Nova procuradora americana ajudou a desvendar rede terrorista iraniana
Loretta Elizabeth Lynch
Hargrove vai chefiar a Procuradoria-Geral de Justiça dos Estados Unidos
nos próximos dois anos. Ela foi escolhida por Barack Obama para
substituir Eric Holder, que renunciou em novembro. Formada em
Harvard, Lynch tem reputação de durona construída em dois mandatos (2000
e 2010) no comando da procuradoria federal do Distrito Leste de Nova
York. No intervalo, integrou o conselho de administração do banco
central regional (FED) de Nova York. É descrita como personagem tão
discreta quanto incisiva em alguns dos principais casos julgados na
cidade na última década e meia. Processou bancos por fraudes (Citi por
US$ 7 bilhões e HSBC por US$ 1,9 bilhão), congressistas, policiais,
mafiosos como Vincent Asaro (inspirou “Os Bons Companheiros”, de Martin
Scorsese). E, principalmente, terroristas.
Lynch conduziu investigações sobre redes terroristas que atuaram nas Américas até a década passada. Suas digitais permeiam trechos do processo argentino contra agentes do governo do Irã pelo ataque à Associação Mutual Israelita da Argentina (Amia), em 1994, no qual morreram 85 pessoas. Era amiga do procurador argentino Alberto Nisman, morto no último domingo.
Foi com o auxílio de Lynch que Nisman coletou evidências sobre a extensão da teia de radicais montada na região pelo clérigo Moshen Rabbani, adido cultural iraniano em Buenos Aires. Segundo a Justiça argentina, Rabbani organizou dois atentados no espaço de 28 meses: em 1992, contra a Embaixada de Israel e, em 1994, contra a Amia.
O clérigo chegou à América do Sul em 1983. Financiou reformas de mesquitas no Brasil (São Paulo e Curitiba), na Colômbia, na Guiana, no Paraguai e na Argentina. Em 2008, Nisman recorreu aos EUA para mapear a rede de Rabbani. Foi encaminhado a Lynch em Nova York. Ela conduzia um processo contra Abdul Kadir (nascido Aubrey Michael Seaforth, na Guiana), acusado de planejar um ataque ao Aeroporto Kennedy (NY). Pretendia explodir dutos e tanques de combustível subterrâneos.
Preso em 2007, em Trinidad e Tobago, a bordo de um avião venezuelano em rota para Teerã, Kadir foi condenado à prisão perpétua, em 2010. Lynch comprovou sua subordinação a Rabbani, em Buenos Aires. Lynch possibilitou a Nisman acesso a dados relevantes para seu relatório de 600 páginas sobre a extensão da rede operada por Rabbani na América do Sul, inclusive na região da Tríplice Fronteira, e seus laços com diplomatas em Santiago, Montevidéu e Brasília — ele enviou uma cópia ao governo brasileiro no ano passado. Entre as evidências que obteve estavam detalhes sobre a reunião governamental de 14 de agosto de 1993 em Mashhad, a segunda maior cidade do Irã, onde se teria decidido o ataque à Amia. Rabbani esteve lá, assim como Ahmad Reza Asghari — mais tarde reconhecido como Mohsen Randjbaran, agente do serviço de segurança (Vevak). O clérigo e o agente da Vevak abandonaram Buenos Aires um dia antes do atentado contra a Amia.
Quando assumir a Procuradoria-Geral, Lynch terá de decidir se vai ou não lidar com dois casos não resolvidos: o atentado à Amia e a misteriosa morte do aliado Nisman, quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner por crime contra a Humanidade — a negociação de um acordo com Teerã para impunidade dos terroristas.
Ambos estão repletos de conexões com alguns dos processos sobre delitos transnacionais que ela conduziu em Nova York nos últimos 15 anos.
Fonte: José Casado - O Globo
Lynch conduziu investigações sobre redes terroristas que atuaram nas Américas até a década passada. Suas digitais permeiam trechos do processo argentino contra agentes do governo do Irã pelo ataque à Associação Mutual Israelita da Argentina (Amia), em 1994, no qual morreram 85 pessoas. Era amiga do procurador argentino Alberto Nisman, morto no último domingo.
Foi com o auxílio de Lynch que Nisman coletou evidências sobre a extensão da teia de radicais montada na região pelo clérigo Moshen Rabbani, adido cultural iraniano em Buenos Aires. Segundo a Justiça argentina, Rabbani organizou dois atentados no espaço de 28 meses: em 1992, contra a Embaixada de Israel e, em 1994, contra a Amia.
O clérigo chegou à América do Sul em 1983. Financiou reformas de mesquitas no Brasil (São Paulo e Curitiba), na Colômbia, na Guiana, no Paraguai e na Argentina. Em 2008, Nisman recorreu aos EUA para mapear a rede de Rabbani. Foi encaminhado a Lynch em Nova York. Ela conduzia um processo contra Abdul Kadir (nascido Aubrey Michael Seaforth, na Guiana), acusado de planejar um ataque ao Aeroporto Kennedy (NY). Pretendia explodir dutos e tanques de combustível subterrâneos.
Preso em 2007, em Trinidad e Tobago, a bordo de um avião venezuelano em rota para Teerã, Kadir foi condenado à prisão perpétua, em 2010. Lynch comprovou sua subordinação a Rabbani, em Buenos Aires. Lynch possibilitou a Nisman acesso a dados relevantes para seu relatório de 600 páginas sobre a extensão da rede operada por Rabbani na América do Sul, inclusive na região da Tríplice Fronteira, e seus laços com diplomatas em Santiago, Montevidéu e Brasília — ele enviou uma cópia ao governo brasileiro no ano passado. Entre as evidências que obteve estavam detalhes sobre a reunião governamental de 14 de agosto de 1993 em Mashhad, a segunda maior cidade do Irã, onde se teria decidido o ataque à Amia. Rabbani esteve lá, assim como Ahmad Reza Asghari — mais tarde reconhecido como Mohsen Randjbaran, agente do serviço de segurança (Vevak). O clérigo e o agente da Vevak abandonaram Buenos Aires um dia antes do atentado contra a Amia.
Quando assumir a Procuradoria-Geral, Lynch terá de decidir se vai ou não lidar com dois casos não resolvidos: o atentado à Amia e a misteriosa morte do aliado Nisman, quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner por crime contra a Humanidade — a negociação de um acordo com Teerã para impunidade dos terroristas.
Ambos estão repletos de conexões com alguns dos processos sobre delitos transnacionais que ela conduziu em Nova York nos últimos 15 anos.
Fonte: José Casado - O Globo