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domingo, 22 de outubro de 2023

Eleição na Argentina: Como a disputa entre Milei e o peronismo mexe com o país de norte a sul - Estadão

Em duas semanas, ‘Estadão’ percorreu 4 mil km em quatro províncias argentinas e testemunhou o descontentamento com a crise econômica e política que abala o país

Do deserto mineiro de Salta, onde a pobreza e o descaso do Estado são uma realidade há décadas, ao sul da Patagônia governado com mão de ferro pela família Kirchner há 30 anos, a Argentina terá neste domingo, 22, uma eleição definidora em sua história.

A reportagem do Estadão percorreu nas últimas duas semanas mais de 4 mil quilômetros ouvindo o que pensam os eleitores, questionando políticos locais e observando o cenário pré-eleitoral na Argentina. E de norte a sul do país, desde as terras secas e ricas em minerais dos Andes à gélida e ensolarada Patagônia, o que se vê é um rompimento com os velhos nomes da política.

Mesmo em lugares nos quais pautas como dolarização e venda de órgãos parecem desconectadas da realidade local, Javier Milei encontrou um clima de abandono, frustração e uma certa vontade de ‘explodir tudo’. Essa nova versão do ‘se vayan todos’ criou um terreno fértil inédito para o colapso de uma lógica clientelista operada há décadas pelo peronismo no interior da Argentina.

Parte do sucesso de Milei se deve ao rechaço ao peronismo em consequência do mal avaliado governo de Alberto Fernández e de seu ministro da Economia, Sergio Massa, candidato da situação. Quem vota no libertário, fala em romper com a ‘velha política’ que, na avaliação da maioria, colocou a Argentina em uma crise econômica profunda, com uma inflação de quase 140%, pobreza acima de 40% e desvalorização da moeda.

Enquanto isso, a candidata de oposição macrista, Patricia Bullrich, tem enfrentado dificuldades. 
No clima de polarização entre peronismo e anti-peronismo, o argentino não encontra espaço para uma direita alternativa a Milei. 
O vínculo de Bullrich com o establishment - sua família é abastada e tradicional na política argentina - tira as credenciais para executar a mudança drástica que o país necessita, argumentam os eleitores.

A febre Milei no norte pobre da Argentina

A província de Salta, no norte da Argentina, aglutinou o sentimento de bronca que os argentinos vivem da política: nas primárias, metade da província elegeu Milei. Em povoados mais distantes da capital, essa votação chegou a passar de 60%.

A cor predominante nas ruas da capital saltenha é o amarelo da coalizão A Liberdade Avança e do padrinho político de Milei na província, Alfredo Olmedo. Pela cidade toda, cartazes de apoio aos libertários Milei, Olmedo e Orozco - a candidata a deputada federal, viraram febre. Nas ruas, jovens se vestem como o “Peluca” (apelido de Milei que significa ‘peruca’) e fazem uma festa ao pedir votos pelo libertário.

Perto da praça 9 de Julio, um stand de Bullrich, com direito a um pato gigante - o apelido de Patricia é Pato Bullrich - fica quase apagado em meio ao mar de amarelo.

Aníbal Franco, 30, é um dos que se vê cansado de ver peronistas no poder e dessa vez vai votar em Milei. Morador de San Antonio de Los Cobras, cidade de Salta onde 63% votou em Milei, ele trabalha com a mineração e conta que, ainda que não seja um emprego ruim, o salário já não lhe é suficiente.

“Tenho um salário de 300 mil a 350 mil pesos mensais, mas com a inflação e a disparada do dólar é o suficiente para cobrir a cesta básica”, comenta. “Mas ainda tenho que pagar aluguel, pagar a luz, o gás, a internet ou qualquer outro serviço, só com isso já se foi tudo. E ainda tenho que levar os filhos na escola, comprar roupas. Então, onde está a igualdade e a justiça social que dizem? Não existe”.

Rechaço ao peronismo

Já no centro do país, na província de San Luís, o sentimento de cansaço foi traduzido não só em um apoio em massa a Milei na primária de agosto - a província foi a segunda que mais o votou - mas também tirando do poder velhos nomes da administração local. Pela primeira vez desde a redemocratização do país, há 40 anos, a província não será governada por alguém da família Rodríguez Saá.

Personagens importantes do peronismo pós-redemocratização, os irmãos Adolfo e Alberto Rodríguez Saá mantiveram por 40 anos a hegemonia na pequena província agrícola da Argentina. Mas dessa vez, o candidato apoiado pelo atual governador, Alberto, perdeu a corrida para um candidato de dentro da coalizão do Juntos pela Mudança.

Menos amarela que Salta, mas definitivamente com muitas imagens e cartazes da campanha de Milei, San Luís vivia um clima intenso pré-eleitoral. Na praça Pringles, jovens tentavam fazer campanha por Sergio Massa em uma pequena tenda no canto, mas não eram muitos os que se aproximavam. Já Patricia Bullrich, escolheu a cidade como um dos pontos para finalizar a sua campanha.

Ana Paula Pereyra, 24, se preocupa pelas falas de Milei e ainda não estava certa em que votaria, mas não deixava de demonstrar insatisfação com a política que vem sendo tocada em sua cidade desde sempre. “Do jeito que estamos, com essa crise, sem perspectiva de ter um emprego, tendo que sair do país para trabalhar, isso não dá para continuar. Mas Milei ainda me deixa insegura”, afirma.

Maioria silenciosa no berço kirchnerista

No sul do país, a temperatura política, ao menos na superfície, parece diferente. Em Río Gallegos, capital da província de Santa Cruz, cidade natal de Néstor Kirchner e o berço do kirchnerismo, quase não se vê campanhas a favor de Milei. No máximo alguns panfletos do A Liberdade Avança são vistos nas calçadas e folhas de sulfite rasgadas coladas em postes com o rosto do libertário.

