O estudo Media Consumption and Sport,
da Global Web Index, foi um dos que registrou o aumento após ouvir 4
mil pessoas dos Estados Unidos e do Reino Unido para verificar como o
isolamento social vinha alterando seus hábitos de consumo de mídia. O
resultado é pra lá de animador: 87% dos norte-americanos e 80% dos
britânicos que participaram do levantamento afirmaram que, desde o
estouro da pandemia, vêm recorrendo mais à televisão aberta, aos sites
de notícia e às emissoras de rádio para se manter informado sobre a
doença.
Mas não basta noticiar. É preciso que as notícias incidam diretamente na vida da audiência. Isso é o que afirma o estudo Consumo de Informações sobre o coronavírus no Brasil,
publicado há alguns dias pelo Orbis Media Review, um hub de produção de
conhecimento e análise de tendências no jornalismo que tive a alegria
de ver nascer recentemente como um desdobramento do Master em
Jornalismo. “O fato de quase a metade da amostra dizer que gostaria de
saber mais sobre a situação do coronavírus em seu bairro e na sua cidade
evidencia um problema maior que o jornalismo vem registrando mais
amargamente nos últimos meses: a crise do jornalismo local”, pontua o
informe que entrevistou 240 pessoas.
Blog do Noblat - VEJA - Carlos Alberto Di Franco
A população está cansada do jornalismo
birrento, do jornalismo que mostra os dentes ao poder público, mas que
não busca novas propostas. Apenas com a aposta por uma abordagem local,
que escancare, sim, as mazelas sociais, mas que também mostre possíveis
soluções é que os veículos serão capazes de dar à cobertura um
diferencial perceptível.
Os dois estudos já mencionados não são
tão otimistas em relação a este ponto. O relatório do Global Web Index
alerta sobre as fragilidades dos veículos frente às plataforma de
entretenimento, por exemplo. Enquanto 30% dos entrevistados da Geração X
(16 a 23 anos) disseram cogitar assinar os serviços da Netflix, apenas
5% mostram-se dispostos a pagar pelo New York Times. “As pessoas
consideram as notícias como um recurso gratuito que será consumido
durante o surto”, afirma.
No Brasil, o tamanho do abismo entre o
consumo de informação e a propensão a pagar para acessar este conteúdo é
similar: embora uma porcentagem bastante significativa diga estar
dedicando mais tempo às notícias, apenas uma mínima parte projeta
colocar a mão no bolso quando a poeira da pandemia baixar. No
levantamento realizado pelo Orbis Media Review, apenas 5% dos
entrevistados que ainda não pagam por produtos de mídia pretendem se
tornar assinantes. O jornalismo não é uma via de mão única. Para fidelizar é preciso conhecer, ouvir, admitir críticas, interagir.
Blog do Noblat - VEJA - Carlos Alberto Difranco, jornalista
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