A partir da declaração
bombástica do ex-presidente Lula de que não existe ninguém no Brasil mais
honesto do que ele, é
possível constatar que a Operação Lava-Jato, assim como
já acontecera com o mensalão,
provoca em caciques petistas uma autorreferente sinceridade que chega às raias
da comicidade.
Para
começar, sem querer Lula repetiu,
anos depois, a mesmíssima frase que o
deputado Paulo Maluf cunhou para se defender das acusações de corrupção. A
tal ponto que na internet já surgem montagens afirmando que Maluf queixou-se de
que Lula roubara-lhe a frase, logo num debate sobre roubalheiras.
Esquecendo-se
do ditado que diz que "elogio em
boca própria é vitupério", Lula
foi tão convincente quanto quando se diz pioneiro da boa governança no país:
“Se tem uma coisa que eu me orgulho,
neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da
Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja
católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”.
Disse a blogueiros aliados, sem corar e nem provocar em
seus “entrevistadores” reações de espanto ou risos.
Embora beire o ridículo, a frase
de Lula tem o objetivo de criar constrangimento às investigações que se
aproximam dele, tanto que o ex-presidente continuou em tom de desafio: “Duvido que exista um promotor, um delegado,
com a coragem de afirmar que me envolvi em algo ilícito”. A postura de Lula tem antecedentes em
diversos companheiros petistas, alguns deles na cadeia
depois de pronunciá-las.
A mais famosa e hilária pertence
ao ex-ministro todo poderoso José Dirceu, ainda quando estava sendo investigado pelos crimes
do mensalão, por que foi condenado.
“Estou a cada dia mais convencido de minha inocência”, disse Dirceu, como se a cada reminiscência do que fizera como Chefe do
Gabinete Civil de Lula, mais elementos absolutórios fossem agregados à
sua memória. O resultado final dessa
revisão foi que Dirceu acabou condenado pelo Supremo Tribunal Federal no
processo do mensalão, e está novamente na cadeia, ainda sem condenação, devido à sua
atuação nos escândalos do petróleo. E a cada dia deve estar mais convencido de
sua inocência.
Também a presidente
Dilma teve sua oportunidade de dar declarações assertivas sobre seu próprio
comportamento.
Ao responder a uma pergunta de jornalistas estrangeiros sobre como
reagiria se fosse constatado seu envolvimento nos escândalos do Lava-Jato, a
presidente Dilma teve uma reação muito semelhante à do ex-ministro José Dirceu.
Disse Dilma: "Eu
sei que não estou nisso. É impossível. Eu sei o que eu faço”, assegurou ao
canal francês TV France 24. Não fosse sua proverbial dificuldade em se
expressar, a presidente Dilma poderia ter respondido a perguntas desse tipo de
maneira direta, sem necessitar dar testemunho a seu próprio favor. O mesmo vício de linguagem pode ser encontrado em declarações
do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, antes de ser preso na Operação
Lava-Jato.
Em uma reunião do PT, ele disse ao microfone
a seguinte pérola, sendo muito aplaudido, a respeito da quebra de seu sigilo
telefônico: “Eu sei o que fiz. Não vão encontrar nada”. O que tanto pode significar que
ele não fez nada de ilegal, como também que está convencido de que escondeu tão
bem suas falcatruas que não há chance de ser descoberto.
Depois
disso, Vaccari não apenas foi preso,
como já foi condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro a 15
anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação
criminosa. Essa reação conjunta de lapsos e atos falhos de petistas graduados só
pode ter origem na ansiedade de se livrar de acusações que a cada dia
se mostram mais comprováveis, através das delações premiadas que fornecem
informações confiáveis aos investigadores.
Fonte: Blog do Merval Pereira