Ainda assim, ele também foi o mais votado na província nas primárias, para surpresa absoluta dos kirchneristas. Dentro do círculo político próximo de Alicia Kirchner, governadora em retirada da província e irmã de Nestor, o voto expressivo de Milei veio como um choque.

Nas ruas, quase ninguém fala em quem se pretende votar. No máximo, a população demonstra algum descontentamento e diz que o país precisa de uma mudança de rumo.

Mas Milei levou a província considerada um bastião dos Kirchner nas primárias com 28% dos votos, seguido pela coalizão peronista com 21%. O clima de silêncio faz analistas acreditarem que ali houve um “voto de vergonha” no libertário, em que se vota, mas não se admite. Os números são ainda mais impressionantes quando considerado que Milei não fez campanha ali, nem ao menos teve candidatos provinciais para governo ou legislativo.

A isso acrescenta-se o fato de que, pela primeira vez em 30 anos, nenhum kirchnerista estará no governo. Alicia, que concorre para o Senado, não conseguiu eleger seu candidato e a oposição macrista venceu a corrida. Amplificando o sentimento de cansaço na terra dos pinguins.

O que esperar

Embora sejam eleições definidoras na história da Argentina, o consultor político Pedro Buttazzoni reluta em classificá-la como uma das mais importantes, especialmente frente a um baixo engajamento a ir votar. O voto é obrigatório, mas nas primárias, mais de 30% decidiu não participar, um dos números mais altos dos últimos 40 anos.

As eleições nacionais costumam ter um nível de participação maior que as primárias, mas não se sabe até onde o eleitor desencantado ficou convencido com alguma das candidaturas.

“Ninguém se aventura em ser contundente em um prognóstico, os cidadãos tem uma enorme resistência a responder pesquisas, o que dificulta realizar estudos e na hora de construir cenários possíveis há uma conclusão generalizada: pode ocorrer de tudo”, afirma o analista e co-diretor da Droit Consultores.

“Talvez o cenário mais provável seja de um segundo turno entre Milei e Massa. Tudo indica que com a fragmentação eleitoral será difícil que algum candidato tenha mais de 40% ou ter uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo. Milei é o favorito e dentro de seu diretório as opções são somente de vitória. Em geral, todos esperam que ele termine em primeiro, a questão será a diferença”, completa.

Em sua avaliação, se Milei obtiver menos que 35% com uma diferença pequena para Massa, ainda que seja uma vitória, será vista como menos contundente que a esperada, e pode dar ao peronismo chances de sonhar com uma virada. Já uma vitória acima de 35% com uma diferença maior que 6 pontos será uma consolidação de seu favoritismo. O último cenário é o da vitória em primeiro turno. Improvável, mas possível, se de fato existir um voto envergonhado.

“O alto número de indecisos e de pessoas que se negam a responder as pesquisas nos obrigam a manter a hipótese de uma nova espiral de silêncio. Muitas pessoas preferem não expressar seu voto para não serem julgadas. Se essa massa de indecisos se voltar para Milei, o primeiro turno é uma possibilidade”, pontua Buttazzoni.

Ainda que haja a possibilidade de se definir tudo em primeiro turno, analistas são céticos quanto a isso. Pela regra, para um presidente já sair definido neste domingo, é necessário obter mais de 45% dos votos, ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado. Milei, porém, tem um teto baixo, segundo análises de pesquisas de intenção de votos, e não deve crescer a ponto de ultrapassar essas barreiras.

Mas independentemente do resultado de hoje, essas eleições já causaram um terremoto no sistema político tradicional da Argentina, forçando os grandes partidos a repensarem suas estratégias de comunicação e busca de votos, e com eleitores das províncias mais distantes demonstrando seu descontentamento frente à prioridade que tem Buenos Aires na agenda política.

 

Carolina Marins - O Estado de S. Paulo

 

terça-feira, 20 de junho de 2023

A fábrica de morte de Wuhan - Revista Oeste

Dagomir Marquezi 

Reportagem especial do Sunday Times revela detalhes sinistros sobre a origem da covid-19

 

Mapa da China com marcador na cidade de Wuhan | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

No número 1 da London Bridge Street está a sede do jornal The Times, um dos mais longevos e prestigiados da história da imprensa mundial. 
No arranha-céu envidraçado com vista para o Rio Tâmisa, Jonathan Calvert e George Arbuthnott trabalham para a seção Insight. 
Eles produzem reportagens especiais para um diário que tem 238 anos de reputação a defender. 
Numa extensa reportagem publicada no último dia 11 na edição dominical do Times, Calvert e Arbuthnott revelaram alguns segredos perturbadores sobre a pandemia que afetou a todos.

“Cientistas em Wuhan, trabalhando ao lado dos militares chineses, estavam combinando os coronavírus mais mortais do mundo para criar um novo vírus mutante assim que a pandemia começou”, começa a longa matéria do Sunday Times. “Investigadores que examinaram comunicações interceptadas ultrassecretas e pesquisas científicas acreditam que os cientistas chineses estavam executando um projeto secreto de experimentos perigosos, que causaram um vazamento do Instituto de Virologia de Wuhan e iniciaram o surto de covid-19. (…) Investigadores norte-americanos dizem que uma das razões pelas quais não há informações publicadas sobre o trabalho é que ele foi feito em colaboração com pesquisadores do exército chinês, que o financiava e que, segundo eles, buscava a criação de armas biológicas.”

