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domingo, 8 de janeiro de 2023

Da Baixada ao Planalto, ascensão de Daniela e Waguinho teve truculência, alvos da Lava-Jato e vaivém político - O Globo

Ex-faxineiro, prefeito de Belford Roxo usou a máquina para obter metade dos votos da cidade para a mulher, nomeada ministra do Turismo no governo Lula; novo cacique do União Brasil, ele é acusado de desvios e de descumprir alianças

A ascensão da deputada federal Daniela Carneiro (União-RJ), que deixou o baixo clero da Câmara para assumir o Ministério do Turismo e representar o estado do Rio no governo Lula, caminha lado a lado com a expansão política de Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, prefeito de Belford Roxo e seu marido. “De faxineiro a presidente da Câmara de Vereadores” do município da Baixada Fluminense, lema que transformou em título de um livro lançado em 2015, Waguinho galgou outros degraus desde então. Para isso, amparou-se em alianças com alvos da Lava-Jato e numa gestão truculenta na prefeitura, pela qual foi denunciado como “topo” de uma organização criminosa.

A estrutura montada no município, e que impulsionou as votações de Daniela, virou fonte de desgastes na sua primeira semana como ministra.

Daniela ingressou na política após o marido, eleito prefeito de Belford Roxo em 2016, nomeá-la como secretária municipal de Assistência Social. Em 2018, concorreu a deputada federal usando o nome “Daniela do Waguinho”, que só retirou após ser nomeada no ministério por Lula. Reeleita à Câmara no ano passado com a maior votação do estado, Daniela acumulou 114,3 mil votos apenas em Belford Roxo, o que representa 48,8%, dos votos válidos da cidade.

A segunda colocada no município, Sula do Carmo (Avante), teve 8,4 mil votos à Câmara, cem mil a menos do que Daniela. Adversária de Waguinho, Sula acusou seguranças armados do prefeito de agredi-la na campanha. A votação de Daniela superou até os 102,5 mil votos do próprio Lula na cidade no segundo turno, já com o apoio de Waguinho.

(...)

No primeiro mês de sua gestão, em 2017, pessoas ligadas a Waguinho fizeram ao empresário Moisés de Souza Boechat uma proposta de “arrendamento”, por R$ 1 milhão, de sua empresa BOB Ambiental, responsável pelo aterro sanitário que atendia Belford Roxo, contrato avaliado em R$ 91 milhões.

Em depoimento ao Ministério Público do Rio (MP-RJ), Boechat relatou que, diante de sua recusa, os emissários se irritaram e disseram que “partiriam para o plano B”, acionando Waguinho. No mesmo dia, a empresa foi “invadida” pela Guarda Municipal de Belford Roxo junto a homens “descaracterizados, porém, com vestimentas do tipo militar, não oficiais, (...) portando arma de fogo”. Ainda segundo o MP, os agentes de Waguinho impuseram “represálias”, abrindo “valas” para impedir o acesso de caminhões de lixo.

Em paralelo, a prefeitura determinou que os resíduos passassem a ser jogados em um lixão ao lado do aterro sanitário. A partir do episódio, Waguinho virou réu por crime ambiental em 2020 e, em outra frente jurídica, foi denunciado pelo MP como líder de uma organização criminosa que promoveu fraudes em licitações. Ele chegou a ficar dois meses afastado do cargo, entre abril e junho de 2019. O caso segue em análise pelo 2º Grupo de Câmaras Criminais do TJ-RJ.

A relação com grupos armados transbordou para as campanhas de Daniela, fotografada entre 2018 e 2022 com quatro cabos eleitorais acusados de serem milicianos — o histórico não impediu os policiais militares Luiz Eduardo Santos de Araújo e Juracy Alves Prudêncio, o Jura, de ocuparem cargos na prefeitura, mesmo caso dos vereadores Fabinho Varandão e Marcinho Bombeiro.

