Emilly Behnke, Marlla Sabino
Presidente diz que medidas tomadas pelos Estados para enfrentar a Covid-19 vão prejudicar a economia e enfraquecê-lo politicamente. - Doria e Witzel.
[o presidente esqueceu de apontar que Witzel iniciou o processo de desrespeito a Constituição ao assumir uma postura separatista e tomar medidas que implicaria em proclamar a independência do Estado que governa.
Só parou, provavelmente, devido ter sido alertado por assessores que estava cometendo um crime contra a Federação, já que a Constituição vigente, proíbe ações separatistas, contra a unidade do Brasil.]
O presidente Jair Bolsonaro criticou ontem
medidas adotadas por governadores para evitar a disseminação do
coronavírus. Na visão dele, ações como o fechamento do comércio, adotado
nas maiores cidades do País e defendido por especialistas, podem
prejudicar a economia e serem usadas para enfraquecê-lo politicamente. O
paulista João Doria (SP) afirmou que os chefes do Executivo estão
tomando atitudes porque o presidente se omite. Wilson Witzel (PSC), do
Rio, classificou como “passo de tartaruga” a velocidade do Planalto em
dar respostas à crise.
As críticas aos governadores foram feitas nas duas vezes em que
Bolsonaro apareceu publicamente ontem. “Tem certos governadores que
estão tomando medidas extremas, que não competem a eles, como fechar
aeroportos, rodovias, shoppings e feiras”, disse o presidente, pela
manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada. Mais tarde, numa entrevista
coletiva, ele voltou ao assunto. “Tem um governo de Estado que só faltou
declarar independência do mesmo”, afirmou, sem detalhar sobre a que se
referia. [Witzel pegou o seu diploma de Harvard e pouco faltou para declarar o Rio estado independente da República Federativa do Brasil]
“Tem uns falando em liberar pedágio, energia. Aí cria expectativa. O
governo federal e estadual não têm condições de bancar isso. Essas
falsas expectativas não podem vir no bojo de uma campanha política”,
declarou o presidente. Dois dos chefes de Executivo estadual que
reagiram às falas de Bolsonaro já demonstraram pretensão de concorrer às
eleições em 2022.
“Estamos fazendo o que deveria ser feito pelo líder do País, o que o
presidente Jair Bolsonaro, lamentavelmente, não faz. E, quando faz, faz
errado”, criticou Doria, que virou adversário do presidente ainda no ano
passado, embora tenha vencido a eleição de 2018 amparado no
“BolsoDoria”.
Bolsonaro disse ter ficado “preocupado” ao saber que Witzel decidira
fechar as divisas do Estado e suspender o transporte de passageiros por
terra e ar. A medida afeta voos nacionais e internacionais. A Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) chegou a divulgar nota dizendo que
caberia à União determinar o fechamento. Também adversário político do
presidente, Witzel criticou o uso político da crise. “O governo federal
precisa entender que não é hora de fazer política”, escreveu o
governador fluminense no Twitter. “É hora de trabalhar e ajudar os
empresários que vão quebrar, as pessoas que vão perder o emprego e os
que vão morrer de fome”.
Apesar dos ataques feitos ontem, o presidente afirmou que está a
disposição dos Estados. “Nossos ministros estão todos solícitos, ninguém
está orientado a fugir de ninguém. Não terá qualquer discriminação para
qualquer governador.” A crítica aos governadores é só mais um episódio da relação conflituosa
entre o presidente da República e a Federação. Bolsonaro entrou em
conflito com governadores ao culpá-los por não baixar o preço da
gasolina e ao comparar a morte do miliciano Adriano Magalhães da
Nóbrega, baleado pela polícia da Bahia, à “queima de arquivo do caso
Celso Daniel”.
“É a visão dele (Bolsonaro). Ele, como nós, tem o direito de pensar
diferente. Eu pessoalmente estou tratando do assunto (coronavírus) sem
politizar, até porque política não deve se misturar com problemas de
saúde graves como esse”, disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis
Rocha (MDB). Assim como aconteceu em São Paulo e no Rio, o governo do
Distrito Federal determinou o fechamento do comércio por causa do novo
coronavírus. Nos últimos dias, o presidente divergiu até mesmo de aliados, como o
governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Médico, Caiado foi vaiado no
domingo, quando dispersou manifestantes que defendiam o governo federal e
protestavam contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). [Tem governador feliz da vida com o coronavírus, já que será uma forma de mascarar a causa do péssimo atendimento de saúde oferecido pelos seus estados.