Como essas informações foram obtidas? “O Sunday Times revisou centenas de documentos, incluindo relatórios anteriormente confidenciais, memorandos internos, artigos científicos e correspondências por e-mail obtidos por meio de fontes ou por ativistas pela liberdade de informação nos três primeiros anos desde o início da pandemia. Também entrevistamos os investigadores do Departamento de Estado dos Estados Unidos — incluindo especialistas na China em ameaças pandêmicas emergentes e em guerra biológica — que conduziram a primeira investigação significativa dos Estados Unidos sobre as origens do surto de covid-19.”<img decoding="async" width="1368" height="896" src="https://medias.revistaoeste.com/qa-staging/wp-content/uploads/2023/06/rasgadinho1-1.jpg" alt="" class="wp-image-952855" srcset="https://medias.revistaoeste.com/qa-staging/wp-content/uploads/2023/06/rasgadinho1-1.jpg 1368w, https://medias.revistaoeste.com/qa-staging/wp-content/uploads/2023/06/rasgadinho1-1-300x196.jpg 300w" sizes="(max-width: 1368px) 100vw, 1368px" data-eio="p" />Reportagem publicada no último dia 11 na edição dominical do Times | Foto: Reprodução

“Impacto devastador na civilização humana”
O Instituto de Virologia de Wuhan, fundado em 1956, se envolveu nessa história no final de 2002, quando pesquisava as origens do vírus conhecido como Sars. 
O vírus provocava febre, dor de cabeça, desconforto e tosse seca. 
 
Surgiu pela primeira vez na província de Guangdong, sudeste da China.
Para pesquisar a origem da doença foi enviado um grupo de pesquisadores liderado pela cientista mais famosa de Wuhan: a doutora Shi Zhengli, conhecida como “Batwoman”, por causa de suas pesquisas sobre morcegos. O objetivo aparente da pesquisa era encontrar uma vacina contra a doença. 
 
Guangdong, sudeste da China | Foto: Shutterstock

Em 2009, o governo norte-americano ajudou a financiar o instituto com US$ 18 milhões por intermédio de uma ONG chamada EcoHealth Alliance — algo como “Aliança da EcoSaúde”. Seu presidente, o inglês Peter Daszak, dividiu com os cientistas chineses suas técnicas mais avançadas de manipulação de vírus.

Em 2012, a mesma doutora Shi descobriu em algumas montanhas da província de Yunnan um vírus parecido com o Sars
O novo vírus foi chamado de WIV1, usando a sigla que identificava o Instituto de Virologia de Wuhan. 
Outro vírus, chamado SHC014, foi enviado para o virologista norte-americano Ralph Baric. Baric desenvolveu a técnica de “humanizar” ratos de laboratório para que seu corpo se tornasse mais parecido com o organismo humano. Atropelou aí uma fila de princípios éticos científicos mais básicos. Mas aparentemente ninguém reclamou. 
 
O doutor Baric passou a fundir genes de diferentes vírus para torná-los mais fortes e virtualmente incontroláveis. 
Seu objetivo declarado era criar uma vacina contra doenças como a Sars. A vacina nunca virou uma realidade. 
E Baric tomou consciência do caminho que estava trilhando, segundo um texto de sua autoria de 2006: “Existem ferramentas para modificar simultaneamente os genomas para aumentar a virulência [e] transmissibilidade. Essas armas biológicas podem ser direcionadas a humanos, animais domesticados ou plantações, causando um impacto devastador na civilização humana”. Um desastre era apenas questão de tempo. Tudo “em nome da ciência”.
 
“O mais perigoso experimento de coronavírus já realizado”
Seguindo o princípio de Ralph Baric, vírus diferentes eram combinados no laboratório de Wuhan para um processo chamado “ganho de função”.  
O objetivo, acredite se quiser, era criar vacinas para doenças que não existiam
Cientistas estavam recebendo dinheiro para criar doenças fora do nosso controle, misturando a embriaguez do poder de vida e morte com o apetite por verbas fáceis.

A doutora Shi Zhengli anunciou em 2017 que seu pessoal no Instituto de Wuhan havia conseguido criar nada menos que oito vírus mutantes, desenvolvidos a partir das fezes de morcegos encontrados na Caverna Shitou. Dois desses vírus eram capazes de infectar células humanas. 

 Virologista chinesa Shi Zhengli dentro do laboratório P4 em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei | Foto: Johannes Eisele/AFP

Segundo a matéria do Sunday Times, “a maior parte desse trabalho aconteceu em laboratórios (no Instituto de Wuhan) de nível 2 (BSL-2), que tomavam apenas precauções leves, comparáveis às usadas numa cirurgia dentária”. Fotos do interior do laboratório mostravam funcionários manipulando os receptáculos desses vírus de alta periculosidade.
Usavam apenas luvas cirúrgicas e uma dessas máscaras azuis que a gente compra na farmácia. 
 
Nessa mesma época, o Instituto de Wuhan desenvolveu o que foi descrito pelo biólogo molecular Richard Ebright como “o mais perigoso experimento de coronavírus já realizado”. 
Vírus criados artificialmente (fundindo os tipos WIV1 e SHC014) eram injetados nas narinas de ratos com pulmões “humanizados” — 75% das cobaias morreram no experimento. 
É um ambiente de insanidade científica, mas a essa altura havia ainda mais pressão para que o governo norte-americano continuasse enfiando dinheiro na fábrica de morte de Wuhan. Em nome da sua “Aliança da EcoSaúde”, Peter Daszak pediu mais US$ 14 milhões. O pedido foi negado.


O marco zero
E é a partir daí que a pesquisa científica se torna um enredo típico dos filmes de James Bond ou Missão: Impossível. Segundo um dos investigadores do governo norte-americano, “o rastro de documentos começa a escurecer”. Foi exatamente quando o programa secreto começou. “Minha opinião é que a razão pela qual [a pesquisa em] Mojiang foi encoberta foi o sigilo militar relacionado à busca [do exército] pela capacidade de uso duplo em armas biológicas, virológicas, e em vacinas”, disse o investigador, que não quis se identificar.