 CLIQUE em Política - O Globo - MATÉRIA COMPLETA


domingo, 14 de novembro de 2021

Cartada final para enquadrar Alcolumbre e acabar com sua carreira política

Evangélicos preparam cartada final para enquadrar Alcolumbre

Enquanto pressionam o senador, aliados de André Mendonça planejam derrotar o grupo do presidente da CCJ nas urnas em 2022 [o chamado 'grupo' do presidente da CCJ/Senado não merece sequer tal 'apelido'. É ínfimo, inclusive o irmão do senador, Josiel Alcolumbre, perdeu as eleições 2020 para prefeito de Macapá.]  

Os evangélicos andam muito irritados com o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Há três meses e meio, o senador amapaense segura a indicação do pastor presbiteriano André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF), se recusando a marcar uma data para a sabatina do ex-advogado-geral da União — o que, na prática, paralisa todo o trâmite do processo, em sinal de retaliação à escolha do presidente Jair Bolsonaro. 

A postura de Alcolumbre também vem incomodando integrantes do STF (que, com um colega a menos na Corte, passaram a receber mais processos nos seus gabinetes) e provocou um apagão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que não possui quórum para se reunir, já que Alcolumbre também não marcou a sabatina de novos conselheiros. Em uma última cartada para ajudar Mendonça, lideranças evangélicas preparam uma nova estratégia para enquadrar Alcolumbre e convencê-lo a marcar a sabatina do advogado. “Está todo mundo se unindo contra o Alcolumbre, porque ele está abusando do poder dele com os colegas. Com essa postura, Alcolumbre está legislando em causa própria. Jamais imaginei que um judeu estaria contra um evangélico”, critica o líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), em referência à religião do senador. Em 20 de agosto, o gabinete de Cezinha pediu a Alcolumbre, por e-mail, uma visita de cortesia, da qual também participariam outros 20 lideres evangélicos do País. Quase dois meses depois, o senador ainda não enviou uma resposta. “Ele me esnobou até hoje”, reclama Cezinha.

Agora, a estratégia é aproveitar cada oportunidade para mobilizar as lideranças evangélicas — e infernizar a vida de Alcolumbre dentro do próprio Parlamento, em alto e bom som, já que a pressão nas redes sociais parece não ter surtido efeito. Parlamentares aliados de Mendonça planejam “invadir” sessões da CCJ e do plenário do Senado com faixas e fazer barulho, para forçar Alcolumbre a marcar a sabatina. O senador tentou submergir, depois que VEJA revelou que o amapaense foi artífice e beneficiário de um esquema de rachadinha que envolveu seis ex-funcionárias do gabinete do parlamentar. Outro problema no caminho de Mendonça é a PEC dos Precatórios, que também tem de passar pela comissão — e deve receber tratamento prioritário dos senadores, o que pode adiar ainda mais o desfecho da saga do ex-AGU pela vaga do STF.

Enquanto pressionam Alcolumbre nos bastidores e, agora, nos corredores — do Senado, apoiadores de Mendonça planejam derrotar o grupo político do senador nas urnas em 2022. Outrora aliado de Alcolumbre, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) conversou recentemente com lideranças evangélicas para tratar da composição de chapa nas eleições do ano que vem. Randolfe planeja disputar o governo do Amapá e ter um evangélico ao lado, seja como vice ou como senador na chapa. Apesar de ter articulado nos bastidores a eleição de Alcolumbre na presidência da Casa, em 2019, Randolfe se afastou do colega e agora se encontra num campo oposto no tabuleiro político local.  “É uma questão de honra derrotar Davi Alcolumbre na urnas lá no Amapá”, resume Cezinha.

O Amapá, convém ressaltar, é um dos Estados com maior proporção de evangélicos no país (cerca de 40%). Irritá-los pode não ser das melhores estratégias de um político, principalmente se ele busca a reeleição, como Alcolumbre.

 Rafael Moura - Política - VEJA


 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Indigência de propostas marca campanha - O Estado de S. Paulo

J.R. Guzzo

As questões que a cidade de São Paulo tem de resolver a curto e a longo prazo exigem a combinação de competência,  visão e equipamento mental que só um estadista de verdade pode oferecer

Para ter esperanças de se tornar um lugar melhor do que é para os seus 12 milhões de habitantes, São Paulo, a maior cidade brasileira, uma das maiores do mundo e capital econômica do Brasil, precisaria contar com pessoas de primeiríssima qualidade no topo de sua administração. Governar São Paulo é um desafio de escala mundial; as questões que a cidade tem de resolver a curto e a longo prazo exigem a combinação de competência, visão e equipamento mental que só um estadista de verdade pode oferecer.

Mas nem foi preciso abrir as urnas da eleição municipal para se verificar uma realidade muito simples: a distância imensa que continua separando os paulistanos de qualquer possibilidade de alguma mudança séria no desastre continuado que os seus gestores lhes impõem há décadas.

Desde sempre esteve claro, diante do nível dos candidatos, que o máximo que se poderia esperar seria a escolha dos menos ruins [os escolhidos são realmente os menos ruins? são pior que os ruins!] para a Prefeitura e a Câmara de Vereadores. Ficou nisso.

Abertas as urnas, o que menos se ouviu foi alguma ideia sobre como melhorar (nem se diga resolver) um único dos problemas reais de São Paulo – da mesma forma que não houve durante toda a campanha o mais remoto sinal de vida inteligente na disputa entre A, B ou C. 

Falou-se, basicamente, de uma coisa só: quais as perdas políticas relativas (nada foi dito sobre ganhos, pela excelente razão de que não houve ganho nenhum) do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT.

Ambos têm em comum o fato de seguirem projetos políticos que não têm nada a ver com a solução dos problemas de São Paulo; além disso, nenhum dos dois vai ser nem prefeito nem vereador da cidade. O atual prefeito Bruno Covas, que ficou em primeiro lugar, festejou a derrota de Bolsonaro em São Paulo. [Alguém precisa dizer para o Covas que o presidente Bolsonaro não foi candidato a vereador ou prefeito da cidade de São Paulo. ELE É e continua sendo Presidente da República, com planos que comas bençãos de DEUS se realização de reeleição em 2022.

Oportuno lembrar que o presidente Bolsonaro não aprova a política de criar engarrafamentos e comprar milhares de urnas funerárias para conter a covid-19 = não funciona. Covas fez isso.Vamos nos abster de comentar sobre o outro concorrente ao cargo de prefeito paulistano, por não valer a pena gastar bytes com o mesmo.] O segundo colocado, que parece em excelente posição para continuar em segundo no turno final, também nada disse de útil para os interesses da população.Essa indigência diz muito sobre a mediocridade terminal da política brasileira de hoje. 

J. R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo


domingo, 11 de outubro de 2020

A deusa Têmis morre de rir, por Gaudêncio Torquato

Blog do Noblat

Ninguém pode ignorar o que seja “notável saber jurídico”  

A mentira tem perna curta. O desembargador Kassio Nunes Marques certamente não imaginava seu curriculum vitae e seus escritos vasculhados e questionados pela imprensa. Teria ouvido palestras que apareceram como curso de pós-doutorado. De repente, seu conceito escapou pela janela da dissonância. A menos que o juiz piauiense indicado para a vaga do STF,   no STF tenha se inspirado no ensaio de Brecht sobre “cinco maneiras de dizer a verdade”. A verdade de cada um. O momento poderia ser usado para reforçar sua bagagem acadêmica.

Ocorre que o STF é a nossa mais alta corte, a ser composto por quadros de boa envergadura. É inimaginável pensar que teria dito que, para ser membro do Supremo, não é necessário ser advogado, mas pessoa de caráter  ilibado. Deve ter se valido desse artigo da CF: 
“Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco   anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.”

Nessa polêmica, entra o caso de Cândido Barata Ribeiro, médico, baiano e prefeito do Rio de Janeiro de 1892 a 1893. Foi ministro por 10 meses e 4 dias. Ora, o mundo mudou. Ninguém pode ignorar o que seja “notável saber jurídico”. Que se adquire no curso de Direito. [com o devido respeito: NEM SEMPRE - em muitos casos o curso de Direito não é o caminho  para o notável saber jurídico; 
aliás, certamente não é o caminha único, sendo uma das partes, não a mais importante, daquele caminho.] Uma exceção a esta obviedade enfureceria o tribuno da Advocacia, Rui Barbosa. A sapiência é, por excelência, o valor matricial do juiz, bem mais que domínio de conhecimento. O uso do saber e um exaustivo exercício de hermenêutica jurídica. Lembre-se a lição de Francis Bacon  (Ensaios, 1597): “o Juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir seu caminho elevando os vales e abaixando montanhas”. 

A justa sentença é a luz que guia a decisão do juiz. Infelizmente, muitas vezes, essa luz é tênue ou está apagada. Sinaliza que algo mexeu com a intenção originária do juiz. Por isso, Têmis, a deusa  da Justiça, nem sempre faz bom uso da balança e da espada. Sob essa abordagem, parece fora de tom dizer que, mais adiante, será inserido na mais alta Corte do país um ministro “terrivelmente evangélico”
Por que a opção por identidade religiosa? 
Não há ministro religioso no Supremo ou os que lá estão são todos “católicos”
O presidente joga no lixo o preceito do Cristo: “daí a César o que  é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.

Se assim for, as seitas afro-brasileiras poderão reivindicar um representante, sob a indignação dos evangélicos, que elegem bancadas no Congresso. Não haverá surpresa se o dízimo virar contribuição legal para confirmação religiosa. O doador receberá uma carteira de dizimista e a promessa de um lugar privilegiado na fila dos  Céus.  O desembargador Kassio não calculou o tamanho da confusão. Dados de sua trajetória questionados, verdades inconvenientes no Senado, decisões que poderão arranhar sua imagem, polêmica com  base bolsonarista e a maldição evangélica. A deusa Têmis, com uma venda sobre os olhos, deve estar morrendo de rir.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA

 

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Dispersão municipal - Alon Feuerwerker

Análise Política


Em 1988 os então partidos de esquerda elegeram dez dos vinte e cinco prefeitos nas capitais. Tocantins ainda não tinha se separado de Goiás, então eram só vinte e cinco mesmo. No interior, especialmente no Sul-Sudeste, a esquerda também fez boa colheita. Era um prenúncio de que no ano seguinte a “onda vermelha” daria um gás a candidatos ditos progressistas na primeira sucessão presidencial direta da redemocratização. Não deu outra: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Leonel de Moura Brizola (PDT) disputaram cabeça a cabeça uma vaga no segundo turno.

No fim Lula passou mas não levou, deu Fernando Collor de Mello e o resto da história é conhecido.Esse prolegômeno teve a finalidade de lembrar que eleições municipais, se não têm a propriedade de embasar mecanicamente previsões para futuros embates eleitorais, de vez em quando servem de termômetro. Foi o que se passou em 1988. O país está absorvido pelas disputas políticas em torno da pandemia da Covid-19, de seus efeitos na estatística sanitária e na estatística econômica. A esta altura, em outros anos, as pessoas estariam começando a prestar atenção na eleição de prefeito e vereador.
Não é o que acontece agora
.

Teremos uma campanha curtíssima, e que vai se desenvolver principalmente por meios remotos. E num cenário no qual ações heterodoxas de propaganda pela internet serão certamente motivo para processos de cassação de quem se aventurar a ilícitos. A relação benefício/custo desse tipo de gambiarra anda cada vez mais desfavorável.

Mas o que está se desenhando para a eleição deste ano? Em primeiro lugar a dispersão. Não há nenhum partido com jeito de apontar como o novo candidato a disputar a hegemonia eleitoral do centro para a direita.
A nova legenda de Jair Bolsonaro não se viabilizou a tempo e a antiga não poderá contar desta vez incondicionalmente com o combustível do bolsonarismo.O mesmo acontece por enquanto na esquerda, onde o PT leva jeito de vir a encarar sua mais difícil eleição municipal desde a fundação do partido. E os concorrentes nesse campo tampouco sinalizam um desempenho brilhante.

E tem a novidade da proibição das coligações para vereador. O que, na teoria, levará à multiplicação de candidatos inexpressivos a prefeito, e portanto a mais pulverização. Só depois dos resultados é que virá, ou começará a vir, a consolidação. O presidente da República está em situação razoavelmente confortável. Não se prevê uma tendência plebiscitária nesta eleição. E depois dela Jair Bolsonaro poderá fazer a tradicional colheita entre prefeitos recém-eleitos e já com a corda das finanças no pescoço.

Mais desafiadora é a situação dos governadores, que precisam consolidar a base municipal para tentar a reeleição ou eleger o sucessor.
Vão ser entretanto favorecidos pela campanha curtíssima e pela anemia da mobilização de rua. E serão cabos eleitorais ainda mais importantes que de hábito. Isso embute riscos: eventuais derrotas de seus candidatos serão em grande medida derrotas deles próprios. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Governo Bolsonaro está de mãos atadas pela caneta dos juízes - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo

As coisas no Brasil ficaram de um tal jeito que acabamos vivendo, hoje, a  seguinte situação: no meio da mais calamitosa crise de saúde publica que jamais aconteceu no país, com mais de 25 mil mortos e um volume inédito de sofrimento, o presidente da República, que é a mais alta autoridade legal num regime presidencialista, não pode ser responsabilizado por nada do que está acontecendo nessa tragédia.

Não pode ser responsabilizado porque o Poder Judiciário, com a quieta aprovação do Poder Legislativo, tirou do presidente e de seu governo os meios para assumir, justamente, essas responsabilidades entregou todas as decisões relevantes para governadores e prefeitos e suprimiu, em matéria de combate à Covid-19, a existência da federação brasileira. É o que se chamava, em outros tempos, de “teatro do absurdo”.

Os decretos do presidente, assim, não valem nada quando se referem ao mais grave problema que atormenta a população brasileira no dia de hoje. Segundo estabeleceu o STF, o sujeito é obrigado a obedecer o prefeito de Santo Antão do Brejo Seco, mesmo que esteja só passando por lá, mas não o governo legítimo do seu próprio país. Faz sentido?Não faz sentido nenhum, mas é assim que estamos e é assim que as coisas vão continuar.

O governo federal, em matéria de epidemia, está autorizado unicamente a tirar dinheiro do Tesouro Nacional para pagar as despesas que não decidiu feitas pelas autoridades locais no tratamento da doença. Passa verbas para estados, não cobra dívidas, cria até um programa com 50 milhões de inscritos para receber um “auxílio emergencial” de R$ 600 por mês. Em suma: paga tudo, não manda em nada.

O Poder Executivo, além disso, não pode hoje em dia nomear um diretor da Polícia Federal — se o STF não aprova o nome, tem de escolher outro. Está proibido, também, de expulsar do território brasileiro diplomatas estrangeiros que considera indesejáveis, um requisito elementar para o exercício da soberania nacional — o Supremo não deixou que mandasse embora daqui, até o fim a pandemia”, 34 funcionários da embaixada e de cinco consulados da Venezuela. O governo não tem direito a fazer reuniões sigilosas — pode ser obrigado a divulgar vídeo e áudio de encontros do ministério, como o STF acabou de mandar que fizesse. O governo do Brasil, hoje, tornou-se “disfuncional”, como se diz em linguagem moderna. Não pode funcionar como governo.

J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


terça-feira, 17 de setembro de 2019

MILÍCIAS VIRTUAIS - A política da intimidação - Bernardo Mello Franco

O Globo

[antes do atentado contra a inocência das nossas crianças, poucas pessoas conheciam ou tinham ouvido falar do youtuber  objeto da presente matéria. 

Ter muitos acessos no canal, não significa ser conhecido. Com o atentado se tornou comentado e nada melhor para manter os holofotes do que se declarar ameaçado - com isso consegue chamar atenção para a sua plataforma e também para sua própria pessoa.]

(...) 
Ontem ele cancelou a palestra por razões de segurança. Em comunicado, relatou “ameaças que atentam contra a sua vida e de sua família”.

(... )

Nos últimos tempos, ele reduziu o besteirol em favor das mensagens educativas. Também conquistou desafetos ao se insurgir contra os discursos de ódio e a homofobia. Há dez dias, o youtuber peitou o prefeito Marcelo Crivella, que tentava ressuscitar a censura na Bienal do Livro. Em reação ao ['bispo'] , comprou e distribuiu gratuitamente 14 mil volumes com temática LGBT. Marquetagem à parte, a ação enfureceu as milícias virtuais. Felipe virou alvo de uma campanha difamatória, impulsionada por robôs e liderada por blogueiros governistas e deputados do PSL. “É estarrecedor que no Brasil, em 2019, um indivíduo seja impossibilitado de se manifestar e lutar contra qualquer tipo de censura e opressão sem ser ameaçado”, ele escreveu ontem. Não se trata de um caso isolado. A mesma fórmula tem sido usada para silenciar pesquisadores, jornalistas, políticos e artistas que ousam contestar o poder.

Todo governo lida mal com críticas. Os últimos três presidentes também viveram às turras com a imprensa. No entanto, nenhum deles mostrou tanto empenho quanto o atual para sufocar o contraditório e calar as vozes divergentes. Há método por trás da política da intimidação. Em vídeo divulgado no domingo, o ideólogo Olavo de Carvalho incitou governo e militância bolsonarista a se unirem contra quem ele vê como inimigos.  “É contra essa gente que o presidente tem que se voltar. Não na base do xingamento, que não adianta nada. Tem que agir contra essas pessoas. Mas ele só pode fazer isso se tiver apoio de uma militância organizada”, receitou o autoproclamado filósofo.

Só faltou explicar o que ele entende por “agir”. [fácil de entender e sem maiores explicações.

O 'agir' contra os que compõem o que o guru de Virginia chama, acertadamente, de essa gente, tem que ser rigorosamente dentro da lei.
Tarefa que não será dificil, já que a maior dessa gente, age à margem da lei na defesa dos seus interesses quase sempre escusos.]

Bernardo Mello Franco - Publicado em O Globo

domingo, 3 de março de 2019

A confissão de Cabral tem farinha de pizza



Mas pode vir a valer muito, desde que o juiz Marcelo Bretas e o Ministério Público do Rio percebam que ele pode se transformar no maior colaborador da história daquilo que se convencionou chamar de Lava-Jato 


O juiz Marcelo Bretas e o Ministério Público no Rio podem transformar a massa numa inédita faxina

A quantidade de farinha que o ex-governador Sérgio Cabral colocou na sua repentina conversão à causa da verdade deu um cheiro de pizza às suas confissões. O doutor reconheceu-se viciado em roubo. Isso até as pedras sabem, tanto que ele já amealhou sentenças que lhe dão a fortuna de 198 anos de cadeia. Sua confissão vale nada, mas pode vir a valer muito, desde que o juiz Marcelo Bretas e o Ministério Público Federal no Rio percebam que Cabral pode se transformar no maior colaborador da história daquilo que se convencionou chamar de Lava Jato.

Cabral presidiu a Assembleia Legislativa, foi senador, governou o Rio por oito anos, reelegeu-se com dois terços dos votos e emplacou um cúmplice como sucessor. Ele sabe tudo, sabe mais do que souberam os empreiteiros e é o primeiro gato gordo do aparelho do Estado a mostrar que pode falar. Nada a ver com a colaboração seletiva e pasteurizada do ex-ministro Antonio Palocci. A guinada de Cabral sugere que ele busca um acerto no escurinho dos processos. Falando o que já se sabe, aliviaria a situação de seus parentes e conseguiria algum tipo de conforto. Nesse caso, surgiria um Cabral 2.0. O mitológico gestor de propinas daria lugar ao administrador de confissões.

Se o detento quer colaborar com as investigações, precisa sentar com o Ministério Público para contar como funciona a máquina de corrupção política, administrativa e empresarial do andar de cima do Rio de Janeiro. Esse mecanismo arruinou o estado e a cidade. A roubalheira na privataria da saúde é exemplar na sua crueldade. Tem um pé nos hospitais públicos e outro operando o prestígio e a força moral da Arquidiocese. O andar de baixo conhece a ruína porque convive com ela, o que se precisa expor é o mecanismo com que o andar de cima operou e opera essa máquina.

O Ministério Público em Curitiba desvendou as tramas das empreiteiras porque trabalhou duro, com inédita independência. No Rio essa máquina rateou, tanto que ao tempo em que Cabral cabalava, a Procuradoria dormiu em berço esplêndido. A Lava Jato quebrou o mundo dos comissários petistas e das empreiteiras em 2014, quando o doleiro Alberto Youssef começou a falar. Cabral pode vir a ocupar esse lugar, desde que responda direito às perguntas certas. Nesse caso, poderia ganhar paz de espírito e leniência.

Fora daí, é pizza.


Bolsonaro passou pela primeira pesquisa
Bolsonaro tem filhos encrenqueiros e ministros perigosamente folclóricos, como Ricardo Vélez, Damares Alves e Ernesto Araújo, mas a pesquisa CNT/MDA mostrou que ele vai bem, obrigado. Seu desempenho no cargo foi aprovado por 57,5%, percentagem um pouco superior à dos votos que teve no segundo turno (55%). Já a avaliação do governo ficou rala, em 39% de aprovação. No primeiro turno um eleitorado fiel deu a Bolsonaro 46% dos votos.

Considerando-se a polarização que marcou o segundo turno, só 7,6% dos entrevistados que votaram para presidente arrependeram-se da escolha que fizeram. (Nessa percentagem há pessoas que votaram nele ou em Fernando Haddad, mas pode-se especular que poucos eleitores do PT estejam arrependidos.) A percentagem de pessoas que acharam o governo ruim ou péssimo (19%) é menor que a dos eleitores de Haddad no primeiro ou no segundo turnos (29% e 45%). A sabedoria convencional permitia supor que mais gente que votou em Bolsonaro para derrotar o PT tivesse ficado desencantada com as trapalhadas do início do governo. Isso não aconteceu.

(...)



Sistema S
A caixa de surpresas da Fecomércio do Rio assombra vários escritórios de advocacia da cidade. O Ministério Público está atrás de contratos onde estava combinada uma rachadinha com os maganos da instituição.

(...)


Bloomberg
Se Deus quiser, Michael Bloomberg disputará a presidência dos Estados Unidos em 2020. A seu favor tem a biografia, pois começou de baixo, tem uma fortuna de US$ 51 bilhões e foi um grande prefeito de Nova York por 12 anos. Não recebia salário. Contra, só a idade, pois entraria na Casa Branca com 79 anos.

Em 2016, antes da eleição de Trump, ele o definiu:

-- Como nova-iorquino, eu reconheço um vigarista quando o vejo.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Prefeito Marcelo Crivella ganha aposentadoria especial por mandato no Senado - pouco: R$ R$ 12.540



Pedido foi aprovado no mês passado

Enquanto o governo federal tentava aprovar a reforma da Previdência — medida que poderia alterar as regras também para parlamentares —, o prefeito do Rio Marcelo Crivella requereu e conseguiu direito de receber aposentadoria como senador. O pedido foi aprovado no mês passado. Crivella, que ganha como prefeito salário bruto de R$ 18.893, terá direito a pouco mais de um terço do salário de senador, o equivalente a R$ 12.540. 

Crivella completou 60 anos em outubro do ano passado. Segundo as regras do Senado, um parlamentar tem direito ao benefício proporcional a partir dessa idade. O valor da aposentadoria é calculado segundo o tempo de exercício do mandato. Crivella assumiu o Senado em 2003. Permaneceu ali até 2016. Nesse período, pediu licença do mandato para ser ministro da Pesca no governo Dilma Roussef.

No projeto de reforma da Previdência enviado pelo governo ao Congresso, a regra para aposentadoria dos parlamentares muda. Segundo a proposta de emenda constitucional, para ter direito a aposentadoria o parlamentar precisa ter no mínimo 65 anos de idade. Para receber aposentadoria proporcional de senador, Crivella pediu para que fosse averbado tempo de serviço como parlamentar. O pedido foi reconhecido pelo Senado e publicado no Boletim Administrativo da Casa no dia 8 de janeiro deste ano. No dia 17 de janeiro, saiu publicado no Diário Oficial da União, a aposentadoria do prefeito.  No ato, o Senado disse que Crivella terá direito a 13/35 do vencimento de um senador. O salário atual pago aos senadores é de R$ 33.763. A aposentadoria integral é de 
mesmo valor. No caso do prefeito, ele teve reconhecido o benefício proporcional.


APOSENTADORIA PROPORCIONAL
Procurada, a assessoria do prefeito informou que ele tem registrado junto ao INSS 41 anos de serviço. E que Crivella requisitou a aposentadoria proporcional com base na contribuição que recolheu. A assessoria informou ainda que Crivella vai renunciar ao salário como prefeito, permanecendo apenas com o benefício do Senado. [acredite na renúncia quem quiser;  ele tem  direito ao salário e a aposentadoria, já que a soma dos dois valores não atinge o teto constitucional.
Para fazer média poderia até adiar o recebimento da aposentadoria; mas, abrir mão do valor maior para receber o menor, esta nem os  brasileiros que votam no PT - trouxas por natureza e opção - acreditam.] A assessoria não esclareceu se o pedido de aposentadoria feito pelo prefeito tem relação com a mudança de regras prevista na reforma da Previdência.

A divulgação do pedido de aposentadoria ocorreu no mesmo dia em que o prefeito admitiu que sua viagem à Europa, durante o carnaval, apesar de ter sido a trabalho, não teve caráter oficial, conforme informara anteriormente. Tanto que ele não levou o embaixador Antonio Fernando Cruz de Mello, coordenador de Relações Internacionais da prefeitura. As viagens oficiais do prefeito, desde o inicio do mandato, viraram alvo de investigação do Ministério Público, que quer saber os resultados delas.

'APROVEITEI A FOLGA DO CARNAVAL'
Durante a viagem do prefeito à Europa, o Rio foi atingido por um temporal que provocou a morte de quatro pessoas. Ontem, Crivella voltou a afirmar que os órgãos municipais reagiram bem às chuvas de quinta-feira. Longe do discurso oficial, no entanto, a realidade é outra. À tarde, seus assessores preparavam uma dança das cadeiras na Comlurb, justamente por causa de falhas ao reagir à situação de emergência.  — Não era uma viagem oficial, mas a serviço, para melhorar a Segurança do Rio de Janeiro. Aproveitei a folga do carnaval. Quero melhorar o suporte para os policiais subirem em comunidades, mostrar onde está o crime organizado. Eu tenho centenas de câmeras no Centro de Operações, mas não nas comunidades. Quero colocar imagens nas comunidades carentes que tenham intervenção da polícia. A única maneira que eu tenho para fazer isso é com drones — disse o prefeito.

Além disso, o prefeito postou um vídeo na sua rede social onde pede que as pessoas “não acreditem em falácias da mídia”. Segundo Crivella, “as críticas sempre existirão”, mas com trabalho e dedicação, de acordo com ele, as repostas serão dadas por meio dos resultados.

As declarações de Crivella foram feitas durante uma visita do prefeito a um trecho da Ciclovia Tim Maia, em São Conrado, que desabou durante o temporal. Apesar de a entrevista ter sido gravada, horas depois a assessoria do prefeito alegou que ele foi mal interpretado. O trecho da ciclovia que ruiu foi construído acima de uma galeria de águas pluviais, que cedeu no temporal. Apesar de os serviços de recuperação já terem começado, não há prazo para a via ser reaberta. Ontem, a juíza Maria do Carmo Freitas, da 19ª Vara Federal do Rio, concedeu liminar pedida pelo Ministério Público Federal, determinando que a ciclovia, no trecho entre a Barra e o Vidigal, permaneça fechada até que tenha licença ambiental. Apenas um pequeno trecho, entre o Leblon e o Vidigal, que existia antes da obra, poderá ser usada pelo público. Antes dessa decisão, o trecho da ciclovia na Avenida Niemeyer já estava fechada desde abril de 2016, quando um trecho caiu durante uma ressaca, causando duas mortes.

Também ontem, reportagem do “RJ-TV” revelou que Eris Bezerra Crivella, mãe do prefeito, não foi a única pessoa ligada à família operada de forma emergencial no Hospital Salgado Filho. O Ministério Público e o Cremerj investigam se houve tratamento privilegiado à mãe do prefeito. Uma idosa sul-africana, que foi babá dos filhos de Crivella, também passou por uma cirurgia na unidade, em dezembro. Realizada no sábado passado, a operação de Eris Bezerra foi acompanhada pelo subsecretário de saúde, João Berchmans, amigo da família. Crivella disse que, no caso da mãe dele, talvez a opção por um hospital público não tenha sido uma boa ideia.

O Globo