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domingo, 19 de janeiro de 2020

Os jabutis sob o tapete de Bolsonaro - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo -  O Globo

Bolsonaro precisa levantar o tapete - Caso de Fábio Wajngarten será avaliado pela Comissão de Ética da Presidência, que tem um passado de tumultos e frangos 

Comissão de Ética deveria dar alegrias, mas tem sido fonte de tristezas

No próximo dia 28, a Comissão de Ética da Presidência da República tratará do caso do secretário especial de Comunicação do Planalto, Fábio Wajngarten. Como se sabe, até ser nomeado para o cargo, ele dirigia uma empresa que tinha contratos com emissoras de TV e agências de publicidade que vendem serviços à Secom. Depois que se desligou funcionalmente, foi substituído por pessoa de sua confiança que vem a ser irmão do seu braço direito na Secom. Ele continua dono de 95% das cotas da empresa.

A Comissão de Ética da Presidência tem um passado de tumultos e frangos. Dois de seus presidentes já se demitiram (Marcílio Marques Moreira, em 2002, e Sepúlveda Pertence, em 2012). [ambos sob governo petista, certamente por não aceitarem pressões para conferir caráter de ÉTICO aos roubos do pt.
O erro deles, se algum houve, ou alguns, foi de  se demitirem em silêncio.]  Passou por baixo das pernas dos seus doutores a evolução patrimonial do comissário Antonio Palocci e ela conviveu com a escalafobética prática dos ministros que tinham empresas de consultoria. Em 2011, eram cinco.
Instituição que deveria dar alegria aos contribuintes, a comissão foi fonte de tristezas. Em 2012, a presidente Dilma Rousseff dispensou legalmente cinco do seus sete integrantes e essas cadeiras ficaram vazias por cinco meses. No ano seguinte, a comissão deixou de publicar suas atas. Deu no que deu.

Wajngarten explicou-se na quarta-feira com um forte argumento: “Fui orientado pela SAJ (Subchefia de Assuntos Jurídicos do Planalto), pela AGU (Advocacia-Geral da União) e pela CGU (Controladoria-Geral da União)” para “que eu saísse do quadro de gestão” da empresa. Esse argumento terá a força de sua documentação. Se existem uma consulta formal de Wajngarten a qualquer um desses órgãos e uma resposta informando que seu simples afastamento funcional eliminava qualquer conflito de interesses, será o jogo jogado. Se não existem papéis assinados, o argumento vira pó, entrando no mundo nebuloso das conversas do Planalto, nas quais todo mundo faz o que acha que pode e depois diz que não teve nada a ver com isso.

Como disse o presidente Bolsonaro, “se foi ilegal, a gente vê lá na frente”. O que significa “lá na frente”, só ele sabe. Olhando-se lá pra trás, ao primeiro ano de sua presidência, ele tem um espinho no pé. Em agosto do ano passado, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) publicou um edital para a compra de 1,3 milhão de computadores, notebooks e laptops para a rede pública de ensino. Coisa de R$ 3 bilhões, um trocado para um fundo que administra R$ 55 bilhões. A Controladoria-Geral da União estudou o edital e, entre outras coisas, descobriu que uma só escola de Itabirito (MG) receberia 30 mil laptops (118 para cada um de seus 255 alunos). Outra, de Santa Bárbara do Tugúrio (MG), receberia cinco laptops para cada estudante. Essa discrepância repetia-se em 355 escolas.

O jabuti foi apanhado pela CGU, uma instituição do Estado, destinada a zelar pelo patrimônio da Viúva. Nada a ver com essa espécie desgraçada dos jornalistas.
O edital foi revogado em setembro e, desde então, jogou-se o jabuti para baixo do tapete. Passaram-se quatro meses e ninguém sabe quem concebeu o tal edital, quem tocou o assunto e quem chegou a justificar suas maluquices.  Isso tudo num caso em que o governo teria do que se orgulhar pela ação da CGU e pela decisão do presidente do FNDE de revogá-lo.

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Casa de Windsor
A rainha Elizabeth foi rápida no gatilho e cedeu ao desejo dos Duques de Sussex de se afastarem da família real. Ela poderia ir adiante, colocando a Casa de Windsor na realidade do século 21.

A senhora ficaria num de seus castelos com os filhos, netos, cavalos e cachorros, administrando suas crises familiares. Enquanto isso, o Palácio de Buckingham seria ocupado pelas equipes que fazem as séries “The Crown”, com seu relativo rigor factual, e “Downtown Abbey”, com seu toque de classe.

O mundo ficaria mais divertido.

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Bolsonaro e Thaís
Jair Bolsonaro chamou a jornalista Thaís Oyama, autora do livro “Tormenta”, de “essa japonesa que eu não sei o que faz no Brasil”. Ela faz o mesmo que ele: vive no país onde nasceu. Oyama é neta de japoneses e Jair é bisneto de italianos.

Por mais preconceitos que tenham ofendido os japoneses, foram migalhas se comparados com as ofensas atiradas contra os italianos.
Delas, a mais interessante partiu de um ilustre quatrocentão ao referir-se a Alfredo Buzaid, ministro da Justiça do presidente Médici.
“Não se pode confiar nos italianos, veja o caso desse Buzaid”.
(Ele descendia de imigrantes do Oriente Médio.)

Na Folha de S. Paulo - O Globo, MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista