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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O que é um judeu? O caso Herzl - Gazeta do Povo

Bruna Frascolla - VOZES

Sionismo

 

 Theodor Herzl com sua família perfeitamente europeia. O menino não é circuncidado.| Foto: Domínio público

A escalada do conflito em Israel voltou os holofotes para o sionismo. De um lado, diz-se que o sionismo é uma coisa essencialmente maléfica; de outro, diz-se que ser contra o sionismo é o mesmo que tatuar uma suástica na testa
Arrisco dizer, porém, que a imensa maioria dos que falam sobre sionismo não fez mais que seguir as exortações e invectivas dos seus influencers prediletos, sem se dar ao trabalho de averiguar nada. 
Ninguém tem obrigação de saber sobre tudo, claro. 
Mas o mínimo que se espera é que, quando não temos a pretensão de conhecer um assunto, não subamos em palanques virtuais para pedir cabeças e dar chiliques.

Como faz parte da minha profissão escrever sobre as coisas – e como, ainda por cima, tenho interesse em história do pensamento racial por causa das semelhanças entre o neorracismo negro e o nazismo –, fiz o elementar: li O Estado Judeu (1895), de Theodor Herzl, a fim de comentá-lo aqui. Esse opúsculo é a fundação do sionismo (ou do “sionismo moderno”, como dizem os sionistas mais ousados que alegam que o sionismo está na Torá).

Theodor Herzl (1860 – 1904) nasce em Peste (metade de Budapeste), no Império Austro-Húngaro, numa família de judeus assimilados. O que é um judeu assimilado?

Bom, o judaísmo é pelo menos duas coisas ao mesmo tempo: uma religião e uma etnia
Ao contrário das demais religiões abraâmicas, o judaísmo não faz proselitismo e não está de portas abertas para a entrada de qualquer um. Nem sempre foi assim. 
Na Antiguidade tardia, os judeus converteram pelo menos dois grupos populacionais relevantes: algumas tribos nômades dos cazares, que ficavam rodando pela atual Ucrânia, Rússia e Cazaquistão, e algumas vilas etíopes. 
Os etíopes ficaram em relativo isolamento na maior parte da História, mas hoje judeus negros têm direito à cidadania israelense e, de fato, a esmagadora maioria vive lá hoje. 
Já os cazares, que deixaram de existir enquanto povo ou tribo, deixaram descendentes entre os judeus asquenazitas. Isso não quer dizer que os judeus asquenazitas não têm origem hebraica; quer dizer somente que são mestiços que têm o sangue dessa tribo extinta de língua túrquica.
De meados do século XIX a meados do século XX, floresceu o racismo científico. Por isso, o judaísmo era facilmente identificado com uma raça. À epoca de Herzl, portanto, um “judeu assimilado” era um indivíduo de raça judaica que aderiu à cultura do seu meio. 
Isso poderia incluir a conversão à cristandade, ou a adoção de um cientificismo ateu.
 
Theodor Herzl, então, era um judeu assimilado no Império Austro-Húngaro. Sua primeira língua era o alemão e ele era um fervoroso germanófilo em sua juventude: achava que a germanização progressiva faria os indivíduos de origem judaica, como ele, a evoluírem. No âmbito pessoal, tinha planos de ser um grande engenheiro. 
O motivo era o Canal de Suez, um grande um projeto utópico dos sansimonianos que acabou dando certo. 
Os sansimonianos eram engenheiros utópicos e predecessores tanto do positivismo como do marxismo. 
 Fizeram parte do movimento, inclusive, judeus sefarditas franceses, os Irmãos Pereire (um afrancesamento de Pereira), que eram banqueiros rivais dos Rothschild, também banqueiros judeus, porém asquenazitas.
 
Herzl não deu certo na engenharia e foi para as humanas. Virou jornalista, poeta e folhetinista (profissão hoje extinta, a do escritor de romances que saíam em capítulos nos jornais, como novela de TV, só que por escrito: Machado de Assis e Victor Hugo eram folhetinistas). 
Um episódio, porém, o converteu num ativista político: o Caso Dreyfus (1894 - 1906). 
Em resumo, um militar francês de origem judaica, Alfred Dreyfus, perdeu as patentes e foi condenado pela França à prisão perpétua por traição, mesmo sendo inocente.  
No fim, após grande comoção pública, Dreyfus foi inocentado e recuperou as patentes. A França é um país bem antissemita (basta comparar a boa vontade dos franceses para delatar aos nazistas gente de sangue judaico); assim, restou claro que o preconceito contra a origem racial de Dreyfus foi o motivo da condenação.
 
Para piorar, o demagogo Karl Lueger, na Áustria-Hungria natal de Herzl, arrastava multidões com sua pauta antissemita. Foi um modelo para o jovem austríaco Adolf Hitler. 
Assim, Theodor Herzl viu frustrada a sua ideia de viver reconhecido como um germânico pleno, cultor da língua. Daí resultou a sua ideia do Estado Judeu. O Caso Dreyfus começa em 1894; em 1895 sai Der Judenstaat, ou O Estado Judeu.

Mas o que é um judeu? Essa é uma questão com a qual Herzl se bate no seu opúsculo. Herzl decididamente não era um religioso: não se deu nem mesmo ao trabalho de circuncidar o filho. No entanto, a “fé” é apenas a segunda das duas coisas apontadas que unem o povo judeu, e aparece como fator de união só do meio para o fim do escrito. A primeira dela é o antissemitismo. Diz ele: “Nós somos um povo: nossos inimigos nos fizeram um só sem o nosso consentimento, como sempre acontece na História. Nós nos unimos no sofrimento, e no sofrimento descobrimos, de repente, a nossa força. Sim, nós temos a força para construir um Estado; na verdade, um Estado Modelo.” (Eis o alemão para quem quiser comparar: “Wir sind ein Volk – der Feind macht uns ohne unseren Willen dazu, wie das immer in der Geschichte so war. In der Bedrängniss stehen wir zusammen und da entdecken wir plötzlich unsere Kraft. Ja, wir haben die Kraft, einen Staat, und zwar einen Musterstaat zu bilden.” Basta ir no Wikisource, pois o texto original está em domínio público. Os direitos das traduções são outra história.)

Abstraída a questão religiosa, o que é um judeu? Para Herzl, um judeu é aquele que é perseguido por ser judeu. Assim, uma consequência óbvia tirada pelos contemporâneos de Herzl é que ele fomentaria o antissemitismo para fazer prosperar o seu projeto político. Do mesmo jeito que os líderes do movimento negro precisam aumentar o racismo para provar que o seu próprio trabalho é fundamental. A pretensão de falar em nome da coletividade dos judeus também lembra o identitarismo. Mas o que me salta às vistas nesse trecho é a possibilidade de criar uma identidade baseada na opressão social, em vez de numa realidade concreta. Transfira isso para a definição de “mulher” e pense no que pode dar.

