Não é baixo o zum-zum de que a PGR faria parte de um acordão. Em troca da garantia de recondução ao cargo, Rodrigo Janot aliviaria Renan e outros fiéis
Entre comemorações e temores
diante da denúncia contra o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha
(PMDB-RJ),
a já esfacelada base governista será colocada novamente à prova. E falhará. Na
mira da próxima leva de processos que tem que chegar ao Supremo até o dia 31 estão 12 senadores e 21 deputados da chamada
base – se é que isso ainda existe
-, além de 13 ex-deputados. Com eles, Dilma Rousseff
poderá ser arrastada para mais uma temporada no inferno em que ela reside desde que invocou o diabo para se reeleger.
Depois de
quase dez dias de alívio, graças ao neoadesismo do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), a dívida de Dilma com Belzebu só cresceu. Conseguiu estender o prazo no TCU para explicar
pedaladas e outros atletismos nas contas de 2014.
Beneficiou-se de bondades no TSE e até acendeu
cachimbo da paz com empresários, o que custará ao país uma nova rodada
de crédito seletivo para os mesmos de sempre.
Aconselhada
a baixar o tom e tentar esconder sua indisfarçável soberba, Dilma escalou
interlocutores para propor bandeira branca frente à avalanche
de bandeiras verde-amarelas que pediam impedimento ou renúncia dela. E fingiu que acreditou no êxito das
bandeiras vermelhas da última quinta-feira.
Mas até Dilma deve saber que é um respiro breve. Para ela e para o
padrinho Lula.
Cada político denunciado – e é bom lembrar que a maioria deles será do PP, partido que não tem qualquer compromisso ideológico com o
projeto petista – vai cobrar
caríssimo pelo silêncio. Ainda assim, eles só ficarão mudos diante de
garantias que vão muito além de um cargo aqui, outro acolá, como é de praxe.
Exigências que do auge de sua impopularidade a presidente não tem como
viabilizar.
A Lava-Jato é um trator que o país acredita que não será
freado por um ou outro acordo. Nos processos de
primeira instância, a operação deteve gente graúda que se julgava intocável.
Investigou, julgou e condenou.
Os números do núcleo Paraná são
impressionantes: 716 procedimentos instaurados, 356 buscas e apreensões e 105
mandados de prisão cumpridos. Mais de 140
pessoas arroladas em 31 acusações
penais, apuração de propinas de mais de R$ 6 bilhões, já tendo bloqueado R$
2,4 bilhões e recuperado R$ 870
milhões. No site criado para dar transparência às
ações do MP, informa-se que as
condenações já somam mais de 225 anos de prisão.
Agora é a vez daqueles que têm
foro privilegiado. É aqui
que a desconfiança aumenta. Não é baixo o zum-zum de que a PGR faria parte de um
acordão. Em troca da garantia de recondução ao cargo, Rodrigo Janot aliviaria
Renan e outros fiéis.
O procurador-geral da República
pode – e deveria fazê-lo - enterrar esse tipo de intriga na quarta-feira, 26, ao ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado,
casa que tem 13 dos seus 81 integrantes
na mira da PGR, um deles, Fernando Collor de Mello (PTB-AL), já denunciado.
Terá a chance de provar que nem todos se submetem ao tridente de Lula, Dilma,
Renan e Cia. Do contrário, o diabo vencerá. Mais uma vez.
Procurador-Geral
da República Rodrigo Janot (Foto: Ed Ferreira / Estadão)
Fonte: Mary Zaidan É jornalista. E-mail:
zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan
[só
se declarando impedido – o que equivale a renunciar à recondução a um
segundo mandato de Chefe da Procuradoria-Geral da República - é que Rodrigo Janot salva a sua
reputação e a do próprio Senado Federal.
Vejamos:
Renan não é, nunca foi e nunca será ‘flor que se cheire’ – seu passado o
condena.
Começou a ser investigado bem
antes do Cunha, só que não foi denunciado, mesmo até as pedras
sabendo que é tão ou mais culpado que o Cunha.
Cabe
a pergunta: qual a razão
dessa tolerância do Janot com Renan?
Uma
resposta se impõe:
Sendo
denunciado por agora, antes da sabatina , Renan continuará presidente do Senado
com poder total para adiar a sabatina ou mesmo a votação do nome
do Janot na CCJ e no Plenário do Senado.
Sem
sabatina não pode haver votação na CCJ e sem o aval da CCJ não haverá votação
secreta no Plenário, escrutínio que Janot precisa de no mínimo 42 votos.
Em 17 de setembro
termina o mandato do atual procurador-geral e não se concretizado a escolha,
será nomeado um interino que comandará o Ministério Público Federal até a
escolha definitiva.
Nada
prova que Janot está retardando a denúncia do Renan por razões inconfessáveis, mas, a
importância do cargo pretendido não permite que se esqueça da velha máxima: ‘a mulher de Cesar não tem que
apenas ser honesta, tem que parecer honesta. ’
Outro complicador é que vários
senadores estão envolvidos com a Lava Jato e terão que ser denunciados.
A
estes senadores reconduzir Janot – que tudo indica tão logo seja
empossado no segundo mandato efetuará as denúncias
– não é interessante.
Esse ângulo torna possível que
sendo o nome do atual procurador rejeitado por outras razões, fique a dúvida se a rejeição não
foi motivada para permitir a nomeação de outro procurador, digamos, mais
flexível.
Outra opção seria Janot denunciar
todos os senadores envolvidos, incluindo o Renan, antes da sabatina.
Mas,
as aparências são de que o
interesse do Janot por mais dois anos de mandato o desencoraja a algo que seria
praticamente suicídio – ser sabatinado e votado por um
Senado formado por vários senadores denunciados, sendo aceitável considerar que cada senador
denunciado contaria com a simpatia de um colega.
O
andar da carruagem mostra que Rodrigo Janot, NÃO TEM CORAGEM PARA GESTO TÃO
OUSADO e que evidenciaria seu desapego ao cargo.
Perdoe-nos
pelo enfadonho comentário que não é da lavra de nenhum especialista, mas tem a
pretensão de exprimir o que muitos brasileiros pensam.]
PASSO A PASSO DO CAMINHO QUE JANOT TERÁ QUE PERCORRER PARA CHEGAR AO SEGUNDO MANDATO:
- O nome de Janot após indicado
por Dilma foi encaminhado ao Senado para apreciação;
- primeiro, pela CCJ que o sabatina e procede a uma
votação, onde precisa ser aprovado por
maioria simples – a CCJ tem 27 titulares;
- aprovado na CCJ o indicado será submetido a uma
votação secreta no Plenário do Senado onde precisará receber pelo menos 41
votos favoráveis.
O presidente do Senado tem poder total para decidir
a data da realização da sabatina e das votações.
Uma manobra que pode dificultar a eleição de um
candidato não desejado é esvaziar a sessão para analisar o nome, já que o
quórum baixo facilita a rejeição.