Alguns deputados ditos
da ‘oposição’ garantem a vitória do
ajuste fiscal da Dilma e alguns petistas deixam Dilma na mão
DEM e PSB, dois partidos de oposição, garantem a
vitória da MP do ajuste fiscal na Câmara; parte da base, inclusive petistas,
deixa Dilma na mão
O governo venceu, e o
texto-base da Medida Provisória 665, que restringe as regras para a concessão
do seguro-desemprego, foi aprovado. Mas o Planalto
teve de suar, e o placar foi apertado: 252
a 227. Foram
apenas 25 votos de diferença. Querem uma medida da dificuldade? Se os deputados de partidos de oposição que votaram “sim” tivessem votado “não”, a MP
teria sido rejeitada: foram
8 do DEM, 7 do PSB e 1 do Solidariedade. Ao todo, pois, 16 oposicionistas engrossaram as fileiras
governistas.
Se eles fossem subtraídos dos 252 a
favor e somados aos 227 contra, o
placar teria sido 237 a 242 contra o governo. E a MP teria ido para o espaço. Logo, é justo que
Dilma seja grata a parte do DEM e do PSB pela ajuda. Eles deram a vitória a um
governo ao qual se opõem.
Não estou fazendo
ironia, não. É fato! Afinal, convenham: votar com o governo é tarefa, em princípio, dos
governistas. Mas estes também traíram. Dez
deputados do PT deixaram Dilma na mão: nove
não apareceram, e um votou contra. Dos 64 votos do PMDB, 13 disseram “não” à MP. No
PDT, que tem o Ministério do Trabalho, houve unanimidade contra: 19. No
PP, as defecções chegaram a 18 dos 39 votantes; no PTB, 12 dos 24. Todos têm titulares na Esplanada dos
Ministérios. E olhem que houve esforço concentrado. Michel Temer teve de trabalhar.
Ao fim da votação, José
Guimarães, líder do governo na Câmara (PT-CE), sugeriu que os partidos aliados
receberiam a devida compensação. Cobrado a se explicar, não o fez.
Notem: se a oposição tivesse
votado unida, e a base desunida, o meu título seria este: “Governistas derrubam MP do
ajuste fiscal”. Como a oposição também se desuniu, e como seus votos
foram essenciais para a aprovação da medida, então não há como: “DEM e PSB, dois partidos de
oposição, garantem a vitória da MP do ajuste fiscal na Câmara; parte da base,
inclusive petistas, deixa Dilma na mão”.
A votação foi
tumultuada, com militantes
da CUT e da Força Sindical nas galerias, protestando contra o texto. Membros da Força portavam cartazes com as
fotos de Dilma e Lula sob o título: “Procurados”. Quando eles
derramaram sobre o plenário o que chamaram de “PTrodólares” — imitação da moeda
americana com as efígies de Lula, Dilma e João Vaccari Neto —, Eduardo Cunha
esvaziou as galerias. Os
petistas gritavam histericamente, pedindo que saíssem do local… Justo eles, né?, sempre tão educados num Parlamento. A gente viu o que
fizeram no Paraná… Concluída a votação do texto principal, os
oposicionistas entoaram em coro uma adaptação de uma samba celebrizado por Beth
Carvalho: “O PT pagou com traição/a quem
sempre lhe deu a mão”. Inconformados, petistas e membros do PCdoB acusavam
falta de decoro e comportamento incompatível com o Parlamento.
Depois da rejeição de dois destaques, deputados de oposição promoveram um
panelaço em plenário, para tristeza do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP),
que bufava: “São panelas
importadas. Depois, vão jantar no Piantella”, referindo-se a um restaurante chique
de Brasília. Não entendi a ilação deste
comunista do Brasil: parece que ele considera que só pode jantar no Piantella ou quem vota com o
governo ou quem é favorável a que se
restrinjam as condições para o seguro-desemprego…
O governo venceu,
sim. Mas a votação demonstrou como está desarticulada a base. Ou Dilma não teria dependido dos votos de DEM e
PSB. Os oposicionistas fizeram o governo sangrar até o limite. E, como já
deixamos claro aqui, os petistas estiveram entre os que mais deram trabalho a
Dilma.
Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) presidiu a sessão com impressionante calma. Era o dono da bola.
Sabia que, se quisesse, aplicaria outra derrota a Dilma, seja pondo seus
liderados para votar contra, seja deixando-se enredar pelas manobras da
oposição, adiando mais uma vez a votação. Mostrou quem está no poder naqueles
domínios. Na noite anterior, já tinha desferido um cruzado no queixo do PT: ou o partido fechava
questão, ou o PMDB não se comprometia com a MP. Dilma
não conseguiu enquadrar seu partido. Coube a Cunha fazê-lo.
O PT acabou.
Caiado pede 'desculpas' por traição de deputados do DEM
Embora
oposicionista, partido entregou oito dos
22 votos em favor da medida provisória que endurece regras trabalhistas
O líder
do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), pediu desculpas nesta quinta-feira pelo
que considera "traição" de
deputados do partido por eles terem votado a favor
da Medida Provisória 665, que restringe acesso a seguro-desemprego e
abono salarial. O apoio do DEM - ferrenho partido oposicionista que deu oito
dos 22 votos a favor da medida do ajuste fiscal - foi decisivo para o governo
obter os 25 votos favoráveis na votação do texto-base na Câmara.
Contrário
à fusão do DEM com o governista PTB, Caiado atribuiu a votação da bancada a
esse movimento partidário. "Desde o
primeiro momento, alertei que os que defendiam a fusão queriam jogar o Democratas
no colo do governo. A votação do arrocho fiscal de ontem comprovou essa tese.
Foi deprimente ver o partido agir assim. Cabe a nós pedirmos desculpas por essa
traição ao sentimento da população brasileira", disse ele, em nota.
O líder
do DEM no Senado afirmou que, embora a votação de partidários em favor do
governo tenha machucado "profundamente", isso não vai tirar o ânimo e
a determinação. Segundo ele, a sociedade precisa entender que os que ficarem no
partido continuarão na oposição. "Se os parlamentares que se comprometeram
com a oposição tivessem votado contra a MP do PT, teríamos encurtado esse
governo e definido um novo rumo para o país. A votação de ontem é o sinal claro
do fim do ciclo do PT. Panelaços, faixas e 'PeTro
Dollares' voando pelo plenário. A
luta continua", destacou.
Fonte:
Estadão Conteúdo – Blog Reinaldo Azevedo