Antes do vírus ficava dificil arranjar explicação para o CAOS na Saúde Pública de muitos estados. Praticamente todos os estados estão péssimos na qualidade da Saúde Pública, citamos Rio e DF, dois, mas são muitos.]
Conselhos
Até agora, Bolsonaro não tem ouvido auxiliares do Planalto
que o aconselham a chamar pelo menos uma videoconferência com
governadores, como fez ontem com empresários, para alinhar medidas de
combate ao coronavírus. Ele não admite ter demorado a tomar atitudes
para combater a doença nem ignorado a pandemia. Ainda ontem, porém,
Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia. “Depois da facada, não vai ser
uma gripezinha que vai me derrubar”, afirmou.
No mesmo dia que o País confirmou a 11.ª morte pelo novo coronavírus, o
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que até o fim de abril
haverá um “colapso” no sistema de saúde por causa da velocidade com que a
doença avança. O presidente Jair Bolsonaro, por outro lado, voltou a
minimizar a pandemia, tratando o vírus que já matou mais de 10 mil
pessoas no mundo como uma “gripezinha” em entrevista concedida após a
declaração do auxiliar.
O presidente e o ministro têm demonstrado um descompasso nas declarações
sobre a crise. O alerta de Mandetta foi dado durante videoconferência
com Bolsonaro e 22 empresários de vários setores. Segundo o ministro, o
“colapso” significa você ter recursos, mas não ter capacidade para
atendimento dos doentes. “Você pode ter o dinheiro, o plano de saúde,
mas simplesmente não há sistema (de saúde) para você entrar.”
“A Itália que tem sistema de primeiro mundo, mas pela característica de
ter população extremamente idosa, o tempo que ela suportou foi muito
baixo. Temos alguns Estados que nos preocupam mais: o Rio Grande do Sul
tem a maior faixa etária. Temos a Região Amazônica, que praticamente não
tem caso. Nós somos um continente”, observou o ministro. A projeção de Mandetta é de que a velocidade de propagação da doença
deve aumentar nas próximas semanas e o número de casos só começará a
cair em setembro. “A gente deve entrar em abril e iniciar a subida
rápida. Isso vai durar os meses de abril, maio, junho, quando ela vai
começar a ter uma tendência de desaceleração. O mês de julho deve
começar o platô. Em agosto, o platô vai começar a mostrar tendência de
queda e aí a queda em setembro é profunda, tal qual a de março na
China.”
O Ministério da Saúde declarou ontem estado de transmissão comunitária
em todo o Brasil, o que significa admitir não ser mais possível rastrear
qual a origem da infecção, indicando que o vírus circula entre pessoas
que não viajaram ou tiveram contato com quem esteve no exterior – só
dois Estados ainda não relataram casos.
Portaria, publicada em edição extra do Diário Oficial da União, também
oficializa recomendações para restringir a circulação de pessoas acima
de 60 anos, além de orientar o “isolamento domiciliar” de quem tiver
“sintomas respiratórios” e daqueles que moram com elas. O prazo
estabelecido é de, no máximo, 14 dias. A pasta também estendeu a pessoas
que residam no mesmo endereço de alguém com sintomas de gripe a
possibilidade de solicitar um atestado médico para justificar a ausência
no trabalho.
Diante do agravamento do cenário, Bolsonaro fez um apelo ontem por uma
maior “conscientização” da população em relação ao enfrentamento do
vírus. No entanto, ao ser questionado pelo Estado se divulgaria o
resultado dos dois exames que realizou para saber se havia contraído a
covid-19, voltou a se referir à doença como algo menor. “Depois da
facada, não vai ser uma ‘gripezinha’ que vai me derrubar”, disse o
presidente, repetindo o gesto de usar máscara cirúrgica nas suas
declarações à imprensa. Na semana passada, Bolsonaro se referiu à crise
da pandemia como uma “fantasia”.
Vítimas
A sexta-feira foi marcada pelo maior número de mortes
registradas em um mesmo dia. Foram quatro, todas em São Paulo, onde os
óbitos já chegaram a nove. As vítimas são idoso que já tinham outras
doenças quando contraíram o coronavírus. Três são homens (de 70, 80 e 93
anos) e a outra é uma mulher de 83 anos. O número de casos confirmados
também saltou de 621 casos para 904. O índice de letalidade está em
1,2%.
O Estado de S. Paulo - Emilly Behnke, Marlla Sabino