Herzl se defende das acusações de que ele precisa criar antissemitismo onde não há, ou aumentar onde já há. A sua defesa consiste em atacar a “assimilação”, dizendo ser ela impossível, exceto por meio dos casamentos mistos. Só por meio da miscigenação os judeus poderiam ser assimilados: “A assimilação, pela qual compreendo não só a mera aparência exterior das roupas, dos estilos de vida, dos costumes e da língua, mas, em vez disso, uma identificação em um sentido e um tipo... A assimilação generalizada dos judeus só poderia ser feita por meio dos casamentos mistos.” (Em alemão, procurar pelo parágrafo que começa com “Die Assimilirung, worunter…)

Resta perguntar, então, o porquê. Será o judaísmo considerado uma raça também por Herzl? Uma raça associada a um modo interno de sentir? A biologia molda o nosso sentido interno, de modo que acabar com o judaísmo só seria possível por meio de uma mudança biológica? Outra vez, isso lembra o cartaz dos racialistas na Avenida Paulista: “Miscigenação é genocídio.” E os tribunais de heteroidentificação racial também exigem uma conformação psicológica (que nada mais é que a adesão ao movimento) para reconhecer alguém como negro.

Seja como for, uma coisa relevante que transparece em Herzl é que as comunidades de origem judaica àquela altura mantinham o hábito de casar entre si, de modo que a “raça” permaneceria sem muita mestiçagem. (O exemplo que ele dá é o de um "casamento misto" reconhecido pela Hungria no qual uma judia se casava com um "judeu batizado".) A relevância do caráter racial para o debate sionista não pode ser diminuída, e o melhor exemplo disso é a politização que a questão da remotíssima miscigenação com os cazares (lá na antiguidade…) causou entre judeus e não-judeus no século XX, com a publicação do livro de Arthur Koestler, um judeu asquenazita que queria provar que não tinha nada a ver com semitas.

Mas bom, a maior diferença entre os negros e os judeus, no que concerne a essa questão, é que podemos sem pestanejar dizer o que é um negro: um negro é alguém de pele negra. 
Não há nada de cultural envolvido nessa questão; negros podem ser judeus, muçulmanos, ateus, brasileiros, congoleses, etíopes... 
Não faz sentido perguntar se um negro é assimilado; faz menos sentido ainda um negro dizer que “se descobriu” negro. Por outro lado, as discussões sobre assimilação eram habituais na Europa de Herzl; e é possível alguém se descobrir judeu após analisar o próprio histórico familiar. 
Afinal, o que é um judeu? Herzl não dá uma definição, nem toca nos critérios pelos quais alguém é reconhecido ou se reconhece como judeu.

Respondamos, então. Considerando a biologia algo apenas acidental, podemos com facilidade apontar o critério primário segundo o qual alguém é apontado como judeu: ter nascido de um ventre judaico. Ou seja, o judeu é o filho da judia (e não necessariamente do judeu). Judeu nasce judeu, não se torna. E como a própria judia pode ser ateia ou convertida a outra religião, resulta que esse critério cultural acaba redundando na matrilinearidade pura e simples. Assim, das três religiões abraâmicas, só uma tem porta de saída: se no islamismo podem te matar caso você queira sair, no judaísmo você continua sendo considerado judeu mesmo que nunca tenha sido nem sequer circuncidado.

O leitor deve saber da “conversão” ao judaísmo de figuras ilustres, tais como a filha de Trump, que se casou com um judeu e hoje é considerada judia. A mãe da israelense Shani Louk é uma alemã de origem católica que fez o mesmo trajeto da Ivanka Trump: casou com um judeu e foi aceita como judia. Não posso apontar fontes, porque meu conhecimento do assunto é oral e o judaísmo não tem Papa, de modo que não é fácil apontar uma doutrina oficial. De todo modo, explico o que eu aprendi oralmente: não é possível se tornar judeu; o que é possível é a autoridade religiosa reconhecer que você é uma alma judaica que foi, digamos assim, extraviada para um útero não-judaico.

Sei disso porque um familiar mestiço, judeu segundo critérios étnicos, resolveu virar judeu religioso e quis que o lado gentio da família aderisse à religião judaica junto com ele. De minha parte, achei a religião mais parecida com um transtorno obsessivo compulsivo generalizado, e não poderia haver proposta menos tentadora. E por aí eu entendi também por que tem tanto judeu ateu: dá trabalho demais ser religioso e é muito aflitivo, pois envolve passar o dia inteiro pensando nisso. A religião inclui até agradecimento a Hashem quando se vai ao banheiro. E Hashem é o modo de se referir a Deus, cujo nome não deve ser pronunciado ou escrito à toa.

Em seu opúsculo, Herzl menciona a acusação de que ele fortaleceria o antissemitismo justamente quando o processo de assimilação estaria quase concluído. 
 De fato, muitos europeus de origem judaica (como se costumava dizer então) haviam se convertido a diversas religiões cristas, ou haviam até nascido num lar cristão novo. 
Karl Popper, austro-húngaro, nasceu num lar cristão novo luterano; 
Edith Stein se converteu ao catolicismo, virou freira e foi canonizada; Jacques Maritain, filósofo católico francês, casou-se com uma judia que se converteu ao catolicismo junto com a irmã; 
Karl Polanyi, austro-húngaro, nasceu num lar cristão novo calvinista; 
Aurel Kolnai, austro-húngaro, converteu-se ao catolicismo… 
Que eu saiba, não existia isso de ser reconhecida como alma judaica para se casar com um judeu; ou, se havia, não havia interesse. A tendência parecia ser a de o grosso da tribo judaica se dissolver na cristandade (como as tribos europeias fizeram antes), sobrando só os ortodoxos, cuja identidade estaria fundada na observância à religião judaica… Até aparecer o sionismo. Aí ficamos fazendo cálculos de matrilinearidade, ou recorrendo a tribunais de heteroidentificação de alma, para decidir quem é judeu.

Porém, uma fé que concorria com as confissões cristãs era a fé laica na ciência, o cientificismo que tanto atraíra o jovem Herzl à engenharia. E o que vemos no seu esboço de como deveria ser o Estado Judeu é a manifestação da fé na Ciência. Que fica para o próximo texto.

domingo, 2 de julho de 2023

Uma estrada perigosa - Percival Puggina

         Antigamente, editavam-se almanaques com intuito pedagógico destinados ao público infantil.  
Sempre incluíam afazeres, como o clássico “encontrar a diferença” entre duas imagens aparentemente idênticas. 
Outro, bem mais fácil, era o exercício de “juntar os pontinhos”. Enquanto a criança ia ligando ponto a ponto, desenhava um objeto qualquer. Na maior parte dos casos era desnecessário riscar para antever o que ali estava representado.

Penso que o brasileiro está nessa situação, juntando os pontinhos de um projeto que lhe impuseram, não se requerendo muito talento para saber que o desenho não é de boa inspiração.

Nas ditaduras e nos regimes totalitárioscomunismo, fascismo e nazismo – quem está no poder diz fazer com a melhor das intenções o mal que deveras faz. 
Hitler organizou o estado nazista para “defender a ordem, o Direito e a Liberdade”. 
Stalin foi um monstro e teve seus crimes revelados por Krushchev em 1956. Contudo, em anos bem recentes, comédias e obras sérias sobre seus crimes foram censuradas sob a alegação de “depreciarem a luta contra o fascismo”. 
Afinal, alegam os censores russos, sob Stalin a URSS venceu a guerra contra Hitler no front oriental. O elogio em boca própria, vitupério da censura, é a falsa nobreza de suas intenções.  Em 2018, a deputada russa e ex-atriz Yelena Drakova, conclamou: “Nós devemos começar a viver com leis dos tempos de guerra”.

Juntando os pontinhos do desenho que tenho diante dos olhos, observo que os ministros de nossas Cortes, como escrevi outro dia, iniciam suas manifestações, decisões e votos, apontando como bases supostas guerras institucionais terrorismo, golpismo, conspirações, fake news.  Bem ao gosto da deputada Yelena. São generais de uma guerra particular contra inimigos indefesos. E por aí vão novos pontinhos.

O presidente da República pontua a parte que lhe cabe com a calorosa e generosa recepção ao camarada Maduro e a proclamação do caráter relativo da democracia.  
Ora, tudo que é relativo atrela essa condição a algo que lhe é absoluto. 
É fácil entender o motivo pelo qual nenhum jornalista formulou diretamente a Lula a pergunta tão óbvia quanto urgente sobre qual a natureza desse poderoso absoluto. 
E vão os pontos desenhando a estrada.
 
Foi por coincidir com esse desenho que o Foro de São Paulo se reuniu em Brasília. 
Foi por isso que a presidente da sessão de abertura tanto agradeceu a Lula e que Lula declarou, entre alegres risos e aplausos, que não se importa de ser identificado como comunista. Fica bem enquadrado no desenho haver ele dito nessa manifestação oficial e formal aos camaradas presentes: “Aqui no Brasil, nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo. Ou seja, aqui nós enfrentamos o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater”.  Vá juntando os pontinhos aí, caro leitor.

Novos pontos chegam e continuarão chegando cotidianamente, desenhando a perigosa estrada por onde somos conduzidos. Ponto a ponto, a esquerda festeja, e se diverte, e ressoa como o coral de Brecht na peça “A medida punitiva”. Enquanto junto pontos, leio o “Discurso da servidão voluntária”, obra de Etienne de la Boétie (1554). Com um trecho dele, encerro estas linhas e seus pontos.

Mas ó, bom Deus! Que fenômeno estranho é esse? Que nome devemos dar a ele? Qual a natureza desse infortúnio? Qual é o vício, ou melhor, qual a degradação? Ver uma infinita multidão não apenas obedecendo, mas levada ao servilismo? Não governada, mas tiranizada?”.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

terça-feira, 28 de março de 2023

Agora ser feminista é ser de ‘extrema direita’? - Revista Oeste

Joanna Williams, da Spiked

De acordo com o grupo Hope Not Hate, defender os direitos das mulheres torna você um extremista perigoso

 Ativistas dos direitos trans | Foto: Foto: Simon Chapman/LNP/Shutterstock

Ativistas dos direitos trans | Foto: Foto: Simon Chapman/LNP/Shutterstock 

Diga “extremismo de direita”, e a maioria das pessoas vai pensar em fascismo. Quem sabe em Hitler, nazismo e suásticas. 
Ou, mais recentemente, no político britânico Enoch Powell e seu infame discurso “Rivers of blood” (“Rios de sangue”, em tradução livre). 
Ou ainda na Frente Nacional britânica dos anos 1970. É bem menos provável virem à mente feministas defendendo os direitos das mulheres. Ou pais preocupados que tenham objeções à sexualização de crianças e a bibliotecas fazendo apresentações de drag queens.

Incrivelmente, ambos os grupos são mencionados em um novo relatório do grupo Hope Not Hate (“Esperança, Não Ódio”). “State of hate 2023: rhetoric, racism and resentment” — ou “Estado do ódio 2023: retórica, racismo e ressentimento”, em tradução livre — é divulgado como “o guia mais abrangente e analítico sobre a extrema direita na Inglaterra hoje”. Abrangente é uma forma de definir o texto. Ele detalha tudo e todo mundo de quem seus autores não gostam, de apresentadores da GB News à feminista crítica da teoria de gênero Kellie-Jay Keen (também conhecida como Posie Parker). O relatório é menos uma pesquisa e mais um chilique muito longo.

O Hope Not Hate destaca protestos contra o projeto Drag Queen Story Hour (Hora da História da Drag Queen, em tradução livre) como um exemplo de “agitação da extrema direita”. 
O relatório enganosamente descreve esses eventos de drag queens apenas como “contações de história para crianças em bibliotecas públicas”. Em seguida, o texto rotula como problemáticas as pessoas que perguntam por que homens com seios falsos e meias arrastão estão tão interessados em ler histórias para crianças pequenas. “A extrema direita enxerga os direitos trans como um desafio fundamental para sua crença nos papéis de gênero tradicionais e nas estruturas familiares”, afirma o Hope Not Hate. Nunca fica claro qual é a relação entre extrema direita e não querer sexualizar as crianças ou defender os valores familiares tradicionais. Se você gritar “extrema direita”, parece que não é preciso explicar mais nada.
O Hope Not Hate afirma que a retórica antitrans está se tornando “cada vez mais escancarada e agressiva na extrema direita”. E, claro, o que o grupo descreve como “retórica antitrans” pode ser qualquer coisa, desde errar o gênero de alguém até defender os direitos das mulheres com base no sexo. 
 É aqui que Kellie-Jay Keen é mencionada, como uma “ativista antitrans” que encontra “cada vez mais apoio nas opiniões da extrema direita e se combina com elas”. Seu famoso pôster “Woman: adult human female” (“Mulher: adulta humana”) e seus eventos “Let women speak” (“Deixe as mulheres falarem”) há tempo atraem ofensas de ativistas trans. “State of hate” confirma o status de Keen como uma “voz de liderança no movimento antitrans”.

Quando destacar a definição do dicionário para “mulher” é o suficiente para uma pessoa ser associada à “extrema direita”, realmente estamos em apuros. O feminismo foi uma das grandes causas das progressistas do século anterior. As antigas campanhas por igualdade econômica, social e política entre os sexos ainda são corretamente celebradas hoje em dia. No entanto, as pessoas que quiserem defender os direitos baseados no sexo, direitos pelos quais as feministas lutaram tão arduamente”, serão menosprezadas como transfóbicas e preconceituosas.

A linguagem muda, mas o sentimento continua o mesmo. Pelo jeito, mulheres que exigem direitos baseados no sexo devem se calar e acatar os homens

Destacar Kellie-Jay Keen também a transforma num alvo. Já sabemos que Keen recebeu uma visita da polícia e foi assediada por manifestantes, em consequência de seu apreço pelos direitos das mulheres. Ao chamar atenção para ela mais uma vez, o Hope Not Hate está contribuindo com sua demonização irrefreada.

