Ele continua na ofensiva. Ataca sistematicamente o juiz Sergio Moro. Desqualifica a operação Lava-Jato
Luiz
Inácio Lula da Silva está novamente no primeiro plano da política brasileira.
Mesmo condenado a nove anos e meio de prisão e sendo réu em seis ações penais —
excluindo diversos inquéritos que podem ser recebidos pela Justiça —, hoje, ele
é o principal ator do pleito presidencial de 2018. Representa
o que há de pior na política nacional: o descompromisso com os destinos do
Brasil, o oportunismo, a fala despolitizada, o caudilhismo, o trato da coisa
pública como coisa privada.
Resiste à
ação da Justiça contando com o beneplácito da elite política, grande parte dela
também envolvida com a corrupção que apresou o Estado brasileiro. A
condenação — ou condenações — de Lula e o cumprimento da pena em regime fechado
não vai simbolizar somente a punição de um chefe — vá lá — partidário que
exerceu por duas vezes a Presidência da República. Demonstrará mais, muito
mais. Será o sinal de que ninguém está acima das leis, que qualquer mandão —
local ou nacional — não poderá se abrigar sob o manto das nefastas relações
políticas de Brasília.
Isto pode
explicar, por exemplo, a reiteração do PSDB de que pretende vencer Lula nas
urnas, como se a cédula fosse superior à lei e a urna pudesse inocentar ou
condenar um cidadão. Em outras palavras, a prisão do ex-presidente indica que
qualquer líder político, inclusive do PSDB, poderá ser condenado e preso. Aí o
espírito de corpo transcende as fronteiras partidárias: eles, os senhores do
baraço e do cutelo, unem-se e rejeitam que um dos seus possa cumprir na cadeia
a pena a que foi condenado.
Argumentam,
hipocritamente, que a Justiça foi longe de mais, que ninguém pode se sentir
seguro, que o estado democrático de direito está correndo sério risco. E não
faltarão juristas — regiamente pagos — para encontrar algum dispositivo na
legislação que não foi devidamente respeitado e que, portanto, seria nula a
ação da Justiça. A
Constituição proíbe que o presidente da República permaneça na função quando
uma infração penal comum ou queixa-crime for recebida pelo Supremo Tribunal
Federal (artigo 86, parágrafo 1º).
Assim,
como um condenado — e não réu — poderá ser candidato no pleito de outubro de 2018?
E, como
qualquer candidato pode chegar à Presidência da República, teremos um apenado
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro gerindo a coisa pública! O que dirá
desta vez o STF? Qual o malabarismo que será adotado para justificar o
injustificável? Lula
continua na ofensiva. Ataca sistematicamente o juiz Sergio Moro. Desqualifica a
operação Lava-Jato. Desmoraliza a ação do Ministério Público Federal. E nada
acontece. Poderia, de acordo com o Código de Processo Penal (artigo 312) ser
preso, no mínimo, por colocar em risco a ordem pública.
Nenhum
ministro do STF saiu em defesa do juiz Moro quando vilipendiado pelo criminoso
Lula. Nenhum. Na última
sexta-feira, foi chamado de “um cara do mal.” Dias antes, de “surdo.” Disse que
as provas foram arranjadas para garantir sua condenação. Silêncio no STF. Por
quê? Estavam viajando e não tomaram conhecimento dos fatos? Tiveram medo?
Encontravam-se cuidando dos rendosos negócios particulares? A
desmoralização do estado democrático de direito joga água no moinho do
autoritarismo. Estimula o extremismo. Aponta que as instituições estão a
serviço de criminosos como Luiz Inácio Lula da Silva.
O curioso
é que ele conta também com o apoio entusiástico dos partidos chamados
conservadores — no sentido brasileiro, não inglês. Basta acompanhar a política
na Região Nordeste. Lá o PSD, PP, PMDB, PR, PRB e PSB, entre outros, apoiam
entusiasticamente os governos do PT e a possível candidatura Lula. [sendo o Nordeste um curral eleitoral movido a 'bolsas' Lula continua sendo uma excelente opção para os que não gostam de trabalhar.]
Desejam
manter seus feudos provinciais e garantir participação no governo central.
Pouco importam os valores democráticos, o cumprimento da Constituição. Não
estão nem aí com as instituições. Querem é participar da partilha do poder. Mas
não só os coronéis nordestinos que dão as costas ao interesse nacional. E o
grande capital? Este
comunga da mesma forma de agir dos oligarcas: observa a cena política sempre à
procura de lucros, fáceis, preferencialmente. Não tem qualquer contradição
antagônica com Lula. Pelo contrário, o veem como um realizador. Os mais
entusiasmados o consideram um estadista. Ele representa a ordem — e bons
negócios, claro. Não custa recordar que o grande empresariado se omitiu — com
raríssimas exceções — na luta pelo impeachment de Dilma Rousseff.
A prisão
imediata de Lula — e não faltam razões — não conta com o apoio da elite
dirigente. Temem uma comoção popular. Contudo, quando da condução coercitiva,
em março de 2016, nada aconteceu. Somando os manifestantes que estavam em
frente ao seu apartamento, em São Bernardo do Campo, com aqueles que
encontravam-se na sede do Partido dos Trabalhadores e no Aeroporto de
Congonhas, ambos em São Paulo, não havia mais que 500 pessoas, isto apesar da
ampla cobertura da imprensa. [aquele coisa que preside a CUT, ou presidia, ameaçou pegar em armas se Dilma fosse escarrada, o condenado Lula ameaçou convocar o 'exército' do bandido Stédile e Dilma foi devidamente escarrada do cargo de presidente da República e nada ocorreu - aqueles cães ladraram mas a caravana do impeachment passou ilesa.
O mesmo vai ocorrer quando Lula for encarcerado - militontos uivavam chamando o ex-guerrilheiro de festim, Zé Dirceu, de 'guerreiro do povo brasileiro', ele foi preso e nada houve.
Os únicos prejudicados com a prisão do Zé Dirceu foram os militontos que fizeram 'vaquinha' para pagar multas e nesse tempo o 'pé de valsa' recebia milhões de propina - é só confrontar as datas e comprovar o aqui afirmado.]
Nas
recentes caravanas pelo Brasil, em nenhum local houve ato que tivesse mais que
cinco mil pessoas — na verdade, na maior parte deles, o número poderia ser
contado em algumas centenas. Portanto, a “resistência popular” não pode ser
usada como artifício para justificar a complacência ou, sendo mais direto, a
covardia. A
possível homologação da candidatura Lula pela Justiça Eleitoral representará o
ápice da desmoralização das instituições. A partir daí, o país poderá entrar em
um caminho sem volta. O imprevisível vai tomar conta do país. E nenhuma
alternativa
Por: Marco
Antonio Villa, O Globo