A partir daí, a busca por uma vacina dá lugar à pesquisa para tornar o vírus, desconhecido até então, ainda mais infeccioso para os seres humanos. Segundo os investigadores, “tornou-se cada vez mais claro que o Instituto de Virologia de Wuhan esteve envolvido na criação, disseminação e encobrimento da pandemia de covid-19”.Instituto de Virologia de Wuhan, na China | Foto: Wikimedia Commons

O marco zero da pandemia aparentemente ocorreu no mês de novembro de 2019, quando pesquisadores de Wuhan foram levados para o hospital com sintomas que hoje identificamos como covid-19. O silêncio do regime chinês foi absoluto. Um mês depois, o resto do mundo foi atingido pelo novo vírus.

A partir daí, a identificação da fonte da nova doença foi proibida pelo governo de Xi Jinping.  
A pesquisadora inglesa Alice Hughes, que estava envolvida na pesquisa por meio da Academia Chinesa de Ciências, foi proibida de se manifestar sobre as investigações e passou a ser vigiada pelo aparelho repressivo do Partido Comunista. Fugiu para Hong Kong.

O Departamento de Estado norte-americano passou então a agir ativamente para descobrir o que estava acontecendo nas entranhas do regime comunista chinês no período anterior ao surgimento da covid. Serviços de inteligência dos Estados Unidos tiveram acesso inédito a “metadados, informações telefônicas e de internet”. 

Xi Jinping, ditador da China | Foto: Reprodução/Flickr

Por ser altamente confidencial, o relatório publicado no início de 2021 foi ridiculamente pequeno — apenas 700 palavras. Segundo o relatório, “cientistas de Wuhan estavam conduzindo experimentos [no vírus] RaTG13 da mina de Mojang, e pesquisas militares clandestinas, incluindo experimentos em animais de laboratório, estavam sendo realizadas no instituto antes da pandemia”.
“O Instituto de Virologia de Wuhan tem realizado pesquisas secretas, incluindo experimentos em animais de laboratório, em nome do exército chinês desde pelo menos 2017”
 
O Sunday Times conversou com três dos membros dessa comissão e cientistas ligados às pesquisas em Wuhan. Eles concluíram que o objetivo era tornar os vírus cada vez mais perigosos, especialmente através do uso de ratos “humanizados”. Segundo uma dessas fontes, a técnica “acelera o processo natural de mutação. Em vez de levar anos para ocorrer a mutação, pode levar semanas ou meses. Isso garante que você acelere o processo natural”.

Ratos humanizados
Um dos cientistas que trabalhavam com o Departamento de Estado, o doutor Steven Quay, declarou que não fazia o menor sentido acreditar que vírus de morcego pudessem ser transmitidos para humanos. “Seria a primeira vez que isso aconteceria na história da ciência humana.” A covid-19 seria um claro caso de criação proposital de vírus por meio de “ratos humanizados”: “Você infecta os ratos, espera uma semana mais ou menos, e depois recupera o vírus dos ratos mais doentes. Então você repete o processo. Em questão de semanas, essa evolução direcionada produzirá um vírus que pode matar todos os ratos humanizados”. Isso explicaria, segundo ele, por que o vírus surgiu tão marcadamente adaptado para infectar humanos.

 

A covid-19 seria um claro caso de criação proposital de vírus por meio de “ratos humanizados” | Foto: Shutterstock

O relatório do Departamento de Estado deixa explícito o objetivo da criação desse vírus: “Apesar de se apresentar como uma instituição civil, os Estados Unidos determinaram que o Instituto de Virologia de Wuhan colaborou em publicações e projetos secretos com o exército chinês. O Instituto de Virologia de Wuhan tem realizado pesquisas secretas, incluindo experimentos em animais de laboratório, em nome do exército chinês desde pelo menos 2017″.

Um dos investigadores declarou que os militares chineses estão envolvidos com o Instituto de Wuhan desde 2016, quando as conclusões dos experimentos se tornaram cada vez mais secretas. Segundo a matéria do Sunday Times, as pesquisas em Wuhan eram realizadas em parceria com a Academia de Ciências Médicas Militares — um ramo de pesquisas do Exército de Libertação Popular (ELP), o nome oficial das Forças Armadas da China.

Um livro publicado por essa mesma academia, em 2015, declarava que o Sars representava uma “nova era de armas genéticas” (…) que podiam ser “manipuladas artificialmente em um vírus emergente de doença humana, que então era transformado em arma e utilizado”. Os autores do livro, pesquisadores do ELP, falavam abertamente sobre armas biológicas e colaboraram diretamente com os cientistas de Wuhan.

Caindo do telhado
Qual é a lógica por trás da pesquisa?
Segundo os investigadores entrevistados pelo Sunday Times, a ideia seria transformar vírus em armas e, ao mesmo tempo, trabalhar numa vacina contra essas novas doenças. Na cabeça desses militares, os chineses sobreviveriam vacinados, enquanto o resto do mundo seria dizimado pelo novo vírus modificado. O raciocínio não prevê o estado de caos de uma pandemia, mas é típico de mentalidades autoritárias.

A rapidez com que os chineses produziram uma vacina quando a covid-19 saiu de controle só aumentou essa suspeita. O doutor Robert Kadlec concluiu que a vacina chinesa contra a covid (coordenada pelo cientista militar Yusen Zhou) já estava sendo trabalhada em novembro de 2019 — antes, portanto, da pandemia.

Um incidente aumentou o clima de suspeita em torno do caso. Em maio de 2020, o doutor Yusen Zhou foi anunciado morto aos 54 anos. Causa mortis: ele teria “caído” do telhado do Instituto de Wuhan.  
 
Se isso acontecesse num filme de James Bond, todo mundo ia considerar uma fantasia. Na reportagem, pareceu o que se chama na linguagem policial de “queima de arquivo”.Segundo os investigadores entrevistados pelo Sunday Times, a ideia seria transformar vírus em armas e, ao mesmo tempo, trabalhar numa vacina contra essas novas doenças | Foto: Shutterstock
 
As investigações revelaram que três cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan com idade entre 30 e 50 anos teriam sido os primeiros infectados pela covid-19, ainda em novembro de 2019. 
Um deles faleceu. 
Sinais de alerta foram captados nas comunicações pedindo reforços urgentes na segurança interna do instituto. 
 
