[Presidente Bolsonaro, duro de aceitar, porém, inevitável, que seus filhos precisam ser afastados do 'ministério da intromissão' - que existe informalmente no seu governo - e. em consequência, cada um deles, só opinar nos assuntos da profissão para a qual foram eleitos.
NUNCA se manifestarem sobre assuntos políticos ou outros da República - em monarquias, que não é o caso do Brasil - é que os filhos podem se manifestar sobre assuntos de Estado.
Grave também é que um ministro que Vossa Excelência chamou de mentiroso permaneça ministro - manter alguém que o senhor chamou de mentiroso em seu ministério pega mal para o presidente = que é o senhor.]
Rebentos já deram indícios de que vão criar problemas para o pai e o país
Se tivesse senso de institucionalidade ou mesmo um pouco mais de juízo,
Jair Bolsonaro deserdaria seus três filhos envolvidos com a política. O
governo ainda não completou dois meses, mas seus rebentos, cada um à sua
maneira, já deram indícios de que vão criar problemas para o pai e o
país. O primogênito, o senador Flávio Bolsonaro, embora seja o mais moderado
dos três, converteu-se ele próprio no centro da primeira crise
enfrentada pela nova administração. Seu envolvimento com Queiroz e as
milícias tende a tornar-se uma assombração permanente a pairar sobre a
Presidência.
Carlos, o vereador, a quem o próprio pai apelidou de “pit bull”, tem o
hábito de jogar gasolina nas questões em que se mete, como acabamos de
ver na fritura de Gustavo Bebianno. Além disso, Carlos anda armado ao
lado do presidente e, aparentemente, tem acesso a suas senhas nas redes
sociais. É incrível que um governo tão densamente povoado por militares
admita tal nível de riscos de segurança.
Há, por fim, o deputado federal Eduardo, aquele que gosta de despachar
cabos e soldados para fechar o Supremo. A crer nas notícias de
bastidores, é o responsável pela indicação de alguns dos personagens
teletransportados diretamente da “twilight zone” para a Esplanada dos
Ministérios. Na realidade paralela em que esses espécimes habitam, o
mundo é dominado por comunistas com o propósito de criar um governo
global e destruir a família.
Apesar das dores de cabeça que os três filhotes já causaram e ainda
causarão, é improvável que Bolsonaro venha a afastá-los. O problema de
fundo é o descompasso entre a nossa programação biológica original (que
nos faz proteger filhos e parentes) e o ambiente moderno em que vivemos
(que exige do presidente uma impessoalidade institucional). Basicamente,
estamos diante de uma armadilha evolutiva, o que significa que a
natureza tende a prevalecer sobre o bom senso.
Hélio Schwartsman - Folha de S. Paulo