Bolsonaro, Mourão e a nova tribo à direita acreditam no que dizem — e, talvez, esse seja o problema
‘Eu sou
baixo clero, e sou de direita”, repetiu na Câmara nos últimos 27 anos. Encarnou
um personagem que, sem farda, exala a rusticidade da caserna. Se tornou um
missionário da ruptura com a democracia, em negação permanente da catástrofe
dos 21 anos de ditadura militar. Foi
ignorado até 2015 quando se anunciou candidato de uma nova tribo à direita: a
sociedade anônima dos que têm medo do PT com os ressentidos da liquefação
política. Líder nas intenções de voto — e na rejeição eleitoral, sobretudo
entre as mulheres —, Jair Bolsonaro, 63 anos, ventaneja há décadas a “refundação”
do Brasil por uma nova direita, essencialmente antiliberal.
O projeto
prevê intervenção militar, “para manutenção da lei e da ordem, conforme o
artigo 142 da Constituição”, repetiu pelo país. Ele não conspira, fala em
público, e não renega a tosca antipolítica: “Um curto período de exceção, que
incluiria o fechamento temporário do Congresso e a suspensão das prerrogativas
do Legislativo”, disse no Sul.
A última
ditadura durou 21 anos. No epílogo da anarquia fardada, ele figurou com um
plano para explodir bombas em quartéis no Rio. Da
tribuna da Câmara ecoou seu fascínio pelo autoritarismo: “Sou a favor, sim, de
uma ditadura, de um regime de exceção”. Desenhou-o como saída aos problemas
nacionais. “O que o
gaúcho quer? Que dos impostos que paga, parte não continue sendo desviada para
a indústria da seca no Nordeste.” E ainda: “Quando é que vamos conseguir
aprovar uma emenda que diminua a bancada de Roraima? Não acredito nisto.”
Nesse
roteiro, primeiro, se decreta a “falência” do Legislativo. “Quem decide?” —
perguntou dias atrás o repórter Merval Pereira a Hamilton Mourão, parceiro de
chapa de Bolsonaro. O general candidato a vice do capitão retrucou: “O próprio
presidente. Ele pode decidir empregar as Forças Armadas. Aí, você pode dizer:
‘Mas isso é um autogolpe’”. Bolsonaro,
Mourão e a nova tribo à direita acreditam no que dizem — e, talvez, esse seja o
problema.