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terça-feira, 31 de maio de 2016

Onde o trem bala passa de marreta...



Quando o delegado, responsável pela apuração do estupro por mais 30 homens contra uma – uma só! - jovem de 16 anos, escreve em rede social que “o único crime seria a divulgação do vídeo”, temos uma sociedade doente. O “único crime” foi um vídeo virilizado na internet onde os “inocentes”, expondo o corpo nu de uma garota inconsciente, alardeiam: Essa aqui mais de 30 engravidou. Entendeu ou não entendeu?

Para não haver dúvida do entendimento, a turma de “inocentes” exibe o sexo da garota e complementa: Olha como é que tá. Sangrando. Olha onde o trem bala passou de marreta... Mas o delegado tem uma certeza: Ela (a desacordada do vídeo) teve relação consentida!  Por isso achou melhor não prender ninguém, entende? Vai ver teve pena dos inocentes produtores do vídeo e raiva (muita raiva!) da messalina de 16 anos que frequenta a comunidade, consome drogas, tem “envolvimento claro com pessoas ligadas ao tráfico” e nem virgem é mais – teve um filho aos 13 anos.

Portanto, vadia, bandida, cachorra, vaca! Como muitos escrevem em redes sociais, comentam nas ruas e nas mídias ou, mais comedidos, pensam. O delegado Alessandro não está só na sua convicção do “ela teve relação consentida”.  Ainda que desmaiada, drogada, inconsciente. Com aquele histórico, a menina procurou e achou, têm certeza. Os inocentes só deram a bobeira de filmar e divulgar o after – o ”único crime” segundo o delegado e um sem número de componentes da sociedade doente, onde, 50 mil mulheres são estupradas por ano.

Estima-se que, no Brasil, uma mulher é violentada a cada 11 minutos. Também se estima que apenas 30% dos casos são denunciados. Assim, pode ser que, de verdade, ocorra um estupro a cada minuto.  No Rio de Janeiro, até este maio, foram 507 as queixas de estupro. Em 2015, no mesmo período, foram 670. Muita vadia procurando e achando, devem pensar, por exemplo, seguidores Bolsonaro, aquele que, sem cerimônia, disse para a colega deputada Maria do Rosário: você não merece nem ser estuprada.

Jair, o boçalnaro, expôs assim todo o seu desprezo por aquela feminista-esquerdista, representante de outras milhares “do mundo feminino” que, ao contrário, devem sim ter o merecimento de estupro. A menina do Rio, inclusive. E as feministas todas, particularmente. [Maria do Rosário merece realmente ser desprezada; afinal, ela é a favor do assassinato de seres humanos inocentes e indefesos = aborto.]  

Os 8% de intenção de votos para presidente declarados ao Jair Bolsonaro, são termômetro da febre de preconceitos e violência que assola, em movimento crescente, o Brasil de hoje.  (Sem esquecer, claro, o aplaudido relato televisivo de estupro a uma mãe de santo). Trevas. Medo.

Nesse universo retrógado e machista, além dos boçalnaros, alessandros e frotas, há também uma multidão de colegas de gênero. Mulheres que cerram fileiras com eles. Tontas, nem percebem que acentuam e prolongam a tacanha divisão do mundo em dois – deles e delas.  Com prejuízo pra todos.

Na cega ignorância, acreditam – e declaram – ser “frescura” esse negócio de cobrar presença de mulheres em ministérios de repúblicas democráticas. - Querem cota, agora? E temos que desenhar: senhoras, não é cota, é respeito e reconhecimento. É avanço, signo da igualdade garantida por lei - e por direito - e que devemos ter - de fato.

E segue o desenho: estupro é o oposto do sexo consentido. Estupro é violência, não sexo. Se você, por exemplo, apanhar com uma pá, será jardinagem ou violência? No Brasil violento deste começo de século, mulheres (particularmente, negras), crianças e adolescentes são vítimas “preferenciais” dos estupros. A maioria, 56,6%, ocorre na faixa etária de 15 a 17 anos.

A menina estuprada do Rio tem 16 anos. Foi mãe aos 13. Frequenta baile funk da comunidade, usa drogas. É prato cheio para o entender do machismo que, somado aos preconceitos todos, ganha fôlego entre nós. [onde está o machismo? Frequentar baile funk é inadequado também para homens, menores de idade; usar drogas é crime também para homens.] 

Não importa que, desacordada, tenha sido usada e abusada por um ou por 30. Não houve estupro. De alguma forma – e pelo seu histórico – foi sexo consentido, entende o delegado Alessandro, que não está sozinho nesse pensar. O mundo feminino, como divide o presidente interino da república, tá no sal. Somos a maioria da população e dos eleitores brasileiros, somos mais de 30% dos chefes de família. Estamos em todos os campos de trabalho e de conhecimento.

Aqui e lá fora, chegamos até ao comando do país – a presidência. [pelo amor de Deus; as mulheres sensatas devem esconder que chegaram ao comando do país, a presidência, com Dilma. É algo que avilta e deveria envergonhar todas as mulheres.]  Mas ainda somos seres de outro mundo – o “das mina”. Tipo segunda categoria, entende? E, aqui como na Índia, de acordo com a vontade “dos trem”, “as minasão sujeitas a serem sangradas, amassadas, passadas de marreta por um ou por mais de 30. 

Entendeu?

Século 18 no século 21, entende?

Fonte: Tânia Fusco – Blog do Noblat