia.

“Estar chapado de metanfetamina parece uma mania bipolar”, explicou um médico de emergência psiquiátrica. Metade de todos os pacientes que ele atendeu no Hospital Geral de São Francisco tinha doença mental grave e dependência de drogas. “Coisas como estimulantes de metanfetamina e cocaína vão te deixar psicótico, e então parece uma mania bipolar”, disse ele. “Quero dizer, é indistinguível.”

Hoje, São Francisco tem a quarta maior taxa de mortalidade por overdose de drogas de qualquer grande cidade dos Estados Unidos. Em 2020, 713 pessoas morreram de overdose acidental de drogas, um aumento de 61% em relação a 2019. As mortes por overdose em São Francisco aumentaram de 11 por 100.000 pessoas em 1985 para 81 por 100.000 em 2020, um aumento de mais de sete vezes. Hoje, as overdoses de drogas são a principal causa de morte de não idosos de São Francisco, respondendo por 29% das mortes de residentes com menos de 65 anos em 2019.

Nenhum Estado na América tomou medidas mais agressivas para reduzir a exposição do público a produtos químicos e ao fumo passivo do que a Califórnia. A Califórnia proibiu a venda de tabaco aromatizado, porque atrai crianças, e o uso de tabaco sem fumaça nos cinco estádios de beisebol profissionais do Estado. Proibiu o uso de cigarros eletrônicos em locais de trabalho governamentais e privados, restaurantes, bares e cassinos. São Francisco, no final de 2020, proibiu fumar cigarros em apartamentos. No outono de 2020, a Califórnia proibiu empresas de usar em cosméticos, xampus e outros produtos de cuidados pessoais 24 produtos químicos considerados perigosos.

E, no entanto, onde os governos de São Francisco, Califórnia e outras cidades e Estados progressistas enfatizam os perigos remotos de cosméticos, pesticidas e fumo passivo, eles minimizam os perigos imediatos das drogas pesadas, incluindo o fentanil. Os psiquiatras há muito alertam contra dar dinheiro aos sem-teto mentalmente doentes e viciados em drogas, e, no entanto, é isso que São Francisco, Los Angeles e outras cidades progressistas fazem.

Muitas pessoas em recuperação do vício dizem que teriam morrido se não fossem forçadas a aceitar o tratamento. “Eu não recomendo isso como uma maneira de organizar sua vida”, disse uma delas, “mas ser indiciado pelos federais funcionou para mim. Eu não teria feito isso sem eles. Eu não fui ao tratamento para ficar limpo. Fui fazer tratamento para sair da cadeia”. No entanto, a elite progressista insiste em sua política contrária ao tratamento forçado e também à prisão dos viciados e doentes mentais que ficam perambulando pelas ruas e colocando eles próprios e terceiros em risco.

Miami adotou uma política distinta, com muito mais sucesso. A cidade da Flórida reduziu sua população de sem-teto em 57%, de um pico de 8.258 em junho de 2001 para 3.560 em janeiro de 2020, adotando políticas semelhantes às usadas na Holanda. Miami acabou com as cenas de drogas ao ar livre, forneceu atendimento psiquiátrico gratuito e tratamento de drogas para os sem-teto e expandiu abrigos e moradias de apoio. “Se você rejeita completamente a criminalização, acaba com muitas pessoas com vícios morrendo nas ruas”, constatou um especialista.

No cerne desse problema está o movimento antimanicomial, a mentalidade libertária e o relativismo que rejeita o conceito de normalidade. Foi um democrata que deu andamento ao fechamento dos hospitais psiquiátricos. O presidente John F. Kennedy propôs e defendeu com sucesso uma reforma crucial de 1963 que exigia que o governo federal financiasse centros comunitários de saúde mental, mas deixasse para os Estados financiar hospitais psiquiátricos. Os democratas da Califórnia foram ativos nos esforços para fechar os hospitais psiquiátricos.

Enquanto cerca de 52 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de alguma doença mental, como ansiedade e depressão, pouco mais de 13 milhões de adultos sofrem de doenças mentais graves. A categoria inclui esquizofrenia, transtorno bipolar grave, transtornos de humor e pensamento. Estima-se conservadoramente que cerca de 121.000 pessoas mentalmente doentes vivam nas ruas americanas.

Pessoas com doenças mentais graves são mais propensas a ficar sem-teto, interagir com traficantes de drogas e ser estupradas, espancadas ou vitimizadas do que o público em geral. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, doenças mentais graves reduzem a expectativa de vida em 10 a 25 anos, principalmente devido a condições crônicas de saúde física, mas também por suicídio. Os doentes mentais têm até dez vezes mais chances de ser encarcerados do que hospitalizados.

Acampamento de sem-teto ao lado da autoestrada no centro de Los Angeles - Foto: Matt Gush/Shutterstock

As coisas muitas vezes terminam mal quando pessoas mentalmente doentes são forçadas a entrar no sistema de Justiça criminal. Um estudo estima que cerca de um quarto das pessoas baleadas e mortas pela polícia em qualquer ano nos EUA tem uma doença mental grave não tratada. Aqueles com uma doença mental grave não tratada têm, portanto, 16 vezes mais chances de ser mortos em um encontro com a polícia do que aqueles sem uma.

Parte do problema é que os pacientes fora das instituições param de tomar seus medicamentos, tornam-se psicóticos e acabam na rua. É semelhante ao processo de desfiliação que ocorre em pessoas que sofrem de dependência de drogas ou álcool. Alguns são mandados de volta para a prisão, que muitas vezes é a única maneira de os doentes mentais graves obterem os cuidados médicos de que precisam.

O argumento libertário, defendido pelo psiquiatra Thomas Szasz, alega que o Estado não tem o direito de intervir se o indivíduo não praticar nenhum ato de agressão contra terceiros. Isso alimentou a visão de entidades como a ACLU, que defendem a “liberdade civil” dos doentes mentais. É como se colocassem sua falsa liberdade acima de sua própria vida! O movimento ganhou força com o livro publicado em 1965 na América por Foucault. Em Madness and Civilization, o filósofo francês atacou como opressão qualquer tentativa de considerar alguém normal ou louco, e como violência qualquer tentativa de tratamento forçado.

Foucault argumentou que o tratamento supostamente humanista do louco como portador de doença mental era, na verdade, uma forma mais insidiosa de controle social. Não restam dúvidas de que havia muito abuso, que famílias enviavam parentes para manicômios para fugir da vergonha de algum comportamento tido como antissocial ou pecaminoso e que nessas instituições rolava muito absurdo nos tratamentos radicais. Mas o abuso não deve tolher o uso. O resultado foi um movimento sem precedentes contra a psiquiatria em geral, e os doentes mentais ficaram largados à própria sorte, incapazes de escolher racionalmente pelo tratamento necessário.

“Esses loucos são tão intratáveis ​​apenas porque foram privados de ar e liberdade”, alegava a visão romântica que passou a glamorizar a loucura. A própria existência da loucura passou a ser questionada. Mas isso é insano. Alguém com demência, com Alzheimer grave, viraria sem-teto se não tivesse algum parente por perto para tratar. Não temos nenhum problema em dizer aos nossos familiares dementes: “Você precisa ir para a assistência domiciliar e tomar este remédio”. E, eventualmente, eles o fazem. Por que isso é diferente de uma doença psiquiátrica? “Comecei a partir de uma perspectiva de libertário civil”, disse um especialista. “Mas, no final das contas, não quero ver as pessoas morrerem com seus direitos. Essa não é a solução.”

Leia também “O caminho aristotélico”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste