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terça-feira, 5 de maio de 2020

Bolsonaro perde, de novo - O Globo

José Casado

Ele quer envolver as Forças Armadas na sua campanha

[E os panelaços? sumiram! os ouvidos das pessoas de BEM agradecem.]

Foi um longo fim de semana para Jair Bolsonaro. Imerso na realidade paralela, à distância do país devastado por um vírus que já abateu mais de sete mil vidas, entreteve-se no seu jogo predileto: envolver as Forças Armadas na sua campanha para reeleição em 2022. É raro caso de governante empenhado num pandemônio político em plena pandemia.

[o pensamento do presidente Bolsonaro,  claramente expresso nas redes sociais no domingo, 3, sobre o papel das Forças Armadas é:
- "Bolsonaro afirmou: "Vocês sabem que o povo está conosco. As Forças Armadas, ao lado da lei, da ordem, da democracia, da liberdade e da verdade, também estão ao nosso lado."

Brasília, 04/05/2020 - As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional. 
Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País.
A liberdade de expressão é requisito fundamental de um País democrático. No entanto, qualquer agressão a profissionais de imprensa é inaceitável.
O Brasil precisa avançar. Enfrentamos uma Pandemia de consequências sanitárias e sociais ainda imprevisíveis, que requer esforço e entendimento de todos.
As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso compromisso.
Fernando Azevedo e Silva
Ministro de Estado da Defesa
Assessoria de Comunicação Social - Ascom
Ministério da Defesa
(61) 3312-4071

Em nada, absolutamente nada,  as declarações do presidente Bolsonaro divergem do contido na Nota oficial do MD.
Bolsonaro mesmo atribuindo as agressões aos jornalistas a infiltrados na manifestação, expressou ser contra a violência;
desde que assumiu o presidente da República cometeu nenhum ato, um único que seja, contra a independência e a harmonia entre os Poderes;
O presidente tem cumprido rigorosamente à Constituição Federal.
Por favor, confiram, chequem e vejam que o pensamento do Presidente da República Federativa do Brasil sobre os tópicos apontados é rigorosamente igual ao das FF AA, aliás, não poderia ser diferente já que ambos seguem a Constituição Federal.
A troca do comandante do Exército foi uma fake news que surgir e foi veementemente desmentida pelo ministro da Defesa.]
No sábado, no Palácio da Alvorada, extravasou sua ira com a suposta conspiração para impedi-lo de governar. Citou Sergio Moro, João Doria, Congresso, STF e governadores. Lula e PT estão fora da sua agenda. Bolsonaro, agora, racha a centro direita. Briga com o governador paulista, a quem vê como adversário eleitoral.

No domingo ensolarado comandou nova manifestação, financiada por empresários amigos, em produção esmerada com faixas de apelo à “intervenção militar com Bolsonaro”. A claque, outra vez, pedia aos generais um golpe em favor do ex-capitão, afastado do Exército por indisciplina, há quase quatro décadas.


O cenário verde-amarelo ficou relevante porque pesquisas mostram supremacia da imprensa sobre as redes sociais em credibilidade — efeito da pandemia. “Acabou a paciência”, disse. “As Forças Armadas também estão ao nosso lado... Chegamos no limite.”

Varou a madrugada de ontem com o plano de declarar desobediência ao Supremo. Renomearia Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. A indicação havia sido suspensa pelo STF, por conflito de interesses — é amigo de Bolsonaro, cujos filhos estão sob investigação federal. Aceitou deixar Ramagem indicar seu vice na Abin, Rolando de Souza.  [a renomeação de Ramagem seria, politicamente, desaconselhável - poderia acirrar os ânimos, por deixar a ideia de uma afronta do presidente Bolsonaro (Chefe de um dos Poderes da República) ao ministro Alexandre  de Moraes.
Mas, legalmente, seria correta, visto que a decisão do ministro suspendendo a nomeação de Alexandre Ramagem, citanto inclusive o número do decreto parcialmente suspenso, foi tornada sem efeito = revogada pelo Presidente da República.
Assim, deixou de existir qualquer decisão do STF, monocrática ou mesmo colegiada, impedindo que Ramagem fosse nomeado.]

Resignou-se, ainda, a manter o general Edson Pujol no comando do Exército. Queria trocá-lo por Luiz Eduardo Ramos, um general da ativa no Planalto. Provocaria uma cisão, alertaram, acelerando a erosão já perceptível no respaldo militar ao seu governo. Também se conformou com a nota da Defesa lembrando o papel constitucional das Forças Armadas. Foi a segunda em 15 dias. Bolsonaro perdeu, de novo. Mas quem o viu nas últimas 72 horas acha que o presidente-candidato vai continuar apostando no arriscado jogo de atração dos quartéis à política.

José Casado, jornalista - O Globo