Infelizmente, o grupo não é o único que rotula Keen como uma ativista quase de extrema direita. Algumas feministas — até mesmo críticas de teoria de gênero — fizeram o mesmo. Já em 2018, uma organização feminista acusou Keen de racismo, porque ela criticou a prática do uso de véu das jovens muçulmanas. Uma jornalista feminista chegou a chamar Keen de “Marine Le Pen de Brechó” e descreveu uma manifestação organizada por ela como um evento “cooptado por nacionalistas, racistas e misóginos”.

Essas feministas esnobes não fazem ideia de como organizações políticas funcionam. Se você organiza um protesto, não é possível escolher a dedo quem aparece, quem filma a sua fala ou quem compartilha trechos nas redes sociais. Se você quer “deixar as mulheres falarem”, não se pode realizar um exame prévio de pureza política. De forma similar, o Hope Not Hate tenta condenar Keen, ao chamar atenção para elementos secundários que participaram ou transmitiram alguns de seus atos. É uma tática preguiçosa de culpa por associação.

Com toda a conversa ridícula de Kellie-Jay Keen estar de alguma forma aliada à “extrema direita”, na verdade os ativistas são os verdadeiros reacionários aqui. São eles que estão revertendo as conquistas do feminismo e declarando guerra aos direitos das mulheres.

Um século atrás, dizia-se para as mulheres que não era feminino exigir o direito de votar e de frequentar a universidade. As feministas da atualidade ouvem de figuras como o grupo Hope Not Hate que é um comportamento de extrema direita não aceitar homens de vestido em provadores, prisões e alas femininas de hospital. Não feminino, não natural, de extrema direita… A linguagem muda, mas o sentimento continua o mesmo. Pelo jeito, mulheres que exigem direitos baseados no sexo devem se calar e acatar os homens.

O que se torna mais aparente a cada dia é como o ativismo woke na verdade é retrógrado. As mulheres não podem ser detidas em sua defesa por direitos por alarmistas sexistas e politizados. 

Leia também “A arrogante cruzada contra a misoginia”

Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won (2022)

 Joanna Williams, da Spiked, colunista - Revista Oeste


domingo, 19 de março de 2023

Deputado do Psol pede cancelamento de show por suposta apologia ao nazismo

 [Deputado do Psol  pede cancelamento de show por suposta apologia ao nazismo; 
agora, após essa demonstração explícita de tentativa de 'censura prévia', só falta para esse deputado aparecer, o que mais deseja, uma MELANCIA.]

 Segundo o parlamentar, banda norueguesa Mayhem tem "histórico de cometimento de atos em defesa da ideologia nazista, por meio da utilização de trajes, letras e símbolos alusivos ao regime de extrema direita". Acionou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil para que as instituições "atuem de forma preventiva, proibindo a apresentação em Brasília'. "Nossa cidade não pode ser palco de novas demonstrações de intolerância de qualquer natureza, o que justifica a atuação preventiva do Ministério Público e da Polícia Civil no monitoramento da referida banda. Mais que isso, devido às recorrentes práticas criminosas cometidas pelos integrantes da banda, principalmente sobre os palcos, há indícios suficientes de que sejam reproduzidas em seu show em Brasília", disse o deputado.

(...)

O parlamentar disse ainda que a banda já proferiu "falas de cunho racista e LGBTIfóbicas. Em nota, a assessoria da banda informou ao Correio que o grupo não tolera nenhum tipo de discriminação ou qualquer tipo crime de ódio. Confira a nota na integra: 

''O Mayhem é uma entidade apolítica com milhares de fãs em todo o mundo, de todos os tipos de origens e com todos os tipos de crenças, ideias e preferências, e todos os fãs do Mayhem são tratados com o mesmo respeito pela banda. Nem a banda nem nenhum de seus membros toleram racismo, nazismo, homofobia ou qualquer outro "crime de ódio". Embora algumas declarações contrárias tenham circulado no passado por membros individuais, isso está longe no passado e também nunca foi uma forma de postura oficial da banda.Cada pessoa neste mundo vive e tem que defender seus atos, ações e ideias e é julgada por eles; qualquer forma de julgamento baseado apenas no histórico de uma pessoa, cor da pele, preferência sexual ou qualquer outra coisa sobre a qual ela não possa ter controle é um ato de fraqueza e é rejeitado pela banda.

Qualquer fã do Mayhem é bem-vindo a assistir a seus shows, independentemente de sua formação, crenças ou orientação, desde que não incomode os outros. Mayhem é maximizar seu potencial como ser humano e libertar sua mente de pensamentos e ideias opressivas. Qualquer um ou qualquer coisa que esteja segurando o indivíduo é o verdadeiro inimigo. Construções mundanas e questões sociais estão abaixo da liberdade da mente.

Infelizmente, devido aos atos fascistas de indivíduos ignorantes tentando colocar um rótulo falso na banda, agora existem centenas de fãs desapontados do Mayhem em Porto Alegre. É profundamente perturbador e preocupante que esse tipo de opressão possa ocorrer e causar o cancelamento de eventos culturais. Só se pode temer o que vem a seguir se as pessoas não se levantarem contra esse tipo de ato".

Cidades - Correio Braziliense


quarta-feira, 15 de março de 2023

É preciso esfregar a constituição na cara de quem censura - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - VOZES

É preciso esfregar a constituição na cara de quem censura e na cara de quem se omite da obrigação de denunciar o desrespeito

A Nicarágua de Daniel Ortega acaba de suspender relações com o Vaticano, porque o papa comparou o regime de Ortega com o comunismo soviético e o nazismo de Hitler. "Ditaduras grosseiras" — postou o papa Francisco, sugerindo "desequilíbrio" de Ortega. Imediatamente, o ditador mandou fechar a Nunciatura Apostólica. A nota oficial nicaraguense anunciando a suspensão usou palavras conhecidas por aqui: "Terrorismo golpista que divulga notícias falsas". Na escalada totalitária, a primeira liberdade que Ortega suprimiu foi a de expressão, antes de tirar as outras liberdades. Assim fizeram Stálin e Hitler. Assim fazem todos os regimes totalitários.

Os nossos constituintes de 1988, marcados pelo AI-5, trataram de preservar a liberdade de expressão. Na cláusula pétrea que é o artigo 5º, está o inciso IV, que estabelece: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". O art. 220, que trata da comunicação social, garante que "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão, e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição…". A seguir, o §2º veda qualquer tipo de censura política, ideológica e artística.

Por que insistir com esse óbvio, que é o respeito à Constituição? Porque ela não está sendo respeitada. 
É preciso esfregar a Constituição na cara de quem censura e na cara de quem se omite da obrigação de denunciar o desrespeito. 
Teríamos um regime de liberdade de expressão portanto democrático se a Constituição fosse praticada, mas muita gente defende sua própria liberdade de expressão, mas não a de quem discordam. 
 
Carregam ideias totalitárias, pelas quais as pessoas são livres para pensar, desde que pensem como se lhes impõem
São censores a policiar seus concidadãos. Assim agem Hitler, Stálin e totalitários políticos e religiosos de todos os tempos. Isso já foi questão de vida ou morte. 
Durante a pandemia, censuraram informações que poderiam salvar milhares de vidas.
 
No nosso país grassam modismos disfarçados de libertadores, que na realidade são liberticidas. Quem já leu o 1984 de George Orwell identifica bem essa ditadura que começa com o controle da expressão do pensamento e pretende desembocar em outra Revolução dos Bichos. 
Já existe um virtual Ministério do Pensamento, impondo e criando palavras e conceitos, ainda que contrariem a lógica e o conhecimento científico. 
 A justiça e o mérito são sacrificados ante verdades inventadas — e quem expõe o ridículo dessas teses é denunciado como infectado por alguma neofobia
As pessoas estão sendo de tal forma patrulhadas que têm medo de resistir e mostrar que não querem ser enganadas, se encolhem com medo da opressão. 
É um processo em que a opinião está sendo criminalizada para formar seres acríticos e inermes. Até quem faz a propaganda disso acabará sem liberdade para decidir como a propaganda. Quando esse acólito da seita perceber que foi usado, já será tarde; o regime já passou da fase primária de dominar a liberdade de expressão, e já terá controlado as liberdades de ir e vir, de se relacionar e, sobretudo, de pensar. 
Então vai ser tarde, já não serão livres, porque seus neurônios já terão sido algemados.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
 
 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Comunismo, fascismo e nazismo - Percival Puggina

O fascismo nasceu em 1919 e assumiu o poder na Itália em 1922. Desde então, por ser uma ideologia anticomunista, os comunistas passaram a chamar os não comunistas de fascistas. Esse xingamento, então, já rola há um século e está incorporado e automatizado no linguajar da esquerda.

As palavras, na expressão oral de gente séria, têm o significado que lhes é próprio. Principalmente se o vocábulo incorpora uma definição. Não posso chamar um piano de tecladinho nem um tecladinho de piano. Por outro lado, para gente confiável, afirmações feitas com palavras expressam ideias em relação às quais, quem fala, assegura consistência suficiente para não voltar atrás antes de sólida refutação. Essas pessoas não fazem como Lula que tem um discurso em cada ambiente, nem imputam aos outros infâmias que não lhes correspondem.

Ter consciência disso é importante para que cada um de nós, no íntimo, estabeleça padrões de credibilidade a quem emerja na liderança da sociedade. Não se trata de buscar o discurso mais empolgante, mas de certificar-se da consistência e da perseverança em relação ao que seja dito.

Recentemente, alguém escreveu que Putin não está apenas defendendo seu país, mas enfrentando uma guerra contra os fascistas. Pronto! Podemos discutir por meses a fio as razões de lado a lado. O que não é aceitável é chamar “fascista” os principais países da OTAN que não concedem a Putin razões suficientes para destruir a Ucrânia.

O pior dessa história é que se a Rússia de Putin entrar em guerra contra a China de Xi Jinping, essas mesmas pessoas estarão chamando Putin de fascista porque o líder chinês é bem mais comunista do que o russo. Passo seguinte, se, um dia, China e Coreia do Norte se desentenderem, como nada é mais comunista que Kim Jong-un, a China será o lado fascista para esse dicionário boquirroto.

Resguarde-se desse tipo de gente. Desconfie de todo discurso que tenha mais adjetivos do que substantivos. E saiba: comunismo, fascismo e nazismo são tão danosos que as diferenças entre eles chegam a ser sutis diante de seus colossais malefícios, mesmo no plano meramente ideológico. Na prática, o nazismo acabou, o fascismo acabou, mas o comunismo, desastradamente, persiste.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

terça-feira, 31 de maio de 2022

O ódio permitido - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Acordei hoje cedo com a recomendação de um texto por um parente, que não é muito interessado em política, mas rejeita o bolsonarismo. Dizia que a leitura é obrigatória, imperdível. Trata-se do texto de Fersen Lambranho publicado no Brazil Journal, "O ódio que nos separa - e a resposta que lhe cabe". Li o texto, que tem pontos até razoáveis, mas algo me incomodou bastante ali.

Explico. O autor fala do nazismo, do Holocausto, do ovo da serpente, do clima de intolerância, de banalização do mal, e tudo isso num contexto que parece pregar a tolerância e paz, o diálogo e o debate sobre ideias, em vez de um tribalismo que demoniza o "outro". Até aí, tudo bem. Mas o que está fora da ordem, então? O timing do texto, e o claro intuito, que uma pessoa mais atenta não deixaria passar batido.

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Fersen é da escola Garantia, do Jorge Paulo Lemann. Ele fala da pandemia, e ali já salta aos olhos o real alvo de seu ataque disfarçado de moderação:

Invocar o Holocausto para chegar na reação que alguns tiveram nessa pandemia parece puro apelo retórico, para dizer o mínimo. Na pandemia, talvez o autor devesse ter ficado chocado é com a facilidade com que tanta gente aceitou tiranias em nome da ciência, enquanto demonizavam os céticos como se fossem "terraplanistas" ou "genocidas". Transeuntes arrastados em praça pública, banhistas presos, mulheres espancadas por policiais, pequenos comerciantes impossibilitados de trabalhar, vacina experimental obrigatória até em crianças, e tudo isso para "salvar vidas". Quem condenou essa postura chinesa era do mal?

Fersen fala do totalitarismo, mas não parece compreender que a maior ameaça totalitária hoje vem justamente do progressismo woke, da agenda globalista, da esquerda. Ele fala em "acolher" o próximo, mas não parece se dar conta de que essa elite "inteligentinha" resolveu transformar em pária social qualquer conservador que não reza na mesma cartilha do politicamente correto:

Para ser justo com o autor, ele fala que o discurso do ódio pode vir dos dois lados. Mas mesmo esse relativismo é pouco convincente. Ora, a turma petista criou o "nós contra eles" em nosso país, e era apenas natural que houvesse uma reação. O tribalismo à direita é uma reposta a isso. Imperfeita, um tanto raivosa às vezes, mas necessária. Especialmente quando lembramos que a turma "moderada" e "civilizada" passa pano muitas vezes para o "ódio do bem" enquanto repudia os "broncos" de direita. É a típica postura tucana, ou do "liberal purinho".

Nossa elite adota a visão estética de mundo, e dá mais peso à forma do que ao conteúdo. Um radical picareta com fala mansa tem mais chance de sucesso na sedução dessa turma do que um tiozão do churrasco sincero e honesto. Levei meu filho para ver "The Bad Guys" este fim de semana, e a animação da DreamWorks mostra bem isso (com spoiler): o porquinho pacifista, uma espécie de Gandhi que rivalizava só com a Madre Teresa de Calcutá, era na verdade o pior de todos os vilões! Cuidado com as aparências...