Em 19 de novembro, o diretor de segurança da Academia Chinesa de Ciências visitou o instituto
Recebeu pedidos de alguns de seus líderes para serem retransmitidos ao próprio presidente Xi Jinping, alertando para a situação “grave e complexa” vivida no conjunto de laboratórios. 
A primeira reação do regime foi apagar as evidências de que a origem da pandemia havia sido no Instituto de Virologia. 
Suspeitas foram fabricadas contra o “mercado molhado” de Wuhan e as cavernas de morcegos de Yunnan. 
Por muito tempo o mundo comprou essas versões. 
 
O artigo do Sunday Times deixa algumas pistas que apontam os verdadeiros responsáveis por uma doença criminosa que causou 7 milhões de mortes ao redor do mundo, provocou uma crise econômica sem precedentes e possibilitou a instalação de “ditaduras sanitárias” em todo o planeta.  
Até agora, nenhuma punição aconteceu aos que provocaram essa catástrofe global.

O que estará acontecendo neste exato momento no interior das paredes do Instituto de Virologia de Wuhan?

Leia também “Procuram-se profissionais de tecnologia”

Dagomir Marquezi,  colunista  - Revista Oeste

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

Coronavírus pode infectar pênis, testículos e próstata, mostra estudo - O Globo

Cientistas americanos afirmam que descoberta explicaria casos de disfunção sexual em alguns homens com Covid-19 

[uma coisa é certa: chute ou fato, a notícia vai reduzir o ímpeto dos milhares que estão realizando manifestações contra o conflito Rússia x Ucrânia (manifestações realizadas na segurança dos pontos turísticos dos países onde ocorrem - inclusive no Brasil). Agora terão que se preocupar com os danos sexuais atribuídos à covid-19, com a tragédia de Petrópolis e outros desastres que infelizmente continuam ocorrendo e tinham sido esquecidos pelos protestos em moda.

LEITORES, a coisa é séria não é deboche com a doença.A fonte é séria - pelo menos tem obrigação de ser,é uma das checadoras de fake news.]

O coronavírus pode infectar o pênis e os testículos, mostrou uma pesquisa com macacos rhesus. Cientistas acreditam que o mesmo aconteça com seres humanos. O achado, segundo o jornal New York Times, explicaria a disfunção sexual sofrida por alguns homens com Covid-19. O distúrbio seria provocado diretamente pelo Sars-CoV-2, e não pela inflamação ou febre que ocorrem na doença.

Leia mais:  Casos de síndrome respiratória tem forte queda, mostra Infogripe da Fiocruz

O estudo de pesquisadores americanos demonstrou que o coronavírus infecta a próstata, o pênis, os testículos e os vasos sanguíneos em torno destes. Os macacos foram examinados com um tipo de exame de tomografia de emissão por pósitrons específico para detectar focos de infecção.Os cientistas ficaram surpresos com o tamanho da infecção encontrada no trato genital masculino. "Vimos um completo espalhamento pelo trato genital masculino. Ficamos surpresos com esse resultado",  disse ao New York Times Thomas Hope, principal autor do estudo e professor de biologia celular da Escola de Medicina Feinberg, em Chicago.

Entenda:  Vacina da Pfizer contra Ômicron será adiada

O estudo ainda é preliminar, mas seu achado foi considerado consistente. Ele ainda não foi publicado em revista científica com revisão por pares, está no repositório bioRxiv. Já se sabia que a Covid-19 está associada a casos de disfunção erétil, mas o estudo mostra que a extensão do problema é maior do que a suposta. Se estima que entre 10% a 20% dos homens infectados pelo Sars-CoV-2 apresentem disfunção no trato genital.

Covid-19:  Saiba onde estão os maiores desertos vacinais do país

Homens infectados pelo vírus têm de três a seis vezes mais risco de sofrer disfunção erétil. E esta pode ser um indicador da síndrome pós-Covid.

Pacientes reportam problemas como dor nos testículos, diminuição do número e da qualidade dos espermatozoides e redução da fertilidade. Também há casos de hipogonadismo, uma condição em que os testículos produzem quantidade insuficiente de testosterona, causando diminuição perda do desejo sexual e da fertilidade, além de impotência.

Pesquisador adverte homens não vacinados
Hope advertiu que mesmo que apenas uma pequena parcela dos homens infectados pelo coronavírus apresente essas complicações, o número de afetados pode chegar a milhões dadas as dimensões da pandemia. Ele urgiu os homens ainda não vacinados a se imunizarem e a procurarem um médico, caso percebam problemas sexuais ou reprodutivos.
 
 

Saúde - O Globo
 


quinta-feira, 6 de maio de 2021

CPI VAI INOCENTAR O VÍRUS - Percival Puggina

 A mídia militante foi buscar na covid-19 sua casa de armas. Decidiu que o Brasil deveria ficar fora dessa pandemia e que restavam ao vírus duas possibilidades: 
- ou nos tratava com o devido respeito, 
- ou deveria ser espatifado pessoalmente pelo presidente da República com aquela metralhadora imaginária da campanha eleitoral.
 
Ela, a mídia, assumiu-se como grande reitora das políticas sanitárias do país. Houve momentos em que quis mandar mais do que o STF, imaginem só! Não se espante, não estou inocentando o Supremo. Devo reconhecer, porém, que a Corte, muitas vezes, abre espaço ao contraditório. 
Tal condescendência nada resolve, posto que todos têm opinião formada sobre tudo. Mas o contraditório ao menos fala. Na mídia militante é diferente. O contraditório é relegado ao mutismo
O divergente é lobo solitário, exército de um homem só. Eu vivi isso. 
  
[alguém duvida
 o objetivo da CPI - criada por decisão monocrática,  de um ministro do Supremo, dada em determinação direta ao presidente do Senado Federal, que também preside o Congresso Nacional, que reúne as duas Casas do Poder Legislativo (lembrando que o Poder Legislativo é um dos Poderes da República e ao lado do Poder Executivo e do Poder Judiciário, é harmônico e independente.) = é condenar o presidente Bolsonaro - situação impossível de ocorrer, o presidente não cometeu crime.
 
Diante da impossibilidade de condená-lo, a quem condenar
- às autoridades locais, em sua maioria, ladrões dos recursos públicos?
- aos que compram respiradores em adegas?
- ao 'drácula'?
- a autoridades que integram a CPI e que estão envolvidas em corrupção?
Ou INOCENTAR o CORONAVÍRUS?
Já que os citados são inocentes,  desde que nasceram,  vamos inocentar o vírus = não havendo um condenado oficial, sempre é possível tentar condenar alguém e todos sabem que os inimigos do Brasil possuem um candidato a culpado... vai que cola...]

Vão encontrar alvos para atingir o governo? Claro que sim. Certa feita, ouvi de uma jornalista do PT que “se o adversário não tem rabo a gente põe”. E se a CPI não consegue pôr, a mídia militante põe. 
Ela está com sangue nos olhos. 
Segundo ela, Mandetta comprometeu Bolsonaro. 
Ao que vi e sei, Mandetta comprometeu Mandetta. Foi ele que primeiro mandou não usar máscaras, depois mandou usar. 
Orientou para só procurar hospital com febre ou falta de ar. Provocou um esvaziamento de hospitais, UTIs e consultórios durante meses. 
Firmou inimizade com o tratamento precoce. Para a mídia, porém, na CPI, comprometeu Bolsonaro.
Jamais será reconhecido no foro da comissão e pela mídia militante que (dados de 5 de maio) o Brasil é o 9º país em número de mortes por milhão, o 9º em novas mortes por milhão. 
E é o 11º no quesito percentagem da população que recebeu apenas uma dose.  
Tem 2,7% da população mundial e aplicou 4,2% das vacinas disponibilizadas. 
É o quinto que mais vacinas aplicou. Jamais destacarão o fato de que este último dado o situa atrás, apenas, dos quatro países que as produzem em seus grandes laboratórios – EUA, China, Índia e Reino Unido. 
 
Poderiam os números ser mais elevados? De que jeito? 
Os países produtores seguiram a regra de Mateus – “Primeiro os meus!” – e vêm utilizando em suas populações 62% das 1,175 bilhão de vacinas produzidas até este momento. Fica fácil, então, presumir o esforço comercial e diplomático para conseguir lugar na parte alta da tabela, bem como perceber o esforço político para ocultar tais informações.

Como brasileiro, particularmente, considero de meu dever louvar a importância da Anvisa e de seus protocolos, que sempre foram fator de tranquilidade da nossa população no consumo interno de vacinas e medicamentos. Ela só não é tão veloz como alguns queriam porque seus técnicos são responsáveis, não obedecem ordens da imprensa e conhecem o alto preço de quaisquer falhas nas autorizações que concedem. Especialmente em relação a algo que vai ser distribuído a toda população do país.

Um dos episódios mais lastimáveis dos últimos meses foi a ordem do ministro Lewandowski para que a Anvisa, em 30 dias decidisse sobre a importação da vacina russa Sputnik V pelo Maranhão. Ora, ministro![o ministro Lewandowski ia dormir se considerando 'supremo', continuava se imaginando 'supremo' durante o sono, e acordava com o mesmo pensamento.

Usamos o passado, já que quando percebeu a firmeza da decisão da Anvisa e que desobedecer tal decisão, poderia complicar a sua suprema supremacia, optou pelo obsequioso silêncio.]

Com sua licença, prezado leitor, vou parar por aqui, pois é hora de assistir o circo montado no Senado Federal. [Prezado Percival! fique tranquilo que haverá sempre local no circo montado no local no circo montado no Senado Federal;

afinal, o relator senador Calheiros (até o momento nenhum ser humano pensante conseguiu entender o interesse do 'cabeleira' por exercer tal cargo na CPI) sempre atento ao bom uso do dinheiro público e ao conforto do contribuinte já pensa em montar, na Esplanada dos Ministérios - com direito a lona, arquibancada e picadeiro - um circo de verdade = afinal, para a CPI o que interessa é plateia.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A eficácia das vacinas que você certamente já tomou na vida - Diário da Vacina

VEJA

'Tomar vacina não é jogo de azar ou jogar a moeda para cima. É justamente o contrário: a vacina faz a moeda ficar viciada para te proteger', diz médico

17 de janeiro, 7h02: A eficácia de 50,38% da CoronaVac, uma das vacinas que farão parte do Plano Nacional de Imunizações (PNI) e que será produzida pelo Instituto Butantan como artilharia para conter o alastramento do novo coronavírus, foi motivo de irresponsável comemoração de apoiadores do movimento anti-vacinação e de grupos que não se coram ao politizar uma tragédia que vitimou mais de 207.000 brasileiros.


         
Laryssa Borges, voluntária em teste da vacina - Alex Ferro/VEJA

Autoridades chegaram a comparar o percentual próximo a 50% a um jogo de cara ou coroa em que estaríamos expostos ao acaso se decidíssemos seguir em frente e receber a CoronaVac. [com as devidas vênias: qualquer resultado de 50% é um jogo de cara ou coroa.]Não é verdade. No meio de todo esse quiproquó, a explicação mais didática partiu do intensivista e epidemiologista Otavio Ranzani. “É bem simples: Tomar vacina não é jogo de azar ou jogar a moeda para cima. É justamente o contrário: a vacina faz a moeda ficar viciada para te proteger. A vacina joga contra o azar e sempre ao nosso favor. A vacina é um seguro grátis caso você tenha problema com o vírus”, disse ele em uma rede social.[o ilustre médico apenas fez uma frase com um jogo de palavras para defender o que ele considera certo.]

O jogo de moedas viciadas, como propôs Ranzani, sempre vale a pena, independentemente do percentual em que o níquel estará a nosso favor. Veja agora a eficácia das vacinas que você certamente já tomou na vida (e graças a elas, não desenvolveu certas doenças):

Provavelmente você tem uma cicatriz no braço, com até um centímetro de diâmetro. 
É resultado da vacina BCG, de proteção contra a tuberculose e aplicada em crianças do nascimento até cinco anos de idade. 
No primeiro ano de vida do bebê, a eficácia do imunizante pode variar de 46% a 100%, principalmente na contenção de manifestações mais graves, como a meningite tuberculosa. Para o caso de tuberculose pulmonar, estudos indicam que a vacina tem eficácia na casa dos 60%.
A tríplice bacteriana contra difteria, tétano e coqueluche, aplicada a partir dos dois meses de vida, exige três doses, com intervalos programados de dois meses entre cada um, para conferir proteção superior a 80%. Como a barreira de proteção declina com o tempo, é desejável que haja vacinação de reforço a cada dez anos. 
As vacinas contra o vírus influenza podem ter eficácia na casa dos 30%, chegando a 80% a depender da idade e das condições de saúde do vacinado. Idosos e imunodeprimidos têm resposta imunológica menor, mas ainda assim é recomendado que recebam o imunizante por integrarem o grupo de pessoas mais sujeito à mortalidade pela doença. Nos últimos anos, a eficácia das doses anti-gripe tem ficado em torno de 50%.

As vacinas de prevenção contra a hepatite B conferem proteção de até 95% em crianças e adolescentes, as desenvolvidas contra a poliomielite estimulam a produção de anticorpos em 95% dos vacinados após duas doses e de 99 a 100% após três doses. Todos os percentuais de eficácia dos fármacos foram fornecidos ao blog pela doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). “As vacinas representam a estratégia de intervenção com a melhor relação custo-benefício até hoje aplicada em saúde pública. Como a vacina é uma estratégia coletiva, é preciso combinar a eficácia do imunizante com a cobertura vacinal, com todo mundo se vacinando e garantindo uma alta cobertura contra a doença”, disse ela. [a eficácia das vacinas citadas é indiscutível;

Sou antigo e tomei todas as vacinas citadas e mais algumas, entre elas: contra a varíola, sarampo, febre amarela e outras cujos nomes e peste a ser combatida não me recordo. Lembro que a contra a paralisia infantil (poliomielite) havia duas: a Salk e a Sabin - oportuno destacar: os nomes das vacinas nada tinham a ver com laboratórios com o mesmo nome, era apenas homenagem aos descobridores.  

Agradeço aos meus pais por terem me vacinado. -  CH.]

 Laryssa Borges - Diário da Vacina - Revista VEJA

 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O império dos sem-voto - Revista Oeste

J.R. Guzzo
 
Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer

Nos jogos do campeonato brasileiro de futebol tornou-se praticamente obrigatória a observação de um minuto de silêncio antes de cada partida, em homenagem aos mortos da covid-19. É um hábito mundial; na última rodada da Premier League, por exemplo, houve até música fúnebre, executada por orquestra e dramatizada por soldados com uniforme tipo “guarda real”, em posição de sentido. É uma prova a mais de que governos em geral e o seu exército de burocratas, médicos assustados e um público ansioso por receber ordens de cima transformaram a tragédia trazida pela epidemia numa espécie de ato de heroísmo. Os mortos pela covid, pelo que se pode deduzir, estão valendo mais que os mortos por outras doenças; têm direito a minuto de silencio e banda marcial, enquanto os demais não têm direito a nada além do próprio enterro.

Neste ano de 2020, do dia 1º de janeiro até as 15 horas em ponto do dia 12 de novembro, as doenças cardíacas mataram no Brasil mais de 350.000 pessoas 350.122, para ficar nos números exatos, contra os 160.000 que morreram até agora de covid.  
Não se trata de informação vinda de nenhum desses Condomínios de Administração da Verdade que se multiplicam por aí. 
São os números oficiais do “Cardiômetro” da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que registra em tempo real, segundo a segundo, as mortes causadas por moléstias cardiovasculares no país. 
São cerca de 1.000 mortes por dia, ou uma a cada 90 segundos. É simplesmente o dobro das mortes motivadas por todos os tipos de câncer; nenhuma outra doença mata mais gente, no Brasil ou no mundo.

Você não vai ouvir um minuto de silêncio em homenagem a essas 350.000 vítimas (o total vai bater em quase 400.000 até o fim do ano), nem qualquer outra demonstração de simpatia oficial, particular ou científica. Da mesma forma, não é motivo de nenhum interesse o número de mortos por câncer, por problemas respiratórios ou outras causas. É como se nada disso existisse, ou importasse, ou pudesse merecer algum tipo de consideração. Na cabeça dos que governam os jogos de futebol — e em qualquer outra atividade deste mundo na qual uma autoridade possa mandar hoje em dia só se morre de covid. O resto é o resto. Não faz o menor sentido — mas as sociedades, cada vez mais, estão se acostumando a engolir decisões sem nexo por parte dos que mandam. É covid? Então vale tudo, aceita-se tudo e, mais ainda, se obedece a tudo.

Quem obrigará os brasileiros a tomar uma vacina genérica quando a Pfizer tem a sua?
É assim que muita gente está se acostumando a aceitar comportamentos irracionais, alguns já na fronteira da histeria, que se multiplicam na vida cotidiana. Dias atrás uma médica, de avental branco e tudo, foi vista no elevador de um edifício de consultórios de São Paulo apertando o botão do elevador com o cotovelo. 
 
