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segunda-feira, 5 de abril de 2021

Até quando, Bolsonaro? - Fernando Gabeira

In Blog

Males da extrema-direita no poder transcendem governo Bolsonaro ['ledo' engano, dos perdedores de sempre. A extrema-direita ainda não chegou ao poder, pelo menos no grau necessário ao Brasil, aos brasileiros e mesmo ao mundo.

Apenas apoiou o pé direito e procura firmá-lo, para colocar o segundo = os dois pés é que garantem a firmeza para as muitas mudanças necessárias.]

O Brasil é o campeão do mundo em mortes diárias por Covid-19. Tivemos, segundo Margareth Dalcolmo, o março mais triste de nossas vidas e, infelizmente, começa o abril mais triste de nossas vidas.  Estamos isolados no mundo. Não podemos viajar para encontrar nossos parentes no exterior, muito menos para realizar os negócios essenciais num mundo globalizado.

O fantástico Orçamento produzido pelo Centrão é, na verdade, um ataque de gafanhotos à nossa horta financeira. Não há mais governabilidade. Um leitor me escreve perguntando até quando continuaremos discutindo e argumentando enquanto as pessoas vão morrendo às pencas.  Devo responder que ainda não encontrei outro caminho. Mas era só o que faltava, no auge da maior crise que o Brasil enfrenta ao longo de tantos anos, acrescentar uma pitada de autoflagelação.

Tudo o que podemos fazer é prosseguir isolando Bolsonaro para derrubá-lo no momento em que for possível, ainda que isso só possa acontecer em 22. [sejam pacientes e formem uma boa reserva de vida e saúde = até a chegada desse dia, se chegar, vai demorar bastante.] E julgá-lo também por sua incompetência assassina, quando for possível e tivermos força para que a Justiça não falhe. Bolsonaro tem algumas características que podem absolvê-lo em certos tribunais brasileiros. Uma delas é a grande quantidade de provas contra ele. Já houve no país casos de absolvição por excesso de provas.

No momento, é preciso reunir forças contra a pandemia, salvar vidas. Aqui e ali, Bolsonaro tentará dar golpes de Estado. Mas o vírus não se curva a tanques e canhões. No fundo, a tarefa fundamental continuará a mesma até neutralizarmos essa peste. Desde o ano passado, sabemos que a vacina é arma estratégica. Só o obtuso presidente ignorava essa realidade. Agora corremos contra o tempo. [E a União Europeia que também corre atrás das vacinas? significa que aquele bloco é também governado por uma obtusa?]

Mas temos que buscar outras saídas, diuturnamente. Surgiram remédios que me trazem agora a mesma esperança que tive quando surgiram os coquetéis contra a Aids. A diferença para mim, que estudo como um leigo desesperado, é que os coquetéis de agora são de anticorpos monoclonais, essas proteínas que o próprio organismo produz para atacar vírus, bactérias e até células cancerosas. Aliás, meu palpite é que o pulo do gato nasceu aí, dessa luta contra células cancerosas. Os grandes laboratórios aproveitaram o avanço nas pesquisas contra o câncer e sintetizaram anticorpos que podem neutralizar o vírus.

Alguns desses experimentos já passaram pela fase 3 de pesquisa, assim como as vacinas que hoje usamos a conta-gotas no Brasil. Um deles é da Regeneron e foi usado para curar Donald Trump na véspera das eleições. O outro, com resultados muitos bons, é o da Eli Lilly, que está sendo submetido a um exame da Anvisa para ser licenciado no Brasil.

Esses medicamentos são um pouco diferentes do Remdesivir, aquele que foi aprovado recentemente. O Remdesivir é um antiviral, custa em torno de R$ 20 mil e apenas reduz o tempo de hospitalização. É um custo-benefício duvidoso.  No entanto os anticorpos monoclonais têm um poder maior e, se a Anvisa também chegar a essa conclusão, examinando o material apresentado, teríamos que correr contra o tempo e tentar evitar este massacre cotidiano no Brasil, reduzindo logo o número de mortes.

De qualquer forma, esses remédios não são necessários no mesmo volume que as vacinas. Estas são compradas para toda a população, ou para uma grande parte dela. Os remédios são apenas para uma fração dos doentes que apresentam sintomas mais graves. Os males da passagem da extrema-direita pelo poder transcendem o governo Bolsonaro. Levaremos anos para repará-los aqui, e talvez anos para podermos olhar o Brasil no espelho do mundo, sem recuarmos horrorizados e constrangidos.

Por isso, caro leitor, nossa tarefa será muito longa e árdua. Temos que lembrar a frase de um personagem de Guimarães Rosa: “Quem mói no áspero não fantasia”.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista 

Artigo publicado no jornal O Globo em 05/04/2021


segunda-feira, 20 de abril de 2020

Audiência em alta. Até quando? Carlos Alberto Di Franco

O estudo Media Consumption and Sport, da Global Web Index, foi um dos que registrou o aumento após ouvir 4 mil pessoas dos Estados Unidos e do Reino Unido para verificar como o isolamento social vinha alterando seus hábitos de consumo de mídia. O resultado é pra lá de animador: 87% dos norte-americanos e 80% dos britânicos que participaram do levantamento afirmaram que, desde o estouro da pandemia, vêm recorrendo mais à televisão aberta, aos sites de notícia e às emissoras de rádio para se manter informado sobre a doença.

Mas não basta noticiar. É preciso que as notícias incidam diretamente na vida da audiência. Isso é o que afirma o estudo Consumo de Informações sobre o coronavírus no Brasil, publicado há alguns dias pelo Orbis Media Review, um hub de produção de conhecimento e análise de tendências no jornalismo que tive a alegria de ver nascer recentemente como um desdobramento do Master em Jornalismo. “O fato de quase a metade da amostra dizer que gostaria de saber mais sobre a situação do coronavírus em seu bairro e na sua cidade evidencia um problema maior que o jornalismo vem registrando mais amargamente nos últimos meses: a crise do jornalismo local”, pontua o informe que entrevistou 240 pessoas.

Blog do Noblat -  VEJA - Carlos Alberto Di Franco

A população está cansada do jornalismo birrento, do jornalismo que mostra os dentes ao poder público, mas que não busca novas propostas. Apenas com a aposta por uma abordagem local, que escancare, sim, as mazelas sociais, mas que também mostre possíveis soluções é que os veículos serão capazes de dar à cobertura um diferencial perceptível.

Os dois estudos já mencionados não são tão otimistas em relação a este ponto. O relatório do Global Web Index alerta sobre as fragilidades dos veículos frente às plataforma de entretenimento, por exemplo. Enquanto 30% dos entrevistados da Geração X (16 a 23 anos) disseram cogitar assinar os serviços da Netflix, apenas 5% mostram-se dispostos a pagar pelo New York Times. “As pessoas consideram as notícias como um recurso gratuito que será consumido durante o surto”, afirma.

No Brasil, o tamanho do abismo entre o consumo de informação e a propensão a pagar para acessar este conteúdo é similar: embora uma porcentagem bastante significativa diga estar dedicando mais tempo às notícias, apenas uma mínima parte projeta colocar a mão no bolso quando a poeira da pandemia baixar. No levantamento realizado pelo Orbis Media Review, apenas 5% dos entrevistados que ainda não pagam por produtos de mídia pretendem se tornar assinantes. O jornalismo não é uma via de mão única. Para fidelizar é preciso conhecer, ouvir, admitir críticas, interagir.

Blog do Noblat - VEJA  - Carlos Alberto Difrancojornalista