Bruno Boghossian
Presidente alimenta antipetismo e recomenda voto contra prefeitos que aplicaram isolamento
As corridas municipais representam um risco para Bolsonaro. A falta de uma máquina partidária e a incerteza sobre as disputas de 2020 poderiam produzir uma derrota em massa de seus apadrinhados. Conhecendo o perigo, ele tenta aproveitar o momento de outra maneira.
O presidente passou a explorar a arena eleitoral com dois objetivos. Na primeira trilha, ele age para politizar ainda mais o combate ao coronavírus. A ideia é desestimular o voto em prefeitos que se opuseram à cartilha bolsonarista. “Vê se você concorda com as medidas que ele tomou, obrigando a fechar tudo, falando grosso, prendendo mulher em praça, fechando praia”, declarou.
De
outro lado, o presidente busca as assombrações ideológicas que associou à esquerda
para criar a onda de ultradireita de 2018. Antes do papo no cercadinho do
Alvorada, ele já havia usado um evento oficial, no início do mês, para pedir
votos em “gente que tenha Deus no coração, que tenha na alma um patriotismo”.
Dois exemplos desse método são as únicas postulantes à Câmara de São Paulo apoiadas por Bolsonaro. Tanto Sonaira Fernandes quanto Clau de Luca se referem ao coronavírus como “vírus chinês” e alimentam a pauta conservadora. Bolsonaro não teve força para lançar candidatos competitivos nas grandes cidades. Ainda assim, ele enxerga nas eleições uma oportunidade para manter seu conhecido clima de campanha permanente.
Bruno Boghossian, colunista - Folha de S. Paulo