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domingo, 22 de outubro de 2017

A volta de Hosmany Ramos

Após 36 anos preso por crimes como sequestro, assassinato e tráfico de drogas, um dos mais famosos médicos brasileiros retorna aos consultórios de jaleco branco e revela ter ambições políticas para 2018

Quarta-feira, 18 de outubro, dia do médico. Às 4h30 da manhã, Hosmany Ramos, de 71 anos, se levanta, liga o computador e começa a escrever mais um capítulo de sua nova obra. Após quase duas horas de dedicação às atividades literárias, o médico troca de roupa e faz um breve aquecimento no jardim da casa em que vive com a mãe Anésia, de 86 anos, em Palmas, capital de Tocantins. Na academia ao ar livre da praça da Quadra 108 Sul, o cirurgião plástico pratica mais 40 minutos de exercícios aeróbicos. Depois, volta para casa, toma banho e vai ao encontro de seus pacientes na clínica em que atende, localizada em frente ao Palácio do Araguaia. Após 36 anos, ele pode comemorar em liberdade e de jaleco branco o dia da profissão que o tornou famoso. 

O médico que virou notícia na década de 1980 por uma série de crimes agora dá início de uma nova vida no Brasil. “Hoje me considero feliz, a liberdade é o maior bem que o ser humano possui”, disse à ISTOÉ.  A trajetória de Hosmany surpreende a todos que o conhecem. Assistente de Ivo Pitanguy, um dos maiores cirurgiões plásticos do mundo, ele foi condenado por tráfico internacional de drogas, sequestros, roubo de veículos e aviões, assassinatos e acusado de mais de dez tentativas de fuga durante o tempo em que esteve na prisão. Em setembro de 2016, obteve do Tribunal de Justiça de São Paulo o alvará de soltura. “Sou um cidadão completamente livre, não devo mais nada à Justiça”, diz.

Assim que saiu da prisão, Hosmany passou quatro meses em Oslo, na Noruega. A viagem, paga pelo filho, empresário de 41 anos, tinha o propósito de afastá-lo dos holofotes. “Meu filho sentiu que eu precisava de uma injeção de ânimo”, diz Hosmany. “Foi a melhor forma de recomeçar minha vida. Fiz amizades, cursei especializações em técnicas de cirurgia com laser e lipoaspirações.” Os laços com o Brasil o trouxeram de volta em janeiro desse ano. Hoje, ele se divide para cumprir os compromissos em Palmas e os atendimentos agendados em uma clínica em São Paulo. “Decidi morar no Tocantins porque desde que meu irmão morreu, há 10 anos, minha mãe se sente muito sozinha. Como ela me ajudou muito durante o tempo que passei na prisão, prometi que ficaria com ela até seus últimos dias.” Uma vez por mês, ele viaja à capital paulista, onde costuma ficar hospedado na casa de familiares, para atender pacientes que o aguardam na clínica da Avenida Brasil, um dos endereços mais nobres da cidade.


Tanto em São Paulo quanto na capital tocantinense, as primeiras oportunidades de trabalho surgiram a partir de amigos que afirmam confiar na qualidade do trabalho do médico. “Conheci Hosmany desde os tempos que ele era assistente do Ivo Pintaguy, não tive dúvidas sobre sua capacidade profissional”, afirma um das funcionárias da clínica em que o cirurgião atende. Em Palmas, Hosmany recebe, em média, três pacientes por semana, geralmente interessados em abdominoplastia, aplicação de silicone e lipoaspiração. Os valores cobrados pelos procedimentos variam de R$ 8 mil a R$ 15 mil. “Conheço ele desde que chegou à cidade e no dia 28 de setembro tive a oportunidade de fazer uma abdominoplastia e outros procedimentos com ele”, diz uma paciente que não quis se identificar. “Soube do passado e da fama que tinha. Quando o vi pela primeira vez senti pena, mas não tive nenhum receio em fazer as cirurgias. Ele é muito profissional e educado.” Já em São Paulo, ele tem se dedicado a implantes de cabelo — o custo pode chegar a até R$ 100 mil para a aplicação de mil fios. A procura é grande: de quatro a cinco clientes por semana.

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