O ideal é aproveitar o capital político e passar logo a reforma. Com o tempo, 001, 002 e 003 limarão o prestígio do pai até transformá-lo num Zero
As poucas informações de Bolsonaro
sobre a reforma da Previdência já provocaram euforia no mercado: Bolsa
em elevação, dólar em baixa. E, no fundo, Bolsonaro só disse de novo que
a idade mínima para aposentadoria será de 62 anos para mulheres e 65
anos para homens (aliás, nem isso era exatamente novidade: a novidade é
ele ter sacramentado essas datas). Mas a expectativa do mercado é boa: a
Bolsa espera romper a barreira dos 100 mil pontos, o ministro Paulo
Guedes fala em economizar R$ 1,1 trilhão em dez anos. Ah, há outra
novidade: o prazo de transição será de dez anos.
Ou seja, aprovada agora
como foi proposta, a reforma da Previdência fará com que, no final do
mandato de Bolsonaro, homens se aposentem com 61 anos e seis meses, e as
mulheres com 57 anos e seis meses; em 2029, os homens se aposentarão
com os 65 anos. A transição das mulheres deve ir até 2031.
Fechado? Não é bem assim. O que se
comenta é que há um colchão na reforma, pronto para absorver emendas
mais suaves propostas pelo Senado e Câmara. De qualquer maneira, o
alívio nas contas públicas será grande.
E agora? O ideal para o Governo é
aproveitar seu capital político, a força da vitória, e passar logo a
reforma. Com o tempo, a lembrança da vitória fica mais tênue, e 001, 002
e 003 limarão o prestígio do pai até transformá-lo num Zero. Quem já
brigou com o vice, com o chefe da campanha e um trator como Joice
Hasselmann não pode ser subestimado.
Quem tem a força
O Governo Bolsonaro, imagina-se, acaba
de começar. O primeiro lance, diga-se, foi um êxito: os chefões do
crime organizado paulista foram para prisões federais, conforme pedido
do Ministério Público, e as medidas de segurança que o Governo tomou
impediram até agora aquilo que se temia: a volta do clima de guerra
civil no Estado, com bandidos atirando em todos os policiais que viam.
Esta é a área de Sérgio Moro, um dos sustentáculos do atual Governo. Se a
reforma da Previdência passar, se forem cumpridas as promessas de
privatizações e da redução da máquina administrativa, será um sucesso da
área de Paulo Guedes, de longe o mais importante ministro de Bolsonaro.
Se a economia der certo, os Recrutas Zero, os ministros mais
pitorescos, a turma do vai-vem podem fazer bobagem que o eleitor não vai
dar bola. Se a economia der certo, será um grande Governo. Se a
economia não der certo, será no máximo um Governo médio com acertos e
erros.
A voz do povo
A Taboola, líder mundial na avaliação
dos desejos dos consumidores, apurou que Paulo Guedes, da Economia, é o
ministro mais lido nas redes sociais. A Taboola chegou a esta conclusão a
partir do acesso que tem a 9 bilhões de page-views e 70 milhões
de horas na Internet.
Guedes é o mais lido;
o segundo é Moro.
Damares,
com todas as declarações que provocam turbulência, é a terceira, com
menos da metade das leituras de Guedes.
Seguem-se Onyx Lorenzoni, Ernesto
Araújo, Tereza Cristina, Ricardo Salles, Marcos Pontes, general Fernando
Azevedo, da Defesa, e Ricardo Vélez Rodríguez, da Educação. Os outros –
bem, os outros estão atrás não só da Damares mas também do Rodríguez.
Não se preocupe com eles.
(...)
A lei é para todos
A deputada federal Bia Kicis, do PFL
brasiliense, quer revogar a PEC da Bengala – a emenda constitucional que
passou a idade de aposentadoria de ministros do Supremo de 70 para 75
anos. Diz que a extensão do mandato dos ministros “impede a oxigenação
da carreira”. Mas o objetivo é outro: é abrir vagas para que Bolsonaro
nomeie ministros que considere mais próximos.
É um erro: Lula acreditava
nisso e descobriu que as promessas de um candidato nem sempre são
cumpridas após a nomeação. Segundo, a lei deve visar casos futuros, e
não mudar as regras no meio do jogo.
Os EUA não forçam ministros da
Suprema Corte a se afastar: aposentam-se quando não mais se sentem em
condições de julgar (se um tiver problemas e não se afastar, os demais
votam sua aposentadoria). Para que pagar aposentados a mais e perder a
experiência dos mais velhos?