Quando o delegado,
responsável pela apuração do estupro por mais 30 homens contra uma – uma só!
- jovem de 16 anos, escreve em rede social que “o
único crime seria a divulgação do vídeo”, temos
uma sociedade doente. O “único crime” foi um vídeo virilizado na internet
onde os “inocentes”, expondo o corpo nu de uma garota inconsciente,
alardeiam: Essa aqui mais de 30 engravidou.
Entendeu ou não entendeu?
Para não
haver dúvida do entendimento, a turma de “inocentes” exibe o sexo da
garota e complementa: Olha como é que tá.
Sangrando. Olha onde o trem bala passou de marreta... Mas o delegado tem
uma certeza: Ela (a desacordada do vídeo) teve relação consentida!
Por isso achou melhor não prender ninguém, entende? Vai
ver teve pena dos inocentes produtores do vídeo e raiva (muita
raiva!) da messalina de 16 anos que frequenta a
comunidade, consome drogas, tem “envolvimento claro com pessoas
ligadas ao tráfico” e nem virgem é mais – teve um filho aos 13 anos.
Portanto,
vadia, bandida, cachorra, vaca! Como muitos escrevem em redes sociais,
comentam nas ruas e nas mídias ou, mais comedidos, pensam. O delegado
Alessandro não está só na sua convicção do “ela teve relação
consentida”. Ainda que desmaiada, drogada, inconsciente. Com
aquele histórico, a menina procurou e achou, têm certeza. Os inocentes só deram
a bobeira de filmar e divulgar o after – o ”único crime” segundo o
delegado e um sem número de componentes da sociedade doente, onde, 50 mil
mulheres são estupradas por ano.
Estima-se
que, no Brasil, uma mulher é violentada a cada 11 minutos. Também se estima
que apenas 30% dos casos são denunciados. Assim, pode ser que, de verdade,
ocorra um estupro a cada minuto. No Rio de Janeiro, até este maio, foram
507 as queixas de estupro. Em 2015, no mesmo período, foram 670. Muita vadia
procurando e achando, devem pensar, por exemplo, seguidores Bolsonaro, aquele
que, sem cerimônia, disse para a colega deputada Maria do Rosário: você não merece nem ser estuprada.
Jair, o
boçalnaro, expôs assim todo o seu desprezo por aquela feminista-esquerdista,
representante de outras milhares “do mundo feminino” que, ao contrário,
devem sim ter o merecimento de estupro. A menina do Rio, inclusive. E as
feministas todas, particularmente. [Maria
do Rosário merece realmente ser desprezada; afinal, ela é a favor do
assassinato de seres humanos inocentes e indefesos = aborto.]
Os 8% de intenção de votos para
presidente declarados ao Jair Bolsonaro, são termômetro da febre de
preconceitos e violência que assola, em movimento
crescente, o Brasil de hoje. (Sem esquecer, claro, o
aplaudido relato televisivo de estupro a uma mãe de santo). Trevas. Medo.
Nesse
universo retrógado e machista, além dos boçalnaros, alessandros e frotas, há
também uma multidão de colegas de gênero. Mulheres que cerram fileiras com eles.
Tontas, nem percebem que acentuam e prolongam a tacanha divisão do mundo em
dois – deles e delas. Com prejuízo pra todos.
Na cega
ignorância, acreditam – e declaram – ser “frescura” esse negócio de
cobrar presença de mulheres em ministérios de repúblicas democráticas. -
Querem cota, agora? E temos que desenhar: senhoras, não é cota, é
respeito e reconhecimento. É avanço, signo da igualdade garantida por lei - e
por direito - e que devemos ter - de fato.
E segue o
desenho: estupro
é o oposto do sexo consentido. Estupro é violência, não sexo. Se você, por exemplo, apanhar
com uma pá, será jardinagem ou violência? No Brasil
violento deste começo de século, mulheres (particularmente, negras), crianças e adolescentes são vítimas “preferenciais”
dos estupros. A maioria, 56,6%, ocorre na faixa
etária de 15 a 17 anos.
A menina
estuprada do Rio tem 16 anos. Foi mãe aos 13. Frequenta baile funk da
comunidade, usa drogas. É prato cheio para o entender do machismo
que, somado aos preconceitos todos, ganha fôlego entre nós. [onde está o machismo? Frequentar baile funk é
inadequado também para homens, menores de idade; usar drogas é crime também
para homens.]
Não
importa que, desacordada, tenha sido usada e abusada por um ou por 30. Não
houve estupro. De alguma forma – e pelo seu histórico – foi sexo consentido,
entende o delegado Alessandro, que não está sozinho nesse pensar. O mundo
feminino, como divide o presidente interino da república, tá no sal. Somos
a maioria da população e dos eleitores brasileiros, somos mais de 30% dos
chefes de família. Estamos em todos os campos de trabalho e de conhecimento.
Aqui e lá
fora, chegamos até ao comando do país – a presidência. [pelo amor de Deus; as mulheres sensatas devem
esconder que chegaram ao comando do país, a presidência, com Dilma. É algo que
avilta e deveria envergonhar todas as mulheres.] Mas ainda somos seres de
outro mundo – o “das mina”. Tipo segunda categoria, entende? E, aqui como na Índia, de acordo com a vontade “dos
trem”, “as mina” são
sujeitas a serem sangradas, amassadas, passadas de marreta – por um
ou por mais de 30.
Entendeu?
Século 18
no século 21, entende?
Fonte: Tânia Fusco – Blog do Noblat
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