Quebrar patentes de vacinas não tornará mais célere a imunização no país
Se não há dúvidas quanto ao imperativo da imunização célere contra a Covid-19, a quebra de patentes das vacinas não se mostra, no entanto, uma aposta acertada. Após um vaivém na pauta, a proposta de rompimento temporário da garantia de exploração comercial exclusiva das farmacêuticas foi aprovada pelo Senado. O próximo passo se dará na Câmara.
No
Brasil, as duas vacinas contra a Covid-19 em produção —a Coronavac e a
Oxford/Astrazeneca— derivam de técnicas conhecidas há um certo tempo. A
primeira usa o vírus inativado para levar à produção de anticorpos, mesma
estratégia usada para fabricar as vacinas contra a gripe. Já
a segunda se baseia em um adenovírus de chimpanzé capaz de infectar células
humanas, mas que, como não forma novos vírus, impede que a infecção progrida.
Os dois produtos foram viabilizados por meio de acordos de transferência de tecnologia. O país, no entanto, ainda patina para acelerar a produção em massa. O processo de imunização também padece de falta de campanhas, de orientação e de acompanhamento do Ministério da Saúde. São iniciativas bem mais simples do que quebrar patentes. Como noticiou a Folha, mais de meio milhão de vacinados com a Coronavac no primeiro mês de imunização no país perdeu o prazo da segunda dose. E pelo menos 16,5 mil vacinados tomaram doses de fabricantes diferentes —o que é considerado um erro vacinal, comprometendo a imunização.
A própria sinalização de intenção de quebra de patente pelo governo federal pode paralisar negociações de compra de imunizantes em andamento. Mais importante é aumentar a capacidade de produção dos produtos já acordados e avançar em compras, além de investir em pesquisa científica.
Opinião - Folha de S. Paulo