A preocupação com o suposto nazismo, que é o ponto central do texto de Fersen, existe apenas como histeria da elite tucana, enquanto a ameaça de volta da quadrilha petista é bem real. O autor simula uma incrível bondade, disposição ao diálogo, uma postura solidária, mas conclui que 2022 precisa ser a "festa da democracia", o que remete exatamente ao discurso de toda a elite tucana e do "sistema" que, em nome da suposta defesa da democracia contra uma terrível ameaça nazista, justifica todo tipo de absurdo.

Ou será que Fersen, ao falar em solidariedade e democracia, tem em mente condenar um evento que seu colega Lemann fez em Boston, em que a deputada Tabata Amaral, sua cria política, levantou a bola para o ministro Barroso se colocar como o bem e a democracia incorporados nele, lutando contra o mal, Bolsonaro?  
Isso sem dizer que o próprio Lemann afirmou que teremos outro presidente no Brasil ano que vem!  
É essa a "festa da democracia" que queremos? Uma democracia de gabinete, sem povo?

Será que Fersen tem duras críticas aos abusos supremos, a ministro que manda prender jornalista por crime de opinião, deputado com imunidade por se exceder em falas, abre inquérito ilegal contra bolsonaristas, inclui o próprio presidente em vários, um deles por quebrar o sigilo de um inquérito da Polícia Federal que nem era sigiloso, e ainda fala que a "extrema direita" tomou conta das redes sociais e o poder judiciário precisa reagir?

Sobre a cultura do cancelamento, que Fersen pede paciência e generosidade para lidarmos com seus efeitos, será que ele tem em mente os chacais e hienas que degolam cabeças virtuais de quem não se ajoelha sobre o milho woke? Será que ele tem em mente os "anões dorminhocos" que tentam destruir empresas e pessoas que não repetem as cartilhas esquerdistas?

Enfim, o texto em si tem pontos interessantes, mas quando analisamos o conjunto da obra, o timing, o perfil, o tema escolhido, fica claro o verdadeiro objetivo. Fersen vende tolerância, mas alfineta bolsonaristas. Fala em ameaça nazista, mas ignora a real ameaça golpista de um sistema podre que soltou e tornou elegível o ex-presidente ladrão socialista, enquanto tenta derrubar o presidente eleito - aquele que tem defendido a liberdade individual e a Constituição.

Por fim, o autor quer a festa da democracia, mas parece nem notar que a democracia tem sido atacada desde dentro, não por Bolsonaro, mas por todos esses da elite que primeiro rotulam o presidente como nazista, para depois justificar todo tipo de abuso de poder contra ele. Afinal, se é para impedir a volta de Hitler, vale tudo, não? 
Quem se importa com um ou outro inquérito ilegal?
 
Vamos lutar contra o ódio que nos separa, diz Fersen. Mas ele ignora que há o tal "ódio do bem", o ódio permitido, pois disfarçado de luta contra a inexistente ameaça do nazismo. Basta ver o caso da chef argentina, que chamou todo apoiador de Bolsonaro de "escroto ou burro", o que foi tomado pela mídia como uma singela "crítica", enquanto a reação natural de revolta de quem foi atingido assim foi chamada de "ataque"
A imprensa saiu em defesa da moça. Bolsonaristas podem ser tratados como párias sociais, segundo a elite tucana. Eles representam um ovo da serpente, não é mesmo?
 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

quinta-feira, 3 de março de 2022

‘O pior ainda está por vir’ na guerra da Ucrânia, conclui Macron após conversa com Putin

Presidente francês deve oficializar candidatura à reeleição nesta quinta-feira, sem o trunfo diplomático que esperava quando decidiu liderar campanha por saída negociada

Muito ativo na parte diplomática em busca de uma solução negociada entre Rússia e Ucrânia desde antes da guerra eclodir, o presidente da França, Emmanuel Macron, conversou com os presidentes dos dois países nesta quinta-feira.

NEGOCIAÇÕES: Nova rodada reúne ucranianos e russos

Macron chegou a uma conclusão sombria após a conversa com Vladimir Putin, da Rússia: “o pior ainda está por vir” na guerra em curso. Segundo o comunicado do Palácio do Eliseu, em uma conversa que durou uma hora e meia, Putin afirmou que a operação russa está prosseguindo "de acordo com os planos" e pode "se intensificar" se os ucranianos não aceitarem suas condições.“A previsão do presidente [Macron] é que o pior está por vir, tendo em conta o que lhe disse o presidente Putin”, disse o Eliseu.

O Kremlin disse que a lista de demandas apresentadas à Ucrânia pode vir a se expandir caso as suas exigências não sejam atendidas.

De acordo com a Presidência russa, Putin afirmou que continuará, "sem concessões", sua ofensiva contra os "nacionalistas" na Ucrânia, país invadido por Moscou em 24 de fevereiro.  Em uma conversa descrita como "franca" pelo governo de Moscou, Putin expressou seu "desacordo" com o discurso feito no dia anterior por seu homólogo francês sobre o conflito na Ucrânia. Macron alegou ser uma "mentira" que a Rússia estava lutando contra ou nazismo na Ucrânia.

Sobre as conversas entre uma delegação ucraniana e os russos na Bielorrússia nesta quinta-feira, Putin disse a Macron que seu país poderá colocar na mesa uma "desmilitarização e uma posição neutra para a Ucrânia, para que não haja ameaças de qualquer tipo que afetem a Rússia vindas deste território", segundo o Kremlin.

Segundo o primeiro-ministro francês, Jean Castex, a conversa ocorreu "a pedido do presidente Putin".

Fuga em massa:  Filas, choro e a esperança de fugir da Ucrânia: mulheres, crianças e idosos se amontoam na estação ferroviária de Lviv

Macron deve oficializar sua candidatura à reeleição nas eleições presidenciais de abril nesta quinta-feira. Embora esteja há meses em campanha, o presidente postergou a oficialização, em parte devido ao conflito, mesmo antes de ele se tornar armado.

Segundo a maioria dos analistas, Macron desejava evitar a guerra também para poder usar isso em sua campanha. A invasão russa na quinta-feira da semana passada frustrou seus planos. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, é judeu e esta semana pediu aos membros da comunidade ao redor do mundo que não "ficassem em silêncio" enquanto seu país sofre um grande ataque. [insistimos na necessidade de alguém orientar o presidente ucraniano que guerras são ganhas com soldados e armas - protestos, gritaria, manifestações não ganham guerras. Qual a vantagem para os ucranianos uma porção de franceses e outras nacionalidades se reunirem me Paris para uma manifestação a favor da Ucrânia e contra a Rússia? uma vida, ainda que seja uma só, será poupada?

Ainda não há comunicado sobre a conversa entre Macron e Zelesnky. As declarações do Eliseu foram divulgadas pouco antes da  segunda rodada de negociações entre delegações da Rússia e da Ucrânia em busca de um acordo, marcadas para começar às 11h de Brasília.

Mundo - O Globo

 

 


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Invasão de igreja é um ato antidemocrático, só o STF não vê - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo - VOZES

Se há uma coisa que não falta neste país hoje em dia é rigor extremado em “defesa da democracia”obviamente, só nos casos em que se estima que a democracia está sendo colocada em risco pela direita
e seus derivados. [neste caso, vale até desrespeitar direitos assegurados pela Constituição Federal e a própria democracia, desde que seja para punir os 'criminosos' = direita.
Definindo de outra forma: Viola-se princípios constitucionais e democráticos, a pretexto de preservá-los.]
Só o ministro Alexandre Moraes, pessoalmente, mantém vivo e soltando fogo para todo lado um “Inquérito Perpétuo Para Salvar o Brasil de Atos Antidemocráticos” já prendeu gente por conta disso, mandou o presidente da República depor numa delegacia de polícia [ordem não cumprida e nada, absolutamente nada - o que já era esperado - aconteceu.] e quer a Interpol correndo atrás de brasileiros nos Estados Unidos.[desejo ignorado pela Interpol.] O Ministério Público não pensa em outra coisa. A mídia, as classes intelectuais e as forças do “campo progressista” se escandalizam diariamente com atitudes de “direita” e com o que percebem como sendo uma ofensiva de “ideias nazistas”.


Igreja de Curitiba foi invadida por manifestantes com bandeiras do PT e do PCB
Igreja de Curitiba foi invadida por manifestantes com bandeiras do PT e do PCB -  Foto: Reprodução/Instagram

Todos eles, exatamente ao mesmo tempo em que se manifestam excitados em último grau com a “direita”, não dizem uma sílaba sobre atos como a invasão de uma igreja católica de Curitiba por um vereador do PT e um grupo de delinquentes com bandeiras vermelhas.  
Era, segundo eles, um “protesto contra o racismo”. Agrediram grosseiramente a liberdade de culto. Gritaram “viva Lula” e sua candidatura à presidência. Isso é crime – ou não é?  
Se não for, o que seria, então, no entendimento do ministro Moraes, do MP e do Brasil que se escandaliza com o avanço do “nazismo”, da “extrema direita” e, mais do que tudo, talvez, com a possibilidade de perderem a eleição de outubro próximo?

Não faz nenhum nexo.
Invadir uma igreja e atrapalhar um ato religioso legítimo, plenamente assegurado pela Constituição Federal, e conduzido em paz, é um ato absolutamente antidemocrático muito pior que o monte de bobagens que o STF procura e não consegue encontrar no seu inquérito sem fim.  
Porque, então, não se levanta uma palha contra os autores desse crime? O PT não fez sequer uma notinha desautorizando seu vereador e os malfeitores que estavam em sua companhia. Não aconteceu nada com ninguém. Todos estão se sentindo perfeitamente autorizados a fazer tudo de novo outra vez. Por que não? Está autorizado pela autoridade pública. Agredir um culto católico não é, na visão do Brasil civilizado-liberal-esquerdeiro que está aí, um “ato antidemocrático”.

Estamos da seguinte forma, portanto. No Brasil de 2022 é terminantemente proibido defender possíveis ditaduras de direita.     É inteiramente lícito, ao mesmo tempo, defender ditaduras de esquerda e praticar atos de banditismo em seu nome.

J. R. Guzzo, colunista - VOZES - Gazeta do Povo


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

“Bolsonazismo” e a banalização do mal - Revista Oeste

Jornalista Ruy Castro | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Estado
Jornalista Ruy Castro | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Estado 
 
No laboratório da tragédia humana que foi o século 20, o nazismo garantiu para si o protagonismo como a mais abjeta ideologia da história, aglutinando elementos fascistas e racistas que mergulharam o mundo em guerra e genocídio. Em 1962, a filósofa alemã de ascendência judaica Hannah Arendt foi designada pela revista The New Yorker para acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann, nazista de alto escalão capturado pela Inteligência israelense na América do Sul. Acusado de crimes contra a humanidade por seu papel no Holocausto, Eichmann foi condenado por todas as acusações e enforcado.

As observações de Arendt sobre esse julgamento constam da obra Eichmann em Jerusalém, cujo subtítulo é “Um relato sobre a banalidade do mal”. Contrariando expectativas, a filósofa descreve que o criminoso de guerra não se portava como um monstro, mas como um burocrata mediano, diligente em seguir ordens, avesso a juízos pessoais sobre a correção de suas ações e alheio às implicações éticas dos atos que executava um autômato moral resignado à mediocridade da não escolha, por vezes voluntária e por vezes compulsória. Era assim que, segundo Arendt, o mal se banalizava na sociedade: não pela maldade inerente às pessoas, mas a partir da ausência de reflexão do indivíduo ao imitar, reproduzir, ecoar ou não se opor a comportamentos nocivos.

Sem entrar no mérito das suas manifestações, há evidências abundantes de que nenhum deles defende ideias supremacistas

Saindo um pouco da filosofia e da sociologia, do ponto de vista semântico, banalizar o mal é torná-lo frequente, normalizá-lo, fazer da sua presença algo comum e trivial. Exemplos não faltam: diante da exposição constante à violência, a opinião pública já não se impressiona com cenas de crimes; o mesmo vale para a retórica hostil e a agressividade verbal, falada ou escrita, que pouco se destaca, tamanha a concorrência pelo mau gosto. É nesse contexto que o uso de nazista como ofensa pessoal se insere no debate público: uma expressão imprópria, que banaliza seu significado, ignora a história e desrespeita a memória de milhões. Salvo raríssimas exceções, chamar alguém de nazista é um insulto tanto ao ofendido quanto às vítimas da Segunda Grande Guerra e, principalmente, do Holocausto.

Recentemente, um podcaster, um parlamentar e um comentarista político se envolveram em polêmicas relacionadas ao nazismo. Sem entrar no mérito das suas manifestações (absurdas, infelizes, ingênuas…), há evidências abundantes de que nenhum deles defende ideias supremacistas. Ainda assim, foram chamados de nazistas por muitos — e tratados de acordo, como se de fato pregassem, em plena democracia liberal, a doutrina totalitária diretamente responsável por dezenas de milhões de mortes. Não são nazistas, assim como não é nazista o presidente da República, alvo preferencial desse tipo de campanha de difamação. Seguem alguns exemplos, literalmente, ilustrativos:

Tuíte de Ricardo Noblat, ex-Globo, ex-Veja e ex-jornalista, reproduzindo uma suástica com a legenda “Crime continuado”, em 14 de junho de 2020:

Capa da revista IstoÉ (15 de outubro de 2021) que chamou Bolsonaro de “mercador da morte” e “genocida”, manipulando sua imagem à semelhança de Adolf Hitler. A publicação alegou que “Bolsonaro patrocinou experiências desumanas inspiradas no horror nazista durante a pandemia” e “reproduziu na medicina métodos comparáveis aos do Terceiro Reich, que levaram a milhares de mortes por meio de ações cruéis”.

Exemplos de analogias com o nazismo e ofensas ao presidente da República não faltam, incluindo artigos de colunistas da comunidade judaica, como Ricardo Kertzman (Ao equiparar Bolsonaro a Hitler, revista chama as coisas pelo nome que têm) e Hélio Schwartsman (Bolsonaro e os judeus). Espanta que o engajamento político desses articulistas prevaleça sobre sua ética profissional e sua responsabilidade moral de não permitir que o Holocausto seja relativizado por comparações absolutamente infundadas.

A essa banalização do nazismo no debate público estabelecida por falsas equivalências repetidas à exaustão pela imprensa militante —, soma-se outra falácia: o reductio ad hitlerum, a desqualificação do adversário pela simples comparação com Hitler e os nazistas, algo que causa repulsa imediata no público e desvia o foco da discussão. Esse tipo de expediente foi levado ao estado da arte na recente generalização de Ruy Castro para a Folha de S.Paulo, que insulta não apenas o presidente da República, mas todos os seus eventuais milhões de eleitores: Como não há mais possibilidade de um apoiador de Bolsonaro ser um democrata, as eleições dirão exatamente quantos brasileiros ergueram o braço dentro da urna— uma  referência ao gesto nazista do Sieg Heil.

Realmente, vivemos tempos de banalização do mal; e também de banalização do mau… do mau jornalismo. 

Leia também “Ódio do bem: uma constatação póstuma”

Caio Coppolla é comentarista político e apresentador do Boletim Coppolla, na Jovem Pan


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Em pleno 2022, adoradores de Getúlio Vargas acusam bêbado de apologia ao nazismo - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Purê de hipocrisia 

Tabata Amaral foi eleita deputada pelo PDT. O partido do “grande democrata” Leonel Brizola estava até outro dia exibindo faixas com o rostinho feio de Getúlio Vargas em manifestações “antifascistas”. Não bastasse isso, o PDT da deputada proponente da goebbeliana bolsa-absorvente tem como pré-candidato à Presidência ninguém menos do que Ciro Gomes, cujo projeto político se baseia em três pilares: a retórica “incisiva”, o nacionalismo e (olha só quem veio para jantar!) o socialismo.

O podcaster e ébrio ocasional Monark é vítima de linchamento virtual por parte de quem até outro dia ostentava Getúlio Vargas em manifestações antifascistas.

O podcaster e ébrio ocasional Monark é vítima de linchamento virtual por parte de quem até outro dia ostentava Getúlio Vargas em manifestações antifascistas. - Foto: Reprodução/ Twitter

Pois foram os olhos esbugalhados no rostinho harmonioso de Tabata Amaral que deram origem ao linchamento virtual de Monark, apresentador do podcast Flow. Confessadamente bêbado, o aspirante a comunicador teve seu sonho precocemente interrompido depois de propor uma discussão sobre a liberdade de associação, expressão e manifestação reservada às pessoas mais abjetas da nossa sociedade: os nazistas. Ele ainda tentou pedir desculpas e (absurdo!) compreensão. Mas não foi ouvido pela turba que se sentiu ultrajada.

E, assim, instaurou-se a histeria. “Apologia ao nazismo!”, gritam as vítimas do paulofreirismo que, afogadas em slogans, frases prontas e no pensamento superficialíssimo típico dos que têm alergia a pensar, não estão preparadas para se olhar no espelho e reconhecer o caráter criminoso (por mais que não haja lei) da defesa diária de ideias comunistas. E se regozijam com a possibilidade de mais um linchamento virtual que pode até não ter o cheiro de morte dos campos de concentração, mas cujo efeito – a redução do outro a uma coisa – é o mesmo do pretendido pelos construtores de Auschwitz e do Gulag.

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A situação é de um absurdo tamanho que teve até ministro do Supremo Tribunal Federal que reinstituiu o crime de opinião no Brasil se manifestando. Sim, Alexandre de Moraes, ele próprio, lustrou a calva sempre muito vaidosa para se pronunciar sobre o assunto. “A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo”, escreveu ele, quero crer em tom de piada. Mas não foi só. Lembram daquela milícia digital que age como soldadinhos da Gestapo cancelando virtualmente seus inimigos ideológicos? 
Pois até esses pulhas que não perdem a oportunidade para defender o fim do Estado de Israel correram para sinalizar virtude e se dizerem contra o nazismo. Oh!

 O que me traz àquele que era para ser o parágrafo inicial deste texto. Isto é, se Tabata Amaral não tivesse se intrometido, com a hipocrisia típica dos esquerdistas. Nele, apelaria para a bobagem de dizer que fui visitado recentemente pelo meu eu-velho, que empreendeu uma viagem no tempo só para me avisar que, em breve (isto é, hoje), eu escreveria sobre um podcaster bêbado com nome de marca de bicicleta. E que cometeu a temeridade de dizer, ou melhor, tentar dizer que prefere que os canalhas possam usar suásticas e foices-e-martelos à vontade, a fim de que sejam reconhecidos pelo que são: canalhas, canalhas, canalhas.

 Agora estão todos tentando tirar uma casquinha da desgraça de Monark. Que, por embriaguez, imaturidade, burrice ou uma combinação de todos esses ingredientes acreditou que a multidão seria capaz de compreender e refletir sobre uma questão muito cara aos defensores da liberdade: pessoas que odeiam uma etnia (nazistas) e pessoas que odeiam uma classe (comunistas) deveriam ter o direito de se associarem em partidos, a fim de terem representação política?

Mais do que legítima, diria que é uma questão fundamental para o nosso tempo, contaminado por ideias claramente nazistas e comunistas, mas que não ousam se revelar assim. Do passaporte vacinal aos muitos privilégios dos funcionários públicos, da ciência se sobrepondo à liberdade de ir até a esquina tomar um Chicabon à defesa dos “campeões nacionais”, das prisões de dissidentes políticos em nome da “defesa da democracia” à já mencionada exaltação de líderes como Getúlio Vargas e Brizola, vivemos permeados pelo nacional-socialismo enrustido, defendido sobriamente por pessoas cheias de boas intenções que vestem camisetas do Che e que despudoradamente prestam homenagem ao homenzinho de bigode ridículo que controla a Venezuela, por exemplo.

 Aliás, e num adendo que é quase um PS a este texto, a controvérsia toda me surpreendeu no meio da leitura do ótimo “March Violets”, de Philip Kerr. É um livro policial que se passa depois da ascensão de Hitler e antes da invasão da Polônia. E, por se tratar de ficção, o livro tem a capacidade de nos colocar no meio das discussões cotidianas sobre o que acontecia na Alemanha daquele tempo. 
Um país que, a rigor, não estava nem aí para os crimes cometidos contra os judeus e outras minorias. Para o alemão não-judeu, não-cigano, não-homossexual e não-deficiente, o que importava era a prosperidade econômica e os avanços da ciência
E não, neste caso qualquer semelhança com os dias atuais infelizmente não é mera coincidência.
Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES