Fachin mandou arquivar pedido de liberdade do ex-presidente
A decisão
do ministro Edson Fachin de arquivar o pedido de liberdade do ex-presidente
Lula enterrou as esperanças que os petistas, embalados pela absolvição de
Gleisi Hoffmann, vinham alimentando ao longo da semana de ter a sua principal
liderança livre para as eleições. Se não para concorrer, pois já se enquadra
lei da ficha limpa, ao menos tê-lo como um ativo cabo-eleitoral em favor de seu
substituto na cabeça da chapa.
Como
conduzir a campanha eleitoral com esse quadro é hoje o grande tema em discussão
dentro da sigla. Há uma divisão de opiniões sobre a capacidade de Lula de
transferir votos caso permaneça encarcerado em Curitiba até outubro. Para
alguns caciques, o seu dom para eleger "postes" continua intacto.
Eles se fiam a isso para propagar que o candidato do partido, seja quem for,
está garantido no segundo turno. Mas
aliados acreditam que a tarefa não será fácil se o ex-presidente não puder
gravar programas eleitorais nem fazer comícios. O caminho para atenuar essa
dificuldade seria indicar já um vice que, num futuro próximo, assumiria o posto
principal da candidatura no futuro.
No seu
pedido ao Supremo, a defesa de Lula pleiteava as suspensões da execução da pena
de prisão e da inelegibilidade. Inicialmente, os petistas não alimentavam
muitas esperanças de uma decisão favorável. Mas na terça-feira, quando a mesma
Segunda Turma do STF absolveu a presidente do partido dos crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro, o partido literalmente entrou em festa. Numa reunião para
tratar o tema no Congresso no dia seguinte, os petistas dançaram e cantaram
como se comemorassem uma vitória da seleção na Copa do Mundo. Gleisi chegou a
dizer que a decisão poderia ter "efeitos positivos" sobre a situação
de Lula. Poucos acreditavam que os ministros da Corte livrariam Lula da
inelegibilidade, mas muitos apostavam em sua soltura.
Alguns
dirigentes mais prudentes, porém, avaliavam uma saída intermediária, em que o
STF daria ao ex-presidente o direito de cumprir pena em prisão domiciliar. A
transferência para o seu apartamento em São Bernardo não seria um sinal verde
para Lula fazer política, já que nessas situações as visitas ao preso são
limitadas, mas, de qualquer forma, a proximidade física facilitaria as
articulações do líder que sempre deu as cartas dentro da legenda. De
quebra, o partido ainda poderia desmobilizar a vigília que sofre para manter em
Curitiba há dois meses e meio. Mas a decisão de Fachin acabou com qualquer
esperança. Nesse caso, os petistas foram derrotados antes mesmo de a partida
começar.
Os desafios do 'delator-irmão' de Lula
Com homologação de acordo, ex-ministro Antonio
Palocci terá de provar confissões
De todos
os integrantes da cúpula do PT que choraram a prisão de Lula em abril passado,
poucos mereceram do maior líder petista uma homenagem pública tão calorosa
quanto a que recebeu Antonio Palocci em 2006. — Nem
todo irmão da gente é um grande amigo. Até porque irmão a gente não escolhe,
mas companheiro a gente escolhe. A nossa relação é de companheiro,
possivelmente mais do que a relação de um irmão — disse o presidente Lula.
Realizado
em meio ao escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, que
apeou da Fazenda o hoje ex-petista, o discurso de voz embargada ilustra bem de
que eram feitas as relações de Lula e Palocci durante o período de predomínio
petista no poder. Mais de
dez anos depois daquele discurso, Lula tornou-se um dos principais alvos das
confissões do “irmão” Palocci, que teve sua delação homologada pelo
Tribunal Regional Federal da 4ª Região nesta sexta-feira.
Lula e
Palocci expiam seus pecados no mesmo prédio da PF em Curitiba. Conselheiro,
confidente e, segundo o próprio, operador de Lula em uma série de episódios
nebulosos, o ex-ministro petista terá, a partir de agora, o dever de revelar à
Polícia Federal tudo que fez, viu e ouviu durante anos de convívio quase
familiar com Lula. “Fiquei chocado ao ver Lula sucumbir ao pior da política”,
disse Palocci, em carta, ao se desfiliar do PT no ano passado. Fundador
do PT, ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda do governo Lula e
ex-chefe da Casa Civil de Dilma, Palocci participou das decisões mais
importantes do partido nas últimas duas décadas. Sua autoridade para delatar
segredos devastadores do petismo é inconteste.
A dúvida
que terá de ser respondida a partir de agora é até aonde Palocci avançou na
exumação dos escândalos que tramou e ajudou a acobertar nos governos petistas.
Sem provas materiais, as histórias do ministro não passarão de ouvir dizer, as
famosas “fofocas de Brasília”, no termo cunhado por um dos procuradores da
Lava-Jato que rejeitaram a primeira delação do ex-ministro. Como
cérebro financeiro do petismo e, diz ele, particularmente de Lula, o
ex-ministro precisará mostrar, na prática, que o conteúdo de sua delação é, de
fato, valioso para fundamentar as investigações da Polícia Federal.
O Globo