Pedido foi aprovado no mês passado
Enquanto
o governo federal tentava aprovar a reforma da Previdência — medida que poderia
alterar as regras também para parlamentares —, o prefeito do Rio Marcelo
Crivella requereu e conseguiu direito de receber aposentadoria como senador. O
pedido foi aprovado no mês passado. Crivella, que ganha como prefeito salário
bruto de R$ 18.893, terá direito a pouco mais de um terço do salário de
senador, o equivalente a R$ 12.540.
Crivella
completou 60 anos em outubro do ano passado. Segundo as regras do Senado, um
parlamentar tem direito ao benefício proporcional a partir dessa idade. O valor
da aposentadoria é calculado segundo o tempo de exercício do mandato. Crivella
assumiu o Senado em 2003. Permaneceu ali até 2016. Nesse período, pediu licença
do mandato para ser ministro da Pesca no governo Dilma Roussef.
No
projeto de reforma da Previdência enviado pelo governo ao Congresso, a regra
para aposentadoria dos parlamentares muda. Segundo a proposta de emenda
constitucional, para ter direito a aposentadoria o parlamentar precisa ter no
mínimo 65 anos de idade. Para receber aposentadoria proporcional de senador,
Crivella pediu para que fosse averbado tempo de serviço como parlamentar. O
pedido foi reconhecido pelo Senado e publicado no Boletim Administrativo da
Casa no dia 8 de janeiro deste ano. No dia 17 de janeiro, saiu publicado no
Diário Oficial da União, a aposentadoria do prefeito. No ato, o
Senado disse que Crivella terá direito a 13/35 do vencimento de um senador. O
salário atual pago aos senadores é de R$ 33.763. A aposentadoria integral é de
mesmo valor. No caso do prefeito, ele teve reconhecido o benefício
proporcional.
APOSENTADORIA
PROPORCIONAL
Procurada,
a assessoria do prefeito informou que ele tem registrado junto ao INSS 41 anos
de serviço. E que Crivella requisitou a aposentadoria proporcional com base na
contribuição que recolheu. A assessoria informou ainda que Crivella vai
renunciar ao salário como prefeito, permanecendo apenas com o benefício do
Senado. [acredite na renúncia quem quiser; ele tem direito ao salário e a aposentadoria, já que a soma dos dois valores não atinge o teto constitucional.
Para fazer média poderia até adiar o recebimento da aposentadoria; mas, abrir mão do valor maior para receber o menor, esta nem os brasileiros que votam no PT - trouxas por natureza e opção - acreditam.] A assessoria não esclareceu se o pedido de aposentadoria feito pelo
prefeito tem relação com a mudança de regras prevista na reforma da
Previdência.
A
divulgação do pedido de aposentadoria ocorreu no mesmo dia em que o prefeito
admitiu que sua viagem à Europa, durante o carnaval, apesar de ter sido a
trabalho, não teve caráter oficial, conforme informara anteriormente. Tanto que
ele não levou o embaixador Antonio Fernando Cruz de Mello, coordenador de
Relações Internacionais da prefeitura. As viagens oficiais do prefeito, desde o
inicio do mandato, viraram alvo de investigação do Ministério Público, que quer
saber os resultados delas.
'APROVEITEI
A FOLGA DO CARNAVAL'
Durante a
viagem do prefeito à Europa, o Rio foi atingido por um temporal que provocou a
morte de quatro pessoas. Ontem, Crivella voltou a afirmar que os órgãos
municipais reagiram bem às chuvas de quinta-feira. Longe do discurso oficial,
no entanto, a realidade é outra. À tarde, seus assessores preparavam uma dança
das cadeiras na Comlurb, justamente por causa de falhas ao reagir à situação de
emergência. — Não era
uma viagem oficial, mas a serviço, para melhorar a Segurança do Rio de Janeiro.
Aproveitei a folga do carnaval. Quero melhorar o suporte para os policiais
subirem em comunidades, mostrar onde está o crime organizado. Eu tenho centenas
de câmeras no Centro de Operações, mas não nas comunidades. Quero colocar
imagens nas comunidades carentes que tenham intervenção da polícia. A única
maneira que eu tenho para fazer isso é com drones — disse o prefeito.
Além
disso, o prefeito postou um vídeo na sua rede social onde pede que as pessoas
“não acreditem em falácias da mídia”. Segundo Crivella, “as críticas sempre
existirão”, mas com trabalho e dedicação, de acordo com ele, as repostas serão
dadas por meio dos resultados.
As
declarações de Crivella foram feitas durante uma visita do prefeito a um trecho
da Ciclovia Tim Maia, em São Conrado, que desabou durante o temporal. Apesar de
a entrevista ter sido gravada, horas depois a assessoria do prefeito alegou que
ele foi mal interpretado. O trecho da ciclovia que ruiu foi construído acima de
uma galeria de águas pluviais, que cedeu no temporal. Apesar de os serviços de
recuperação já terem começado, não há prazo para a via ser reaberta. Ontem, a
juíza Maria do Carmo Freitas, da 19ª Vara Federal do Rio, concedeu liminar
pedida pelo Ministério Público Federal, determinando que a ciclovia, no trecho entre
a Barra e o Vidigal, permaneça fechada até que tenha licença ambiental. Apenas
um pequeno trecho, entre o Leblon e o Vidigal, que existia antes da obra,
poderá ser usada pelo público. Antes dessa decisão, o trecho da ciclovia na
Avenida Niemeyer já estava fechada desde abril de 2016, quando um trecho caiu
durante uma ressaca, causando duas mortes.
Também
ontem, reportagem do “RJ-TV” revelou que Eris Bezerra Crivella, mãe do
prefeito, não foi a única pessoa ligada à família operada de forma emergencial
no Hospital Salgado Filho. O Ministério Público e o Cremerj investigam se houve
tratamento privilegiado à mãe do prefeito. Uma idosa sul-africana, que foi babá
dos filhos de Crivella, também passou por uma cirurgia na unidade, em dezembro.
Realizada no sábado passado, a operação de Eris Bezerra foi acompanhada pelo
subsecretário de saúde, João Berchmans, amigo da família. Crivella disse que,
no caso da mãe dele, talvez a opção por um hospital público não tenha sido uma
boa ideia.
O Globo