Denunciado por racismo, presidenciável fez proposta em vídeo publicado em rede social
Denunciado por racismo pela
Procuradoria-geral da República (PGR) por declarações sobre quilombolas,
o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) defende que as áreas
destinadas a esses povos possam ter mineração e até serem vendidas. Bolsonaro
apresentou essas propostas em um vídeo publicado nas redes sociais de Paulo
Quilombola, da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará, que
declarou apoio ao pré-candidato do PSL. A gravação foi feita nesta semana no
gabinete do deputado. — Seu
povo, seus irmãos, têm problemas. E o grande problema chama-se governo federal.
Eles querem ser libertos, para ter liberdade para poder trabalhar dentro da sua
comunidade, acho até que se quiser vender aquela área quilombola, que venda,
opinião minha. Se quiser explorar, tirar por exemplo minério, ter maquinário, a
exemplo do seu irmão fazendeiro do lado, se quiser, poder explorar de forma
racional seus recursos naturais igual ao fazendeiro do lado — afirma Bolsonaro.
Paulo
apoia as ideias do candidato na gravação. —
Queremos autonomia, liberdade de decisões e um presidente com pulso firme,
porque todos os que passaram até agora nos prenderam, nos amordaçaram — afirma
Paulo Quilombola.
Em 2017,
Bolsonaro fez uma palestra no Clube Hebraica, no Rio, e, segundo a
procuradora-geral Raquel Dodge, ofendeu e depreciou a população negra e
indivíduos pertencentes às comunidades quilombolas. No Hebraica, o deputado
disse, por exemplo, que visitou uma comunidade quilombola e “o afrodescendente
mais leve lá pesava sete arrobas”. Disse ainda que os moradores do local “não
fazem nada” e “nem para procriar servem mais”.
No vídeo
divulgado por Paulo Quilombola, o candidato diz que suas propostas são para que
as comunidades se integrem e "para acabar com aquela história de que vocês
estão lá, recebem recursos do estado e não são produtivos". Bolsonaro fala
ainda que a mesma situação ocorre com os indígenas. Afirma ter ouvido de
colegas das Forças Armadas que os indígenas desejam energia elétrica, médico,
dentista, entre outras coisas. — Hoje
grande parte deles estão confinados em terras indígenas como se fossem animais
em zoológicos. Temos que dar liberdade — afirmou o candidato.
Paulo Quilombola organizará um evento
com Bolsonaro em Parauapebas (PA) no próximo dia 13. Ele é
questionado por entidades que não o consideram um representante legítimo do
movimento. A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas chegou a divulgar em abril uma nota assinada por dez entidades do
Pará com críticas a Paulo.
“Isto posto, as Entidades do movimento negro e
quilombola do estado do Pará, abaixo nominadas, manifestam o seu repúdio as
práticas aviltantes desse senhor exteriorizadas pelos seus discursos de ódio
contra muitas de nossas lideranças quilombolas, entre outras, tendo como
pessoal e único interesse (o que nos parece o mais grave) desmantelar todo o
processo político até aqui construído por instituições sérias do nosso
movimento”, diz a nota.
No vídeo
em que declara apoio a Bolsonaro, veiculado pelo deputado em suas redes sociais
na semana passada, Paulo Quilombola afirma que apoiará o presidenciável para
que ocorram mudanças no movimento negro. Diz ainda que o engajamento na
campanha poderá fazer com que tenha de sair do estado do Pará. O GLOBO não
conseguiu contato com Paulo Quilombola.