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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Brasil na berlinda - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Com Bolsonaro remendando estragos, Doria, Huck e Moro se mostram ao mundo

Sem o presidente Jair Bolsonaro, mas com seus rivais João Doria e Luciano Huck, o Fórum Econômico Mundial deste ano, em Davos, pode jogar o Brasil na constrangedora situação de país digno de uns bons puxões de orelha por maltratar o meio ambiente, ameaçar a mídia, provocar líderes mundiais, enaltecer ditadores e, agora, ultrapassar todos os limites trazendo Hitler e o nazismo ao ambiente.[felizmente, estou sempre atento ao que é publicado na mídia e hoje aprendi que o Fórum de Davos é um SUPREMO TRIBUNAL UNIVERSAL que julga  os países que ousam sair do politicamente correto - deixando de seguir conceitos e regras estabelecidas pela agonizante esquerda.]



O puxão de orelhas deve começar com a Greta, a menina que virou personalidade internacional pela defesa da natureza, foi chamada de “pirralha” por Bolsonaro e devolveu com ironia. Uma adolescente dando lições em Davos a poderosos cheios de pretensão e ideias equivocadas, não raro perigosas. Delicioso. Ninguém diz, mas Bolsonaro teve dois bons motivos para não ir a Davos. Um é que certamente baixou uma baita insegurança depois do vexame na estreia no fórum em 2019. Se mal conseguiu falar coisa com coisa quando ainda era cercado de expectativas, imaginem agora, depois de tudo?



O segundo motivo é que Bolsonaro achou que Donald Trump não iria. Se Trump não vai, esse encontrinho de grandes líderes internacionais, megainvestidores, homens das finanças e do pensamento não serve pra nada. [tem grande prestígio, palco de grandes negociações, mas, não se destina a julgar países que lá estão como participantes e não como réus.
Basta se ver o rol dos participantes para se deduzir, sem erros, que os que pretendem julgar o Brasil e o presidente Bolsonara não encontrarão campo fértil. ] Mas a aposta foi errada: Trump anunciou que vai, mesmo acossado pelo processo de impeachment – ou até por causa dele. Assim, o governo brasileiro é representado pelo ministro Paulo Guedes, integrantes de sua equipe e os presidentes do BNDES e da Eletrobras, que têm o que oferecer e o que pedir a investidores. Só que eles querem falar em privatizações e concessões, mas muitos dos interlocutores preferem ouvir sobre algo mais abstrato, mas potente: democracia.



Assim, a presença de Doria e Huck tem uma simbologia especial. O governador leva na mala um portfólio de oportunidades e deve ter ensaiado bem o personagem moderno, de braços abertos para investimentos, que se coloca como alternativa a Bolsonaro. Alternativa também à direita e conservadora, mas menos beligerante e de mais bom senso. Nem pró-Pinochet e Goebbels nem terraplanista. Ou seja, “normal”. E Huck? Devagar, com uma viagem daqui, uma palestra dali, agora uma ida a Davos, ele vai construindo um nome, uma imagem, uma candidatura. No mínimo, vai perdendo o pânico de quem pulou de véspera da campanha de 2018, depois de aprender que o mundo de celebridades é muitíssimo diferente do mundo hostil, ácido, da política. [a presença do governador de São Paulo, pode resultar até em  captação de investimentos;
já o animador de auditório pode fazer um showzinho para ajudar a passar o tempo;
felizmente, os brasileiros começam a dissociar ser um animador de auditório de ser um bom administrador.
Bolsonaro não precisa se apresentar em todos os encontros e Moro já tem o seu lugar = próximo ministro do STF ou, o mais provável, candidato a vice-presidente da República em 2022 fazendo dobradinha com o presidente Bolsonaro.

A propósito a brilhante  recepção em Stanford ao ministro Paulo Guedes mostra que a ausência do presidente Bolsonaro, está sendo brilhantemente preenchida. Os presidentes dos Estados Unidos Donald Trump, da China Xi Jinping e Vladimir Putin da Rússia, certamente não serão alvos de perguntas inadequadas ao Fórum, que pelo ]



E que personagem Huck apresenta no teatro de Davos? O do cara que deu certo, quer dar sua contribuição para um Brasil melhor e está contra “tudo o que está aí”, principalmente a pobreza, a desigualdade, a exclusão de gerações, uma atrás da outra. Com Doria e Huck lá, um terceiro personagem vai metendo a cara cá, aprendendo a enfrentar curiosos, críticos ou inimigos ferozes e se preparando para o futuro. Pode não estar claro nem para ele mesmo, mas com o troféu de personagem mais popular do governo, mais do que o presidente, Sérgio Moro pode não estar em Davos hoje, mas está no jogo de 2022. Enquanto isso, Bolsonaro vai convivendo com as próprias fragilidades, tentando remendar o que ele mesmo esgarçou. Começa a testar a atriz Regina Duarte na Cultura, já esqueceu as denúncias contra o ministro Marcelo Álvaro Antonio, assiste de camarote à tragédia no Ministério da Educação e fecha olhos e ouvidos para as peripécias do seu homem da Comunicação. [o Ministério da Educação - que esperamos logo absorva a Secretaria de Cultura - tem sido vítima de uma sistemática campanha de sabotagem;
convenhamos que o cargo de ministro da Educação envolve a gestão, a coordenação de um Ministério, sendo corrigir provas tarefa a ser executada por especialistas no assunto.
Um lembrete:
-  ministro de Estado da Saúde sequer precisa ser médico;
-  ministro do STF não precisa ser bacharel em Direito.]


Autodeterminado exterminador das esquerdas, Bolsonaro é todo aplausos para Ernesto Araújo, Ricardo Salles e Damares Alves – como era com Roberto Goebbels Alvim – e já tem o culpado n.º 1 por todas as mazelas do governo: a mídia. Bolsonaristas tupiniquins estimulam, mas o mundo, e não só o mundo de Davos, está de olho. Huck, Doria e Moro, também. [enquanto os dois primeiros cuidam de Blsonaro e por tabela do próprio Moro, Bolsonaro e Moro cuidam de governar - ou tentar, já que o Governo do presidente Bolsonaro tem sido boicotado de todas as formas.
Graças a Deus, resta um consolo: só se chuta, quem incomoda.]

Eliane Cantanhêde,  jornalista - O Estado de S. Paulo