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domingo, 25 de outubro de 2020

Bolsonaro aproveita eleições para abastecer clima de campanha permanente - Folha de S. Paulo

Bruno Boghossian   

Presidente alimenta antipetismo e recomenda voto contra prefeitos que aplicaram isolamento  

Depois de dizer que não se envolveria nas eleições deste ano, Jair Bolsonaro entrou nas campanhas dos 5.568 municípios que vão às urnas em novembro. Na portaria do Palácio do Alvorada, o presidente lançou sua plataforma: recomendou voto contra prefeitos que adotaram medidas de isolamento e reviveu fantasmas [ ?] ultraconservadores. Vocês têm que ver o partido em que o cara está. Esses partidos que pregam a destruição de lares, a favor de ideologia de gênero, o pessoal que apoia o MST... Vocês estão votando nesses caras”, afirmou aos apoiadores do governo, na quinta (22).

[Atitude correta do presidente Bolsonaro a recomendar voto contra os prefeitos que agiram de forma incompetente e irresponsável no combate à pandemia. Tal recomendação se estende aos governadores, devendo ser aplicada em 2022.
Aliás, todos que de alguma forma colaboraram para o desastre praticado por governadores e prefeitos no  comando das ações  desordenadas de combate ao coronavírus devem ser julgados e responsabilizados.
Quando passaram a ter o comando das ações prefeitos e governadores agiram de forma destrambelhada chegando ao absurdo de:
- um prefeito adotou medidas para criar engarrafamentos, investiu pesado na compra de urnas funerárias;
- teve governador que mandava fechar e prefeitos que mandavam abrir ou vice-versa;
- teve shopping localizado na fronteira entre dois municípios que ficou metade aberto e metade fechado.
Teve situações absurdas, chegando ao bizarro.] 

As corridas municipais representam um risco para Bolsonaro. A falta de uma máquina partidária e a incerteza sobre as disputas de 2020 poderiam produzir uma derrota em massa de seus apadrinhados. Conhecendo o perigo, ele tenta aproveitar o momento de outra maneira.

O presidente passou a explorar a arena eleitoral com dois objetivos. Na primeira trilha, ele age para politizar ainda mais o combate ao coronavírus. A ideia é desestimular o voto em prefeitos que se opuseram à cartilha bolsonarista.Vê se você concorda com as medidas que ele tomou, obrigando a fechar tudo, falando grosso, prendendo mulher em praça, fechando praia”, declarou.

De outro lado, o presidente busca as assombrações ideológicas que associou à esquerda para criar a onda de ultradireita de 2018. Antes do papo no cercadinho do Alvorada, ele já havia usado um evento oficial, no início do mês, para pedir votos em “gente que tenha Deus no coração, que tenha na alma um patriotismo”.

Dois exemplos desse método são as únicas postulantes à Câmara de São Paulo apoiadas por Bolsonaro. Tanto Sonaira Fernandes quanto Clau de Luca se referem ao coronavírus como “vírus chinês” e alimentam a pauta conservadora. Bolsonaro não teve força para lançar candidatos competitivos nas grandes cidades. Ainda assim, ele enxerga nas eleições uma oportunidade para manter seu conhecido clima de campanha permanente.

Bruno Boghossian, colunista - Folha de S. Paulo