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domingo, 28 de novembro de 2021

O sucesso da venda de casas em vilarejos da Itália a apenas 1 euro

O mundo se espantou com a notícia. Deu tão certo que agora faltam imóveis

 

Lembra daquela história de casas antigas e sem conservação à venda em vilarejos europeus pela bagatela de 1 euro, e que parecia boa demais para ser verdade? Pois bem, os programas lançados há algum tempo começam agora a trazer resultados, e eles são surpreendentes. Os compradores não apenas se comprometeram a reforçar os espaços — eles, de fato, fizeram isso. Casarões degradados tornaram-­se reluzentes imóveis, vilas que pareciam esquecidas no tempo recuperaram o frescor do passado. O projeto vingou, e isso é ótima notícia para as inúmeras cidades que o apoiaram.

O programa nasceu em 2008, quando Vittorio Sgarbi, ex-crítico de arte e então prefeito da cidade de Salemi, na Sicília, teve a ideia de cobrar 1 euro por moradia do centro histórico. Em troca, o comprador assumia o compromisso de restaurar o imóvel. Assim, ele conseguiria poupar recursos públicos que teriam de ser investidos na preservação da área, valor fora do orçamento municipal, e, ao mesmo tempo, atrairia um novo fluxo de pessoas para a região. Desde então, a proposta ganhou força e foi adotada em ao menos outras 33 regiões da Itália. Como não se trata de uma iniciativa federal, o número exato pode ser ainda maior.


 SAMBUCA DI SICILIA (Itália) - A cidade é uma das que aderiram ao projeto que tem atraído principalmente estrangeiros interessados em investir na revitalização em troca de uma moradia em um cenário romântico e e repleto de tradição - Alamy/Fotoarena; Easter Weiss/.

O empresário Douglas Roque, de 50 anos, foi um dos brasileiros atraídos pela promessa de moradia barata na Europa. Ele começou com um imóvel na cidade medieval de Fabbri­che di Vergemoli, na Toscana. Contou a amigos e familiares o que planejava e acabou reunindo um grupo de dezessete pessoas, que, juntas, compraram o primeiro condomínio de casas de 1 euro da Itália. Empolgado com as perspectivas, Roque investiu também em um moinho e em outro imóvel na região. A negociação, no entanto, envolve muita papelada. “O processo de compra é complexo e exige um estudo profundo sobre a trajetória da casa”, disse a VEJA. “A prefeitura não nos deu muitos documentos dos donos antigos".


 

É preciso levar em conta, evidentemente, o valor da reforma. Algumas das moradias ofertadas precisam de poucos reparos antes de abrigarem os novos donos. Outras, porém, não passam de ruínas, sem teto, repletas de animais e plantas mortas, com paredes tortas. Roque, por exemplo, gastou cerca de 8 000 euros com a sua casa — e as obras no condomínio começarão apenas em fevereiro de 2022. Mesmo assim, o investimento compensa. É difícil encontrar uma casa na região por menos de 40 000 euros, e alguns imóveis mais antigos em bom estado passam de 130 000 euros.

A grande quantidade de casas abandonadas na Itália rural se deve ao desenvolvimento das grandes cidades, que levou ao empobrecimento do campo. “No pós-guerra, o número de agricultores italianos caiu de cerca de 50% para menos de 7%”, diz Maurizio Berti, arquiteto especialista em revitalização da ONG Restoration Works. “Esses vilarejos desconhecidos têm uma herança riquíssima de valores, conhecimentos, tradições e beleza natural, além da excelente qualidade de vida.”

Foi essa combinação que atraiu a atenção da brasileira Rubia Andrade. Ela, que mora nos Estados Unidos, estava voltando de uma viagem em dezembro de 2018 quando leu uma reportagem sobre as casas à venda por 1 euro. Após a descrença inicial, ela começou a pesquisar mais sobre o projeto e, pouco depois, tornou-se proprietária de três imóveis na vila de Mussomeli, na Sicília. “Receber uma casa praticamente de graça em um lugar excelente, sem crime e com comida, vinho e pessoas ótimas é incrível”, afirma Rubia, que já gastou cerca de 12 000 euros na reforma. “Não há lugar melhor no mundo para mim.”

Embora tenha atrasado alguns dos projetos de revitalização, a pandemia mostrou a viabilidade do trabalho remoto e deve acelerar a busca pelas casas de 1 euro. Em algumas províncias italianas, as iniciativas foram suspensas por falta de imóveis. Por causa do sucesso desses projetos, o primeiro-mi­nistro Mario Draghi já anunciou um plano de recuperação de aproximadamente 2,3 bilhões de euros para a reforma de pequenos centros históricos espalhados pelo país, além de vilas rurais, sítios, parques e jardins.

Motivada pela experiência italiana, a inspiração cruzou as fronteiras. Croácia, França e Espanha conceberam programas semelhantes. Na Croá­cia, uma vila está vendendo casas por 16 centavos de dólar sob a condição de que o comprador viva na região por pelo menos quinze anos. “O principal resultado desses programas é a recuperação da riqueza cultural das áreas envolvidas”, afirma Berti. “Com eles, vilas que sofreram com o despovoamento e a degradação são trazidas de volta à vida.” De fato, o valor de iniciativas como essas é inestimável.

 Publicado em VEJA, edição nº, 2766 de 1 de dezembro de 2021

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