Pois aconteceu. Numa infeliz combinação de desacertos, as
orientações iniciais referentes à covid-19 transformaram os estados
sulinos nas grandes vítimas da política e do jornalismo militante. Este
último, ao adotar a mesma orientação geral em suas ações desde a
proclamação do resultado da eleição de 2018, apoiou com severidade a
irracional paralisação das atividades. Afinal, se o presidente,
preocupado com a recessão e o desemprego, era contra a indiscriminada
quarentena nacional, impunha-se fazer soar cotidianamente contra ele as
trombetas de Jericó da mídia militante.
Para reforçar a crise, assim que o vírus chegou ao Brasil, começaram aquelas reuniões vespertinas com o Dr. Mandetta. Simpático, falastrão, bom comunicador, louvado pela mídia e em rota de colisão com o presidente da República, o ministro da Saúde era tudo de que o noticiário precisava. O Dr. Mandetta dizia que era para não usar máscara. Depois, que era para usar máscara. Seguiam-se lições sobre distanciamento.
Conselhos eram dados para só procurar o hospital quem sentisse falta de ar ou febre. Tratamento precoce parecia fora de qualquer cogitação. Em seguida, sobreveio o fechamento de shoppings, escolas, comércio de rua, e uma lista infinita de atividades sentenciadas à míngua. Tudo por “quinze dias” que duraram meses. Se o vírus estava em multiplicação em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Nordeste e no Norte do país, aqui no Sul nem havia chegado. Mas a ordem era parar tudo e ai de quem mostrasse um pouco de bom senso!
O conhecido médico gaúcho Dr. Júlio Pereira Lima, em recente artigo, afirma a esse respeito:
[e a pregação por distanciamento e isolamento sociais continua; fique em casa, continua forte, obsessivo.
Números são manipulados, os ruins enfatizados, os bons não citados - quando o são é no meio do pacote, com destaque zero.
Em Brasília, desde que começou a se verificar que o número de recuperados nas últimas 24h, superava o dos confirmados no mesmo período, o último deixou de ser citado nos noticiários - para obtê-los só via Secretaria de Saúde.]
E o fizeram desnecessariamente, induzidos por políticos e pelo jornalismo militante. Cirurgias não emergenciais adiadas, consultas postergadas, exames cancelados. Moléstias variadas se expandindo, escondidas de um vírus que não estava aqui. E uma crise descomunal, que afetava tanto a lojinha de capa de celular quanto o grande hospital privado, forçados a despedirem funcionários por prolongada falta de demanda.
Agora, chegado o inverno, tempo de hospitais, emergências e UTIs habitualmente lotados, o novo coronavírus chegou à região. E a recomendação, depois de meses com atividades suspensas, sem qualquer pedido de desculpas – sem sequer um Oops! Erramos... – é manter as portas fechadas. E não falar mais no que ficou para trás.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Para reforçar a crise, assim que o vírus chegou ao Brasil, começaram aquelas reuniões vespertinas com o Dr. Mandetta. Simpático, falastrão, bom comunicador, louvado pela mídia e em rota de colisão com o presidente da República, o ministro da Saúde era tudo de que o noticiário precisava. O Dr. Mandetta dizia que era para não usar máscara. Depois, que era para usar máscara. Seguiam-se lições sobre distanciamento.
Conselhos eram dados para só procurar o hospital quem sentisse falta de ar ou febre. Tratamento precoce parecia fora de qualquer cogitação. Em seguida, sobreveio o fechamento de shoppings, escolas, comércio de rua, e uma lista infinita de atividades sentenciadas à míngua. Tudo por “quinze dias” que duraram meses. Se o vírus estava em multiplicação em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Nordeste e no Norte do país, aqui no Sul nem havia chegado. Mas a ordem era parar tudo e ai de quem mostrasse um pouco de bom senso!
O conhecido médico gaúcho Dr. Júlio Pereira Lima, em recente artigo, afirma a esse respeito:
Entre
15/3 e 31/5, os médicos assistiram à maior epidemia de saúde de nossa
história. Hospitais vazios, UTIs vazias, ambulatórios despovoados.
A bem descrita cena, que por circunstâncias particulares acompanhei de
perto, atesta insensibilidade e irracionalidade. A economia do Rio
Grande do Sul foi gravemente ferida. Se você considerar que no intervalo
de datas acima os três estados sulinos atrelaram-se desnecessariamente à
quarentena nacional, não há como não se indignar com o monstruoso
prejuízo causado à sua população, suas empresas e suas economias.[e a pregação por distanciamento e isolamento sociais continua; fique em casa, continua forte, obsessivo.
Números são manipulados, os ruins enfatizados, os bons não citados - quando o são é no meio do pacote, com destaque zero.
Em Brasília, desde que começou a se verificar que o número de recuperados nas últimas 24h, superava o dos confirmados no mesmo período, o último deixou de ser citado nos noticiários - para obtê-los só via Secretaria de Saúde.]
E o fizeram desnecessariamente, induzidos por políticos e pelo jornalismo militante. Cirurgias não emergenciais adiadas, consultas postergadas, exames cancelados. Moléstias variadas se expandindo, escondidas de um vírus que não estava aqui. E uma crise descomunal, que afetava tanto a lojinha de capa de celular quanto o grande hospital privado, forçados a despedirem funcionários por prolongada falta de demanda.
Agora, chegado o inverno, tempo de hospitais, emergências e UTIs habitualmente lotados, o novo coronavírus chegou à região. E a recomendação, depois de meses com atividades suspensas, sem qualquer pedido de desculpas – sem sequer um Oops! Erramos... – é manter as portas fechadas. E não falar mais no que ficou para trás.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.