Testemunha diz que policiais estavam no Cobalt usado na morte de Marielle
Militares, que estavam com outros dois homens, seriam um da ativa e outro da reserva
Um
policial lotado no 16º BPM (Olaria) e um ex-PM do batalhão da Maré participaram
da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, de
acordo o depoimento da testemunha-chave do crime — a mesma que envolveu o
vereador Marcello Siciliano (PHS) no caso. A dupla, segundo ela, estava, com
outros dois homens, no Cobalt prata usado na execução.
Os quatro
que estariam no carro foram identificados por essa testemunha e vêm sendo
investigados pela Delegacia de Homicídios da capital (DH). Além do PM e do
ex-PM, os outros passageiros do Cobalt, segundo o delator, são ligados ao
miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, que atua na Zona
Oeste e que, de acordo com a testemunha, participou da trama para matar
Marielle, junto com Siciliano.
O GLOBO
apurou que esses dois homens já se envolveram, em junho de 2015, em outra
execução com características semelhantes à de Marielle, também a mando de
Orlando de Curicica, de acordo com o Ministério Público do Rio. Os nomes dos
acusados estão sendo preservados para não atrapalhar as investigações. Em 2015,
segundo a denúncia, o grupo matou, com tiros na cabeça, um homem que alugou um
terreno na área de influência de Orlando, para instalação de um circo, sem
autorização prévia do miliciano.
SINDICÂNCIA
ARQUIVADA
O policial
militar mencionado pela testemunha-chave ainda está lotado no 16º BPM, unidade
vizinha ao Complexo do Alemão. Ele já foi submetido a uma sindicância
disciplinar, mas o processo acabou arquivado. Já o ex-PM, que passou pelo 22º
BPM (Maré), atualmente seria integrante de uma milícia que age na região de
Ramos. Contra os
outros dois supostos ocupantes do carro, consta, no processo judicial, que, no
dia 7 de junho de 2015, às 19h, eles desceram de um Kia Cerato branco e
atiraram em Wagner Raphael de Souza, então presidente da escola de samba União
do Parque Curicica. A vítima estava em seu próprio carro, com uma pessoa no
banco do carona.
Os tiros
acertaram Wagner na cabeça, matando-o, e feriram uma mulher que estava ao lado
dele. Na ação penal, o MP do Rio ressaltou que “o crime foi cometido de forma a
impedir a defesa das vítimas, já que os disparos foram efetuados a pouca
distância e contra suas cabeças”. O carona, que ficou ferido, afirmou em
depoimento à polícia que Wagner “causava problemas” para Orlando, pois “sempre
agiu sozinho, apoiando candidatos políticos independentes” e contrariando os
interesses da milícia de Orlando.
“Mesmo
sem pertencer à milícia, ele não baixava a cabeça para eles. Era uma pessoa
muito forte na comunidade, o que o tornou um perigoso rival da facção
criminosa”, contou a testemunha. Depois, ela mudou sua versão ao ser
interrogada pelo MP, e passou a negar a participação de Orlando na execução.
PELO
CELULAR DE OUTRO PRESO
O delator
que ligou a morte de Marielle a Siciliano e a Orlando também disse à Divisão de
Homicídios (DH) que o miliciano, hoje preso em Bangu 9, estava usando o celular
de um outro preso, Charles Dickson Ferreira da Silva, para continuar no comando
de seus negócios. Por esse telefone, segundo o delator, Orlando teria dado
ordem para executar a vereadora.
A
Secretaria de Segurança, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, pediu à Justiça do
Rio em 25 de abril — um dia depois de a testemunha-chave procurar a Polícia
Federal — a transferência de Orlando para um presídio de segurança máxima, mas
a medida até agora não foi autorizada. Orlando continua no Complexo de
Gericinó.
A carta
de Orlando Oliveira de Araújo
Na carta,
Orlando de Curicica levanta suspeita sobre a testemunha. “A testemunha que
supostamente me aponta como mandante (...) não tem qualquer credibilidade. Haja
vista o mesmo chefiar as milícias (...)em conjunto com o tráfico de drogas da
região”, diz.
Segundo o
advogado, a carta foi entregue anteontem, numa visita que os profissionais
responsáveis pela defesa fizeram ao seu cliente. De acordo com o advogado,
Orlando está muito triste por ter sido acusado.
E bastante preocupado porque a testemunha que o acusa seria, na verdade, um rival.
E bastante preocupado porque a testemunha que o acusa seria, na verdade, um rival.
— Ele
ficou muito surpreso e triste pelas acusações. E acredita que a própria pessoa
que o acusa pode ter envolvimento no crime. Ele quis que divulgássemos a carta
porque quer que a versão dele seja divulgada. Ele estava disposto a falar com a
imprensa, dar entrevista. Soubemos hoje que ele foi transferido, sem nenhum
justificativa, para Bangu 1 — contou.
Questionado
sobre a data em que a carta foi escrita -9 de março ou de maio - o advogado
garantiu que foi em 9 de maio.