Rapazes e moças de 25 anos de idade andam de bicicleta, ao ar livre e debaixo do sol do meio-dia, com máscaras último tipo; já se viu gente que, ainda por cima, usa viseira de plástico. Bares e restaurantes (mais um mundo de outros lugares) continuam tirando a temperatura dos clientes que chegam — como se fosse a coisa mais comum desta vida alguém sair de casa para tomar um chopinho com 40 graus de febre. Chegar perto de um outro ser humano é considerado um grave risco. Há pessoas que chamam a si próprias de “vetor” — e por aí vamos.

O governador Doria, com o apoio de seu companheiro de partido Aécio Neves — hoje refugiado na Câmara dos Deputados para escapar de acusações penais por crime de extorsão — quer socar na veia de todo mundo uma substância de origem chinesa que ele (além do laboratório “privado” da China com o qual o governo paulista se associou) define como uma vacina contra o coronavírus — a “vachina. (Aécio e outros deputados propõem, inclusive, punições legais para quem não se vacinar — com essa ou com alguma outra vacina, que eles não dizem qual será.) Nenhum país sério do mundo aceitou até agora esse negócio; no Brasil, inclusive, a Anvisa chegou a suspender (e depois permitiu de novo), os testes que vinham sendo feitos com a vacina chinesa, ou “do Butantã”. Qual é o nexo?

Isso ainda não é o pior. A Pfizer, indústria farmacêutica americana fundada em 1849, presente em 150 países e com indiscutível reputação científica em todo o mundo, acabou de anunciar que obteve êxito na sua vacina que, obviamente, é muito mais respeitada do que a tentativa de um laboratório chinês que nunca foi capaz de produzir com sucesso um único comprimido de Melhoral em toda a sua existência. E agora: vai continuar a guerra para obrigar os brasileiros, por lei, a tomarem a “vachina do governador Doria, ou qualquer vacina genérica, quando a Pfizer tem a sua — e outros laboratórios que desfrutam de imenso prestígio internacional vão pelo mesmo caminho?  
O que vai se fazer com os milhões de doses da droga chinesa a ser fabricada no Instituto Butantã, em São Paulo? Você vai pagar cada centavo disso tudo, é claro — e se, no fim das contas, a vacina Doria-China não rolar?
 
Eis aí, em toda a sua pureza, mais um absurdo dessa covid-19 — como a decisão, tomada pelos gestores da cidade de Los Angeles, de proibir que as pessoas cantem em suas próprias casas na próxima festa de réveillon. (Além do mais, só podem comemorar a passagem do ano durante 2 horas; depois disso, cama.) Aqui, em relação à vacina, temos uma situação de estupidez perfeita. A autoridade pública diz ao cidadão: 
“Você será obrigado a tomar a vacina”. 
O cidadão pergunta: “Qual vacina?” 
A autoridade responde: “Não sei.” 
O Brasil tido como “pensante”, esse Brasil que sabe das coisas melhor do que o Brasil que você vê em sua volta, acha que não há nada demais com isso. 
E daí que o sujeito tenha de tomar uma vacina que não existe? Qual é o problema? 
Está querendo que as pessoas morram? Está sendo “negacionista”?  Votou no Trump?

O debate, em suma, tornou-se não-compreensível dentro das categorias normais da lógica. Esse fenômeno acontece, sem dúvida, na sequência de uma crescente passividade de grande parte da população diante da postura cada vez menos racional, e cada vez mais autoritária, de quem nomeia a si próprio patrulheiro do bem comum e do movimento mundial contra a epidemia. 

A apatia com que se aceita os fatos descritos acima tem sido incentivada de maneira agressiva pelo complexo formado pela mídia, a politicalha, as classes intelectuais e o resto do sopão liberal-democrático-equilibrado-centrista-progressista-europeu-civilizado que sempre sabe o que é melhor para você — muito mais do que você próprio sabe. É tudo o que a vasta multidão de gente que se espalha por aí, com a alma de pequeno ditador, de inspetor de quarteirão e de guarda-da-esquina pediu a Deus e aos Doze Apóstolos.

Como escreve Theodore Dalrymple, articulista da revista inglesa Spiked e colaborador da OESTE, há pelo mundo afora cada vez mais gente obedecendo às ordens de pessoas que não foram eleitas para nada. Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer, o que pode e o que não pode. Estão nas burocracias, nos organismos internacionais, na mídia, nas universidades, nas ONGs e nas fábricas de especialistas-técnicos-cientistas que se multiplicam por aí, e que querem decidir sobre tudo, do aquecimento global à definição do que é um queijo da Serra da Estrela. Estão sempre vigiando você, com um “protocolo” na mão. São, hoje, a pior ameaça à democracia que existe no mundo. Contam, sem dúvida, com o apoio de boa parte do público — são pessoas que querem obedecer, esperam o tempo todo que alguma autoridade (bem ou mal intencionada) lhes diga o que fazer, e se sentem mais confortáveis sempre que topam com uma nova regra para cumprir.

É curioso. Causa grande alarme nas classes intelectuais, nas elites de todas as naturezas e na imprensa em geral o “papel inferior” em que, na sua opinião, a política tradicional e as “instituições” se viram atiradas pelo “populismo” desses últimos tempos. Os políticos eleitos, dizem eles todos, podem ser muito ruins, mas receberam votos para exercer os seus cargos; é melhor conviver com eles do que com a “democracia direta” e “sem intermediários” que vem da multidão irracional e que é defendida pelos “populistas”. Pode ser. Mas o populismo, pelo menos, tem algo a ver com a ideia de povo — é algo popular, digamos assim. E os burocratas que fecham escolas, dizem a que horas você pode voltar para casa e têm direito de vida ou morte sobre o seu emprego foram eleitos por quem?

Leia também o artigo de Brendan O’Neill nesta edição, “A verdadeira resistência”

Revista Oeste - Transcrito em 20 novembro 2020